Quais países têm armas nucleares hoje é uma pergunta que envolve complexos aspectos políticos, históricos e de segurança global. Oficialmente, cinco nações possuem armamento nuclear, mas outros países, apesar de não estarem sob o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), também desenvolveram essa tecnologia.
Neste texto, exploramos os países que detêm armas nucleares, os desafios relacionados à sua posse e as tensões que envolvem o uso dessa poderosa tecnologia.

Quais países têm armas nucleares hoje?
Somente cinco países podem, oficialmente, ter armamento nuclear: Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China. Estes foram os países que conseguiram a tecnologia necessária para desenvolver bombas atômicas até 1967. No ano seguinte seria assinado o TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), o principal acordo internacional sobre o assunto.
Outros países desenvolveram tecnologia nuclear posteriormente ao TNP: Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte. Índia, Paquistão e Israel nunca assinaram o tratado, a Coreia do Norte chegou a assinar o Tratado, mas retirou-se em 2003.
Apesar de oficialmente apenas cinco países poderem possuir armas nucleares segundo o TNP, esses quatro países desafiam esse cenário. Israel tem cerca de 90 ogivas armazenadas e adota uma estratégia de ambiguidade, sem reconhecer publicamente seu arsenal. Já o Irã, embora negue ter uma bomba, acumula urânio enriquecido suficiente para produzi-las, alimentando tensões e suspeitas internacionais sobre seus reais objetivos.
Vários países utilizam a tecnologia nuclear para fins pacíficos, como é o caso de Brasil, Argentina, Alemanha, Japão, dentre muitos outros. A utilização pacífica da tecnologia nuclear inclui seu uso em procedimentos médicos, a instalação de usinas nucleares para geração de energia e a construção de submarinos de propulsão nuclear, como os que estão sendo projetados pela Marinha brasileira atualmente.
Guerra Israel x Irã
No dia 13 de junho, Israel iniciou um ataque surpresa sem precedentes, bombardeando instalações nucleares em Natanz e Isfahan, além de prédios residenciais e bases aéreas em todo o Irã. Este ataque matou comandantes militares iranianos de alto escalão e cientistas nucleares, provocando uma resposta imediata de Teerã, que lançou 100 mísseis balísticos contra Israel.
Após um aumento significativo na violência, com mais de 600 mortos e mais de 2.000 ataques registrados, o cessar-fogo foi anunciado na noite de 23 para 24 de junho. A guerra ficou conhecida como a “Guerra dos Doze Dias”. A perspectiva de uma paz duradoura permanece incerta, enquanto os desafios geopolíticos e nucleares continuam a dominar as discussões internacionais.
O que é o TNP?
O Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é um acordo internacional fundamental para a prevenção da disseminação de armas nucleares e para promover a cooperação no uso pacífico da energia nuclear. Ele foi elaborado em 1967, em um contexto de grande tensão da Guerra Fria, especialmente após a crise dos mísseis de 1961, que aproximou o mundo de um conflito nuclear entre as superpotências EUA e URSS. O TNP foi aberto à assinatura em 1968 e entrou em vigor em 1970.
Os principais objetivos do TNP são:
- Prevenir a proliferação de armas nucleares: Os países que já possuíam armas nucleares (EUA, URSS/Rússia, Reino Unido, França e China) ficaram autorizados a mantê-las, com o compromisso de reduzir progressivamente seus arsenais nucleares. Esses países são conhecidos como os “Estados nucleares reconhecidos”;
- Promover o desarmamento nuclear: Embora o tratado tenha permitido que as potências nucleares mantivessem suas armas, ele também estabelece o compromisso de trabalhar para o desarmamento nuclear ao longo do tempo;
- Facilitar o uso pacífico da tecnologia nuclear: Países que não possuíam armas nucleares no momento da assinatura do tratado poderiam desenvolver a tecnologia nuclear para fins pacíficos (como geração de energia, pesquisa médica, etc.), com a ajuda dos Estados nucleares, sob a supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA);
- Verificação e fiscalização: O TNP prevê inspeções regulares e fiscalização da AIEA para garantir que a tecnologia nuclear em países signatários seja usada exclusivamente para fins pacíficos, sem pesquisas ou desenvolvimento de armas nucleares.
A adesão ao TNP tem sido um marco importante para a segurança global, com 189 países e territórios, incluindo Taiwan, como signatários, tornando-o um dos tratados mais amplamente aceitos na história da diplomacia internacional.

Leia mais: Armas nucleares: qual o seu papel em conflitos políticos?
Quando o Brasil assinou o TNP?
O Brail assinou o TNP em 1998, com Fernando Henrique Cardoso e sua política externa de “autonomia pela participação”. FHC priorizava os arranjos internacionais e se preocupava com a visão que o meio internacional tinha sobre o Brasil.
A assinatura do Tratado asseguraria a imagem do país como pacífico e diplomático, podendo até mesmo colaborar para o objetivo histórico de conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
O Brasil já assinou outros acordos internacionais sobre armas nucleares?
Sim, o Brasil é signatário de outros acordos internacionais sobre armas nucleares, dentre eles:
- Acordo para o Uso Exclusivamente Pacífico da Energia Nuclear (1991): o acordo bilateral entre Brasil e Argentina criou a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC) e, como o próprio nome diz, previa que a energia nuclear deveria ser utilizada somente para fins pacíficos em ambos os países;
- Acordo Quadripartite (1991): realizado entre Brasil, Argentina, a ABACC e a AIEA, o acordo estabeleceu de que modo ocorreria a verificação do cumprimento do TNP pela AIEA nos dois países, definindo as atividades cooperativas e regulamentando as relações entre ABACC e AIEA;
- Tratado de Tlatelolco (1994): este Tratado pretende criar uma Zona Livre de Armas Nucleares na América Latina e no Caribe, proibindo aos países signatários o desenvolvimento, armazenamento ou aquisição de armamento nuclear. Criado e assinado em 1967, só foi ratificado pelo Brasil em 1994. Todos os 33 países da América Latina e Caribe assinaram o Tratado, sendo o último Cuba, em 2002.
O que é o Protocolo Adicional do TNP?
O Protocolo Adicional ao TNP surge em 1997, com regras mais rígidas de inspeção e fiscalização de programas e instalações nucleares. Com este novo documento, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) passou a ter acesso a todo o processo de desenvolvimento nuclear, desde a mineração e enriquecimento do urânio até a destinação dos resíduos.
No final da década de 1980 e início da década de 1990, a AIEA descobriu algumas irregularidades relacionadas à tecnologia nuclear em alguns países. Práticas como o desvio de material físsil na Coreia do Norte, na época, signatária do TNP, e a existência de um programa nuclear não declarado no Iraque fizeram com que a comunidade internacional se mobilizasse para aumentar a fiscalização sobre o desenvolvimento de tecnologia nuclear em Estados-parte do TNP.
A agência também passou a poder realizar visitas de verificação em locais não declarados pelo governo do país, como reatores desativados ou centros de pesquisa. Esta é uma das maiores mudanças: antes, a AIEA somente verificava as instalações declaradas pelo Estado, conferindo se os materiais utilizados estavam corretamente contabilizados em seus relatórios oficiais.
Os relatórios dos países também passaram a ficar mais extensos e detalhados, incluindo itens como projetos para futuras instalações nucleares e importação e exportação de objetos relacionados a atividades nucleares. Podem ocorrer visitas não programadas a qualquer tempo, com aviso prévio da AIEA de pelo menos 24 horas de antecedência.
Hoje, 129 dos 189 membros do TNP também são signatários do Protocolo Adicional. O Brasil não é um deles, apesar da grande pressão internacional.
O Brasil deveria assinar o Protocolo Adicional?
O Brasil possui uma tecnologia nuclear muito eficiente, utilizando-se de centrífugas diferenciadas, que sofrem menos desgaste e atrito do que as comuns, pois levitam em um campo magnético ao invés de se apoiarem em um eixo.
Como não é possível o registro de patentes na área de tecnologia nuclear, pelo risco das informações vazarem e serem utilizadas para fins bélicos, autoridades argumentam que o acesso irrestrito às instalações brasileiras poderia levar o conhecimento aqui adquirido para outros países, resultando em perda de vantagem competitiva em um possível mercado de energia nuclear.
No entanto, é pertinente a observação de que outros países com tecnologia nuclear avançada, como Alemanha, Bélgica e Japão, que poderiam se utilizar do mesmo argumento, já assinaram o Protocolo. Visto que os termos de confidencialidade na área nuclear são bastante rígidos, seria improvável que um vazamento de informações ocorresse.
O Brasil argumenta que é um dos poucos países fiscalizados por duas agências, a AIEA e a ABACC. Além disso, permite a verificação de suas instalações militares, procedimento não realizado em grande parte dos países. Também é exposto o fato de que qualquer desenvolvimento nuclear para fins não pacíficos seria uma violação à própria Constituição do país.
Um argumento comum é o de que os países não nucleares estariam realizando muitas concessões – dentre elas, o Protocolo Adicional ao TNP – enquanto as 5 potências nucleares não progrediram em seu objetivo de desarmamento e relutam em colaborar no desenvolvimento da tecnologia nuclear para fins pacíficos em países que ainda não a detêm.
Apesar deste ponto estar bem fundamentado, os defensores do Protocolo argumentam que não se pode deixar de avançar em um dos pilares do TNP porque os outros estão mais estagnados, sob risco de fragilizar ainda mais o regime.

Entendeu sobre quais países têm armas nucleares, e qual o impacto disso no cenário internacional? Se ficou alguma dúvida, deixe para a gente nos comentários!
Publicado em 27 de novembro de 2017. Atualizado em 27 de junho de 2025.
Referências
- AIEA
- Estadão
- Senado Federal
- Superinteressante
- Tratado de Tlateloco
- Folha de S.Paulo – Veja linha do tempo dos 12 dias da guerra Israel-Irã
- G1 – Israel x Irã: tudo o que se sabe até o momento sobre o conflito
- G1 – Programas nucleares de Israel e Irã: o que se sabe sobre cada um
- COSTA, Alax Barbosa dos Santos; XAVIER, Matheus da Silva Almeida; FERNANDES, Raísa Oliveira. ARGUMENTOS FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS À ASSINATURA DO TRATADO DE NÃO PROLIFERAÇÃO DE ARMAS NUCLEARES: A questão do Brasil. Cadernos de Aulas do Lea, Ilhéu, v. 1, n. 1, p.1-12, nov. 2012.
- FONSECA, Leandro Dalalibera. TNP e o Regime Internacional de Não‐Proliferação: Desafios Contemporâneos. Conjuntura Global, Curitiba, v.2, n.1, p.8-12, 2013.
- SOUZA, Thais Mello de. A recusa brasileira ao Protocolo Adicional da AIEA: Aspectos que o discurso insiste em ignorar. In: 3º seminário de Relações Internacionais. Associação Brasileira de Relações Internacionais. Florianópolis, set. 2016.