Guerra da Coreia: entenda o primeiro conflito armado da Guerra Fria

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Monumento em lembrança dos soldados da Guerra da Coreia, em Seoul.
Monumento em lembrança da Guerra da Coreia, em Seoul. Foto: Wikimedia Commons.

A Guerra da Coreia é conhecida como a guerra que nunca acabou, já que desde 1953 a Coreia do Sul e a Coreia do Norte estão em trégua, mas ainda não formalizaram o fim do conflito. Este confronto traz consequências até aos dias atuais, em especial nas tensões ente o Presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o Líder Supremo da Coreia do Norte, Kim Jong Un. 

Neste texto, o Politize! traz para você como esta guerra começou e quais são as consequências dela até aos dias atuais. Para saber mais, é só continuar lendo!

O que foi a Guerra da Coreia?

A Guerra da Coreia foi um conflito armado que aconteceu entre 1950 e 1953 entre a República da Coreia, ou Coreia do Sul, e a República Popular Democrática da Coreia, ou Coreia do Norte. A guerra começou quando soldados da Coreia do Norte, com o apoio da União Soviética e da China, invadiram o território da Coreia do Sul, numa tentativa de unificar a península.

Contexto histórico: a Guerra Fria

Depois dos Aliados terem vencido a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) iniciaram uma disputa de poder para alcançar a maior influência na esfera internacional, resultando na Guerra Fria.

Deste modo, o mundo ficou dividido em dois grandes polos: o bloco socialista, representado pela União Soviética, e o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos. Esta nova ordem ficou conhecida como bipolarismo e foi marcada por grandes acontecimentos:

  • Criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1949, uma aliança militar entre os Estados Unidos e os países europeus;
  • Criação do Pacto de Varsóvia em 1955, um acordo militar entre a União Soviética e os países de leste;
  • Corrida armamentista, onde cada superpotência buscava os avanços tecnológicos para desenvolverem ainda mais a sua capacidade bélica; 
  • Corrida espacial, onde a União Soviética conseguiu lançar o primeiro satélite artificial em 1957 e o primeiro voo espacial tripulado por um humano em 1961, enquanto os Estados Unidos promoveu a chegada de seres humanos à lua em 1969;
  • Construção do Muro de Berlim, símbolo do bipolarismo e que dividiu a capital da Alemanha em duas: a Ocidental sob influência capitalista e a Oriental sob influência dos soviéticos. 

O Politize! tem um artigo explicando mais sobre a Guerra Fria e como ela começou, para saber mais é só clicar aqui.

Antecedentes da Guerra da Coreia

De 1910 até 1945, a Coreia foi colônia do Japão e não possuía governo próprio. Com o colapso do Império Japonês e o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, os Estados Unidos da América e a União Soviética reuniram-se na Conferência de Potsdam, junto com o Reino Unido, para decidir o futuro da península. 

Nesta conferência, as duas grandes potências da época acordaram em dividir a Coreia em duas, sendo que a parte norte ficou sob a influência da URSS e a parte sul influenciada pelos Estados Unidos.

Esta divisão é conhecida como o paralelo 38, uma linha que está a 38 graus ao norte da Linha do Equador. A princípio, esta divisão era somente para fins administrativos, ou seja, apenas para desarmar o exército japonês e repatriar os soldados.

As divergências ideológicas entre os Estados Unidos e a URSS dificultavam o processo de estabelecer uma Coreia unificada. Em 1947, o então Presidente dos Estados Unidos Harry Truman convenceu a Organização das Nações Unidas (ONU) em se tornar responsável pela união da península. Apesar da decisão da Organização, as tropas estadunidenses se mantiveram do lado sul do paralelo até 1948.

No mesmo período, Kim Il-sung, que teve treinamento na União Soviética e foi major no exército da URSS, acaba por ganhar relevância na Coreia do Norte. Depois de ter lutado contra o Império Japonês na Segunda Guerra Mundial, Kim Il-sung volta à Coreia do Norte e se torna líder comunista do país de 1948 até a sua morte em 1994. 

Em 1949, Kim Il-sung tentou invadir o sul com o apoio da União Soviética, mas o líder do bloco soviético, Stalin, recusou essa abordagem, já que para ele as tropas da Coreia do Norte não estavam totalmente preparadas e Stalin temia uma possível retaliação dos Estados Unidos. 

O primeiro conflito armado da Guerra Fria

Em 1950, o exército da Coreia do Norte já se encontrava numa posição mais favorável do que a da Coreia do Sul: o exército de Kim Il-sung contava com armamentos financiados pela União Soviética e veteranos coreanos do Exército de Libertação Popular da China. 

Depois de uma visita em Moscou, Stalin aprovou a invasão e, em 25 de junho de 1950, as tropas norte-coreanas (cerca de 75.000 soldados) atravessaram o paralelo 38 em direção à Seoul, capital da Coreia do Sul, com o objetivo de reunificar a Coreia. 

O Presidente estadunidense Harry Truman defendia que se o líder do bloco capitalista não tomasse nenhuma providência em relação às Coreias, o socialismo se alastraria para o restante do mundo como aconteceu com a China em 1949.

Portanto, com a invasão dos soldados norte-coreanos, Truman mandou tropas para a defesa da Coreia do Sul e também recorreu à ONU para obter apoio militar. Na resolução 82 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a organização afirma que o governo sul-coreano foi estabelecido de forma legítima através de eleições e que é o único governo deste tipo na península. Além disso, a resolução apela para que as forças norte-coreanas regressem para o parelelo 38, de forma a acabar com a guerra.

Esta decisão do  Conselho de Segurança poderia ter sido vetada por um membro permanente como a União Soviética e não foi, já que a URSS estava boicotando o Conselho sobre a questão de admitir a China comunista como também membro permanente.

Assim, em setembro de 1950, tropas da ONU lideradas pelo general MacArthur chegaram à península coreana de forma a conter a invasão da Coreia do Norte. Por não querer uma fronteira com um país influenciado pelos Estados Unidos, em outubro de 1950, a China auxiliou a Coreia do Norte até um pouco abaixo do paralelo 38. 

Em 1951, com mais tropas das ONU, os norte coreanos regressaram à divisão inicial e em 1953 foi assinado um armistício entre as duas Coreias, que as deixou divididas até aos dias atuais. 

Fonte: BBC Reino Unido 

Consequências da Guerra da Coreia

De acordo com historiadores, quase cinco milhões de pessoas morreram na guerra e mais da metade eram civis. A guerra teve consequências gigantes tanto na Coreia do Norte quanto na Coreia do Sul, sendo que boa parte do conflito ocorreu ao redor da zona desmilitarizada, uma região de 5km de largura que divide as duas Coreias de leste a oeste e que foi estabelecida durante o armistício. 

Desde 1953, existe tensões entre ambos os governos. A Coreia do Sul conta com a presença de mais de 20.000 soldados estadunidenses na zona desmilitarizada e se transformou numa potência econômica e tecnológica regional. Já a Coreia do Norte tornou-se num dos países mais isolados do mundo. 

Depois da Guerra Fria

Com o fim da URSS no fim da década de 1980,  a Coreia do Norte perdeu um dos seus principais aliados e o desenvolvimento de armas nucleares foi uma medida de segurança para a dinastia Kim. 

Apesar da Coreia do Norte ter começado a sua pesquisa nuclear na década de 1950, somente em 1979 o país começou a construir um reator nuclear experimental que foi concluído em 1985, quando o país assinou o Acordo de Não-Proliferação Nuclear (TPN).

Segundo o TNP, somente os países que tiveram acesso às armas nucleares antes de 1967 têm o direito de continuar a desenvolver este tipo de armamento, que são os Estados Unidos, a Rússia, o Reino Unido, a França e a China. Vale dizer que estes países também são os cinco membros permanentes e que possuem o poder de vetar as decisões do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O restante dos países, com exceção dos citados acima, podem utilizar a tecnologia para fins pacíficos, como desenvolver energia nuclear. 

Apesar de ter assinado o TNP, a Coreia do Norte não assinou todos os requisitos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Deste modo, em 1991, quando a AEIA solicitou a inspeção das suas instalações nucleares, a Coreia do Norte somente permitiu que a fiscalização fosse feita em algumas delas, já demonstrando a sua intenção de sair do tratado.

Em janeiro de 2003, o país se retirou do TNP. Desde então, existem tensões entre a comunidade internacional e a Coreia do Norte sobre a questão das armas nucleares, com diversas tentativas de negociação para que o país utilize a sua pesquisa nuclear apenas para fins pacíficos, e não para desenvolver armamentos.

Tensões entre Estados Unidos e Coreia do Norte

Desde então, o governo estadunidense e norte-coreano estão em negociação sobre a questão da pesquisa e desenvolvimento nuclear. Este artigo do Politize! explica em detalhes a relação entre estes dois países. 

As relações diplomáticas entre a Coreia do Norte e Estados Unidos são muito complexas, marcadas por muitas tentativas de negociação, divergências e envolvem diversos atores e interesses. 

Com o governo Trump, as tensões entre os dois países aumentaram, já que a Coreia do Norte tem tido sucesso nos testes de mísseis balísticos de longo alcance e dos avanços na tecnologia de bombas de hidrogênio.

Relações entre Coreia do Sul e Coreia do Norte

Desde a trégua em 1953, a Coreia do Norte e a Coreia do Sul possuem relações diplomáticas um pouco conturbadas. Apesar disso, em 2018, aconteceu um encontro histórico entre os líderes dos dois países. Esse encontro ocorreu na zona desmilitarizada e com o apoio dos Estados Unidos. Durante a cimeira de 2018, os líderes afirmaram o seu compromisso com “uma nova era de paz”, sendo que o Presidente sul-coreano Moon Jae-in chegou a afirmar que “não vamos voltar atrás no tempo.

Entre os assuntos acordados entre os dois países, estão a desnuclearização da península da Coreia. Durante o encontro, o Líder Supremo da Coreia do Norte afirmou que “o mesmo sangue, a mesma cultura e a mesma nação não pode estar separada. Nós somos irmãos. Esperamos unir esforços e abrir caminho para um novo futuro. Por isso é que eu atravessei a fronteira e vim à Coreia do Sul”. 

Considerações Finais

A Guerra da Coreia foi o primeiro conflito armado da Guerra Fria e causou muita destruição para ambos os países, com pelo menos três milhões de mortos, sendo a maioria civis. Atualmente, apesar dos esforços de relações diplomáticas entre os norte-coreanos e sul-coreanos, as diferenças ideológicas entre os dois Estados são visíveis. 

Esta guerra foi muito marcante na história do século XX e também nos ajuda a entender um pouco mais sobre a relação destes países com grandes potências, como Rússia, Estados Unidos e China, tanto a nível regional, como a relação diplomática entre as duas Coreias.

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REFERÊNCIAS

Estados Unidos e Coreia do Norte: entenda a relação!

Guerra Fria: a guerra ideológica entre duas potências

The Korean War, 1950-1953 – The Cold War, 1948-1960 – OCR A – GCSE History Revision – OCR A

Korean War, a ‘Forgotten’ Conflict That Shaped the Modern World

Korean War | Combatants, Summary, Facts, & Casualties

Korean War – Causes, Timeline & Veterans

Tratado de Não-Proliferação Nuclear – TNP – Brasil Escola

Entenda de uma vez a relação entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos

Coreia do Norte e EUA: linha do tempo da história diplomática

North Korean Nuclear Negotiations: A Brief History

Kim Jong-un e Moon Jae-in anunciam “uma nova era de paz” e prometem “desnuclearização da Península da Coreia”

North and South Korea: The petty side of diplomacy

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Licencidada em Relações Internacionais pela Universidade de Lisboa e acredita que a educação política deve ser acessível à todas as pessoas.

Guerra da Coreia: entenda o primeiro conflito armado da Guerra Fria

16 abr. 2024

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