Imagem de um globo terrestre físico, de enfeite

Mapa-múndi: o que é, tipos, projeções e o novo modelo do IBGE

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Em maio de 2025, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou uma nova versão do mapa-múndi. Nesta versão, ele aparece invertido, com o Brasil no centro e o hemisfério Sul no topo da imagem.

A iniciativa visa destacar a posição do Brasil em fóruns internacionais como BRICS, Mercosul e na realização da COP30, além de provocar reflexões sobre as convenções cartográficas e representações geopolíticas.

Mas afinal, por que existem mais de um mapa-múndi? Qual é o papel de um mapa? Existe um mapa oficial? Neste conteúdo, vamos tirar todas essas dúvidas sobre mapa-múndi. 

Acompanhe a leitura!

O que é o novo mapa-múndi invertido lançado pelo IBGE em 2025?

O novo mapa-múndi do IBGE apresenta o Brasil centralizado e o hemisfério Sul na parte superior, desafiando a representação tradicional como conhecemos, que coloca o Norte no topo. Essa inversão busca enfatizar a liderança do Brasil em eventos internacionais e promover uma nova perspectiva geográfica. 

O mapa também destaca países que compõem o BRICS, o Mercosul, os países de língua portuguesa e o bioma amazônico.

O objetivo do IBGE é destacar o protagonismo do Brasil em 2025, ano em que o país preside o BRICS e o Mercosul, além de sediar a COP30. A iniciativa também visa estimular reflexões sobre as convenções cartográficas e a representação geopolítica do mundo, desafiando a visão eurocêntrica tradicional.

Mapa-múndi invertido 2025.
Imagem: O Tempo.

Por que o mapa-múndi tradicional coloca o “Norte” no topo?

A convenção de posicionar o Norte no topo dos mapas foi uma decisão de cartógrafos, não há uma razão científica para este posicionamento. Possivelmente, basearam-se no fato de que grandes navegadores se guiavam pela estrela no Norte. Assim, Gerardus Mercator, em 1959, fez um mapa-múndi neste formato.

Então, como os países que se localizavam no Norte destes mapas eram Estados com grande poder econômico e político, a projeção foi amplamente aceita e perpetuada.

Outras culturas e períodos históricos utilizaram diferentes orientações em seus mapas, evidenciando que a representação tradicional é apenas uma entre várias possibilidades.

Saiba mais: Descobrimento do Brasil em 1500: descoberto ou invadido?

Os mapas são neutros?

Os mapas não são representações neutras da realidade, eles refletem as intenções e perspectivas de seus criadores. 

O geógrafo Yves Lacoste afirmou que “mapas são ferramentas dotadas de poder e são capazes de (re)escrever ordens mundiais”. 

A escolha de projeções, orientações e elementos destacados em um mapa pode influenciar a percepção de hierarquias e relações geopolíticas, reforçando ou desafiando narrativas dominantes.

Por que existem diferentes tipos de mapas?

A existência de diferentes tipos de mapas se deve às diversas finalidades e necessidades de representação cartográfica

Os mapas são instrumentos técnicos e comunicativos que selecionam e organizam informações de acordo com objetivos específicos, como mostrar fronteiras, relevo, distribuição populacional ou infraestrutura. Além disso, as projeções cartográficas variam para minimizar distorções conforme o objetivo do mapa, seja preservar áreas, formas ou distâncias.

No entanto, é importante saber que toda e qualquer projeção cartográfica terá distorções e não conseguirá ser totalmente fiel à forma e às áreas dos continentes devido ao formato da Terra, que possui um formato geoidal, ou seja, arredondado, esférico e elipsoidal. Isso significa que, ao representar em um plano reto, exigirá alguns ajustes.

Conheça as principais projeções cartográficas

As projeções cartográficas são métodos para representar a superfície esférica da Terra em um plano. Cada projeção possui características específicas e distorções, seja em área, forma, distância ou direção.

Projeção de Mercator

A primeira projeção cartográfica foi elaborada por Gerardus Mercator em 1569, para ser utilizada para navegação marítima no período das grandes navegações devido à preservação de ângulos. 

Seu formato é cilíndrico e preserva formas locais, no entanto, distorce áreas, pois aumenta o tamanho das regiões próximas aos polos. A Groenlândia, por exemplo, parece do mesmo tamanho do continente africano.

Mapa da Projeção de Mercartor.
Imagem: IBGE.

Projeção de Peters

Foi criada por James Gall (1855), mas popularizou-se em 1973 com Arno Peters. Este mapa apresenta áreas proporcionais, oferecendo uma representação mais precisa das dimensões relativas dos continentes. Seu uso é comum para mapas educativos e políticos que buscam representar de forma justa os países do Sul global. 

No entanto, este mapa distorce formas, de forma que os continentes parecem “esticados”.

Mapa da Projeção de Peters.
Imagem: BBC.

Projeção de Robinson

Desenvolvida por Arthur Robinson em 1963, busca um equilíbrio entre forma e área dos continentes, minimizando as distorções presentes em outras projeções, sendo comum em atlas escolares e mapas-múndi institucionais. 

Apesar disso, esse mapa não preciso em nenhuma medida específica, abrindo margens para erros interpretativos.

Mapa da Projeção de Robinson.
Imagem: GeoBau.

Projeção de Eckert III

Utilizada no novo mapa do IBGE, é uma projeção pseudocilíndrica que representa o globo de forma mais equilibrada, com distorções moderadas nas áreas polares. Fundada por Max Eckert-Greifendorff (1906), essa é a representação mais equilibrada de áreas, com menos distorção em latitudes médias.

No entanto, neste mapa, as formas dos continentes são levemente achatadas.

Mapa da Projeção de Eckert III.
Imagem: IBGE.

A obra “América Invertida”

O mapa da América Latina invertida é uma representação visual que se tornou um símbolo político e cultural ao questionar as convenções históricas dos mapas e propôr uma nova forma de ver e pensar o mundo.

A obra foi criada pelo artista uruguaio Joaquín Torres-García, em 1943. Em sua obra, ele desenha o mapa da América do Sul de cabeça para baixo, com o Cone Sul (especialmente o Uruguai) no topo do mapa.

A principal motivação de Torres-García era romper com o que acredita ser a lógica imposta pela visão colonialista e eurocêntrica, que sempre posiciona o Norte (especialmente a Europa e os EUA) como referência e centro do mundo.

Ao inverter o mapa, o artista convida a pensar o mundo a partir do Sul.

Imagem da obra América Invertida.
Imagem: O Globo.

Como os mapas moldam a forma como vemos o mundo?

Os mapas-múndi são representações simbólicas do espaço geográfico, porém não são instrumentos meramente técnicos ou neutros. Eles influenciam nossa compreensão do mundo, moldando percepções sobre importância, centralidade e relações entre regiões.

As projeções cartográficas carregam intencionalidades políticas, culturais e ideológicas que moldam a forma como percebemos o mundo. O geógrafo brasileiro Milton Santos, afirmou que o espaço é socialmente construído. Portanto, os mapas são ferramentas nesse processo de construção simbólica da realidade.

O geógrafo francês Yves Lacoste, em La géographie, ça sert, d’abord, à faire la guerre (1976), aponta que a geografia e os mapas servem primordialmente para a dominação e o controle territorial.

Portanto, a forma como os mapas projetam o espaço, influencia diretamente nossa imaginação geográfica e a nossa percepção de centralidade e periferia. A projeção de Mercator, por exemplo, amplifica visualmente os países do Hemisfério Norte e minimiza aqueles do Sul, o que cria uma percepção distorcida do tamanho relativo das nações.

Por isso, a escolha da projeção, a orientação do mapa e os elementos destacados operam como mecanismos simbólicos de construção de mundo.

Reações ao novo mapa: o que dizem críticos e apoiadores?

O lançamento do mapa-múndi invertido pelo IBGE gerou debates. Segundo a diretora de Geociências do IBGE, Maria do Carmo Dias Bueno, a justificativa para a criação de um novo mapa seria:

“Como historicamente os primeiros mapas foram feitos majoritariamente por europeus, atribui-se a colocação da Europa na parte superior do mapa como uma questão de reforço da superioridade da Europa em relação aos países localizados na porção sul. Isso, na verdade, trouxe protestos dos países do Sul, principalmente dos latino-americanos. Gostaria de enfatizar que mapas são representações do mundo real. Os mapas podem ser bonitos ou feios, podem ser simples ou mais complexos, mas são sempre representações”, disse à Agência Brasil.

Portanto, segundo o diretor da Associação dos Geógrafos Brasileiros, Luiz Henrique Leandro Ribeiro:

“O mapa-múndi assim projetado gerou discussões e reflexões, mas, principalmente, ‘desnaturalizou’ e ‘descentrou’ perspectivas universalizantes e consagradas a partir de centros e países até então dominantes, abrindo novos caminhos para o Brasil e para o mundo a partir de novas representações e interesses geopolíticos. Afina,l o centro do mundo está em todo lugar e, como nos ensinou o geógrafo Milton Santos, cada lugar é o mundo à sua maneira”, disse o pesquisador.

No entanto, os membros da Associação de Geógrafas e Geógrafos Brasileiros apontaram duas desvantagens do novo mapa, sobretudo a respeito da motivação política e sua conformidade com padrões técnicos:

“O primeiro é sobre a capacidade de entendimento do mapa por parte dos leitores, uma vez que estamos habituados com o Norte para cima e a Europa ao centro. Em segundo, precisamos lembrar que mapas são ‘ferramentas dotadas de poder e são capazes de (re)escrever ordens mundiais’, para citar o geógrafo Yves Lacoste. Assim, entendendo a capacidade discursiva dos mapas, algumas lideranças podem não gostar desta representação, exatamente por expressar uma crítica a esta história colonial que sentimos na América Latina e, em especial, no Brasil”.

E aí, entendeu qual é a função de um mapa-múndi? Deixe suas dúvidas e opiniões nos comentários!

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Conteúdo escrito por:

Layane Henrique

Faço parte da equipe de conteúdo da Politize!. Cientista social pela UFRRJ, pesquisadora na área de Pensamento Social Brasileiro, carioca e apaixonada pelo carnaval.
Henrique, Layane. Mapa-múndi: o que é, tipos, projeções e o novo modelo do IBGE. Politize!, 14 de maio, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/mapa-mundi/.
Acesso em: 14 de mai, 2025.

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