Em um planeta em transformação, a juventude e as mudanças climáticas se tornaram protagonistas de uma mesma história. Do ativismo nas ruas às políticas públicas locais, jovens de todo o mundo estão redesenhando a forma como pensamos o meio ambiente, a democracia e o futuro das cidades.
Conheça como eles estão transformando a consciência em ação e assumindo o protagonismo nas decisões sobre o clima.
Este conteúdo integra a trilha do Projeto Amazônia Urbana, uma iniciativa que busca aprofundar o entendimento sobre os desafios e transformações ambientais das cidades na região amazônica.
Como a juventude e as mudanças climáticas se relacionam?
A crise climática deixou de ser uma previsão futura e se tornou uma realidade global que impacta agricultura, saúde, cidades, oceanos e biodiversidade. Fenômenos extremos, como enchentes e secas, já causam deslocamentos e perdas econômicas em larga escala.
O Fórum Econômico Mundial destaca que grande parte dos principais riscos globais está relacionada ao meio ambiente.
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Nesse cenário, ganha força uma nova geração que não causou a crise, mas que viverá seus impactos de forma mais intensa. O marco simbólico dessa mobilização foi a greve escolar de Greta Thunberg, em 2018, que originou o movimento Fridays for Future.
A partir de um protesto na Suécia, milhões de jovens passaram a exigir ações efetivas de governos e empresas, transformando o ativismo climático em um fenômeno global de justiça intergeracional e participação cidadã.
A mobilização da juventude climática também alcançou os espaços institucionais. Casos como o julgamento no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos e a vitória de jovens no estado de Montana (EUA) mostraram a entrada das novas gerações no campo jurídico e político. No âmbito da ONU, o grupo YOUNGO, criado em 2009, representa jovens nas negociações da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
O coletivo foi responsável pela redação do Artigo 12 do Acordo de Paris, que prevê educação e conscientização climática entre os países signatários.
Apesar desse avanço, os estudos revelam um paradoxo geracional. Em 55 países analisados, 85% dos jovens já ouviram falar sobre mudanças climáticas, mas apenas 50% sabem defini-las corretamente segundo a UNFCCC.
No Brasil, o índice de acerto é de 56%. Além disso, o estudo UNICEF-Gallup (2023) aponta que as redes sociais são a principal fonte de informação sobre o tema, mas apenas 23% confiam nelas plenamente, o que expõe a juventude à desinformação e à ansiedade climática.
Mesmo com essas lacunas, a juventude tem papel estratégico na transição ecológica. Jovens são os principais difusores de hábitos sustentáveis e de tecnologias de baixo carbono, incorporando novas formas de consumo e estilos de vida alinhados à sustentabilidade.
A Cúpula Global da Juventude pelo Clima, realizada em Belo Horizonte (2025), reforçou essa tendência ao defender educação climática, justiça ambiental e liderança jovem significativa como pilares de um novo pacto social verde.
Estudo realizado em Pune (Índia) mostrou que 98% dos jovens reconhecem as mudanças climáticas e atribuem-nas às ações humanas.
O que move a juventude e as mudanças climáticas no Brasil?
No Brasil, a juventude climática se mostra cada vez mais consciente e engajada. Sete em cada dez jovens de 18 a 24 anos compreendem a gravidade das mudanças climáticas e do aquecimento global. Para 60%, o principal símbolo do problema é a enchente, fenômeno que representa tanto o colapso ambiental quanto as desigualdades urbanas.
Apesar de reconhecerem a gravidade do problema, apenas 36% dos jovens entre 15 e 29 anos sabem identificar o bioma em que vivem, o que revela um déficit de educação climática e de conexão territorial.

Sem esse conhecimento, o engajamento tende a se limitar a ações pontuais, o que reforça a necessidade de políticas educacionais que territorializem o debate ambiental.
A juventude brasileira vive, assim, uma contradição estrutural. É cobrada como responsável por salvar o planeta, mas possui pouco poder político e econômico para promover mudanças sistêmicas. Apenas 38% afirmam conseguir transformar preocupação em ação, e entre essas ações predominam iniciativas individuais, como economizar água e luz ou separar o lixo.
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A expectativa de transformação climática é projetada sobre governos e empresas. Oito em cada dez jovens acreditam que ambos deveriam criar um fundo monetário para reduzir as desigualdades causadas por eventos climáticos extremos.
Além disso, cinco das dez ações mais esperadas das empresas de mídia estão relacionadas à sustentabilidade ambiental, mostrando que o setor privado também é visto como parte essencial da solução.
Mesmo entre os que tentam consumir de forma mais consciente, a sustentabilidade ainda é limitada por barreiras econômicas. Apenas 34% dos jovens afirmam ter mudado hábitos de compra para produtos sustentáveis.
O voto surge como o principal poder individual dessa geração. Em 2024, quase 500 mil jovens de 16 e 17 anos tiraram o título de eleitor, superando o número registrado em 2020.
No total, 21 milhões de eleitores entre 16 e 24 anos representam 14% do eleitorado brasileiro. Apesar disso, mais da metade afirma não saber em quem votar, o que evidencia o desafio de traduzir consciência ambiental em decisão política.
Protagonismo e mobilização jovem: da ação local à influência global
A mobilização da juventude pelo clima tem se expandido em todo o mundo e se traduzido em conquistas concretas, tanto em políticas públicas quanto em espaços de representação.
No Brasil, a juventude se destaca em iniciativas como o Engajamundo, que capacita jovens de periferias, comunidades indígenas, negras e LGBTQIA+ para se tornarem negociadores eficazes nas agendas climáticas do Brasil e da ONU.
Outro exemplo é o programa Jovens Negociadores pelo Clima, que fortalece o protagonismo de lideranças juvenis nas conferências da ONU e nos debates sobre justiça climática e transição energética justa.
O movimento Fridays for Future, criado por Greta Thunberg, continua sendo uma das referências mais poderosas de ativismo jovem. No Brasil, ele inspirou grupos locais que organizam greves, protestos e campanhas de conscientização em escolas e universidades.
Experiências municipais também demonstram o potencial de influência política da juventude. O Parlamento Jovem de Matão (SP) possibilitou que estudantes propusessem projetos de lei, 13 deles já transformados em políticas públicas, como a criação de hortas escolares, premiada pela ONU.
Durante a COP27, o UNICEF e a Viração Educomunicação levaram jovens brasileiros como Maria Eduarda Silva, Victor Medeiros e Tainara da Costa Cruz para discutir justiça climática e direitos das futuras gerações, consolidando a presença brasileira na pauta internacional.
Já a Cúpula Global da Juventude pelo Clima reuniu 500 jovens de 39 países em 2015, e resultou na Declaração Climática da Juventude, que propõe ações transformadoras em finanças climáticas, justiça climática e equidade, cidades sustentáveis e liderança jovem significativa.
Quais desigualdades climáticas afetam crianças, adolescentes e jovens?
Os impactos das mudanças climáticas não afetam todas as pessoas da mesma forma. No Brasil e no mundo, crianças, adolescentes e jovens estão entre os mais vulneráveis. O UNICEF estima que 40 milhões de meninas e meninos brasileiros vivem expostos a múltiplos riscos climáticos, comprometendo direitos como saúde, educação e sobrevivência.
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A crise climática também agrava doenças respiratórias, amplia a propagação de dengue, malária e febre amarela, e interrompe a educação de milhões de estudantes em regiões atingidas por enchentes e deslizamentos.
Além disso, 15 milhões de pessoas nas cidades e 25 milhões nas zonas rurais não têm acesso seguro à água potável, enquanto metade das escolas públicas não está conectada à rede de esgoto.
O UNICEF, portanto, recomenda políticas que coloquem crianças e jovens no centro da agenda climática, com foco em educação, adaptação, participação e economia verde.
Gostou de saber mais sobre como a juventude pode ser protagonista no tema das mudanças climáticas? Se ficou alguma dúvida, deixe nos comentários!
Se você gostou do conteúdo, conheça o Projeto Amazônia Urbana, uma iniciativa da Politize! em parceria com o Pulitzer Center. O projeto busca ampliar o olhar sobre os desafios das cidades amazônicas, promovendo conteúdos acessíveis e didáticos sobre urbanização, justiça climática e participação cidadã na região. Acompanhe essa jornada!
Referências
- Agência Brasil – Unicef alerta sobre impactos de mudanças climáticas entre jovens
- Assembleia Legislativa de São Paulo – Saúde, mudanças climáticas e juventudes
- Centro Brasil no Clima – A importância da juventude nas discussões sobre questões climáticas
- Educa Mais Brasil – Qual o papel da juventude na preservação do meio ambiente
- Fórum Econômico Mundial – Global Risks Report 2023
- Gente Globo – A relação dos jovens com as mudanças climáticas
- Governo Federal – Juventudes dos países ibero-americanos debatem soluções para as mudanças climáticas
- Ideação (BID) – A voz da juventude no combate às mudanças climáticas
- National Center for Biotechnology Information (NCBI) – Climate change and its impact: Youth awareness in India (Pune Study)
- Nosso Impacto – O papel das juventudes no enfrentamento às mudanças climáticas
- TV Brasil – Crianças e jovens ganham destaque em políticas climáticas, diz Unicef
- UFMG Notícias – Cúpula de Jovens Lideranças Climáticas é encerrada com carta de intenções e chamada para ação
- UNICEF Brasil – Apenas metade dos jovens sabe definir o que são mudanças climáticas
- UNICEF Brasil – Crianças e adolescentes são os que mais sofrem com mudanças climáticas e precisam ser prioridade