O que é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre?

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Elogiado por propor uma engenharia financeira inovadora e criticado por pensar áreas verdes como commodities, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre é uma das principais propostas globais apresentadas pelo Brasil na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).

A ideia é estabelecer um fundo de investimento internacional cujos rendimentos serão usados para a conservação de florestas tropicais em diferentes países pelo mundo.

Caso saia do papel, o TFFF será a maior iniciativa financeira voltada especificamente para as florestas. O tema é relevante, pois, segundo a ONG ambientalista WWF, as florestas tropicais estão desaparecendo em um ritmo alarmante. Só em 2024, perdemos 6,7 milhões de hectares de floresta tropical primária, uma área aproximadamente do tamanho do Vietnã.

Neste artigo, vamos entender quais são as inovações criadas pelo projeto, quais são os benefícios previstos pela ação e quais são as posições das organizações que criticam a iniciativa.

O que é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre?

O Fundo de Florestas Tropicais da Sempre, ou Tropical Forest Forever Facility (TFFF), é uma proposta do Governo Federal do Brasil para a criação de um mecanismo financeiro global e permanente voltado à conservação de florestas tropicais. A estrutura usa os rendimentos de um grande fundo de investimentos para pagar um valor fixo por hectare de floresta nativa mantida em pé, preservando o capital principal aplicado.

A ideia é que o TFFF opere de uma forma um pouco diferente dos fundos de investimento tradicionais. A captação, projetada em US$ 125 bilhões, será feita a juros reduzidos, com o fundo se colocando como um ativo de baixo risco. Em seguida, os recursos serão reinvestidos em projetos com maior taxa de retorno, gerando lucro (spread, na linguagem do mercado financeiro).

Essa diferença será então repassada aos países com florestas tropicais, proporcionalmente à área preservada. Já o dinheiro emprestado será devolvido às nações investidoras com lucro.

O Governo Federal explica que o objetivo da proposta é “garantir o desenvolvimento sustentável para comunidades locais e viabilidade econômica para que os países com florestas gerem divisas preservando, além de retorno financeiro para quem investiu o dinheiro”.

Pássaro colorido voando sobre uma floresta densa
Floresta tropical. Imagem: TFFF.

Participação no TFFF: quais países aderiram à proposta e quais são as expectativas do Brasil?

Antes mesmo da abertura da COP30, em 2025, o TFFF já contava com demonstrações de interesse internacional. No primeiro dia da cúpula de chefes de Estado, que antecede oficialmente a COP, o governo brasileiro anunciou que pelo menos 53 países já haviam manifestado apoio à criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre.

Dos interessados, 34 são países que, juntos, concentram mais de 90% das florestas tropicais em nações em desenvolvimento.

Mas aí vem a má notícia. O Brasil precisa de uma aplicação inicial de, no mínimo, US$ 10 bilhões para lançar o fundo. Entretanto, mesmo com a empolgação inicial, a iniciativa só garantiu cerca de metade desse valor, US$ 5,5 bilhões, entre os países investidores, Noruega, Portugal, Indonésia, Países Baixos, além do Brasil. Potenciais grandes contribuintes, França e Alemanha, apoiam a iniciativa, mas ainda não anunciaram investimentos.

Essas duas nações europeias, juntamente com os Emirados Árabes Unidos e o Reino Unido participam inclusive do desenvolvimento do fundo. O Governo Federal, portanto, os considera países potencialmente investidores.

Até novembro de 2025, as negociações para viabilização do TFFF ainda estavam em andamento, e várias movimentações em torno da proposta ocorreram durante a COP 30, que seguiu até o dia 21 de novembro. É esperado, portanto, que novas informações sobre aportes e apoios sejam anunciadas no decorrer do evento.

No dia 11 de novembro de 2025, por exemplo, um grupo de 12 organizações ambientais e humanitárias pediu ao primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, que o país se comprometa a realizar um investimento de pelo menos US$ 2,5 bilhões ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre.

A engenharia financeira do TFFF

Garantir recursos para a proteção de florestas ao mesmo tempo que recompensa investidores não é uma tarefa fácil. A criação do fundo tem recebido elogios de instituições financeiras e ambientais por conta do mecanismo desenvolvido para atrair recursos privados.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, explicou a engenharia financeira inovadora do fundo à TV Brasil dizendo:

“O Fundo Floresta Tropical para Sempre é inovador. É uma arquitetura bastante simples e ao mesmo tempo potente. Para cada dólar que um país aporta de recurso público, nós vamos alavancar de três a quatro dólares. Nós não vamos gastar o principal, nós vamos usar só os rendimentos do fundo, que daria algo em torno de quatro bilhões por ano. Isso já é suficiente para triplicar os orçamentos da maioria dos países em desenvolvimento. Países de renda média baixa, dos seus orçamentos de proteção de floresta”.

Segundo a Infomoney, instituições como o World Resources Institute (WRI) e a WWF destacam elementos considerados inovadores no TFFF em relação a fundos tradicionais de conservação florestal.

Entre os pontos de destaque estão:

  • O tamanho e o caráter permanente: a ambição de chegar a US$ 125 bilhões em capital faz do fundo a maior iniciativa financeira já dedicada a florestas. O TFFF tem caráter permanente e não vai usar o principal investido, apenas os rendimentos.
  • O formato de investimento, não doação: patrocinadores entram com investimentos de longo prazo, e não com doações recorrentes. Além disso, existe a expectativa de recuperar o capital acrescido de juros.
  • Pagamento por floresta em pé, não por redução de emissão: diferentemente de mecanismos focados em créditos de carbono, o TFFF paga diretamente por área de floresta mantida, com descontos em caso de aumento de desmatamento ou degradação por fogo.

A WWF, especificamente, não poupa elogios à iniciativa, que considera “uma sinalização de mudança de paradigma no financiamento de ações voltadas para o clima e para o meio ambiente”.

Um dos pontos que mais agradaram à ONG foi a reserva de recursos a serem pagos diretamente para populações indígenas, prevista na proposta do fundo.

“Um dos aspectos mais louváveis ​​do TFFF é que pelo menos 20% dos pagamentos fluirão diretamente para os Povos Indígenas e comunidades locais, tornando potencialmente o TFFF a maior fonte de financiamento internacional direto para aqueles que há muito são os administradores mais eficazes das florestas tropicais”.

Tronco de uma árvore muito grande, visto de baixo para cima. Texto: O que é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre?
Imagem: TFFF.

Nem todos estão felizes: ambientalistas criticam o TFFF

Embora inovador, o TFFF não é unanimidade. No início de novembro, um conjunto de 176 organizações da sociedade civil de vários países elaborou uma carta de protesto contra o lançamento da iniciativa. A ação foi protocolada pela Assembleia Mundial pela Amazônia, um consórcio internacional de organizações ambientalistas.

As principais queixas do grupo dizem respeito ao repasse do dinheiro levantado e à proporção dos recursos destinada aos povos indígenas. Alguns dos pontos levantados na carta são:

  • A ausência de planos para problemas estruturais: “O TFFF não busca abordar as verdadeiras causas estruturais da destruição florestal. Não propõe medidas eficazes para conter e reverter a agricultura, a mineração e a extração de hidrocarbonetos”.
  • A remuneração baixa para os locais: “O TFFF não prioriza os povos indígenas e as comunidades locais na alocação de recursos. 80% dos US$ 4 por hectare serão destinados aos governos nacionais, enquanto apenas 20% (80 centavos) irão para aqueles que de fato defendem e preservam as florestas tropicais”.
  • O risco de fragilizar o poder de decisão: ‘O Banco Mundial terá grande influência sobre o TFFF. Os países ricos que patrocinam esse mecanismo deterão a maioria em seu conselho. Os países em desenvolvimento e a sociedade civil não terão poder de decisão na governança do TFFF”.
  • Falta de prioridade nos pagamentos: “A rentabilidade do TFFF não é garantida e, em caso de queda nos lucros, os pagamentos serão feitos primeiramente aos administradores e consultores do fundo, em segundo lugar aos investidores privados, em terceiro lugar aos países ricos patrocinadores e, em quarto lugar, aos países com florestas tropicais”.

Outro manifesto com críticas duras ao TFFF foi assinado por mais de 50 organizações indígenas e da sociedade civil da América Latina e do Caribe.

A principal reclamação é que o TFFF fará com que os países em desenvolvimento absorvam os riscos dos investimentos, embora sejam garantidos retornos generosos para investidores e intermediários financeiros.

Na carta, as instutições protestam:

“Denunciamos os mecanismos de financeirização no âmbito da política climática, particularmente o Fundo Floresta Tropical para Sempre (TFFF). Prometendo transferências simbólicas para as comunidades locais e definindo um preço aleatório para as florestas em 4 dólares por hectare, o Fundo depende de empréstimos através de pagamentos de juros elevados a investidores e de rendimentos a intermediários financeiros, provavelmente o Banco Mundial, em troca do alto risco de investir em dívidas de países do Sul Global, que assumem todos riscos e perdas”.

Embora o TFFF reserve recursos para uso direto por comunidades locais e organizações indígenas, esse também é um dos pontos mais criticados da proposta.

O Movimento Sem Terra (MST) é uma das instituições que reclamam do repasse previsto para os povos indígenas, que classificou como “migalhas”.

Chamando o TFFF de “colonialismo verde”, o MST diz que: “é a forma como o Fundo contempla os povos indígenas e comunidades locais. O acordo prevê a obrigação dos países de destinarem somente 20% dos recursos diretamente para as comunidades – o que poderá ser reduzido em caso de oscilações do mercado. O restante do montante ficará sob responsabilidade de órgãos financeiros e monetários dos países que possuem florestas”.

Josimara Baré, liderança do povo Baré e coordenadora do Fundo Indígena Rutî do Conselho Indígena de Roraima (CIR), levanta outra questão importante na participação dos povos originários: a demarcação das terras.

Em entrevista ao Nexo Jornal, ela diz que o fundo pensa em alternativas de financiamento, mas não avança na questão territorial. “A demarcação é o ponto central. Para falar de economia indígena, soberania alimentar, clima, educação e cultura, é preciso primeiro assegurar os nossos territórios”, afirma Josimara.

E aí, conseguiu entender o que é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre? Deixe suas dúvidas e opiniões nos comentários!

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Conteúdo escrito por:

Suzana Valença

Suzana Valença

Sou de Recife, jornalista e especialista em Comunicação para as Mídias Digitais. Tenho interesse em como conversamos sobre política na Internet. Nas minhas horas livres, eu gosto de ler, ouvir música e ir para o parque! Sou muito nerd e amo música pesada. Vamos conversar por horas se você quiser conversar sobre Tolkien ou Death Metal!
Valença, Suzana. O que é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre?. Politize!, 19 de novembro, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/fundo-florestas-tropicais-para-sempre/.
Acesso em: 19 de nov, 2025.

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