As Batalhas dos Guararapes fazem parte de uma série de conflitos envolvendo holandeses e portugueses, que resultaram, sobretudo, devido ao envolvimento da Holanda com a União Ibérica.
Nesse conteúdo, a Politize! te conta como a Holanda manteve seu domínio no Nordeste brasileiro e como foi expulsa pela Coroa Portuguesa na Insurreição Pernambucana, que teve seu auge com as Batalhas dos Guararapes.
Confira abaixo um pouco dessa história que alterou o Brasil Colônia.
Conhecendo um pouco sobre a Holanda
Em 1556, Felipe II herda de seu pai, Carlos V, o Imperador do Sacro Império Romano Germânico, uma parte do território do Império Habsburgo – um dos mais reconhecidos na história europeia -, que incluía os Países Baixos, a Espanha e parte da Itália. Felipe II, então, começa a deter poder sobre a parte ocidental do Império, governando-a a partir do uso de mecanismos repressores, como a contenção da diversidade religiosa.
Sob intensa repressão, diversos movimentos oposicionistas começaram a aparecer, a exemplo do caso da província holandesa, na época governada por Guilherme, da Casa Orange, nomeado pelo próprio Felipe II para comandar, além da província holandesa, a da Zelândia e a de Utrecht.
Guilherme é tido como um dos revolucionários mais importantes para a independência dos Países Baixos, tendo lutado para obter mais autonomia na região e buscado maior prestígio político para a aristocracia local.
Esses anseios políticos resultaram na Guerra dos 80 anos (1568 – 1648), na qual as Dezessete Províncias dos Países Baixos lutaram contra a Espanha para obter independência.
Os Países Baixos era uma das regiões com grande influência econômica, sendo reconhecidos pela fundação da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais (WIC), a qual serviu de mecanismo para o estabelecimento da colonização holandesa no Brasil.
Vale ressaltar que, em 1580, sobre a crise da Dinastia de Alviz com o desaparecimento de D. Sebastião – que não deixou herdeiros ao trono –, o rei da Espanha, Felipe II na época, reivindicou o trono português alegando que havia parentesco com a Casa.
Assim, as forças espanholas invadem Portugal e exercessem seu domínio no território, começando a famosa União Ibérica (1580 – 1640), que culminou em importantes acontecimentos históricos.
Antes do surgimento da União Ibérica, Portugal já havia imposto no Brasil o Pacto Colonial, fazendo com que o Império Português detivesse o monopólio da exploração no território brasileiro.
Portugal, então, explorava livremente o açúcar na sua principal colônia, mas esse produto era comercializado e vendido na Europa pela Holanda – o que vai mudar quando é iniciada a União Ibérica.

O contexto das invasões holandesas
Como visto anteriormente, os Países Baixos, então revolucionários contra o domínio espanhol na região, passaram agora a se tornar inimigos também de Portugal – que tinha Felipe II como seu rei devido à União Ibérica.
A Holanda, até o início da União Ibérica, em 1580, detinha um importante papel no mercado açucareiro no Brasil com a comercialização e refino desse produto na Europa, mas teve o envolvimento interrompido no negócio devido ao seu processo de guerra, desde 1568, com a Espanha.
Em outros termos, como agora o Reino Espanhol também detinha domínio político sob Portugal, a Espanha decidiu acabar os negócios da Holanda com o Brasil colonial.
Insatisfeitos com a ação, os holandeses, em 1595, saqueiam portos portugueses no continente africano e tentam, pela primeira vez, em 1604, adentrar a cidade de Salvador (Bahia), mas acabam derrotados pelas forças portuguesas. Em 1624, conseguem ocupar a cidade de Salvador, mas são expulsos em 1625.
Somente alguns anos depois, em 1630, é que os holandeses possuem êxito ao adentrar parte do Nordeste Brasileiro, mais especificamente a região de Olinda (Pernambuco) e estabelecem seu domínio por 24 anos, até 1654.
Desse modo, nos anos iniciais do domínio holandês no Brasil, os netherlands, ou neerlandeses, conquistam importantes partes do Nordeste Brasileiro, como o Rio Grande do Norte e a Paraíba.
Em 1637, Maurício de Nassau, muitas vezes reconhecido como “gênio civilizador”, foi enviado pela sua empregadora, a WIC, para governar a colônia holandesa no Brasil.
Nassau teve um importante papel para o desenvolvimento urbano em Recife, incentivando o cientificismo (com estímulo à produção de estudos sobre a flora, fauna e geografia brasileira) e o desenvolvimento econômico.

No entanto, em 1643, a WIC, que começou a entrar em decadência econômica devido à crise do século XVII na Europa, dispensou Nassau, que passou a não governar mais a região sob o domínio neerlandês.
A partir desse acontecimento, então, a Holanda começa a perder seu domínio no território nordestino, posto que a WIC era a principal fonte para mantimento do negócio açucareiro.
Isso será traduzido em consequentes conflitos contra os lusos, que haviam recuperado sua independência com a Restauração de Portugal, em 1 de dezembro de 1640.
Início dos conflitos e a eminência das Batalhas dos Guararapes
Com o surgimento dos problemas econômicos da WIC – o principal empreendimento holandês no Brasil -, um efeito em cascata se inicia nas terras sob posse da Holanda.
Sem Nassau exercendo seu papel de governador-geral da colônia e sua função de “pacificador”, somado às dívidas dos colonos portugueses com a WIC por causa da produção açucareira, a colônia holandesa começa a apresentar instabilidades políticas, prejudicando seu domínio.
Em 1640, com a Independência de Portugal da União Ibérica, os lusos começam um processo de luta contra o domínio dos holandeses no Nordeste. A guerra entre esses dois figurantes da Europa se inicia em 1645 e se encerra em 1654, na Insurreição Pernambucana.
A Insurreição Pernambucana, no Brasil, foi uma revolta contra o domínio da Holanda no Nordeste incentivada por colonos portugueses e brasileiros. Assim, um dos momentos mais importantes da revolta foi nas Batalhas dos Guararapes, que teve como destaque os nomes de André Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Filipe Camarão.
As duas batalhas aconteceram no Morro dos Guararapes (que compreende, hoje, Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife), em 1648 e em 1649, respectivamente.
As lutas contra os holandeses envolveram tanto a coroa portuguesa quanto partes da população brasileira da época, composta, majoritariamente, de europeus, de africanos e de indígenas.
A primeira batalha, que aconteceu em 1648, contou com a participação de Vidal de Negreiros e Fernandes Vieira, ambos militares, que sabiam das intenções holandesas de ocupar o povoado de Muribeca dos Guararapes, região que possuía fontes de alimento para os soldados.
Assim, os militares bloquearam a ação no Morro dos Guararapes, derrotando os holandeses apesar do déficit no exército português – foram 2200 soldados contra 7400 defensores neerlandeses.
Uma vantagem do exército português foi o conhecimento do terreno (com muitos mangues), o qual ajudou nessa primeira vitória significativa para a Insurreição Pernambucana.
A segunda Batalha ocorreu no mesmo local, em 1649, sob potência do exército português. Adotando uma diferente estratégia, o exército se dividiu em dois nos Montes dos Guararapes, onde ficavam protegidos pelos canaviais da região (ao norte e sul) e esperou até às três da tarde os holandeses – que foram atacados de forma repentina, resultando em alto número de mortos e feridos.
Dessa forma, as Batalhas dos Guararapes colocaram em evidência diferentes técnicas de combate, como a guerrilha – que foi utilizada, sobretudo, devido ao déficit do exército português em relação ao holandês –, além de ser um dos principais momentos que resultaram, posteriormente, na definitiva queda do domínio holandês no Brasil, em 1654.

Os resultados dos confrontos
Após as Batalhas dos Guararapes – que, como foi enfatizado anteriormente, representou um dos principais marcos para a Insurreição Pernambucana -, a fragilidade dos holandeses ficou exposta.
Em 1654, oficialmente, depois de diversos embates, Portugal consegue reconquistar a região nordestina, o que encerra o período intitulado de “invasões holandesas”. A questão entre Portugal e Holanda somente foi resolvida por meio de um acordo em 1961, conhecido como “Tratado de Haia”.
Com o fim do que poderia vir a ser o “Brasil holandês” e como consequência da Insurreição Pernambucana, é iniciado, no Brasil, a decadência da economia açucareira. Isso aconteceu, em grande parte, porque foi a Holanda que promoveu a comercialização do produto, tornando-o uma das principais fontes de renda para a colônia brasileira.
No entanto, ao serem expulsos do território, os neerlandeses levaram mudas de cana-de-açúcar e o conhecimento do negócio, uma vez que, como colocado anteriormente, durante o governo de Nassau, a produção do cientificismo foi incentivada.
Os Holandeses, então, buscam outras regiões para o desenvolvimento da economia açucareira, como as Antilhas, criando rivalidade entre a produção açucareira de Portugal na sua colônia. Com isso, o comércio do produto, no Brasil Colonial, sofre impactos, que demandam a necessidade de investimentos em outros produtos para a venda no mercado internacional, como o tabaco.
Nesse contexto, é notável como a expulsão dos holandeses, com a Insurreição Pernambucana, causou diversas consequências. Alguns historiadores defendem que a revolta foi importante para criar um sentimento de patriotismo, de uma identidade nacional, pois colonizados e colonizadores se juntaram para defender um “inimigo em comum”.
Em aspectos desenvolvimentistas, a expulsão dos holandesas marca um início de declínio do ciclo do açúcar no Brasil colônia, que precisou se reinventar frente ao mercado internacional.
Decerto, a partir desses acontecimentos, a história do Brasil colonial começa a ser modificada. A crise da produção do açúcar resulta na busca por metais preciosos pela Coroa Portuguesa e pelos colonos brasileiros, dando início ao ciclo do ouro e à consequente interiorização do território.
Conseguiu entender como a expulsão dos holandeses na Insurreição Pernambucana está intrínseca a importantes momentos da história brasileira? Conta para a gente nos comentários!
Referências:
- Blogs Diário de Pernambuco – Maurício de Nassau, um gênio civilizador no Brasil
- Brasil Escola (UOL) – Batalhas dos Guararapes (1648-1649)
- Brasil Escola (UOL) – Ciclo do açúcar
- Brasil Escola (UOL) – Dom Sebastião
- Brasil Escola (UOL) – Invasões holandesas no Brasil
- Brasil Escola (UOL) – Países Baixos
- Diário de Pernambuco – Herança holandesa: o Recife de Maurício de Nassau
- DW – 1581: Holanda se liberta da Espanha
- Escola Kids (UOL) – Invasões holandesas no Brasil
- Mundo Educação (UOL) – Batalhas dos Guararapes
- Mundo Educação (UOL) – União Ibérica
- Politize! – As invasões holandesas no Brasil colonial
- Portal Cesad UFS – O domínio espanhol e o domínio holandês no Brasil
- Terra – 1581: Holanda se liberta da Espanha
- Wikipédia – Batalha dos Guararapes
- Wikipédia – Guilherme I, Príncipe de Orange
- Wikipédia – História dos Países Baixos