Imperialismo e a partilha da África: entenda!

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Muitas vezes, quando vemos notícias relacionadas aos países do continente africano, elas estão relacionadas aos diferentes conflitos existentes e às dificuldades financeiras enfrentadas pela população local. E qual seria o motivo disso?

Para entender a situação atual do continente e o poder econômico dos países europeus, é importante conhecer o processo imperialista que ocorreu no século XIX e que até hoje influencia diretamente as relações de poder no cenário mundial e evidencia as desigualdades entre as diferentes regiões do mundo.

Nesse texto, falaremos sobre como ocorreu esse processo e suas consequências para a África atual.

O que foi o Imperialismo? 

O Imperialismo – também conhecido como Neocolonialismo – foi uma forma de dominação econômica, política e social pelas potências industriais europeias sobre países africanos e asiáticos durante o século XIX. Essa dominação ocorreu devido à busca incansável pelo lucro, uma vez que a Europa passava pela Segunda Revolução Industrial e necessitava de matérias-primas, mão-de-obra barata e mercado consumidor, buscando-os, assim, em outras regiões do globo. 

Com sua riqueza em minerais preciosos e reservas de petróleo, o continente Africano logo se tornou atrativo para os países europeus. Vale destacar que esse processo está inserido no contexto capitalista – mais precisamente no contexto do capitalismo industrial – afinal, a produção industrial em massa era a prioridade para manter o sistema de consumo funcionando, foi por isso, então, que as potências europeias passaram a disputar os territórios africanos no século XIX.

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O Tratado de Berlim e a divisão do Continente Africano 

Quando o assunto é o Imperialismo não se pode esquecer do Tratado de Berlim, visto que foi definidor para a divisão do continente africano entre os países europeus.

Conhecido como “O futuro da África”, o Tratado de Berlim foi uma reunião entre as potências imperialistas da época (Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Espanha, Portugal, Bélgica, Holanda etc.), e baseou-se no desejo dos países participantes em adquirir territórios no continente africano. Esse Tratado ocorreu na cidade de Berlim (atual capital da Alemanha), no ano de 1884, e tinha como objetivo inicial o domínio europeu das rotas fluviais africanas

Ao final do acordo, as regiões dá África foram repartidas entre os países mais poderosos da época, estabelecendo assim os limites territoriais do continente, da maneira que conhecemos hoje. É importante salientar que nem todas as nações participantes do Tratado receberam territórios africanos; todavia, havia um interesse comum entre elas quanto aos futuros acordos comerciais. 

Os principais países que ficaram com as maiores porções de territórios no continente africano foram a Inglaterra e a França. Podemos identificar os rastros imperialistas nos países colonizados principalmente através dos idiomas falados (como línguas oficiais ou não) pela população nativa, como o inglês em países como África do Sul, Botswana, Camarões etc, e o francês no Senegal, Costa do Marfim, Guiné e alguns outros. 

É importante destacar que a divisão desigual dos territórios do continente africano entre os países europeus no século XIX foi uma das razões para o surgimento da Primeira Guerra Mundial em 1914. Buscando aumentar o poder de influência por meio do domínio não somente nas nações colonizadas, mas no mundo como um todo, gerou-se atritos entre as potências europeias, e posteriormente uma das maiores guerras já existentes. 

Consequências do Imperialismo para o continente africano 

Vamos a uma analogia: imagine que você vive em uma cidade e que cada bairro possui os seus próprios costumes e líderes locais. Em um certo momento, chegam pessoas de outro continente com uma cultura completamente diferente da que você está habituado e tomam posse daquela região em que você vive, unificando o local e misturando diversos bairros, tornando-os um só. Foi dessa forma que ocorreu a partilha do continente africano pelos europeus: de maneira desordenada e desconsiderando as diferenças étnicas das tribos locais. 

Com a mistura de tribos culturalmente distintas em uma mesma delimitação territorial, surgem os conflitos no Continente Africano que ocorrem até os dias atuais. Esses conflitos vão desde disputas territoriais entre tribos até desavenças religiosas. Pode-se dizer que os países europeus auxiliaram no processo de estabelecimento desses conflitos durante a neocolonização quando por exemplo, apoiavam líderes de determinadas etnias ou tribos para o controle de uma zona que desejavam exercer influência. Alguns exemplos contemporâneos são:  os conflitos entre Sudão e Sudão do Sul e o genocídio de Ruanda

Além dos conflitos étnicos existentes, há também outros problemas causados pelo processo imperialista do século XIX nos países africanos, como, por exemplo, a miséria e as crises humanitárias vivenciadas pela população local.

A falta de alimentos e recursos básicos para a sobrevivência e bem-estar da população africana são um dos maiores desafios enfrentados e que demonstram as desigualdades continentais existentes. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 257 milhões de pessoas passam fome na África, o que representa cerca de 20% da população total do continente. Tais crises humanitárias atuais, além do clima do continente e de fatores como as concentrações de poder existentes, podem ser relacionadas com o processo Imperialista uma vez que a Europa foi a responsável por explorar grande parte dos recursos do Continente Africano.

Justificativas europeias para o Imperialismo 

Para justificar as ações de dominação imperialistas sobre a África e a Ásia, os europeus utilizaram argumentos racistas, baseados na ideologia racial europeia do século XIX que colocava os habitantes da Europa em um patamar de superioridade quando comparados com outras raças, as quais eram vistas como inferiores. Entre essas teorias, iremos destacar o darwinismo social e a eugenia

Darwinismo Social: corrente de pensamento que baseava-se na Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin, em que acreditava-se que haviam sociedades mais evoluídas do que outras, sendo necessária a intervenção da “superior” na considerada “inferior”, para que houvesse a civilização do local dominado. 

Eugenia: a palavra eugenia provém do grego e significa “bem nascido”. Foi um conceito disseminado na Europa do século XIX e tinha como fundamento a seleção de seres humanos com “boas” características genéticas, a fim de melhorar as gerações futuras. Com isso, há a eugenia positiva (em que os indivíduos com as melhores características são incentivados a se reproduzirem) e a eugenia negativa (em que há a eliminação do indivíduo considerado inadequado para a sociedade). 

O papel dos Estados Unidos no processo imperialista 

Os Estados Unidos foi o único país da América a participar do Tratado de Berlim em 1884; no entanto, diferentemente das potências europeias, não ocupou territórios no Continente Africano, sendo o seu interesse da época obter tratados comerciais nas regiões africanas. Mesmo assim, os EUA desempenharam um papel importante durante o Imperialismo no século XIX, exercendo sua influência nas regiões da América

Após o fim da Guerra Civil Americana em 1865, os Estados Unidos se consolidou como um Estado Nacional, transformando-se em uma grande potência mundial fora da Europa. Com o desenvolvimento industrial, na década de 1890, o mercado interno não era capaz de consumir toda a produção dos Estados Unidos, surgindo a necessidade de abertura para o mercado externo. A partir disso, o olhar estadunidense se abre para outras regiões do mundo, mais precisamente para toda a América – uma vez que a África e a Ásia já estavam sob domínio europeu – identificando-a como uma possível zona para a sua expansão.

Dessa forma, surgem algumas aplicações de políticas americanas para a dominação do continente: a Doutrina Monroe, com o lema “América para os americanos”, em que os Estados Unidos se posicionava contra a interferência da Europa nas questões da América e a política do Big Stick, que buscava agir violentamente para interferir no continente americano. Tais medidas impostas tinham como objetivo o fortalecimento dos EUA e o controle da América

Colonização x Imperialismo 

Ambos os processos foram realizados com a finalidade de gerar lucro para os países europeus, dominando e subjugando os povos nativos da região.  Apesar de parecidos, há grandes diferenças entre os processos de colonização e o imperialista. Entenda essas diferenças abaixo: 

Colonização: ocorreu nos século XV e XVI, as potências europeias da época eram Portugal e Espanha, o sistema vigente era o capitalismo comercial (mercantilismo), o objetivo principal era a busca por especiarias e metais preciosos, resultou na colonização de diversas regiões do mundo. 

Imperialismo: ocorreu no século XIX, diversos países europeus tiveram participação (Alemanha, Portugal, Espanha, Inglaterra, Bélgica, Holanda etc.), o sistema vigente era o capitalismo industrial (contexto da Segunda Revolução Industrial), o objetivo principal era a busca por novos territórios para a extração de matérias primas, a utilização de mão-de-obra barata e ampliação do mercado consumidor, resultou na divisão do Continente Africano entre os países europeus.

Leia também: o que é colonialidade?

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REFERÊNCIAS

COC: o que foi o imperialismo

Diplomatique: o que a Africa pode nos ensinar sobre imperialismo

Carta Capital: conferência de Berlin

Guia do Estudante: neocolonialismo

Entenda o imperialismo

Conflitos atuais na África

BBC: genocídio de Ruanda

G1: entenda os conflitos entre Sudão e Sudão Sul

Revista contemporaneos

UOL: o que é eugenia

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Conteúdo escrito por:
Estudante de Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, militante pelo Coletivo Juntos desde 2021 e redatora voluntária pelo Politize!. Acredita que a educação é a principal chave para uma sociedade mais justa

Imperialismo e a partilha da África: entenda!

03 out. 2024

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