O El Niño é um fenômeno climático natural que acontece quando as águas superficiais do Oceano Pacífico ficam mais quentes que o normal, especialmente perto da costa oeste da América do Sul. Esse aquecimento altera o clima em escala global, provocando mudanças nos padrões de chuva e temperatura em várias regiões.
Aqui no Brasil, a última passagem do El Niño terminou em abril de 2024, deixando consequências marcantes. Mas como esse fenômenos ocorre? Quais são os impactos no nosso dia-a-dia? Vem com a Polítize! que explicamos!
Quais são as causas do El Niño?
Durante o El Niño, os ventos alísios enfraquecem ou até mudam de direção, fazendo com que as águas quentes se desloquem para o leste, aquecendo a superfície do oceano próximo à costa sul-americana. Esse aumento na temperatura altera a circulação atmosférica, impactando os padrões de vento e umidade em diversas regiões do planeta.
Sob condições normais, os ventos alísios sopram de leste para oeste, empurrando águas quentes em direção à Oceania e fazendo com que águas mais frias subam na costa da América do Sul.
Essa movimentação cria uma diferença de temperatura no oceano, empurrando águas quentes em direção a Oceania e fazendo com que águas mais frias subam na costa da América do Sul. Essa movimentação cria uma diferença de temperatura no oceano.
Nessa fase, a pressão atmosférica é mais baixa no Pacífico Ocidental, perto da Indonésia, e mais alta no Pacífico Oriental, próximo à América do Sul.
Mas afinal, o que são os ventos alísios?
Os ventos alísios são correntes de ar constantes que sopram dos trópicos em direção à linha do Equador, em ambos os hemisférios. No Hemisfério Norte, sopram de nordeste para sudoeste, enquanto no Hemisfério Sul, vão de sudeste para noroeste.
Eles se formam devido à movimentação do ar quente e úmido que sobe na região equatorial, gerando uma área de baixa pressão, e ao ar mais frio que desce nas zonas tropicais, criando áreas de alta pressão.
Essenciais para o equilíbrio climático global, os ventos alísios influenciam o regime de chuvas, a navegação e até fenômenos como o El Niño.
Quais os principais efeitos do El Niño no mundo?
O El Niño é um fenômeno natural que causa grandes mudanças climáticas em várias partes do mundo, alterando a temperatura, a distribuição de chuvas e provocando eventos climáticos extremos.
A seguir, estão os principais efeitos do El Niño em diferentes regiões do planeta:
América do Sul
Durante o El Niño, as chuvas na região norte da América do Sul tendem a ficar abaixo da média, resultando em secas prolongadas e um aumento na ocorrência de incêndios florestais.
Por outro lado, o sul do continente, principalmente Brasil, Argentina e Chile, pode enfrentar chuvas excessivas, o que pode levar a inundações e deslizamentos de terra.

Ásia e Pacífico
Em países como Indonésia, Filipinas e Austrália, a falta de chuvas durante o El Niño pode agravar a seca e aumentar o risco de incêndios florestais.
A Austrália, por exemplo, tem um histórico de incêndios devastadores durante esses períodos.
Além disso, o aumento das temperaturas no Oceano Pacífico pode levar ao branqueamento de corais, especialmente na Grande Barreira de Corais da Austrália, colocando em risco ecossistemas marinhos e a biodiversidade.
América do Norte
Durante o El Niño, o aquecimento do Oceano Pacífico muda os ventos e a atmosfera sobre a América do Norte.
Isso faz com que o norte do continente, especialmente no Canadá e no norte dos Estados Unidos, tenha invernos mais quentes e secos, enquanto o sul dos Estados Unidos, especialmente a Califórnia, enfrente mais chuvas e tempestades fortes.
Além disso, o El Niño aumenta os ventos em diferentes altitudes sobre o Atlântico Norte, dificultando a formação de furacões na região, mas cria condições favoráveis para mais ciclones no Pacífico perto da América.
África
O El Niño pode agravar a situação de seca em várias partes da África Oriental e Austral, onde já existem condições climáticas áridas, especialmente em países como Etiópia, Somália, Quênia, Zimbábue, Zâmbia, Malawi e Moçambique.
Enquanto isso, o oeste do continente pode sofrer com chuvas excessivas, provocando inundações.

Consequêcias ambientais e socioeconômicas do El Niño
O El Niño gera impactos globais significativos, afetando tanto os aspectos ambientais quanto socioeconômicos das regiões atingidas.
As mudanças nos padrões de precipitação prejudicam a agricultura, com secas em algumas áreas reduzindo a disponibilidade de água para irrigação, enquanto chuvas excessivas em outras causam inundações que destroem plantações. Esses efeitos aumentam o risco de escassez de alimentos e elevam os preços globalmente.
Um exemplo desse efeito é o caso do comércio de galinha. A elevação dos preços dos grãos para ração, devido à menor oferta provocada pelas condições climáticas adversas, aumenta os custos de produção para avicultores. Isso pode resultar em preços mais altos para o consumidor final e reduzir a competitividade das exportações brasileiras de carne de frango, que é um dos maiores setores exportadores do agronegócio brasileiro.
Além disso, o aumento das temperaturas do oceano pode afetar severamente a economia de países que dependem da agricultura, pesca e turismo.
A perda de colheitas, a danificação da infraestrutura por inundações ou incêndios e os custos de reconstrução geram uma pressão econômica considerável.
A interrupção de atividades turísticas também pode impactar negativamente as economias locais.
As secas prolongadas e o aumento das temperaturas favorecem a propagação de incêndios florestais, como observado na Austrália, Califórnia, Indonésia e Brasil.
Esses incêndios não só destroem áreas de vegetação e biodiversidade, mas também liberam gases de efeito estufa na atmosfera, exacerbando o aquecimento global.
Em regiões como África e Oriente Médio, a escassez de alimentos e a seca forçam populações a migrar, gerando pressões sobre os países receptores e podendo intensificar tensões políticas e sociais.
Na saúde pública, inundações podem levar ao surto de doenças transmitidas pela água, como cólera e febre tifóide, principalmente em áreas com saneamento precário. Além disso, as condições de seca e calor podem agravar doenças respiratórias e intensificar a desnutrição, à medida que a produção de alimentos é prejudicada.
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Por último, o fenômeno dificulta a previsão climática, criando desafios para governos e organizações humanitárias na gestão de recursos hídricos e preparação para emergências.
E no Brasil?
De junho de 2023 a abril de 2024, o Brasil vivenciou os impactos intensos do fenômeno El Niño, que causou uma série de efeitos climáticos extremos em várias regiões do país.
O Norte do Brasil, especialmente a Amazônia, sofreu com secas prolongadas, o que favoreceu a ocorrência de incêndios florestais de grandes proporções, resultando na destruição de vastas áreas de vegetação e na liberação de grandes quantidades de gases de efeito estufa.
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O Centro-Oeste também foi impactado pela escassez de chuvas, com o Mato Grosso registrando o menor volume anual de precipitação em 2023. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o Estado acumulou apenas 760 mm de chuva ao longo do ano, um dos menores índices já registrados.

Em contraste, o Sul e o Sudeste enfrentaram chuvas excessivas que provocaram inundações e deslizamentos de terra.
No Rio Grande do Sul, o El Niño foi um dos fatores que contribuiu para o aumento das chuvas, resultando precipitações acima da média. Esse aumento levou a inundação histórica em maio de 2024, que afetou cerca de 70% dos municípios do Estado e impactou diretamente quase 900 mil habitantes.
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Além disso, o país experimentou um aumento nas temperaturas, com 2024 sendo considerado o ano mais quente desde 1961, o que impactou diretamente a saúde pública e a agricultura.
O fim do El Niño e o início do La Niña
O El Niño começou a enfraquecer no início de 2024, mas foi considerado oficialmente dissipado em abril do mesmo ano. Esse enfraquecimento resultou na transição para uma fase mais neutra e na formação do fenômeno oposto, o La Niña, que começou a se manisfestar no final de 2024.
Embora o La Niña seja o fenômeno oposto ao El Niño, com resfriamento das águas do Oceano Pacífico, seus impactos no Brasil também são significativos e costumam afetar o clima de forma diferente.
No geral, o La Niña provoca aumento das chuvas na Região Norte e no Centro-Oeste do país, além de favorecer invernos mais rigorosos e secos no Sul e parte do Sudeste. Essa distribuição provoca riscos variados, como enchentes e alagamentos nas regiões mais chuvosas, enquanto áreas do Sul podem enfrentar secas e temperaturas mais baixas do que o normal.
A intensidade e a duração desses efeitos podem variar a cada episódio, influenciando a agricultura, os recursos hídricos e o dia a dia da população.
No entanto, espera-se que esse evento seja de intensidade fraca e de curta duração, retornando às condições neutras entre fevereiro e abril de 2025.
E aí, você sabia como o El Niño acontece? O que você está achando das consequências desse fenômeno? Conte para a gente nos comentários!
Referências
- Agrosmart – El Niño e La Niña: entenda seus impactos no Brasil
- ClimaInfo – Com El Niño, Austrália sofre com calor extremo e ameaça de incêndios florestais
- Climate Council – 2024’s Climate Crisis: Extreme Weather Around the Globe Signals the Urgent need for Action
- CNN Brasil: Chuvas no RS – 70% dos municípios e 7,5% da população do estado foram atingidos
- EMBRAPA Trigo – El niño e a agricultura da região sul do Brasil
- Instituto Nacional de Meteorologia – El Niño: saiba como foi a atuação do fenômeno no Brasil
- Politize! – Calor extremo: entenda as consequências para a sua saúde
- Politize! – O impacto das queimadas no Brasil e os desafios para o futuro
- Politize! – O que são as “ilhas de calor”?
- Politize! – Qual é o papel do governo em relação a desastres climáticos?
- Politize! – Quem responde pelas enchentes no Brasil?
- Serasa Experian – El Niño e La Niña: consequências na agricultura no Brasil
- Universo Agrogalaxy – O que é o El Niño?