O que é efeito estufa e como ele está afetando a região amazônica?

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Descubra o que é o efeito estufa, suas causas, consequências e como agir para proteger o planeta e nosso futuro.

Você já ouviu dizer que o efeito estufa é o grande vilão do planeta? Pois bem, a história não é tão simples assim. O efeito estufa é, na verdade, um fenômeno natural e essencial para a vida na Terra, funciona como um “cobertor” que mantém o planeta aquecido o suficiente para que possamos viver aqui.

O problema começa quando esse cobertor ultrapassa dos limites. A ação humana tem intensificado o acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, e isso está elevando a temperatura média global em um ritmo sem precedentes. De acordo com a NASA, os últimos nove anos foram os mais quentes já registrados na história moderna.

Mas afinal, como o efeito estufa causa o aquecimento da Terra? Continue acompanhando o conteúdo para entender suas origens, causas e consequências, e por que esse tema deveria importar para todos nós.

Este conteúdo integra a trilha do Projeto Amazônia Urbana, uma iniciativa que busca aprofundar o entendimento sobre os desafios e transformações ambientais das cidades na região amazônica.

Os impactos do efeito estufa na região amazônica

A Amazônia vive crescente vulnerabilidade diante do aquecimento global, em que atividades humanas intensificam os efeitos do efeito estufa e transformam as condições ambientais da região. Para Costa (2009), compreender esse processo exige olhar também para fatores sociais, econômicos e culturais, evitando explicações simplistas.

As emissões de gases decorrentes da queima de combustíveis fósseis, do desmatamento e das queimadas alteram o regime climático amazônico. O INPE (2024) alerta para a intensificação de tempestades, ondas de calor, secas prolongadas e inundações, enquanto estudos da Fiocruz indicam elevação contínua da temperatura, com estimativas de até 5 °C de aumento e redução de até 25% nas chuvas em áreas do Amazonas (Alves, 2016).

Dois fatores pesam mais: o desmatamento e os fenômenos oceânicos. A perda de floresta altera o ciclo das chuvas (WWF, 2024), enquanto o El Niño e o aquecimento do Atlântico Tropical reduzem a formação de nuvens, agravando secas históricas como a de 2023 (Cabral, 2023). A combinação amplia o risco de savanização, perda de biodiversidade e colapso de ecossistemas (Nobre; Sampaio; Salazar, 2007).

Os efeitos são múltiplos. A redução da água afeta pesca, agricultura e abastecimento, ameaçando a segurança alimentar (Alves, 2016). Mudanças nos ciclos de cheia e vazante comprometem o transporte fluvial, enquanto a degradação ambiental intensifica doenças e pragas, afetando sobretudo ribeirinhos, indígenas e quilombolas em situação já vulnerável (UNICEF, 2024).

A seca de 2023 materializou esse cenário. Segundo Andrade (2024), o lago Tefé atingiu 39,1 °C, causando morte de peixes e botos. Liege Costa (2024) relata que comunidades precisaram buscar água em fontes contaminadas, elevando riscos de doenças, enquanto Sildonei Mendes (Ticuna) observou aumento de desnutrição, mortalidade infantil, malária e arboviroses em aldeias isoladas. UNICEF (2024) projeta agravamento dessas pressões com chuvas abaixo da média e temperaturas acima do normal.

Com rios rasos e bancos de areia, a navegação entrou em colapso parcial, encarecendo fretes, interrompendo suprimentos e fragilizando políticas públicas. Costa (2024) alerta que a sequência La Niña-El Niño empurrou grandes rios a níveis críticos, aproximando a floresta de limiares de não retorno. A estiagem extrema também favorece incêndios florestais e emissões tardias de carbono, acelerando a perda de serviços ecossistêmicos e a transição para paisagens degradadas.

Os impactos recaem de forma desigual. Povos tradicionais sofrem mais com a escassez de água, alimentos e serviços básicos, o que reforça a urgência da justiça climática como princípio e prática (UNICEF, 2024).

Medidas emergenciais foram ativadas pelo governo estadual em 2023, como combate a queimadas, distribuição de purificadores e apoio social. Contudo, propostas estruturais, como a dragagem do Madeira e do Solimões, suscitam críticas: Prizibisczki (2023) questiona o custo de R$ 38 milhões e o risco de dispensa de EIA, defendendo alternativas logísticas e planejamento para futuras estiagens.

Para 2025, prioridades incluem:

  • ampliar acesso à água potável por kits, poços e estações móveis;
  • reforçar saúde e nutrição com planos sazonais e suplementação alimentar;
  • planejar rotas alternativas de abastecimento;
  • fortalecer brigadas de fogo e vigilância comunitária;
  • apoiar pescadores e agricultores com crédito e compras públicas;
  • implantar monitoramento hidroclimático em tempo real com protocolos de ação.

Nesse esforço, o Guia de Ação pelo Clima para Cidades Amazônicas, elaborado pelo ICLEI e o Programa Cidades Sustentáveis, propõe inventários municipais de gases de efeito estufa como passo inicial para políticas eficazes. Esses instrumentos ajudam a identificar as principais fontes locais de emissão e a planejar medidas de mitigação e adaptação.

Como resume Andrade (2024), a seca de 2023 não foi um acidente, mas um sinal de tendência em uma floresta cada vez mais pressionada. A resposta precisa combinar mitigação, resiliência comunitária e conservação para evitar que crises severas se tornem recorrentes e sistêmicas.

O que é o efeito estufa?

O efeito estufa é um fenômeno natural que aquece a Terra. Ele acontece quando gases na atmosfera, como dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄) e vapor d’água, retêm parte do calor do Sol, impedindo que toda a energia seja devolvida ao espaço.

Caso não existisse o efeito estufa natural, a Terra seria gelada demais e não teríamos a vida como conhecemos, pois sua temperatura média seria cerca de -18°C. É este processo natural de retenção de energia que permite existir os ecossistemas, a agricultura e água líquida.

Mas afinal, por que dizem que o efeito estufa está impactando a vida na Terra? Na verdade, é o desequilíbrio neste processo natural, o causador de impactos negativos na vida terrestre. Para ficar mais claro:

  • Sem efeito estufa natural: planeta congelado, sem vida complexa, temperatura média de -18 °C.
  • Efeito estufa equilibrado: vida possível, temperatura média de 15 °C.
  • Excesso de efeito estufa (aquecimento global): temperaturas acima do normal, derretimento de geleiras, eventos climáticos extremos e desequilíbrios nos ecossistemas.

Como o efeito estufa causa o aquecimento da Terra?

Desmatamentos, queima de combustíveis fósseis, geração de resíduos que liberam CO², metano e outros gases são algumas ações que contribuem para aumentar a emissão de gases na atmosfera e consequentemente impactar no processo do efeito estufa.

Ao aumentarmos consideravelmente a emissão desses gases, criamos uma camada extra em volta da Terra, que retém mais calor do que necessário, desequilibrando todo o ecossistema já existente.

Basicamente, cria-se um “cobertor extra” ao redor do planeta, que retém por mais tempo o calor do Sol, dificultando a liberação de gases e elevando assim a temperatura global. Eventos climáticos extremos, derretimento de geleiras e aumento da temperatura média da Terra, são algumas das consequências do desequilíbrio do efeito estufa.

Principais gases do efeito estufa e suas origens

Como vimos, é a produção excessiva de gases com a consequente retenção da atmosfera que impacta o processo do efeito estufa. Mas é importante compreender que estes gases em excesso são gerados pela atuação humana, e não estão ligados a processos naturais do planeta.

Alguns desses gases e como são gerados: 

  • Dióxido de carbono (CO₂): liberado principalmente quando queimamos carvão, petróleo e gás natural, além do desmatamento;
  • Metano (CH₄): vem de atividades agrícolas, como criação de gado, arroz irrigado e lixo orgânico em aterros;
  • Óxido nitroso (N₂O): presente em fertilizantes, queima de biomassa e algumas atividades industriais;
  • Outros gases (como CFCs): usados em refrigeração e produtos industriais, embora tenham sido controlados, ainda têm efeito potente;

O conjunto da liberação desses gases, aliado à falta de preservação da natureza, potencializa o efeito estufa. Com mais gases aprisionados na atmosfera e menos florestas para ajudar na auto regulação, a Terra tem mais dificuldade de manter seu equilíbrio natural.

Dados recentes sobre efeito estufa e aquecimento global

Relatórios da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e da NASA Climate, apontam que a temperatura da Terra aumentou em 1,5ºC desde a era pré-industrial. Os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) dos últimos anos também vêm registrando o aumento da temperatura.

Os níveis de CO² na atmosfera também estão nos maiores patamares da história recente. Atualmente, passam de 428 ppm (partes por milhão), enquanto antes da Revolução Industrial estavam em cerca de 280 ppm.

O ano de 2024 foi registrado como o ano mais quente da história, tendo ficado 1,6°C na temperatura média global. E mesmo com acordos globais, estima-se que a temperatura da Terra aumente ainda mais nos próximos anos.

Entre junho e agosto deste ano, por exemplo, no Japão houve um aumento de temperatura no verão de 2,36ºC acima da média, sendo considerado o verão mais quente do país, as temperaturas ultrapassaram os 40ºC.

Na Europa, as ondas de calor estão cada vez mais frequentes. Em 2024, países do sul (Portugal, Espanha, Itália, Grécia) enfrentaram picos de até 47ºC, além das perdas econômicas diversas mortes foram registradas pelos países devido aos picos de calor.

No Brasil, a realidade não é diferente. A bacia Amazônica tem sofrido seca extrema em virtude do aumento das temperaturas e ondas de calor extremo. As temperaturas ficaram de 2 a 5ºC acima da média histórica, o que afetou solos, vegetação e aumentou o risco de incêndios.

Este cenário aponta o risco de Dieback da Amazônia, que é o risco de colapso do bioma. Com o aquecimento global, desmatamento e redução de chuvas, partes da floresta podem secar, perder árvores em larga escala e se transformar em uma vegetação mais parecida com savana. Esse ciclo pode atingir um ponto de não retorno, em que a floresta deixa de se regenerar sozinha.

Quais as consequências do efeito estufa intensificado?

Algumas das consequências do efeito estufa quando intensificado são:

  • Derretimento de geleiras e aumento do nível do mar: regiões costeiras ficam mais vulneráveis, ilhas pequenas correm risco de desaparecer e cidades podem enfrentar enchentes mais frequentes;
  • Eventos climáticos extremos: tempestades, furacões, secas e ondas de calor se tornam mais comuns e intensos, afetando comunidades, economia e infraestrutura;
  • Impactos na agricultura, saúde e biodiversidade: plantações sofrem com mudanças no clima, espécies desaparecem ou migram, e doenças ligadas ao calor e à água se espalham mais rápido.

Estratégias para mitigação do efeito estufa

A crise climática representa um dos principais desafios globais do século XXI. Sua resolução exige respostas articuladas em múltiplos níveis, desde o comportamento individual às políticas públicas, passando por ações empresariais e mecanismos internacionais.

Ações individuais

A mitigação das mudanças climáticas requer mudanças práticas nos hábitos de consumo. Entre as medidas adotadas por indivíduos, destacam-se:

  • Disseminação de informações: compartilhar conhecimento com familiares, amigos e colegas é fundamental. Movimentos como o Count Us In estimulam ações práticas em massa, com a meta de engajar um bilhão de pessoas. Iniciativas como a campanha da ONU #ActNow também ampliam a conscientização e incentivam escolhas sustentáveis;
  • Pressão política: cidadãos podem cobrar compromissos ambientais de seus representantes e empresas. A atuação política local, como organizar reuniões com vereadores ou deputados, fortalece a democracia e influencia políticas públicas mais ambiciosas;
  • Mudança no meio de transporte: o setor de transporte é responsável por cerca de 25% das emissões globais. Caminhar, pedalar, utilizar transporte público (de preferência elétrico) ou compartilhar caronas reduz a pegada de carbono. A substituição de voos por outras formas de deslocamento, sempre que possível, também contribui. Para quem pode, adquirir veículos elétricos é uma opção de menor emissão;
  • Controle do consumo de energia: mudar para uma fornecedora de energia renovável, instalar painéis solares, isolar o telhado e utilizar eletrodomésticos eficientes são formas de economizar energia e dinheiro. Pequenas mudanças, como desligar luzes e ajustar o termostato, fazem diferença;
  • Adaptação da dieta alimentar: dietas à base de plantas são mais sustentáveis. A criação de gado ocupa cerca de 60% das terras agrícolas globais e contribui com a emissão de metano, um potente gás de efeito estufa. Além disso, dietas com menos produtos de origem animal são benéficas à saúde;
  • Consumo local e sustentável: preferir alimentos da estação, produzidos na região, reduz a necessidade de transporte e armazenamento refrigerado, diminuindo emissões. A agricultura sustentável consome menos energia e favorece a biodiversidade. Cultivar alimentos em casa ou em hortas comunitárias também é uma alternativa viável;
  • Redução do desperdício de alimentos: um terço da comida produzida globalmente é desperdiçada. De acordo com o relatório de 2024 do PNUMA, o desperdício representa até 10% das emissões globais. Planejar compras, utilizar integralmente os alimentos, congelar sobras e compartilhar refeições são ações eficazes. A compostagem transforma resíduos orgânicos em fertilizante e reduz a geração de metano;
  • Moda consciente: a indústria da moda responde por até 10% das emissões globais. O consumo desenfreado impulsionado pelo fast fashion agrava esse problema. Usar roupas por mais tempo, fazer reparos, comprar de marcas sustentáveis ou participar de iniciativas de troca e aluguel de roupas são alternativas viáveis;
  • Plantio de árvores: cerca de 12 milhões de hectares de floresta são perdidos anualmente. Apoiar iniciativas de reflorestamento e participar de plantios comunitários ajuda na captura de carbono, conservação de solo e regulação hídrica. A meta brasileira é restaurar 12 milhões de hectares até 2030;
  • Investimento responsável: direcionar recursos a instituições financeiras que não financiem indústrias poluentes envia um sinal claro ao mercado. Há plataformas que classificam os bancos segundo critérios socioambientais. Já investimentos éticos ajudam a financiar soluções sustentáveis;
  • Voto consciente: em ano de eleições, escolher candidatos comprometidos com pautas ambientais, com base na ciência e na justiça climática, é essencial. O poder de decisão individual nas urnas molda as políticas públicas futuras;
  • Educação ambiental nas escolas: incentivar discussões sobre o clima no ambiente escolar é estratégico. Projetos como o Escolas Climáticas do IPÊ promovem a educação socioambiental com participação da comunidade;
  • Voluntariado ambiental: engajar-se em ações de conservação organizadas por ONGs ou mesmo por empresas amplia a conexão com a natureza e fortalece o vínculo com as causas socioambientais;
  • Combate às fake news: informações falsas desinformam e atrasam o enfrentamento da crise climática. Antes de compartilhar conteúdos, especialmente em grupos de redes sociais, é fundamental verificar as fontes e utilizar plataformas confiáveis de checagem.

Iniciativas governamentais

Apesar de o Brasil ter assumido compromissos internacionais contra a crise climática, para o agronegócio ainda não houve medidas para mitigação de práticas que contribuem para o efeito estufa. O setor é responsável por 74% das emissões nacionais de gases de efeito estufa, conforme dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima).

As emissões vêm, principalmente, da fermentação entérica do gado (o chamado “arroto do boi”), do uso intensivo de fertilizantes nitrogenados e do desmatamento impulsionado pela expansão agropecuária. Segundo o economista Nelson de Chueri Karam, do DIEESE, há um atraso estrutural na incorporação da agenda climática no setor, causado em parte pelo seu forte poder político. A cientista Thelma Krug, ex-vice-presidente do IPCC, acrescenta que o setor produtivo ainda não internalizou a responsabilidade pelas emissões e continua tratando a agenda ambiental como obstáculo, e não como oportunidade.

Desmatamento

O governo brasileiro estabeleceu como meta zerar o desmatamento até 2030. Apesar disso, resistiu à regulamentação europeia que proíbe a importação de produtos ligados a áreas desmatadas, e conseguiu adiar a entrada em vigor da legislação (EUDR) por um ano, após forte pressão do setor agropecuário. A medida da União Europeia visa garantir que produtos como carne bovina, soja e café não estejam associados ao desmatamento nem a violações de direitos humanos.

Além disso, a falta de validação dos Cadastros Ambientais Rurais (CAR), criados em 2012 para monitorar a regularidade ambiental dos imóveis rurais, compromete a fiscalização. Apenas 3,3% dos mais de 7 milhões de registros foram efetivamente analisados. O CAR é usado para liberar crédito e autorizações, mesmo em propriedades sobrepostas a terras indígenas ou áreas protegidas.

Rastreabilidade na pecuária

Mais de 90% do desmatamento na Amazônia entre 1985 e 2023 foi para a formação de pastagens. Um dos entraves para o controle ambiental da cadeia pecuária é a falta de transparência nos dados de movimentação animal. Em dezembro de 2023, foi lançado o Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB), que prevê a identificação individual de cada animal até 2032 — dois anos após a meta de zerar o desmatamento. Para Marina Guyot, gerente de políticas públicas do Imaflora, o prazo é excessivamente longo e sinaliza incerteza sobre a real prioridade da agenda de rastreabilidade.

Fiscalizações, como a Operação Carne Fria do Ibama, visam combater a comercialização de gado oriundo de áreas desmatadas ilegalmente. No entanto, a eficiência dessas medidas depende da celeridade e clareza dos processos de regularização.

Uso de agrotóxicos

O Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos, responsável por 22% do volume global em 2022. Os fertilizantes nitrogenados são grandes emissores de gases de efeito estufa, com 37,6 milhões de toneladas de CO₂ emitidas em 2023. Mesmo assim, o setor teve R$ 25,7 bilhões em isenções fiscais até agosto de 2023.

O Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara) enfrenta resistência desde sua criação. Em 2024, foi excluído do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) por decisão da Secretaria de Defesa Agropecuária, revertida apenas após intervenção direta da Presidência da República. Rogério Dias, presidente do Instituto Brasil Orgânico, avalia que a retirada foi uma decisão política, e não técnica, e alerta para o enfraquecimento da agenda agroecológica no atual governo.

Crédito e incentivos econômicos

O Plano Safra 2024, anunciado como o maior da história, destinou menos de 2% dos R$ 400 bilhões ao financiamento de práticas agropecuárias de baixa emissão de carbono, como prevê o programa RenovAgro. Segundo Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, o governo ainda não atrela de forma obrigatória os financiamentos públicos ao cumprimento de metas ambientais, o que representa um retrocesso diante da emergência climática.

O Ministério do Meio Ambiente afirmou que está aprimorando as exigências ambientais no Manual de Crédito Rural para condicionar o acesso a recursos à regularidade ambiental das propriedades.

Projetos nacionais e estaduais

No nível federal, o Projeto de Opções de Mitigação de Emissões de Gases de Efeito Estufa, conduzido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), busca identificar medidas com maior potencial de redução de emissões até 2050. O projeto contempla setores como energia, transportes, agricultura e resíduos.

No Congresso, o Projeto de Lei 4.364/2023 propõe atualizar a Política Nacional sobre Mudança do Clima, incluindo estímulos à eficiência energética, à restauração da vegetação nativa, ao pagamento por serviços ambientais e à agricultura de baixo carbono. Aprovado no Senado, aguarda análise da Câmara dos Deputados.

Iniciativas estaduais

São Paulo lançou o Plano de Ação Climática 2050 e o Plano de Adaptação e Resiliência Climática (PEARC). A política estadual inclui metas para reduzir emissões em setores como transportes, energia, resíduos e agropecuária, e cria mecanismos de financiamento climático (Finaclima). O estado também organiza sua governança climática por meio de conselhos e comitês que envolvem governo, municípios e sociedade civil.

Santa Catarina, por meio da Secretaria do Meio Ambiente e da Economia Verde (Semae), implementa o Programa Estadual de Transição Energética Justa, visando à descarbonização da matriz energética e à substituição da geração termelétrica a carvão até 2040. Gabriela Brasil dos Anjos, diretora de Clima da Semae, destaca que o estado também lidera o HUB de Descarbonização, em parceria com a FIESC, e organizou um catálogo com 84 medidas de adaptação climática. O secretário Guilherme Dallacosta reforça que o foco está em apoiar pequenas empresas e estimular inovações sustentáveis.

Paraná adota uma série de programas como o RenovaPR (transição energética no campo), Paraná Mais Verde (reflorestamento), Prosolo (conservação do solo) e o Paranaclima (plano estadual de mudanças climáticas). O Simepar lidera iniciativas de monitoramento ambiental, geração de dados e projeções climáticas. O estado também promove o uso de créditos de carbono e exige Diagnóstico Climático para grandes empreendimentos em processos de licenciamento ambiental.

Compromissos empresariais

Nos últimos anos, diversas empresas brasileiras e multinacionais vêm anunciando metas e avanços relacionados à redução de emissões de gases de efeito estufa. Em meio ao agravamento da crise climática, grandes corporações tentam alinhar suas operações às recomendações do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que propõe limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C até o fim do século.

A Natura, por exemplo, utiliza insumos florestais de maneira sustentável e destina recursos a iniciativas de preservação ambiental. A Microsoft, por sua vez, anunciou a meta de atingir emissões líquidas negativas de carbono até 2030.

A Petrobras anunciou em 2021 uma redução de aproximadamente 50% na intensidade de emissões por barril de petróleo produzido em relação a 2009. O ganho foi atribuído à adoção de novas tecnologias de extração. No entanto, como observa Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), esse tipo de resultado, embora positivo, não substitui a necessidade de uma transição real. Para ele, a sociedade deve exigir que empresas do setor fóssil se transformem em produtoras de energia limpa. “Só assim haverá ganhos estruturais diante do momento histórico de emergência climática atestada nos relatórios atuais do IPCC”, ressalta.

Outras empresas de setores distintos também têm avançado em metas de descarbonização. A Ambev, do setor de bebidas, reduziu em 44,6% a intensidade das emissões de CO₂ entre 2017 e 2021. A companhia prevê migrar toda sua cadeia produtiva para fontes renováveis nos próximos anos, o que pode resultar na redução de cerca de 140 mil toneladas de poluentes. A petroquímica Braskem, por sua vez, alcançou uma redução de mais de 17% nas emissões entre 2008 e 2020, e estabeleceu como meta atingir a neutralidade de carbono até 2050.

A Danone, do setor alimentício, comunicou que deve cortar suas emissões pela metade até 2030, com foco em eficiência energética e redução do consumo. A L’Oréal, multinacional de cosméticos, declarou o compromisso de atingir a neutralidade de carbono em todas as suas instalações até 2025.

Já a Unilever aposta em ingredientes de baixo carbono, na reformulação de seus produtos, como alimentos veganos e itens de limpeza isentos de derivados fósseis, e na transição completa para energias renováveis. A meta do conglomerado é zerar sua pegada de carbono em toda a cadeia até 2039, da extração das matérias-primas até o ponto de venda.

De acordo com dados globais, as emissões médias de gases de efeito estufa atingiram seus picos históricos em 2021. Contudo, o ritmo de crescimento dessas emissões desacelerou: passou de 2,1% na década anterior para 1,3% entre 2010 e 2019. Parte dessa desaceleração se deve aos esforços do setor empresarial, sobretudo nos países em desenvolvimento, como o Brasil.

Apesar disso, Carlos Bocuhy alerta para os riscos do “greenwashing”. Segundo ele, embora não haja obrigatoriedade legal nos compromissos empresariais assumidos em fóruns internacionais, há incentivos de mercado. “As empresas estão respondendo a um compromisso convencionado internacionalmente. Não se trata de caridade, mas de acesso a mercados e reputação institucional. Cabe à sociedade cobrar a coerência entre o discurso e a prática”.

Nesse contexto, cresce também a necessidade de regulação mais firme sobre metas climáticas corporativas. Organizações da sociedade civil e instâncias internacionais têm pressionado por maior transparência na divulgação de inventários de emissões, nos relatórios de sustentabilidade e na validação dos chamados planos de transição justa.

Soluções tecnológicas e acordos internacionais

O Acordo de Paris estabelece metas de redução de emissões e exige compromissos periódicos dos países signatários. Além de orientar políticas internas, o acordo amplia o controle social sobre as metas climáticas.

O mercado de carbono internacional permite que países e empresas financiem projetos de redução de emissões em outras localidades. Esse mecanismo viabiliza ações como reflorestamento, substituição de combustíveis fósseis e desenvolvimento de tecnologias limpas.

Entre essas tecnologias, destacam-se as fontes de energia renovável, como solar, eólica e hidrogênio verde, além de métodos de captura e armazenamento de carbono, já aplicados em algumas indústrias.

Também são relevantes os projetos de reflorestamento e restauração florestal. Além de absorverem dióxido de carbono, essas iniciativas restauram áreas degradadas e favorecem a biodiversidade.

Mecanismos financeiros e seus limites

A emissão de títulos verdes tem sido apresentada como uma alternativa para fomentar a sustentabilidade por meio do mercado de capitais. No Brasil, a empresa Solubio emitiu um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA Verde) em 2022, captando R$ 150 milhões para financiar biofábricas de insumos biológicos em propriedades rurais. Segundo avaliação da consultoria NINT Natural Intelligence, o título está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e aos princípios do Green Bond Principles da ICMA. Contudo, essa avaliação desconsiderou o histórico ambiental de produtores beneficiados, como Daniel Franciosi e seus irmãos, multados por desmatamento no Cerrado baiano, o que compromete a credibilidade ambiental da operação.

Leonardo Gava, da Climate Bonds Initiative, reconhece os méritos de alguns CRAs verdes emitidos no país, mas alerta: “Ainda não é uma agricultura regenerativa. Existe muita coisa boa, mas muitas outras que só usam o verde na fachada, e isso é um problema”. A falta de padronização regulatória para esses instrumentos facilita práticas de “greenwashing”, uma prática de promover discursos ambientais sem mudanças reais nos processos produtivos

Sergio Pereira Leite, pesquisador da UFRRJ, destaca que instrumentos como os CRAs e Fiagro operam sob regulação branda da CVM, sem exigências ambientais rigorosas. “O Brasil tem situações mascaradas de acesso a recursos mais baratos, mediante a apresentação de uma atividade supostamente verde, que não é de fato sustentável”.

O mercado voluntário de carbono também enfrenta críticas. Um levantamento da InfoAmazonia revela que 61% dos créditos de carbono vendidos na Amazônia estão em áreas com sobreposição minerária. A pesquisadora Marcela Vecchione, da UFPA, afirma: “Estamos diante de uma economia altamente destrutiva de um lado, que é a mineração, e de uma suposta economia verde do outro, ambas explorando o mesmo território”. A coexistência desses projetos compromete a integridade climática e social das iniciativas.

A cientista social Fabrina Furtado (UFRRJ) critica a lógica do mercado de carbono como solução à crise climática: “Sua origem é falha, na lógica de que o mercado vai solucionar um problema que o mercado criou. Não é esse mecanismo que vai combater a mudança climática, nem vai reduzir o desmatamento”.

Exemplos concretos incluem o projeto Maísa REDD+, que vendeu 635 mil créditos de carbono antes de ser encerrado para dar lugar à mineração. Em 2023, o Ibama multou a Maísa Agropecuária em R$ 3,6 milhões por desmatamento ilegal. O projeto FSM-REDD+, em Colniza (MT), também convive com sete concessões de mineração para ouro e cobre, apesar de ter emitido 8 milhões de créditos.

A defensora pública Andreia Macedo Barreto resume: “A mineração é absolutamente incompatível com um projeto de carbono. Você não pode prometer conservação e, ao mesmo tempo, ter autorização para escavar, derrubar floresta e abrir minas no mesmo território”.

Além dos problemas ambientais, os projetos de carbono têm gerado conflitos sociais. Em Terras Indígenas como Kayapó e Munduruku, parte das comunidades não foi consultada, descumprindo protocolos da Convenção 169 da OIT. A defensora Andreia Barreto relata disputas internas e desigualdade na distribuição dos recursos.

O governo federal anunciou para a COP 30, em 2025, o lançamento da Taxonomia Sustentável Brasileira. Segundo Sergio Pereira Leite, essa regulação, apesar de avanço, ainda não abrange mecanismos como CRAs, Fiagro e LCAs, que concentram boa parte dos recursos financeiros do agronegócio.

Enquanto isso, empresas globais continuam comprando créditos com dúvidas sobre sua validade. Segundo a Climate Bonds Initiative, o setor de uso da terra responde por 27% das emissões verdes no Brasil, atrás apenas do setor de energias renováveis (45%). A ausência de um padrão internacional de rotulagem agrava o problema.

A especialista Marcela Vecchione adverte que a integridade climática definida no Acordo de Paris inclui também o respeito aos direitos humanos e a promoção do desenvolvimento sustentável. Ignorar esses aspectos compromete não apenas a eficácia ambiental dos projetos, mas também sua legitimidade política e social.

O protagonismo da Amazônia

A Amazônia funciona como um dos maiores sumidouros de carbono do mundo, capturando gases que, de outra forma, acelerariam o efeito estufa. Além disso, regula o regime de chuvas em toda a América do Sul, influenciando desde a agricultura até o abastecimento de água em grandes centros urbanos.

Nos últimos anos, a floresta tem sido palco de projetos inovadores de bioeconomia, que mostram que é possível conciliar conservação e desenvolvimento. Cadeias produtivas sustentáveis de açaí, cacau, castanha e outros produtos amazônicos oferecem oportunidades de renda para comunidades locais sem comprometer o equilíbrio ecológico. Esses projetos são exemplos claros de que a Amazônia pode ser fonte de prosperidade e inovação quando a sustentabilidade é prioridade.

Por outro lado, o avanço do desmatamento e das queimadas representa uma ameaça direta à sobrevivência da floresta. Cientistas alertam para o risco do “dieback”, um colapso ecológico que poderia transformar grandes áreas de floresta em savana, alterando de forma irreversível o ciclo hídrico e potencializando o efeito estufa em escala global.

Agora que você entende melhor o efeito estufa e seu impacto na amazônia, conte pra gente: qual mudança você acha mais urgente? Se ficou alguma dúvida, deixe nos comentários!

Se você gostou do conteúdo, conheça o Projeto Amazônia Urbana, uma iniciativa da Politize! em parceria com o Pulitzer Center. O projeto busca ampliar o olhar sobre os desafios das cidades amazônicas, promovendo conteúdos acessíveis e didáticos sobre urbanização, justiça climática e participação cidadã na região. Acompanhe essa jornada!

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Conteúdo escrito por:

Thamires Holmes

Professora e Palestrante, uma curiosa por novos aprendizados e experiências. Pedagoga e especialista em Diversidade e Gestão de Pessoas, apaixonada em produzir conteúdos relevantes para as pessoas.
Holmes, Thamires. O que é efeito estufa e como ele está afetando a região amazônica?. Politize!, 26 de setembro, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/efeito-estufa-na-amazonia/.
Acesso em: 26 de set, 2025.

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