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Estado Mínimo: o que é?

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Na imagem, dólares americanos em referência ao conteúdo sobre Estado Minimo.
Foto: David McBee/Pexels.

O tamanho da participação do Estado na economia é um assunto que desperta – desde muito tempo – diversas discussões. Decidir se um Estado deve intervir mais ou menos em um país é uma tarefa complicada que envolve as crenças e fundamentos econômicos daqueles que o fazem.

Para você entender no que toda essa discussão está baseada, neste conteúdo a gente te explica o que é o Estado Mínimo.

Veja também nosso vídeo sobre a história de Margaret Thatcher!

Desde quando ouvimos falar sobre o Estado Mínimo?

Ainda na época da primeira fase da Revolução Francesa (1789-1799), as origens das palavras “direita” e “esquerda” foram definidas. Enquanto a burguesia procurava apoio dos mais pobres para diminuir o poder da nobreza e do clero, a classe mais rica não gostou da ideia e para não se misturarem, começaram a sentar do lado direito da Assembléia Constituinte.

Quer saber mais sobre o que a história diz sobre esquerda e direita? Acesse nosso conteúdo!

Dessa forma, ficou historicamente definido que pautas da esquerda representariam a causa trabalhista e a promoção do bem estar coletivo, enquanto as pautas de direita estariam mais ligadas a liberdade individual e ao tradicionalismo conservador.

Seguindo a linha do tempo, chegamos em duas personalidades importantes para a difusão da imagem da direita no mundo:  Margareth Thatcher e Ronald Reagan. Essas figuras foram responsáveis por políticas austeras em seus respectivos países, com o intuito de tirá-los da recessão econômica – diminuindo o tamanho do Estado e automaticamente indo de encontro aos interesses da população.

Thatcher foi a primeira ministra do Reino Unido, de 1979 a 1990, e tinha a tarefa de tirar a Inglaterra de uma recessão. A ‘dama de ferro’, como era conhecida, usou políticas como a privatização de empresas e a flexibilização do mercado, táticas que foram amplamente confrontada por boa parte da população inglesa.

Já Reagan foi o 40º presidente dos Estados Unidos da América, suas políticas econômicas basearam-se em desregulamentações e redução de gastos governamentais, controlando a inflação e fazendo com que os EUA alcançassem uma taxa média de crescimento anual de 7,9%.

Nos últimos anos, governos ligados a propostas consideradas de direita chegaram ao poder através das urnas. Com isso, a temática sobre o Estado Mínimo ganhou força, mas afinal, o que essa teoria afirma e como pode ajudar países a alcançarem desenvolvimento econômico e social?

Estado Mínimo, o que é?

Vamos começar explicando conceitualmente o que o termo significa. Estado Mínimo nada mais é do que o entendimento que o papel do estado na sociedade deve ser o mínimo possível para que o Estado consiga entregar serviços públicos de qualidade para a sociedade, com maior eficiência, deixando apenas nas mãos de iniciativas privadas funções consideradas não essenciais.

Para o filósofo e ex professor da Universidade de Harvard Robert Nozick, Estado Mínimo era:

Minhas conclusões principais sobre o Estado são que o Estado Mínimo, limitado às estreitas funções de proteção contra a violência, o roubo e a fraude, ao cumprimento de contratos, etc. , se justifica; que qualquer estado mais abrangente violaria o direito das pessoas de não serem obrigadas a fazer certas coisas e,  portanto, não se justifica; que o Estado Mínimo é inspirador, assim como correto” (Nozick,1990: 7)

Para um debate mais amplo de ideias, abordaremos também os conceitos de três personagens ímpares para a história da filosofia política mundial, Norberto Bobbio, Adam Smith e Stuart Mill.

Para Bobbio, em “Dicionário da Política” o Estado Minimo é:

“…a noção corrente para representar o limite das funções do estado dentro da perspectiva da doutrina liberal” (BOBBIO, 1998:11)

Já para Stuart Mill, percebemos que suas principais obras tinham como preocupação difundir as ideias e princípios do liberalismo, algumas que podemos citar são: Sobre a Liberdade (1991) Considerações sobre o governo representativo (1981). Assim, para ele:

Um estado que amesquinha seus homens, …ainda que para os propósitos benéficos, descobrirá que com homens pequenos nada grande se pode fazer realmente” (MILL, 1991:158)

E, por fim, Adam Smith – considerado como um dos teóricos do liberalismo econômico mais influentes da história – em sua obra intitulada “A Riqueza das Nações” definiu três intervenções clássicas do Estado que estabelecem o limite de abrangência do mesmo, são elas:

  1. Financiar, através de gastos, a força militar para proteger a sociedade contra a invasão estrangeira;
  2. Proteger os membros da sociedade contra a injustiça que possa vir a ser cometida por outros membros;
  3. Manter instituições e obras públicas que proporcionam vantagens para a sociedade mas que não oferecem uma possibilidade de lucro que compense a atividade privada.

Como o tema surgiu e quais os seus argumentos basilares?

Conforme relatamos no parágrafo acima, a ideia do Estado Mínimo veio na corrente do liberalismo clássico, que tem Adam Smith e Stuart Mill como seus teóricos mais influentes.

A não intervenção estatal é um dos argumentos basilares do liberalismo clássico, porém a ideia de Estado reduzido foi apresentada através de Robert Nozick em seu livro, intitulado “Anarquia, Estado e Utopia”. 

Para Nozick, essa era a forma de governo mais moralmente justificável. Também veio dele a denominação “minarquismo” para identificar os governos que mais se assemelham com a teoria, e “minarquistas” para destacar os indivíduos que defendem a tese.

Assim, para os minarquistas, os argumentos basilares para a implementação do Estado Mínimo são:

  1. Menor erro de cálculo econômico (ou seja, reduz o desperdício de recursos financeiros escassos);
  2. Maior crescimento econômico (ou seja, libera recursos até então travados pela burocracia estatal, portanto incentivaria a geração de novos postos de trabalho);
  3. Menor carga tributária (ou seja, uma vez o Estado tendo seu tamanho reduzido, abriria espaço para a iniciativa privada ter mais liberdade de atuação)

Podemos destacar dois casos em que a teoria do Estado Mínimo foi substancialmente utilizada:

  1. Os Estados Unidos entre os anos de 1780 até 1913, momento em que o país passou basicamente de uma nação rural para um dos maiores centros econômicos e urbanos do mundo.
  2. Hong Kong, hoje, é a região que possui uma das maiores infraestruturas para a proteção legal de propriedade privada no mundo.

O Estado Mínimo no Brasil e os principais argumentos

Se pegarmos a história brasileira e analisarmos sobre o ponto de vista do Estado Mínimo, perceberemos que o nosso país em toda a sua história dificilmente se aproximou de tal teoria. Temos casos isolados em que o país adotou práticas liberais para a sua industrialização interna, como foi no governo de Juscelino Kubitschek e, mais recentemente, nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Porém, nos dois últimos citados, seus governos foram marcados por amplas políticas públicas sociais, que ao contrário do que prega a teoria do Estado Mínimo, aumentaram consideravelmente o tamanho do estado.

O governo de Jair Messias Bolsonaro até o momento é um dos governos recentes que mais implementou políticas neoliberais – que são medidas que remontam os antigos ideais do liberalismo clássico ao enfatizar a mínima intervenção estatal na economia – com amplos projetos de privatização e sinalizações de abertura comercial para o mercado internacional.

Desse modo,  o atual ministro da economia Paulo Guedes – que tem formação na tradicional escola liberal americana de Chicago – já chegou a dizer abertamente que a grande maioria das empresas estatais brasileiras deveriam ser privatizadas.

O ministro defende amplamente a ideia do Estado Mínimo. Como podemos observar em entrevista concedida a Reuters

“A centralização de recursos e poder acaba corrompendo a política e estagnando a economia. É um estado que interfere em tudo e intervem em tudo, mas é mínimo na entrega e máximo no consumo de recursos”

Mas o modelo desperta críticas. O doutor em história política pela UFRJ, Rafael Fagundes, é um dos críticos do modelo de Estado Mínimo proposto pelo atual governo. Em entrevista concedida para a revista Le Monde Diplomatique Brasil, o professor afirma que:

“…O certo é que  a tentativa de radicalizar o neoliberalismo nas maiores potências da América do Sul vem se tornando incompetente. Se na Argentina, esse projeto não deu certo, porque não se forjou um discurso radical e popular contra a esquerda, aqui não está avançando justamente porque o governo tem se dedicado lunática e exclusivamente a intensificar tal discurso”

Ficou alguma dúvida? Deixa aqui nos comentários!

REFERÊNCIAS

Estado mínimo: entenda o conceito que propõe a redução do Estado

Diplomatique: Estado Mínimo

Exame: O que pensa Paulo Guedes

Norberto Bobbio et al: dicionário de política

Adam Smith: A riqueza das nações, 1983.

John Stuart Mill: Considerações sobre o governo representativo.

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1 comentário em “Estado Mínimo: o que é?”

  1. Show de bola seu texto e suas considerações, mostrando os dois lados da moeda. Gostaria de me aprofundar mais sobre o tema. Abraços

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Conteúdo escrito por:
Antes de tudo, Pernambucano. Bacharel em Relações Internacionais e Pós-Graduado em Ciências Políticas pelo Centro Universitário ASCES-UNITA. Atualmente desenvolve pesquisas sobre acompanhamento político.

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16 abr. 2024

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