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O que é vontade política?

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*Este texto não tem por objetivo adentrar em princípios filosóficos e sociológicos do termo, nem esgotar os debates em torno dele. Busca informar, de uma maneira simplificada, sobre como esse termo foi criado e de que maneira influencia hoje a vida de nós, cidadãos.

Você provavelmente já deve ter ouvido falar muito sobre “vontade política” em noticiários, jornais e debates públicos. Muitas ações e projetos públicos acontecem (ou deixam de acontecer) por causa dela (ou de sua ausência).

Mas o que significa ter vontade política?

De uma maneira literal, a vontade política é exercida quando uma determinada pessoa com poder político (vereador, deputado estadual ou federal, senador…) encontra bases para agir, seja em prol da população, defendendo um projeto cívico, seja em prol de si mesma, buscando um projeto pessoal.

De acordo com Yves Zarka, professor da Universidade de Paris Descartes-Sorbonne, o termo foi cunhado pela primeira vez pelo filósofo Thomas Hobbes. Para Hobbes, a vontade política só pode existir se duas condições forem satisfeitas ao mesmo tempo:

1. Que cada um submeta sua vontade à de um outro que seja único;

2. Que esta vontade única seja considerada como a vontade de todos.

Ainda, e para que o conceito faça sentido, é necessário que se entenda um pouco sobre representação e autorização.

Ficou confuso(a)? Vou explicar!

A vontade política depende de representação e autorização

De acordo com o filósofo, a vontade política começa com uma transferência. Eu, cidadão comum, transfiro o meu poder e a minha vontade a uma outra pessoa pública.

Ao fazer essa transferência, de uma certa maneira eu renuncio o meu poder de transformação e o entrego a um receptor, um político eleito democraticamente.

Assim, por meio de sua representação, o político tem o poder de fazer qualquer ação com essa vontade. Esse poder é a autorização. Entende-se que assim ele poderá tomar qualquer atitude, em virtude da concessão de uma permissão – chamado de mandato – por parte daquele a quem pertence o direito (o meu e o seu, caro leitor).

Se ele fizer o melhor uso dessa autoridade, concedida por meio da representatividade, ele a utilizará em projetos de interesse da população, a fim de que seja concebida uma vontade política.

Mas não é só isso! Você se lembra das condições que mencionei acima?

Pois bem, vale lembrar que essa vontade — a minha, por exemplo, bem como a de todos os outros eleitores — deve ser a vontade de todos. Por exemplo: não posso querer um carro novo ou uma casa nova. Isso não é público e nem comum, e sim próprio e egoísta. Logo, devo buscar a consonância com a vontade de um conjunto, como a reforma de uma rua, de calçadas para pedestres e vias para ciclistas, ou do posto de saúde do meu bairro.

E como garantir que um político tenha “vontade política”?

Nesse momento é que entra a organização da sociedade. Além de escolher bem o seu voto, organizar-se em forma de um coletivo trará no mínimo dois resultados:

  1. O poder do constrangimento, em que um coletivo vai apresentar ao público/mídia em geral que seus atores políticos não estão cumprindo com o bom uso do poder que lhes foi concedido;
  2. A criação de moldes próprios para a ação cívica pública, sem o intermédio de outros atores políticos, a fim de obter recursos para alcançar um fim comum (como a reforma da rua, da calçada ou do posto de saúde). Um meio conhecido é o orçamento participativo.

E você se questiona: bom, significa que se eu me mobilizar junto de um coletivo, então todos os problemas sobre a vontade política serão resolvidos? Não, caro leitor. É bom deixar claro que não depende só de você! Há, ainda, outros fatores que influenciam nessa questão.

Fatores externos que influenciam na vontade política

A fim de demonstrar que nem só de nós depende a vontade política, vou elucidar com um exemplo do livro “O valor de nada”, do escritor, economista e professor da Universidade de Berkeley, Raj Patel:

“Quando a mudança deixa de acontecer, é por força da “vontade política”, uma espécie de pó mágico que impulsiona os poderosos à ação (ainda que tal ação termine sendo apenas uma reciclagem disfarçada). O que está por trás de ideias como “vontade política”, mais do que qualquer outra coisa, é a nossa própria ambivalência diante do governo. Em grande medida, o público tem imensa vontade política de serviços de saúde e educação, cuidados com o meio ambiente ou redução de gastos… o que acontece com muita frequência é que a determinação dos representantes é moldada mais pelos interesses das corporações do que pelos do público”.

O que ele busca apresentar nesse trecho é que há outros fatores, como os interesses de grupos de poder (grandes corporações, grupos de lobistas, etc.), com a capacidade de moldar as decisões dos políticos, a fim de que eles acatem projetos de cunho individualista, ao invés de optar por outros que promovam o bem comum.

Já uma segunda perspectiva é a maneira pela qual o economista da Universidade de São Paulo, Glauco Peres da Silva, busca expor por meio desse excerto:

“Nas próximas vezes em que pensar sobre a falta de vontade política ou porque os políticos não fazem o que é certo para o Brasil, tente pensar quem são as pessoas envolvidas, o que elas pensam, quais as regras a que estão sujeitas, quem mais tem a capacidade de interferir naquela decisão — e o que estas pessoas valorizam — etc., e terá condições mais concretas de entender porque as decisões que você tanto gostaria de ver em prática não acontecem”.

Nesse parágrafo o economista busca apresentar que além das demandas coletivas por bens comuns, há diversos fatores internos ao agente político (motivações pessoais por cargos/indicações/reeleições), e externos (capacidade política, ausência de poder naquele assunto, objeções do seu partido) que o motivam a decidir da maneira que decidiu.

Ou seja, devemos entender que nem só de nós depende o exercício da vontade política. Mas não pense que isso é motivo para desistir. Acredite, você pode fazer muito na política!

Então, o que você deve fazer?

Na próxima vez que ouvir que “faltou vontade política”, não hesite: pare para refletir onde estava você para fazer a cobrança dessa vontade! Afinal, se ela não existe até o momento, é porque não foram reunidas as condições necessárias para que determinadas necessidades sociais começassem a ser atendidas.

Busque a associação em coletivos, pesquise e escolha corretamente os vereadores, deputados e senadores. Quando essa vontade for comum, ela será sua, minha, e de um conjunto de pessoas que compartilham de um mesmo sentimento. Mas não basta que você a resguarde dentro de si, você deve transmiti-la e exigir o seu cumprimento.

E você, tem alguma opinião sobre a vontade política? Nos conte nos comentários!

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Conteúdo escrito por:
Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Atua como Diretor de Projetos do Rotaract Club Florianópolis-Leste – Gestão 2016/2017.

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15 abr. 2024

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