Jovens sentados

Descubra quem são e o que fazem os jovens “Nem-nem”

Publicado em:

Compartilhe este conteúdo!

Você já ouviu a expressão “jovens nem-nem“? A juventude é uma fase da vida marcada por muitas descobertas, anseios, sonhos, dúvidas e expectativas para o futuro.

Mas como isso afeta a juventude? Quais são as perspectivas que os jovens possuem em relação ao mercado de trabalho? E aos estudos? Afinal, o que significa ser um jovem “nem-nem”?

Neste texto, a Politize! vai te explicar ponto por ponto.

Duas jovens ouvindo música. Texto: Descubra quem são e o que fazem os jovens "Nem-nem".
Jovens ouvindo música. Imagem: Freepik.

O que significa “jovens nem-nem”?

A expressão “jovens nem-nem” começou na Espanha, como “ni-ni”. Em inglês, ela ficou conhecida como “NEET” (Not currently Engaged in Education or Training). Ela passou a ser utilizada como referência aos jovens que nem estudam nem trabalham. Sendo a categoria “juventude” muito fluida e mutável, ela varia. São pessoas entre 15 e 24 anos ou entre 15 e 29 anos que não terminaram a etapa básica de estudos e estão fora do mercado de trabalho.

A população “nem-nem” começou a chamar atenção mundial especialmente depois da grande crise econômica de 2008. Dados da OCDE revelam que seus 34 países-membros apresentavam uma média de 16% de jovens de 15 a 29 anos nessa situação em 2010.

Mas a crise financeira não foi o que iniciou o fenômeno “nem-nem”. O sociólogo brasileiro Adalberto Cardoso (2013) aponta que dados da OCDE já indicavam a existência de jovens nessa condição. Entre os anos de 1997 e 2010, essa taxa nos países ricos nunca foi inferior a 13%. Entretanto, parece inegável que o fenômeno ganhou certa intensidade nos anos posteriores a 2008.

Ao pensarmos em juventude, devemos levar em consideração que esse é um momento muito frágil em que as vontades e os planos ainda estão sendo construídos. Mas, afinal, quem são esses jovens e por que se encontram nessa situação?

Quem são os “jovens nem-nem”?

O doutor em economia Adriano Figueiredo (2024), em parceria com Jessika Almeida, realizou uma pesquisa sobre a juventude “nem-nem” com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do ano de 2012. Essa pesquisa, embora não tenha os dados mais atualizados, nos possibilita alguns apontamentos iniciais.

À época, 21,08% dos jovens brasileiros se encontravam na condição “nem-nem”. Com isso, um entre cinco jovens não estudava nem trabalhava. Os dados ainda informam o perfil social desses jovens. A maioria deles eram mulheres, representando 70,52% do total. Além disso, 64,59% desses jovens eram pretos e pardos. Uma análise mais minuciosa dos dados ainda aponta que 58% dos jovens “nem-nem” viviam com menos de 1 salário mínimo per capita.

Já uma pesquisa divulgada pela Agência Brasil atualiza os dados, com base em relatório realizado pela OCDE em 2022. A porcentagem de jovens “nem-nem” no Brasil aumentou: nesse ano, 36% dos jovens não estudavam nem trabalhavam. E o perfil social variou muito pouco. As mulheres continuaram a ser maioria, chegando a 60% do total, bem como pessoas pretas e pardas, representando 68%. A reportagem destaca, ainda, que essa condição continua sendo mais comum entre jovens de famílias mais pobres.

Diversos especialistas, como o sociólogo Adalberto Cardoso (2013) e a economista Enid Rocha (2023), apontam que existe um conjunto de vulnerabilidades sociais que contribuem para a condição “nem-nem”.

O senso comum de que o trabalho doméstico deve ser responsabilidade das mulheres é o que mais impacta a trajetória das “nem-nem”, bem como a gravidez na adolescência, por exemplo. Além disso, há também a falta de instrução familiar para se buscar por melhores oportunidades estudantis e trabalhistas.

Perspectivas sobre os nem-nem

Enquanto abordagens sociológicas focam nas barreiras estruturais enfrentadas pelos jovens, algumas correntes mais conservadoras defendem que o fortalecimento de valores como disciplina, perseverança e responsabilidade pessoal pode ser um diferencial para escapar da condição “nem-nem”.

Vamos, agora, observar como elas se posicionam!

Perspectivas conservadoras

Os “nem-nem”, especialmente nos anos 2010, sofriam um estigma social. Além de já estarem desassistidos de estudos e trabalho, eram associados ao aumento da criminalidade.

Os doutores em psicologia social, Paulo Junior e Cláudia Mayorga (2019), reuniram reportagens entre os anos de 2012 e 2015 que, em maioria, reproduziam estereótipos acerca de jovens homens e pobres e o aumento da violência e da criminalidade.

Texto: Descubra quem são e o que fazem os jovens "Nem-nem".
Estresse sobre a juventude. Imagem: Freepik.

Essa associação é criticada por pesquisadores que veem nela uma simplificação excessiva e injusta. Contudo, setores mais conservadores defendem que a falta de estrutura familiar, o vazio de projetos de vida e a ausência de disciplina são fatores que podem aumentar a vulnerabilidade desses jovens diante de redes de criminalidade.

Um texto publicado em 2014 pelo jurista Luiz Flávio Gomes exemplifica isso. Nas palavras dele, que em 2019 viria a ser deputado pelo PSB:

Esse grupo desfamiliarizado (Nem-Nem+), nos países de capitalismo selvagem e extrativista, é uma verdadeira bomba-relógio, em termos sociais, de potencial criminalidade e de violência. Por quê? Porque os fatores negativos começam a se somar (não estuda, não trabalha, não procura emprego, não tem família, não tem projeto de vida…). Se a isso se juntam más companhias, uso de drogas, convites do crime organizado, intensa propaganda para o consumismo, famílias desestruturadas etc., dificilmente esse jovem escapa da criminalidade (consoante a teoria multifatorial da origem do delito). Milhões de jovens, teoricamente, estão na fila da criminalidade (e nossa indiferença hermética não se altera um milímetro com tudo isso).

Mas as perspectivas conservadoras não se limitam a isso. Como exemplificado por Junior e Mayorga (2019), ainda em 2012 o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Sistema S iniciaram uma parceria com a UNESCO. O projeto Educação Livre visava justamente à entrada dos jovens “nem-nem” no mercado industrial. O desenvolvimento de competências básicas em português e matemática, bem como habilidades para o trabalho foram apontados como medidas viáveis.

O pesquisador peruano, Rafael Novella (2018), reforça essa mesma base como grande responsável por responder essa problemática. Se o mercado de trabalho dos tempos atuais é competitivo e flexível, é importante que os jovens tenham acesso a uma educação que os instigue a aprender a aprender. A captação de recursos humanos, isto é, de competências e habilidades diversas ganha um novo peso!

Nesse mesmo sentido, argumenta Júlio Segala, especialista em gestão de negócios. O ensino teórico junto a aplicações práticas, viabilizadas por estágios e programas de aprendizagem podem também contribuir para a mudança desse cenário.

Perspectivas progressistas

Em contrapartida a esse tipo de visão, pesquisadoras brasileiras como Thaís Souza, Maria Volsi e Jani Moreira (2020) argumentam que o cenário mundial dos últimos tempos pode nos auxiliar a entender a condição “nem-nem”.

Afinal de contas, há algum tempo temos nos deparado com novas tecnologias, com um mercado de trabalho mais dinâmico e a emergência de novas profissões.

Adalberto Cardoso reforça a necessidade de melhoria da educação pública a fim de manter os jovens na escola. A democratização do ensino superior, de acordo com o sociólogo, também poderia estender a trajetória acadêmica dos jovens, possibilitando a eles melhores ocupações profissionais, com melhores remunerações.

Outros estudiosos, como Junior e Mayorga, por exemplo, são mais radicais: defendem que nem todos os jovens “nem-nem” estão desocupados para além dos meios formais. Muitos deles, como reforça a pesquisa realizada por Souza, Volsi e Moreira, realizam tarefas domésticas e estão à procura de trabalho. Nessa visão, não estariam faltando ocupações, mas oportunidades formais.

E aí, você já conhecia a expressão “nem-nem”? Por algum motivo, se encaixa no perfil dessa geração? Conta sua experiência pra gente nos comentários!

Referências

  • Agência Brasil – De 37 países, Brasil é o 2º com maior proporção de jovens nem-nem
  • BERNARDIM, Márcio; SILVA, Monica. Juventude(s) e ensino médio: da inclusão escolar excludente aos jovens considerados nem-nem. Revista Contrapontos – Eletrônica, vol. 17 – n. 4 – Itajaí, out-dez, 2017. pp. 688-704.
  • CARDOSO, Adalberto. Juventude, trabalho e desenvolvimento: elementos para uma agenda de investigação. Caderno CRH, Salvador, v. 26, n. 68., mai-ago, 2013. pp. 293-314.
  • Central do varejo – Nem-nem: o desafio de engajar jovens em um futuro promissor
  • FIGUEIREDO, Adriano; ALMEIDA, Jessika. População nem-nem: uma análise a partir dos dados da PNAD 2012. Revista de estudos sociais, n. 38, v. 19, 2024. pp. 106-129.
  • JUNIOR, Paulo; MAYORGA, Claudia. Jovens nem nem brasileiros/as: entre desconhecimento das experiências, espetacularização e intervenções. Desidades, Rio de Janeiro, n. 23, abr.-jun., 2019, pp. 10-23.
  • SOUZA, Thaís; VOLSI, Maria; MOREIRA, Jani. Políticas educacionais e a geração “nem nem”: uma análise a partir da Nova Gestão Pública. Educação em perspectiva. Viçosa, MG, v. 11, 2020, pp. 01-15.
WhatsApp Icon

Deixe um comentário

Conectado como Júlia Girio. Edite seu perfil. Sair? Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe este conteúdo!

ASSINE NOSSO BOLETIM SEMANAL

Seus dados estão protegidos de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)

FORTALEÇA A DEMOCRACIA E FIQUE POR DENTRO DE TODOS OS ASSUNTOS SOBRE POLÍTICA!

Conteúdo escrito por:

Rafael Henrique Ferreira Damico

Licenciado em ciências sociais, constantemente intrigado com questões subjetivas e estruturais. Apaixonado por música pop e entusiasta do amor. Professor preocupado com uma educação para além da sala de aula.
Damico, Rafael. Descubra quem são e o que fazem os jovens “Nem-nem”. Politize!, 2 de maio, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/jovens-nem-nem/.
Acesso em: 2 de mai, 2025.

A Politize! precisa de você. Sua doação será convertida em ações de impacto social positivo para fortalecer a nossa democracia. Seja parte da solução!