Argumentos contra e a favor da pena de morte no Brasil

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Padre pede o fim da pena de morte nos Estados Unidos.(Foto: Andrew Cullen/Reuters

A pena de morte ainda acontece em diversos países ao redor do mundo. Ela não ocorre no Brasil há muito tempo, mas os frequentes casos de violência fazem com que boa parte da população brasileira seja a favor da volta dessa forma de punição. Por isso, nesse post, listamos os principais argumentos dos defensores e opositores do assunto no Brasil. Confira a seguir.

Quer saber tudo sobre maioridade penal? Temos um post só pra isso!

Se preferir, ouça nosso episódio de podcast sobre esse assunto!

Listen to “#059 – Pena de morte no Brasil” on Spreaker.

MAS ANTES, O QUE É PENA DE MORTE?

A pena de morte, também chamada pena capital, é um processo pelo qual uma pessoa é morta como punição por um crime cometido. Mas não é qualquer tipo de morte. Ela precisa ser realizada pelo Estado após decisão judicial, que condena uma pessoa à sentença de morte. É diferente de uma execução, que consiste na morte de uma pessoa sem processo legal que a autorize.

A pena de morte não é um instrumento novo no mundo. A execução de criminosos e opositores políticos foi utilizada em diversos momentos da história, inclusive no Brasil. Vamos entender o contexto da pena de morte no Brasil?

A PENA DE MORTE NO BRASIL

A última vez em que a pena de morte para crimes civis foi aplicada no Brasil foi em 1876, ficando oficialmente proibida após ser retirada do nosso Código Penal com a Proclamação da República em 1889.

Segundo o jornalista Carlos Marchi, autor de um livro sobre a pena de morte no Brasil, a principal finalidade da pena capital era reprimir e amedrontar os escravos. Por isso ela foi retirada do Código Penal após a Proclamação da República, já que um ano antes a escravidão havia sido abolida.

Será que ainda existe escravidão no Brasil? Descubra aqui!

Essa mudança tornou o Brasil a segunda nação das Américas a abolir a pena de morte para crimes comuns, ficando atrás apenas da Costa Rica, que aboliu a pena capital em 1859. Isto quer dizer que a pena de morte foi completamente abolida no Brasil?

Não é bem assim! A pena capital é proibida pela lei brasileira em casos de crimes civis, mas a nossa Constituição permite que ela seja aplicada em casos de crimes cometidos em tempos de guerra. É o que diz o inciso 47 do artigo 5º da nossa Constituição: “não haverá pena de morte, salvo em caso de guerra declarada”.

Os crimes que podem levar a essa punição estão escritos no Código Penal Militar e a pena prevista é execução por fuzilamento. Alguns exemplos desses crimes são:

  • traição (como pegar em armas contra o Brasil ou auxiliar o inimigo);

  • covardia (por exemplo fugir na presença do inimigo);

  • rebelar-se ou incitar a desobediência contra a hierarquia militar;

  • desertar ou abandonar o posto na frente do inimigo;

  • praticar genocídio;

  • crimes de roubo ou extorsão em zona de operações militares; entre outros.

Ainda que a pena de morte em caso de guerras continue a existir no nosso ordenamento jurídico, ela nunca foi colocada em prática, nem mesmo na segunda guerra mundial, último conflito armado em que o Brasil se envolveu.

Durante o regime militar, um decreto chegou a restabelecer a pena de morte para crimes políticos violentos. Contudo, mesmo que alguns presos políticos tenham sido condenados, a pena capital nunca chegou a ser aplicada e nenhuma pessoa foi morta dentro dos limites do ordenamento jurídico.

Confira também nosso vídeo sobre o assunto:

Saiba mais: o que são direitos humanos?

ARGUMENTOS CONTRA E A FAVOR A PENA DE MORTE

Velório do brasileiro Rodrigo Gularte, condenado à morte na Tailândia por tráfico de drogas. (Foto: Nyimas Laula/Reuter)

Os constantes casos de violência colocam em questão se as punições aplicadas no país realmente são suficientes, principalmente para crimes considerados bastante graves. Ainda que o governo até então não tenha demonstrado interesse em recolocar a pena de morte no ordenamento jurídico, há quem defenda a volta dessa forma de punição.

Uma pesquisa  realizada pelo Datafolha, em setembro de 2014, revelou que 43% dos brasileiros é a favor da pena de morte, enquanto 52% se posicionaram contra. Muitos dos que se posicionam a favor utilizam como principal argumento que a pena de morte reduziria a violência no Brasil e diminuiria os gastos com ressocialização dos presos, uma medida que poucas vezes funciona. Para os favoráveis à pena de morte, ela é a única forma de garantir que criminosos não retornem à sociedade ou cometam outros crimes dentro da prisão.

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Os que discordam dessa posição argumentam que a defesa da pena de morte no Brasil é guiada puramente por sentimento de vingança, sem qualquer motivação racional, o que faz com que a sociedade não perceba as desvantagens que a punição pode trazer, como desperdício de recursos que poderiam ser melhor utilizados na recuperação do preso.

Um estudo realizado com 67 pesquisadores estadunidenses, especialistas na temática da pena de morte, e publicado pelo Jornal de Lei Criminal e Criminologia da Universidade de Northwestern, em Chicago, mostra que, para 88,2% deles, a pena de morte não tem qualquer impacto sobre os níveis de criminalidade. Para eles, não existem quaisquer dados ou estudos provando a relação entre a pena de morte e a diminuição da criminalidade.

Alguns destes especialistas defendem que a prisão perpétua seria uma melhor alternativa, por ser uma pena menos drástica, mas com igual capacidade de tirar da rua os criminosos mais perigosos.

Porém, um outro grupo de especialistas estadunidenses, formado principalmente por economistas, publicou uma série de trabalhos comparando o número de execuções em determinadas regiões dos Estados Unidos com seu histórico de homicídios. O resultado encontrado por um desses estudos, elaborado pelos economistas da Universidade de Houston Dale Cloninger e Roberto Marchesini, mostrou que  cada execução realizada no estado do Texas evitou entre 11 e 18 homicídios durante o período analisado.

Para Joel Birman, psicanalista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), aprovar a volta da pena de morte no Brasil é ignorar os diversos problemas sociais enfrentados no país.

Para ele, aqueles que defendem a pena de morte são pessoas pertencentes sobretudo às elites brasileiras, que ignoram o fato de já existir uma espécie de pena de morte no país, que é a violência diária que ocasiona diversas mortes entre as camadas mais pobres da população.

Portanto, enquanto os defensores da pena de morte afirmam que ela é a única solução para impedir que criminosos voltem a cometer crimes na sociedade, os que são contra a pena capital acreditam que ela não teria qualquer efeito, já que nenhum criminoso deixa de cometer um crime acreditando na possibilidade de ser punido. Para eles, o papel das prisões é ressocializar o preso, dando a ele chances de retorno ao convívio em sociedade.

Quer entender melhor sobre penas alternativas no Brasil? Vem com a gente!

PANORAMA DA PENA DE MORTE NO MUNDO

Sala de execuções em presídio no Texas (EUA). (Foto: Courtesy Jenevieve Robbuns/Reuters)

Ainda que a pena de morte seja repudiada por inúmeras organizações de direitos humanos do mundo todo, ela continua a ser uma prática em diversos países. Segundo relatório apresentado em 2016 ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 170 dos 193 países que integram a ONU já aboliram a pena de morte ou não a praticam mais há pelo menos 10 anos. Cerca de 102 deles já aboliram a pena capital em todos os tipos de crime.

Contudo, 23 países aplicaram a pena de morte em 2016. Os principais deles são Irã, Paquistão, Arábia Saudita e Iraque, que juntos foram responsáveis por 87% das práticas de pena de morte durante o ano. Acredita-se que a China seja a nação com maior número de aplicações da pena de morte, na casa de milhares, mas como o governo coloca os dados como secretos, a pena de morte do país não entra para as estatísticas.

Nos Estados Unidos a prática tem sido cada vez menos frequente. Entre os 31 estados onde a pena de morte ainda é legal, 10 renunciaram a esse tipo de punição. Dos 50 estados no país, 29 já não empregam mais a pena capital.

Os motivos que levam a uma pena de morte podem ser bem definidos ou abstratos, de acordo com a constituição de cada país. Segundo a Anistia Internacional, os motivos mais recorrentes em 2016 foram crimes relacionados às drogas, sequestro, estupro, blasfêmia ou “insulto ao profeta do islã”.

Houve ainda casos de pena capital para espionagem, traição, colaboração com entidades estrangeiras, questionar políticas do líder local ou  participação em movimentos de insurreição ou terrorismo. As execuções podem ser feitas de diversas formas, como enforcamento, apedrejamento, fuzilamento ou injeção letal.

Ao todo, foram registrados 1.032 aplicações de pena de morte em 2016, 37% a menos que no ano anterior. Ainda assim, existem hoje 18.848 pessoas no corredor da morte ao redor do mundo. Ainda que a pena de morte seja um processo legal nos países que a aplicam, diversas etapas são desrespeitadas durante esse procedimento.

A Anistia Internacional aponta como alguns dos problemas as confissões obtidas por meio de tortura, imposição de pena de morte automática para alguns tipos de crime, sem qualquer julgamento e diversos outros desrespeitos às regras firmadas por acordos internacionais.

E você, é a favor ou contra a pena de morte no Brasil? Deixe a sua opinião!

Fontes: Nações Unidas – Nexo: pena de morte tem alta em 25 anos – Nexo: panorama da pena de morte no mundo – BBC: pena de morte tem aplicação prevista no Brasil – BBC: execuções não reduzem criminalidade – El País

Última atualização em 10 de abril de 2019.

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14 comentários em “Argumentos contra e a favor da pena de morte no Brasil”

  1. Elenilson De Castro

    Eu sou a favor da Pena de Morte no Brasil, como punição nos crimes dolosos contra à vida praticado com requinte de crueldade. Ao meu ver a pena capital reduziria e muito o índice de homicídio no nosso País. Não vejo a pena de morte como um ato de vingança exercida pelo Estado, mais sim como uma retribuição ao ato praticado na medida de sua proporcionalidade.
    Afirmar que a pena de morte não será terror para aqueles que vivem fora da lei, se ela existissem no nosso Ordenamento Jurídico não é verdade. Se ela existisse na prática o criminoso pensaria mil vezes antes de comer um homicídio de forma cruel como tem acontecido no nosso País em que pessoas estão sendo assassinadas de forma banal e cruel com maior requinte de crueldade que se possa imaginar! E ninguém atenta para isso!
    Agora os que são contra a pena de morte não é porque eles estão preocupados em pensar que se ela viesse à existir, só pessoas pobres e negras estariam sujeitas a pena capital. Na verdade o que existe é uma politica por trás de tudo isso, e muitos tem medo de cair na malha fina, esta é a grande verdade.
    Respeito a opinião daqueles que são contra, mais eu sou a favor da pena de morte esta é a minha opinião.

  2. Patrícia Paes de Lima

    Sou a favor,pq existem situações que não teem outra saída.Por exemplo casos de pedófila,desse homem que prendeu a mulher com os filhos por dezessete anos em cárcere privado,.Essas pessoas que dizem que isto não inibiria tais crimes estão equivocadas.Certamente inibiria,e também cortaria o mau pela raiz pois não acredito que um ser humano que uma vez tenha cometido tamanha crueldade poca um dia se recuperar.Ele e um estorvo neste mundo,precisa desaparecer para se ter certeza de que nunca mais praticar uma barbárie desta.

  3. Antônio C Candia Jr

    Eu sou a favor da pena de morte por injeção letal ou câmara de gás para casos específicos de Tráfico de droga.
    O país está dominado por organizações criminosas que mandam nas cadeiras e se alastram por todo o país com todos os tipos de crimes e que tem o tráfico como pano de fundo.

    O bandido tem que ter medo e saber que se arriscar no tráfico vai arriscar a vida. Quantos traficantes tiraremos das ruas ? Quantas comunidades carentes poderão se desenvolver uma vez com o tráfico e a violência controlada. O Brasil só tem a ganhar.. as pessoas de bem só tem a ganhar.

    1. Discordo com a senhora pois temos que saber interpretar oque a Bíblia diz, vou por trechos da Bíblia que diz respeito a pena de morte :
      Quem matar uma pessoa terá que ser executado como assassino mediante depoimento de testemunhas. Mas ninguém será executado mediante o depoimento de apenas uma testemunha. “Não aceitem resgate pela vida de um assassino; ele merece morrer. Certamente terá que ser executado.
      Números 35:30-31

      “Quem derramar sangue do homem,
      pelo homem seu sangue será derramado;
      porque à imagem de Deus
      foi o homem criado.
      Gênesis 9:6

  4. Lesle Soares Da Silva

    Eu também sou a favor da pena de morte no Brasil, principalmente nos de estrupo contra crianças, adolescentes, idosos,ou pessoas que não sabem se defender, sou contra o crime de blasfêmia, e não acho que o supremo, nem qualquer outro poder estaria agindo com vingança.

  5. ANA MARIA ALVES COSTA

    Não concordo que preso tenha pensão reclusão, na cadeia deverá ter atividades de trabalho para reduzir os gastos que o governo tem com eles..
    esportes, visitas, trabalhos ,são coisas que podem ser desenvolvidas.
    A pena de morte é necessária para aqueles crimes ediondos, que o encarcerado
    não terá meios de se ressocializar, o infrator, também crimes contra crianças, deficientes físicos, pessoas com doenças incapacitantes mentais, idosos indefesos, e criminosos com deficiência física e mental. Assim o estado economiza e pode aplicar verbas na educação tão crítica do nosso pais.

  6. Eu sou contra, pois vamos ser sinceros aqui vocês sabem que ser legalizada vai matar diversos inocentes pois estamos falando do Brasil onde a justiça e totalmente falha.

  7. Tráfico de drogas só existe por causa da proibição de algumas drogas. Traficantes não vendem drogas lícitas como o álcool (cerveja, whisky, vinho, cachaça, vodca e etc).

    A proibição de algumas drogas não impede sua circulação e consumo, ao mesmo tempo enriquece organizações criminosas e potencializa também o tráfico de armas. Gerando violência e genocídio das comunidades pobres!

    A forma mais eficaz de enfraquecer um grupo criminoso que se enriquece com o consumo de drogas é esvaziar seu poder econômico.
    A legalização/regulamentação gera empregos formais, recolhimento de impostos, asfixia as finanças do tráfico, diminui a violência e possibilita recursos para investimentos em saúde pública.

    Regulamentação: problemas similares aos do álcool.
    Proibição: problemas similares aos do álcool e os problemas do tráfico que afeta até quem não usa nada.

    https://www.hypeness.com.br/2019/01/legalizacao-da-maconha-no-uruguai-deu-prejuizo-de-r-22-milhoes-ao-trafico/?fbclid=iwar3opxbepnprwe41_4siksd0-7xzaaghuntfxntwxsvvptocqdfyjxo-2p4&utm_medium=hypeness_fb&utm_source=facebook

  8. Totalmente CONTRA a pena de morte. Pena de morte não significa justiça, e sim vingança. No mundo inteiro já foram comprovados diversos equívocos judiciais e inocentes foram mortos. No Brasil, os acusados de matar o menino Evandro em 1992 foram presos e agora com novas provas, o TJ anulou as condenações depois de 30 anos. Se houvesse pena de morte no Brasil já estariam mortos. Aliás, se houvesse pena de morte no Brasil, só morreriam pobres. Os criminosos ricos, os “peixes grandes”, estariam todos soltos por aí.

  9. Boa noite! Mas a senhorita ouviu a Divindade Deus falar alguma coisa ou está se guiando por histórias ditas pelos homens? Meu irmão com 19 anos de idade a época que foi assassinado por marginais por apenas um disparo de arma de fogo na porta de casa, deixou toda a família adoecido, meu pai morreu vitimado por um AVC aos 54 anos e minha mãe vitimada por um câncer mamário aos 52 anos de idade. E quem vai pagar por isso? Quando lembro deste triste fato me dá uma tristeza e revolta ao mesmo tempo. Muitos religiosos nos induzem, eu e o meu irmão mais novo, perdoar os assassinos. Como perdoar esses criminosos que tiraram a vida subjetivamente de 3 pessoas? Não matarás, mas os mataram.

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Conteúdo escrito por:
Estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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