O ativismo climático se tornou uma das principais forças sociais do século XXI, reunindo pessoas de todas as idades e origens em defesa do planeta. Ele combina ciência, cultura, política e mobilização cidadã em uma resposta coletiva à crise ambiental.
Dos movimentos globais às ações comunitárias, o ativismo climático redefine o que significa participar ativamente na construção de um futuro sustentável. Continue a leitura para saber tudo que você precisa sobre o tema!
Este conteúdo integra a trilha do Projeto Amazônia Urbana, uma iniciativa que busca aprofundar o entendimento sobre os desafios e transformações ambientais das cidades na região amazônica.
O que é ativismo climático?
O ativismo climático é um desdobramento do movimento ambientalista, reunindo indivíduos, grupos e organizações empenhados em responder à crise ecológica contemporânea.
Ele integra dimensões científicas, políticas, sociais e culturais com o objetivo comum de conter o aquecimento global, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e proteger comunidades vulneráveis aos impactos da mudança do clima.
O ativismo ambiental se estrutura em redes segmentadas e descentralizadas, chamadas “segmentada”, “policêntrica” e “em rede”, nas quais diversos coletivos e organizações colaboram a partir de causas e territórios distintos, mas interconectados por uma agenda comum: preservar o planeta e promover a sustentabilidade.
Essa estrutura flexível permite que iniciativas locais e globais coexistam e se fortaleçam mutuamente, indo de protestos de rua à criação de leis e políticas públicas ambientais.
Origens e consolidação do movimento climático
O ativismo climático contemporâneo tem raízes em movimentos históricos de defesa ambiental e justiça ecológica. Desde a Revolução Industrial, pensadores como Ralph Waldo Emerson, Henry David Thoreau e John Muir alertaram sobre a relação predatória entre sociedade e natureza, lançando as bases do pensamento conservacionista.
No século XX, a obra Silent Spring (1962), de Rachel Carson, denunciou o impacto dos pesticidas e impulsionou o ambientalismo moderno. O primeiro Dia da Terra (celebrado em 1970) mobilizou milhões de pessoas e levou à criação de políticas ambientais estruturantes, enquanto movimentos como o Chipko, na Índia, se tornaram símbolos da resistência não violenta ao desmatamento.
A partir dos anos 1980, o debate ambiental incorporou a pauta climática, com o reconhecimento científico do efeito estufa e da responsabilidade humana pelo aquecimento global.
Em 1988, o surgimento do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) consolidou o consenso científico sobre o tema, e conferências internacionais como a Rio-92 expandiram o conceito de sustentabilidade para incluir justiça social e equidade global.
A expansão global do ativismo climático
O século XXI marcou a consolidação do ativismo climático como movimento de massa. A revolução digital ampliou o alcance de campanhas internacionais e fortaleceu redes transnacionais. Surgiram iniciativas como:
- 350.org: iniciativa global dedicada à transição energética e à redução das emissões de carbono;
- Fridays for Future: movimento liderado por Greta Thunberg, que transformou greves escolares em uma mobilização mundial pela ação climática;
- Extinction Rebellion: coletivo que utiliza desobediência civil não violenta para pressionar governos a declararem emergência climática.
Essas mobilizações consolidaram o clima como a principal pauta política e ética do nosso tempo.
Contudo, o ativismo climático não é restrito à juventude. Nos últimos anos, uma nova geração de grupos diversos tem se somado aos protestos, especialmente na Europa e nos Estados Unidos.
Movimentos como Third Act e Avós Europeus pelo Clima mostram que a defesa ambiental transcende gerações. Um marco histórico foi a vitória das KlimaSeniorinnen, na Suíça, quando o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos reconheceu que a inação climática do governo violava direitos humanos, fortalecendo o ativismo intergeracional.
O fortalecimento do ativismo também trouxe reações políticas e jurídicas. Países como Austrália, Reino Unido e Alemanha aprovaram leis mais duras contra manifestações ambientais, levando à prisão de ativistas.
Essas legislações, somadas aos processos judiciais movidos por grandes corporações, os chamados SLAPPs, demonstram a reação às ações de ativistas climáticos. Casos como o processo de US$ 660 milhões movido pela Energy Transfer Partners contra o Greenpeace nos EUA evidenciam essas disputas.
Ativismo climático na região amazônica
Na Amazônia, o ativismo climático ganha contornos próprios. Jovens indígenas, quilombolas e ribeirinhos articulam saberes tradicionais com inovação tecnológica para desenvolver planos de adaptação climática em seus territórios.
Esses projetos incluem o mapeamento de plantas medicinais, o monitoramento de babaçuais e o fortalecimento de práticas agroecológicas sustentáveis, que aliam preservação ambiental e geração de renda.
Essa convergência entre ciência e ancestralidade revela um modelo de ação climática profundamente enraizado nas realidades locais.

Contudo, os desafios persistem. Conforme análise publicada pela The Conversation, os jovens ativistas da Amazônia frequentemente enfrentam ansiedade ecológica, exaustão emocional e falta de apoio institucional.
Apesar disso, seguem mobilizando campanhas, intervenções artísticas e ações comunitárias que reafirmam o vínculo entre justiça climática e direitos humanos. Ao traduzirem a urgência ambiental em expressões culturais, como murais, performances e eventos educativos, esses jovens transformam o medo em engajamento e fazem da arte um canal de resistência.
Mobilização e diversidade de estratégias
As formas de atuação do ativismo climático são amplas. Podem ser individuais, quando cidadãos alteram seus hábitos para inspirar mudanças locais, ou coletivas, quando movimentos sociais e ONGs pressionam por reformas estruturais.
Também há frentes institucionais, que exercem influência política e jurídica sobre governos e corporações. Segundo a University of Nevada, Reno, todas essas dimensões compartilham um mesmo propósito: impulsionar transformações profundas para garantir um futuro sustentável.
Marchas, greves, intervenções artísticas, campanhas digitais e desobediência civil não violenta são expressões centrais do ativismo climático. Para o Conserve Energy Future, essa diversidade de táticas é essencial para engajar públicos variados e transformar a conscientização em ação política concreta.
A internet e as redes sociais ampliaram o poder de alcance desses movimentos, permitindo que causas locais ganhem visibilidade global.
Os movimentos climáticos atuais operam de forma colaborativa e intersetorial, conectando jovens, povos indígenas, cientistas e comunidades locais em torno de uma transição energética justa.
Essa nova geração de ativistas prioriza a educação climática, os direitos humanos e a justiça intergeracional, entendendo que a crise climática é também um desafio ético e social. O engajamento climático se consolida como um movimento interseccional, que inclui pautas de gênero, raça, juventude e território, uma transformação civilizatória que redefine a própria noção de cidadania global.
Do ativismo digital à ação institucional
Com o avanço da internet e das redes sociais, o ativismo climático digital se tornaram uma frente da mobilização contemporânea. Plataformas como Twitter, Instagram e TikTok se tornaram ferramentas de denúncia, conscientização e articulação de campanhas globais.
O uso de hashtags como #ClimateStrike, #ActOnClimate e #AmazoniaResiste exemplifica essa nova fase digital do ativismo climático, que agora conecta pessoas ao redor do mundo com mais facilidade em torno da causa.
Além disso, influenciadores ambientais e comunicadores científicos têm sido porta-vozes na tradução de conceitos técnicos em linguagem acessível, aproximando a ciência da vida cotidiana.
Outra forma crescente de atuação é o litígio climático, uma estratégia jurídica que busca responsabilizar governos e empresas pela falta de ação diante da emergência ambiental. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o número de processos judiciais relacionados ao clima dobrou na última década, com mais de 2.000 ações registradas em 2023.
Casos emblemáticos incluem a decisão da Suprema Corte dos Países Baixos, que obrigou o governo a reduzir suas emissões em 25%. No Brasil, ações civis públicas têm sido utilizadas por organizações e ministérios públicos para exigir o cumprimento de metas de desmatamento zero e proteção de biomas.
A educação climática é outra dimensão estratégica do ativismo ambiental. Em muitos países, escolas e universidades têm incorporado práticas pedagógicas que conectam o aprendizado formal à sustentabilidade.
Projetos como o “Educa+Amazonas” e o “Escolas +Verdes”, no Brasil, buscam transformar instituições de ensino em espaços de protagonismo ambiental, com uso de energia solar, reciclagem de resíduos e currículos voltados à sustentabilidade.
Essa abordagem educativa reforça o papel das novas gerações como agentes de mudança, estimulando o pensamento crítico, a empatia ecológica e a responsabilidade coletiva (Agência Brasil; Consed).
A arte ativista também se destaca como linguagem poderosa dentro do movimento climático. Intervenções urbanas, performances, documentários e instalações têm sido utilizados para provocar reflexão e sensibilizar o público sobre a urgência da crise ambiental.
Exposições como Earth Speakr, de Olafur Eliasson, e filmes como I Am Greta ou The Territory unem estética e política, tornando visíveis as vozes de jovens, povos indígenas e defensores ambientais. A arte cria pontes emocionais entre o público e os dados científicos, convertendo informação em empatia e mobilização.
O ativismo institucional busca influenciar políticas públicas e decisões corporativas a partir de dentro. Muitos ativistas têm migrado para partidos, conselhos e órgãos de gestão ambiental, atuando como formuladores de políticas.
Organizações não governamentais também exercem pressão estratégica sobre empresas, cobrando compromissos de neutralidade de carbono e transparência nas cadeias produtivas. Essa vertente alia engajamento político e governança, mostrando que a ação climática pode e deve ocupar espaços de poder formal.
Juventude e ativismo climático na América Latina
O ativismo climático juvenil tem ganhado força como uma das mais potentes expressões da luta ambiental contemporânea. Em toda a América Latina, jovens vêm assumindo o protagonismo em pautas de sustentabilidade, equidade e justiça climática.
No entanto, para muitos deles, as ações dos governos ainda são insuficientes diante da urgência da crise. De acordo com pesquisa conduzida pelo UNICEF, apenas 4% dos jovens ativistas latino-americanos consideram adequadas as políticas públicas sobre o clima. A maioria relata não ser consultada nos processos decisórios e reivindica educação climática como direito fundamental e ferramenta de empoderamento político.
Como resposta a esse cenário, o UNICEF e o portal Porvir desenvolveram o curso “Seu papel na crise climática”, que busca ampliar o acesso de adolescentes e jovens à informação qualificada e incentivar a criação de projetos de impacto local.
A formação estimula competências socioambientais, pensamento crítico e expressão pública, reforçando a ideia de que o ativismo climático é também uma forma de educação cidadã. O curso propõe práticas que unem ciência, comunicação e empatia, fortalecendo o papel dos jovens como mediadores entre conhecimento técnico e saberes comunitários
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), por meio do PET Educom-Clima, também destaca a relevância da juventude como vetor da transformação ambiental.
De acordo com o grupo, o engajamento estudantil vai além da militância tradicional, pois incorpora a produção de conteúdo educativo, o diálogo intergeracional e o uso de tecnologias digitais como instrumentos de mobilização. Essa prática favorece a formação de uma consciência ecológica crítica e a consolidação de redes de solidariedade ambiental, especialmente em territórios vulneráveis.
E aí, deu pra entender melhor sobre o que é ativismo climático? Se ficou alguma dúvida, deixe nos comentários!
Se você gostou do conteúdo, conheça o Projeto Amazônia Urbana, uma iniciativa da Politize! em parceria com o Pulitzer Center. O projeto busca ampliar o olhar sobre os desafios das cidades amazônicas, promovendo conteúdos acessíveis e didáticos sobre urbanização, justiça climática e participação cidadã na região. Acompanhe essa jornada!
Referências
- Conserve Energy Future – Importance, Types & Examples of Environmental Activism
- DW – Por que ativistas do clima estão sendo criminalizados?
- EcoWatch – What is Climate Activism?
- Folha de S.Paulo – Jovens de comunidades tradicionais da Amazônia criam planos de adaptação climática
- G1 – Ativistas climáticos fazem intervenção visual com cinzas da Amazônia em Brasília
- InvestNews – O ativismo climático ganha uma nova geração: a dos idosos
- ONU Brasil / UNICEF – Para jovens ativistas, a ação climática na América Latina é insuficiente
- Porvir – Curso UNICEF: jovens e crise climática
- Student Energy – Climate Movements
- The Conversation – Nos desafios da luta pelo clima na Amazônia, jovens ativistas transitam entre a ansiedade e a exaustão
- UFSM PET Educom-Clima – O papel da juventude no ativismo ambiental
- University of Nevada, Reno (UNR) – What Is Environmental Activism?