A crise diplomática entre Qatar e seus vizinhos

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A crise diplomática entre Qatar e seus vizinhos - Politize!
Mapa do Oriente Médio. Fonte: Wikimedia Commons.

Até recentemente, o futuro era visto como promissor para o Qatar, um pequeno país localizado na península árabe. Com apenas 11.571 km² de área e uma população de 2,6 milhões, dos quais 2,3 milhões são estrangeiros, o Qatar é o país mais rico do mundo, em termos de renda per capita. Boa parte de sua riqueza oriunda de uma forte indústria petroquímica, com destaque para grandes reservas de gás natural.

O que você sabe sobre o país? Aprenda agora seu sistema político e como está a relação com os países vizinhos.

A MONARQUIA E A CRISE DIPLOMÁTICA

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Doha, capital do Qatar. Foto: Pixabay.

O Qatar, assim como a Arábia Saudita e Emirados Árabes, adotou o sistema monárquico, com a família Al Thani (liderado pelo emir Tamim bin Hamad Al Thani) controlando os rumos do país. Eles têm utilizado a fortuna oriunda da petroquímica para investir na modernização de sua capital Doha e também na promoção do país mundo afora, com destaque para a criação de uma emissora de televisão, a Al Jazeera, e à realização de diversos eventos esportivos. O Qatar, aliás, será a sede da Copa do Mundo de Futebol em 2022.

Com uma fonte aparentemente inesgotável de dinheiro, bem como a estabilidade na política interna e externa, o Qatar não tinha muito do que reclamar. No entanto, tudo isso mudou no dia 05 de junho de 2017. Quase que da noite para o dia, os seus vizinhos árabes – Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Egito – e outros países do golfo pérsico cortaram todas as relações diplomáticas com o Qatar, ordenando a retirada imediata de seus embaixadores e cidadãos Qataris de suas terras.

A Arábia Saudita, inclusive, único país com quem o Qatar divide uma fronteira, barrou seu espaço aéreo e cortou a exportação de alimentos. O Qatar, por ter um clima árido e falta de terras aráveis, não produz sua própria comida, sendo dependente das importações de seus vizinhos. O caos se instaurou nos supermercados da capital Doha, com longas filas e escassez de alimentos.

Por que isso aconteceu? Apesar do rompimento ter sido inesperado, o relacionamento entre Qatar e seus vizinhos, em especial a Arábia Saudita, já não andava bem. Uma série de acontecimentos ajudaram a despertar essa crise. Neste texto, vamos explorar os principais pontos que causaram a crise no Qatar. Vamos lá?

Veja também nosso vídeo sobre as 5 curiosidades sobre o Catar!

PODER E INFLUÊNCIA NO ORIENTE MÉDIO

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Cultura do Qatar. Foto: Johanna Leguerre / ITU Telecom World 2014

Até o começo dos anos 70, o Qatar era um país pobre, com a economia baseada na exploração de pérolas, que vivia sob a sombra de seus “irmãos” árabes. A Arábia Saudita, que exportava petróleo desde os anos 30, era a líder da região e determinava a política local. Os outros países obedeciam tacitamente à família saudita. Qatar, em suma, simplesmente não tinha dinheiro (nem matérias primas como o petróleo) suficiente para ter uma maior independência econômica.

Isso mudou, contudo, a partir de dois acontecimentos:

  1. A descoberta, pela multinacional Shell, de grandes reservas de gás natural nas bacias do golfo pérsico;
  2. O aperfeiçoamento da tecnologia que permite a condensação do gás natural ao estado líquido, formando o gás natural liquefeito (GNL) e, dessa forma, permitindo o seu transporte por navios.

Em pouco tempo, o Qatar passou a exportar não só petróleo como também gás natural, tornando-se líder mundial nesse tipo de energia.

Desse modo, o Qatar deixou de ser o “irmão pobre” do Oriente Médio e tornou-se um dos mais ricos da região. Sua riqueza, inclusive, não era exclusiva do petróleo, como a de seus vizinhos, logo eles podiam gastar o seu dinheiro sem se preocupar com a instabilidade no valor do petróleo, cujo preço costuma ser volátil em razão de ocorrências geopolíticas (guerras, por exemplo).

Aprenda mais: energia renovável: por que é importante para a política?

PRIMEIRAS DIVERGÊNCIAS NA REGIÃO

Impulsionados por sua riqueza e aparente independência do petróleo, o Qatar tem seguido cada vez menos as diretrizes da Arábia Saudita, traçando laços próprios com países considerados inimigos – ou que possuem relação conturbada com a região. Eles afirmaram, por exemplo, que se Israel se classificar à Copa do Mundo de 2022, a sua seleção e seus torcedores seriam bem-vindos, independente das questões religiosas. Eles também permitiram que o EUA construísse uma base militar no país, mesmo sem a aprovação dos vizinhos.

A rede televisão Al-Jazeera também é vista com maus olhos pelos países vizinhos, tendo sido acusada de incitar os protestos durante a Primavera Árabe e também de supostamente realizar uma cobertura mais tolerante ou até favorável a grupos extremistas.

Porém, a relação diplomática do Qatar que mais desperta fúria é com Irã, país de maioria xiita (a maioria dos países árabes são sunitas) e que figura do lado oposto à Arábia Saudita em conflitos como Iraque e Síria. O Qatar, segundo seus vizinhos, tem demonstrado uma atitude tolerante demais com o Irã, sendo acusado, inclusive, de suportar os grupos terroristas apoiados por Teerã — operando na província oriental do reino assim como no Bahrein — e os que visam a desestabilizar a região, como a Irmandade Muçulmana, o Estado Islâmico e a Al-Qaeda.

Leia também: como funciona o financiamento do terrorismo?

MAS POR QUE A CRISE AGORA?

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Encontro de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e emir do Qatar. Foto: Wikimedia Commons.

O clima aumentou após três acontecimentos, dois deles recentes. O primeiro foi o pouco divulgado sequestro de integrantes da família real do Qatar, por militantes xiitas, durante uma viagem de caça de gaviões no Iraque, em 2015. Os reféns ficaram 16 meses em cativeiro, sendo liberados somente após o Qatar pagar o valor de 1 bilhão de dólares aos sequestradores e também auxiliar na saída de refugiados da Síria. A Arábia Saudita e os demais vizinhos, no entanto, estranharam a quantia paga e questionaram se o sequestro de fato ocorreu, como se tivesse sido uma fachada para o Qatar financiar grupos extremistas que atuam no Iraque e na Síria, uma acusação que eles sempre negaram.

O segundo acontecimento foi um relatório estatal da Al Jazeera que citou o governante do país, o emir Tamim bin Hamad Al Thani, criticando o crescente sentimento anti-iraniano. O governo rapidamente eliminou os comentários, culpou hackers e pediu calma, porém o estrago já tinha sido feito.

O terceiro e mais recente evento foram as declarações do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante visita à Arábia Saudita (foto), no qual ele citou Irã como o principal apoiador do terrorismo. Tal declaração levou a Arábia Saudita e seus vizinhos a dobrarem as críticas ao Qatar e exigirem que eles deixem de ser coniventes ao Irã e que também deixem de financiar grupos extremistas.

Entenda mais: a confusão entre islamismo e terrorismo.

O QUE MAIS VAI ACONTECER ENTRE O QATAR E SEUS VIZINHOS?

A situação nos supermercados Qatarianos melhoraram um pouco, graças às intervenções da Turquia, Omã, Marrocos e Irã, que enviaram alimentos para o Qatar. O país também tem conseguido operar voos para fora do país, viajando pelo espaço aéreo iraniano.

Contudo, a crise continua. A Arábia Saudita e demais países árabes apertam o cerco no Qatar, exigindo, dentre outras coisas, uma denúncia formal de atos de terrorismo cometidos no Oriente Médio, o fim de relações diplomáticas com o Irã e o fechamento da Al Jazeera.

Você sabia como eram essas relações diplomáticas no Oriente Médio? Comente!

Fontes: Entenda a crise diplomática; The Hill: Qatar crisis; Haaretz;  NPR; Folha de S. Paulo

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Conteúdo escrito por:
Advogado, bacharel em Direito pela PUC-SP. Redator voluntário do Politize!.

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16 abr. 2024

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