Eu, robô? Como funciona o uso de robôs em eleições #NãoValeTudo

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Foto: Luca Bravo | Unsplash

Ainda estamos longe de 2035, o ano em que robôs e seres humanos já estariam convivendo juntos, em casa ou no trabalho, em uma sociedade harmoniosa e regulada. Até lá, se o roteiro do filme “Eu, robô” (2004) estiver certo, o mundo terá desenvolvido um código de programação que evita usos maléficos dessa tecnologia contra nós, seres de carne e osso. Hoje, no entanto, os robôs estão mais presentes no dia a dia de pessoas e empresas, sem que haja uma orientação específica para o que fazer com as (des)vantagens da tecnologia de um robô online, por trás de diversos serviços. Muitas vezes, não identificamos que, no atendimento virtual de uma loja, na voz do telemarketing recebido ou na resposta de uma mensagem nas redes sociais, há um personagem novo: o robô social, metade linguagem humana e metade interação programada. E há problema nisso?

No Brasil e no mundo, os robôs sociais – ou social bots – participaram de acontecimentos políticos que mudaram o rumo da vida de muita gente. Você já imaginou, por exemplo, que a sua opinião poderia ser influenciada pelo que outras pessoas dizem nas redes sociais? Você leria melhor a exposição de uma opinião, na internet, que tenha muitas curtidas ou compartilhamentos da comunidade? Pois é! Impulsionar ou manipular conversas é o outro lado dos robôs sociais, que aumentam esses números, e influenciam momentos decisórios como as eleições de 2018. A seguir, vamos explicar os usos dessa tecnologia, o impacto que já fez em diversas eleições e como identificar esses robozinhos disfarçados de gente!

O movimento #NãoValeTudo

Na carta do movimento #NãoValeTudo…

Nós repudiamos a manipulação da percepção do público sobre a discussão política realizada a partir da criação e do uso de perfis falsos. Ao fazer crer que contas de redes sociais são controladas por usuários humanos reais e simular movimentações políticas sem lastro real, estas técnicas desviam o foco do debate, muitas vezes servem para inflar ou atacar a imagem de pessoas de forma artificial e desonesta.

O uso de robôs, no entanto, pode ser benéfico para a construção de debates políticos, mas a utilização dessas ferramentas deve ser sempre ostensivamente informada, pois robôs que se passam por humanos podem ser um grande empecilho para um debate transparente, aberto, coletivo, plural e construtivo.

Se você será candidata ou candidato nas eleições 2018 e deseja se comprometer com a carta #NãoValeTudo, acesse ao site: https://naovaletudo.com.br/ e siga o passo a passo sugerido.

Leia mais: Tecnologia nas eleições: vale tudo? #NãoValeTudo

O que são social bots ou robôs sociais?

Se, neste momento, você estiver visualizando um robô cinza ou metalizado, do tamanho de um ser humano e expressão facial parecida com a nossa… Bem, não é exatamente isso o que queremos dizer com robôs ou social bots. Em resumo, eles têm aparências diversas pois são linhas de código, programas ou softwares, que imitam o comportamento e o visual humanoide. E por que alguém desenvolve isso? Existem diversas maneiras de fazer uso dessa tecnologia, o que é ótimo para empresas e pessoas. Afinal, a programação de uma interação estratégica, inteligente e automatizada é ideal para reproduzir conteúdos e melhorar processos. Por outro lado, nos bastidores da criação de robôs sociais, estão mentes humanas com objetivos. E como eles nos afetam enquanto cidadãos e eleitores?

Uma maneira de usar robôs pode ser a automatização da comunicação em massa, como faz a Beta Feminista, que informa a sua condição de personagem-robô e interage com pessoas que apoiam a causa feminista. Por meio dela, você pode pressionar a favor ou contra projetos, no Senado e na Câmara, que afetam o movimento. Outro exemplo é a robô Rosie, que analisa e comunica o que os deputados fizeram com sua cota parlamentar, aumentando a transparência entre eles e o eleitorado.

Por outro lado, uma forma de robôs nas eleições pode ser – e tem sido – a provocação de discussões nas redes sociais e a disseminação de notícias falsas com o intuito de prejudicar um candidato, partido ou movimento. Esses robôs são programados, por exemplo, para aumentar os números de seguidores e curtidas naquele candidato para o qual está a serviço, promovendo uma sensação de grande apoio popular – só que falsificado. No geral, não se identificam como robôs ou perfis falsos e enganam os internautas verdadeiros.

Uma apuração jornalística da BBC Brasil revelou um cenário preocupante sobre o poder dos robôs nas eleições, confirmando o que pesquisas no exterior já indicavam sobre o cenário brasileiro: existe uma estratégia de propaganda política, que não exatamente é sugerida ou conhecida pelos candidatos, que consiste em contratar pessoas para gerenciar dezenas de perfis para falar bem de certo político e mal de outro. As mensagens tendem para os extremos e incentivam a polarização política, enquanto são alternadas com publicações “pessoais” de um dia a dia qualquer, para dar um tom mais natural ao perfil e evitar que as redes sociais notem a falsidade e automatização do conteúdo. Afinal, perfis falsos são proibidos e ilegais nas plataformas online. Somando isso ao fato de que, hoje em dia, não existe tanto um filtro das informações que chegam até nós, a ação dos robôs pode ser sutil, disfarçada e influenciar o voto do eleitor. Vamos conferir se isso já aconteceu?

Marc Raibert and SpotMini at TED2017 – The Future You, April 24-28, 2017, Vancouver, BC, Canada. Photo: Bret Hartman / TED

Estratégia de marketing eleitoral? Os robôs na política nacional

O uso de robôs nas eleições se tornou uma tática do marketing político, visto que pode ser usado tanto de maneira oculta, como descobrimos, quanto como forma de militância e propagação de ideias, eventos e projetos, às claras. A questão se agrava em contextos de polarização política, marcante nas eleições de 2014, e presente em momentos decisórios como o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e as eleições municipais em 2016. O mesmo aconteceu nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, em 2016, o que levou a uma investigação profunda pela agência de inteligência do país, e na votação do plebiscito do Brexit, sobre a saída da Inglaterra do bloco da União Europeia.

Deu para sentir a grande dimensão que atos tão pequenos como disseminar notícias inexatas e compartilhar perfis falsos podem alcançar, certo? Afinal, as notícias falsas contaminam o debate saudável sobre política, segundo a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP/FGV). Durante as eleições de 2014, perfis falsos geraram mais de 10% do debate político. Isso não significa que todas as interações eram falsas, pois pessoas comuns, como nós, acabam respondendo ou interagindo sem perceber que, do outro lado, está a fala de um robô.

Percebe o poder da (des)informação? A propaganda política computacional pode alterar nossa percepção da realidade. O aumento dos números causa um “efeito manada”. Lembre-se, por exemplo, de quando o governo federal anunciou a intervenção federal no estado do Rio de Janeiro, em fevereiro de 2018. Quantas notícias e compartilhamentos chegaram até você sobre estado de sítio, intervenção militar – e até mesmo golpe de Estado – por meio do whatsapp e das redes? Criou-se um senso de perigo e confusão, que só passou com o trabalho de iniciativas em fazer checagem dos fatos e explicar o que está definido na Constituição Federal de 1988. Imagina se essa desinformação acontece em meio a um plebiscito sobre porte de armas, novas eleições ou qualquer decisão coletiva? É exatamente esse o efeito ao condenar a imagem de um candidato e glorificar a de outro. É o futuro da sua cidade e da sua nação sendo determinado pelo que não é real.

Uma prova disso é a fala dos ex-funcionários entrevistados pela BBC Brasil: parte do trabalho era a criação e programação de comentários em portais de notícias, para incentivar a discussão e polarização política, e de automatizar votação em enquetes no site do Senado, passando o dia clicando continuamente na opção desejada. Ou seja, não estavam representando cidadãos verdadeiros e ainda decidiam por eles. Estaríamos, então, a mercê da manipulação eleitoral e da opinião pública?

Eu, tu, ele, nós todos: como lidar com os robôs nas eleições

Notícias falsas sempre existiram, principalmente no ramo da política, onde não é novidade a campanha de um candidato soltar uma informação sobre o adversário para que ele perca votos ou que boatos sobre a vida dele sejam espalhados. As notícias falsas disseminam informações que não estão 100% corretas sobre candidatos, partidos políticos, políticas públicas… Assim, aos poucos, vamos formando nossas bolhas de opinião e os algoritmos das redes sociais nos mostram as pessoas e as notícias que corroboram a nossa visão de mundo. A tática dos robôs nas eleições é combinada com o uso dos dados pessoais que deixamos de rastro na internet, ao fazer um perfil, uma conta ou preencher dados em sites. Assim, os robôs vão reproduzir conteúdos que conversam com o perfil do eleitorado do candidato, a nível de sexo, faixa etária, cidade, renda e assim por diante.

Pensando nisso, em dezembro de 2017 foi criado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições, a fim de consolidar práticas e estudos de combate às notícias falsas, formando um colegiado de “representantes da Justiça Eleitoral, Governo Federal, Exército Brasileiro, Polícia Federal, Ministério Público Eleitoral, Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Comitê Gestor da Internet, além de acadêmicos e representantes da sociedade civil organizada.”

Segundo a apuração da BBC, os robôs não seriam totalmente proibidos pelo TSE. Assim, as contas automatizadas para a divulgação de agendas e plataformas de governo estariam autorizadas. Por outro lado, bots usados para ofender oponentes ou manipular pesquisas online seriam proibidos e passíveis de punição. Todavia, uma matéria do Estadão informa sobre a atual falta de rotina de encontros e planejamentos do Conselho, o que pode atrasar a consolidação de políticas públicas de combate a crimes na internet.

Além da força-tarefa para combater as notícias falsas nas eleições 2018, é importante não enxergar todos os perfis falsos como vilões – ou isso também seria polarizar a política e não validar a sátira, a paródia e a liberdade de expressão dos internautas. Um bom exemplo é o perfil da Dilma Bolada, no Twitter, que foi bastante conhecido durante o mandato da ex-presidente e não era financiado.

Conseguiu entender o que robôs têm a ver com as eleições? Deixe suas dúvidas e sugestões nos comentários!

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Conteúdo escrito por:
Bacharel em Produção Editorial na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Eu, robô? Como funciona o uso de robôs em eleições #NãoValeTudo

29 mar. 2024

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