5 vezes em que a juventude brasileira marcou a história do país

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Historicamente, a juventude sempre foi considerada um importante agente social, tratada, na maioria das vezes, como rebelde e com vontade de alterar a ordem vigente, lutando contra desigualdades e o autoritarismo. Embora seja uma visão romantizada, presente em obras como “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, não é de todo uma mentira. Não são raros os eventos históricos dos quais a juventude foi protagonista, desde a Juventude Hitlerista, responsável pela ascensão e legitimação do governo Nazista na Alemanha, até a juventude tcheca, que, cansada do autoritarismo soviético, foi às ruas protestar e pedir a modernização do regime, durante a primavera de Praga, em 1968. Mais do que alterar a ordem vigente de seus países, esses e outros jovens marcaram a história mundial.

No Brasil, a história não é diferente: não foram raras as vezes em que os jovens impulsionaram revoltas e movimentos de contestação às condições sociais e políticas presentes nas suas épocas. Vamos lembrar de alguns desses momentos? 

Se preferir, ouça nosso episódio de podcast sobre esse assunto!

Listen to “#061 – Juventude brasileira em momentos históricos” on Spreaker.

1920: AS REVOLTAS TENENTISTAS

Oficiais da Coluna Prestes. Foto: Wikimedia Commons.

No ano de 1920, a jovem república brasileira estava distante de ser verdadeiramente democrática. O cenário político era marcado por corrupção e por um sistema fraudulento de votação, o chamado “voto de cabresto”, no qual os coronéis obrigavam a população a votar nos candidatos de seu interesse. Somava-se a isso um cenário social marcado pela concentração fundiária no campo e pela pobreza extrema nas cidades.

Esse cenário de decadência econômica e moral levou jovens oficiais do exército a se rebelarem contra o governo, em uma série de movimentos, que tiveram como expressão máxima a Coluna Prestes. Esse movimento, liderado pelo jovem Luís Carlos Prestes (com 22 anos na época), se baseava em percorrer o interior do país, conversando com a população do interior sobre as incoerências e problemas do governo do então presidente Arthur Bernardes e incitando o povo a se rebelar contra ele. Na prática, a coluna não conseguiu seu objetivo de derrubar o presidente, mas gerou a instabilidade necessária para que Getúlio Vargas chegasse ao poder em 1930.

1968: A PASSEATA DOS 100 MIL

Durante os anos de 1964 e 1985, o Brasil viveu sob o regime de uma ditadura militar. Esse período, iniciado com a deposição do presidente João Goulart, ficou marcado pela restrição de liberdades civis e políticas, como pela cassação de mandatos, suspensão dos direitos políticos ou aposentadoria compulsória de parlamentares da oposição, extinção dos partidos políticos e imposição do bipartidarismo, estabelecimento de eleições indiretas para governadores, dentre outras medidas que mostravam que o regime estabelecido era de fato uma ditadura.

Nesse cenário, crescia a insatisfação da juventude com tamanha repressão e falta de liberdade, e essas tensões tiveram seu ápice após a Polícia Militar assassinar o estudante Edson Luís durante a invasão de um restaurante no centro do Rio. A morte de Edson gerou uma enorme revolta, que culminou na intensificação dos protestos. Um deles foi a “passeata dos 100 mil”, no qual pelo menos 100 mil pessoas marcharam pelo centro do Rio de Janeiro, pedindo pelo fim do regime.

Na prática, o objetivo final não foi alcançado. O regime, sentindo-se acuado, aumentou a repressão a esses grupos, com a criação do AI-5, que proibia as manifestações. A ditadura seguiria firme por mais 17 anos. No entanto, foi a maior manifestação civil de oposição ao regime registrada até então, de uma juventude que se negava a aceitar de forma passiva os mandos e desmandos de um governo autoritário.

1984: DIRETAS JÁ

Movimento das “Diretas Já” em Brasília. Fonte: Wikimedia Commons.

Na década de 1980, a ditadura não possuía mais a mesma força e legitimidade de seus primeiros anos. A crise econômica internacional causada pelos choques do petróleo nos anos 1970 e a crescente pressão popular pela abertura política demonstravam que o regime estava com os dias contados. Além disso, o próprio governo já sentia o desgaste e a necessidade de realizar uma abertura política “lenta, gradual e segura”, como afirmado pelo ex-presidente Ernesto Geisel.

Nessa lógica, o governo já tomava medidas que apontavam para o fim da ditadura, como a lei de anistia, que perdoava todos os crimes políticos cometidos no período, a volta do pluripartidarismo e as eleições diretas para governadores. Apesar de esse processo de abertura representar significativos ganhos democráticos, era pouco para toda uma geração que cresceu e viveu sem liberdade política e de expressão. Mais do que ter um civil como presidente, a população queria poder escolher esse civil, queria sentir novamente o poder do voto, o que levou a um movimento de protestos exigindo eleições diretas para a presidência da república.

Como forma de alcançar esse processo, foi lançada uma emenda constitucional (chamada de Emenda Dante de Oliveira) que estabelecia as eleições diretas para a presidência, em 1983. Apesar de toda a mobilização popular, a emenda não foi aprovada e Tancredo Neves, o primeiro civil a assumir a presidência em 21 anos, foi eleito pelo voto indireto (eleições diretas só voltariam a ser realizadas em 1989).

Apesar de não ter alcançado seu objetivo final, o movimento das diretas já foi sem dúvida fundamental para a redemocratização do país. Na prática, representou a falência do regime implantado pelos militares, que não era mais capaz de conter a ânsia do povo pela democracia.

Leia também: Diretas Já, versão 2017

1992: O FORA COLLOR

Membros do movimento estudantil, no Rio de Janeiro, nas manifestações de 2013 contra o aumento das tarifas. Fonte: Wikimedia Commons

Fernando Collor de Melo: esse é o nome de um dos presidentes que mais marcaram a história do Brasil, em parte por ter sido o primeiro civil a assumir a presidência pelo voto direto em quase 30 anos, mas também por ter sido o primeiro presidente a sofrer um processo de impeachment e ser afastado da presidência.

Apesar de possuir amplo apoio popular quando eleito, o presidente sabia que a tarefa de governar o Brasil não seria fácil. Collor assumiu um país que sofria com a hiperinflação e problemas fiscais graves. Seu mandato foi marcado por planos econômicos ineficazes, que incluíram a demissão em massa de funcionários públicos, o congelamento dos salários e o bloqueio de contas correntes e poupanças, que além de fracassarem e não tirar a economia brasileira da estagnação, também contribuíram para tornar Collor um presidente altamente impopular.

Somado a isso, começaram a vir à tona diversos escândalos de corrupção, com acusações de crimes como lavagem de dinheiro, tráfico de influência e desvio de dinheiro público, que envolviam ministros do governo e o próprio presidente. Nesse cenário de extrema insatisfação, a população (e principalmente o movimento estudantil) foi às ruas pedir o impeachment de Collor. Essa pressão popular foi intensa e deu resultado: pouco tempo depois da denúncia, o processo de impeachment foi autorizado pela Câmara e Collor afastado da presidência, simbolizando a vitória do movimento popular.

Leia mais: por que Collor sofreu impeachment

2013: UM MOVIMENTO DE MUITAS BANDEIRAS, MAS COM PROTAGONISMO DA JUVENTUDE BRASILEIRA

Protesto no Congresso Nacional, em 17 de junho de 2013. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil.

2013 pode ser considerado um dos anos mais enigmáticos da história política recente do Brasil. Em junho daquele ano, surgiu uma onda de pequenos protestos, realizados por movimentos estudantis de algumas capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Florianópolis, com o foco principal de barrar o aumento das tarifas de transporte público.

Há muitos anos, o reajuste das tarifas era questionado pelo movimento estudantil pois, além de caro, o transporte público nas cidades brasileiras continua a ser oferecido em péssimas condições. De imediato, houve a tentativa de reprimir os protestos, com uso intenso da força policial, que em diversos casos agiu com truculência, através do uso desmedido de bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, além da utilização de balas de borracha. Tais ações atingiram diversos manifestantes e até jornalistas, o que gerou um forte sentimento de revolta, que foi amplamente difundido pelas redes sociais.

A tática de repressão utilizada pela polícia não funcionou e fez o movimento crescer. Cada vez mais e mais pessoas passaram a ir às ruas e as bandeiras dos protestos se diversificaram: passou-se a exigir não só a melhoria nos transportes públicos, mas dos serviços públicos em geral, especialmente educação e saúde. Protestou-se também contra a realização da Copa do Mundo de 2014 (que foi realizada no Brasil), contra a corrupção e contra a violência policial.

É importante notar também que foi a primeira grande onda de protestos ocorrida no país após a massificação das redes sociais, o que certamente alçou as manifestações a um novo patamar. Pode-se dizer que o movimento foi vitorioso, pois levou à revogação do aumento das tarifas. Além disso, foi promulgada lei que determina 75% dos royalties do petróleo passarão a ser destinados à educação e os outros 25% para a saúde. Por fim, foi proposta a instalação de uma assembleia constituinte para debater uma reforma política. Essas medidas foram anunciadas pela então presidente Dilma Rousseff em cadeia nacional de rádio e televisão.

Aprovou-se também o fim do voto secreto em processos de cassação de mandato e a corrupção passou a ser considerada crime hediondo. Os acontecimentos de junho de 2013 são recentes e passíveis de mais estudo. No entanto, foram sem dúvida históricos e responsáveis por reviver a ânsia política dos brasileiros.

Confira também nosso vídeo sobre o assunto:

Recorda de outros movimentos marcantes da juventude brasileira? Compartilhe conosco nos comentários!

Referências:

Folha de São Paulo: manifestações de 2013 – UOL: manifestações de 2013 – Tenentismo – Coluna Prestes – Historianet: passeata dos 100 mil – Estudo Prático: passeata dos 100 mil – InfoEscola: Diretas Já – InfoEscola: Fora Collor

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3 comentários em “5 vezes em que a juventude brasileira marcou a história do país”

  1. Eu acho isso bem desnecessário, eu e os meus amigues não gostamos disso, mas nosso professor obriga a agente a fazer coisas que não gostamos, para professor Lucas

  2. Kaila, seu professor vê horizontes que vocês ainda não enxergam, mas quer que vocês enxerguem pelo bem de vocês e pelo bem do país. Sabe quando alguém está brigando com você, sendo injusto com você, e vem um grupo de pessoas te defender e fazer a outra pessoa te respeitar? Manifestações são parecidas com isso, porque alguém lá do passado brigou por direitos que você usa hoje, mas não usaria se ninguém tivesse lutado por isso por você. Se ninguém tivesse feito manifestação nos últimos 100 anos, você nem poderia chamar seus amigos de amigUES porque ninguém teria tido coragem de questionar a existência de outros gêneros além do tradicional masculino e feminino. Mesmo se você não gostasse, você e seus amigos seriam obrigados a ser mulher se nasceu com corpo de mulher, e homem se nasceu com corpo de homem. Você teria que trabalhar desde os 7 anos, o dia inteiro, sem férias pagas (ou seja, vai tirar férias? Não recebe salário nos dias das férias), e se tivesse um acidente no trabalho, você não encontraria vaga para trabalhar porque ninguém iria querer te dar e não existiria nenhuma lei que obrigasse a te darem. Se você virasse moradora de rua por não conseguir emprego, também não haveria nenhum tipo de ajuda para você. Continua achando que as manifestações foram desnecessárias?

  3. Kaila, seu professor vê horizontes que vocês ainda não enxergam, mas quer que vocês enxerguem pelo bem de vocês e pelo bem do país. Sabe quando alguém está brigando com você, sendo injusto com você, e vem um grupo de pessoas te defender e fazer a outra pessoa te respeitar? Manifestações são parecidas com isso, porque alguém lá do passado brigou por direitos que você usa hoje, mas não usaria se ninguém tivesse lutado por isso por você. Se ninguém tivesse feito manifestação nos últimos 100 anos, você nem poderia chamar seus amigos de amigUES porque ninguém teria tido coragem de questionar a existência de outros gêneros além do tradicional masculino e feminino. Mesmo se você não gostasse, você e seus amigos seriam obrigados a ser mulher se nasceu com corpo de mulher, e homem se nasceu com corpo de homem. Você teria que trabalhar desde os 7 anos, o dia inteiro, sem férias pagas (ou seja, vai tirar férias? Não recebe salário nos dias das férias), e se tivesse um acidente no trabalho, você não encontraria vaga para trabalhar porque ninguém iria querer te dar e não existiria nenhuma lei que obrigasse a te darem. Se você virasse moradora de rua por não conseguir emprego, também não haveria nenhum tipo de ajuda para você. Continua achando que as manifestações foram desnecessárias?

    Desperta, meu coração. Nenhum conteúdo está na escola à toa, e os professores não estão CONTRA você, eles estão COM você.

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18 abr. 2024

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