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Guerra dos 30 anos: Entenda causas, fases e consequências!

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Conhecida por ter sido uma das principais guerras religiosas da Europa, a Guerra dos 30 Anos (1618-1648) – que envolveu potências católicas e protestantes – tem suas origens no fato da Reforma Protestante ter ocorrido, e seu estopim foi a segunda Defenestração de Praga.

As consequências desse embate direto entre forças como o Sacro Império Romano-Germânico, Suécia, Dinamarca e França ecoaram durante a história e podem ser vistas ainda nos dias de hoje. As motivações, entretanto, vão além da questão inicialmente religiosa, já que aspectos políticos e territoriais também podem ser observados.

Mas onde exatamente essa guerra ocorreu? Qual era o cenário da Europa nessa época? Quais foram os principais acontecimentos, personagens e consequências dessa guerra? Tudo isso você encontra no texto a seguir!

Conhecendo o território

O Sacro Império Romano-Germânico foi uma monarquia feudal que, tendo durado aproximadamente mil anos, localizava-se na Europa e ocupava alguns territórios que hoje conhecemos como a Alemanha, República Tcheca, Áustria, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, partes do norte da Itália, entre outros.

Assim como a Igreja Católica, este império também possuía características universalizantes. Ou seja, da mesma forma que apenas um Deus reina nos céus, apenas uma autoridade – neste caso, o Sacro Imperador – deveria reinar sobre a Terra. Manter o controle sobre este enorme reino era, entretanto, algo difícil de sustentar, não só devido a precária comunicação entre os territórios que o davam forma, mas também por causa da separação entre Governo e Igreja.

Sacro Império Romano-Germânico. Guerra dos 30 anos. Imagem: Encyclopædia Britannica, Inc.
Mapa do Sacro Império Romano-Germânico no século XVI. Imagem: Encyclopædia Britannica, Inc.

Como Henry Kissinger aponta em seu livro “Diplomacia”, vale ressaltar que a figura do Sacro Imperador – embora buscasse justificar seus atos baseado em sua crença católica – não representava uma divindade que reinava sobre a Terra, uma vez que política e religião eram duas esferas de poder separadas.

Enquanto que o monarca liderava o império, o papa era quem comandava a Igreja. Esta falta de um poder central, portanto, onde líderes locais como bispos e condes, por exemplo, influenciavam de diferentes formas em diferentes locais, fazia com que o império se assemelhasse a uma colcha de retalhos. Por isso, discordâncias entre populações daquele mesmo reino eram muito comuns.

O contexto que levou à Guerra dos 30 anos

Para entender as motivações dessa guerra é necessário retroceder um pouco. Dentro do Sacro Império, em 1517, o monge Martinho Lutero apresentou 95 críticas relacionadas às práticas existentes no catolicismo, religião predominante na Europa.

A publicação desse material ficou conhecida como as 95 teses de Lutero, o que deu início à Reforma Protestante e gerou uma divisão entre povos e monarquias na Europa. Existiam aqueles, portanto, que seguiam apoiando o catolicismo, e aqueles que defendiam o protestantismo.

Veja também: O que foi a Reforma Protestante?

Essa divisão religiosa, entretanto, gerou uma situação conflituosa entre os habitantes do Sacro Império Romano-Germânico. Para amenizar a situação, o Sacro Imperador Carlos V estabeleceu a chamada Paz de Augsburgo.

A Paz de Augsburgo foi um tratado de paz, assinado em 1555, baseado no seguinte princípio: “Cuius regno, eius religio”. A tradução dessa frase seria algo como “De quem [é] a religião, dele [se siga] a religião”. Ou seja, a religião a ser seguida por aqueles que habitam um território deveria ser a religião que o governante deste território segue. Com isso, os luteranos (protestantes) passaram a ser tolerados oficialmente no Sacro Império.

O estopim da Guerra dos 30 anos

Na Boêmia, entretanto, a situação era um pouco mais complicada. Havendo nessa região uma maioria protestante que era governada por uma autoridade católica, a solução encontrada para manter a ordem nesse território foi a criação de uma “Carta de Majestade”. O documento, que foi assinado pelo Imperador Romano-Germânico Rodolfo II em 1609, garantia liberdade religiosa para os protestantes dentro do território boêmio.

A partir de 1617, contudo, o então imperador romano-germânico era Fernando II, que além de carregar a fama de fervoroso católico, revogou a Carta de Majestade e fez questão de não autorizar a construção de duas igrejas protestantes. A situação ocasionou na prisão de indivíduos que protestaram contra essa decisão e, posteriormente, foi convocada uma assembleia para discutir o descumprimento do documento assinado por Rodolfo II.

Esta assembleia, que aconteceu no dia 23 de maio de 1618, contou com a participação de quatro autoridades católicas e aconteceu em uma pequena sala no interior do Castelo de Praga. Como forma de retaliação em resposta à revogação da Carta de Majestade, dois desses representantes católicos presentes foram jogados pela janela desta sala, caindo de uma altura de aproximadamente 9 metros. Este evento, que foi o estopim para a Guerra dos 30 Anos, ficou conhecido como a Segunda Defenestração de Praga.

Segunda Defenestração de Praga. Guerra dos 30 anos. Imagem: Wikimedia Commons.
Segunda Defenestração de Praga. Imagem: Wikimedia Commons.

Veja também: Religião e política não se discutem?

As fases da Guerra dos 30 anos e onde se passam

Tendo se estendido por um período de 30 anos e contado com a participação de potências da época, esta guerra é comumente dividida por historiadores em quatro diferentes períodos que denotam quem está envolvido no conflito:

  • Período Boêmio (1618-1625)
  • Período Dinamarquês (1625-1629)
  • Período Sueco (1630-1635)
  • Período Francês (1635-1648)

Os dois primeiros períodos dessa guerra representam um conflito local e movido principalmente por uma questão religiosa, enquanto que os dois últimos retratam uma guerra continental motivada, sobretudo, pela política. A região da Boêmia, portanto, era onde atualmente está localizada a República Tcheca, e foi justamente lá onde a Guerra dos 30 Anos começou.

O período boêmio (1618-1624)

Iniciada a revolta, fazia-se necessário a figura de uma liderança que representasse os desejos e objetivos daquele povo. Foi então que, no dia 4 de novembro de 1619, Frederico V foi coroado Rei da Boêmia. Frederico era conhecido por ser o líder da chamada União Protestante – coalizão formada por seu pai, Frederico IV, que unia os estados germânicos protestantes. Foi neste cenário que ocorreu o primeiro combate entre um exército católico e outro protestante, dois anos após a Defenestração de Praga.

No dia 8 de novembro de 1620, o exército do Sacro Imperador Fernando II – apoiado por seu primo, Maximiliano I, fundador da Liga Católica – e os boêmios protestantes, liderados por Frederico V, batalharam em um território conhecido por Bílá Hora (“Montanha Branca”), próximo da atual cidade de Praga. Este evento, que ficou conhecido como a Batalha da Montanha Branca, teria durado aproximadamente duas horas e envolvido cerca de 47 mil soldados de ambos os lados.

Em menor número, os protestantes perderam esta batalha para os católicos, o que fez com que Frederico V precisasse fugir do local. O então rei boêmio acabou por receber o apelido de “Rei de inverno”, dado o fato que seu reinado havia se iniciado pouco mais de um ano antes de sua derrota e fuga. Embora esta tenha sido uma vitória decisiva para o poder católico, uma vez que o desfecho deu fim à revolta que havia se iniciado, este era apenas o começo de três longas e conflituosas décadas.

O período dinamarquês (1624-1629)

Foi esta primeira grande vitória e eventual expansão católica na região que, consequentemente, chamou a atenção de outras potências europeias. Uma delas era, portanto, a Dinamarca. Indo contra seus conselheiros, o rei protestante Cristiano IV – que possuía alguns territórios dentro do Sacro Império – viu nessa ocasião uma oportunidade de não só defender seus ideais religiosos, mas também de frear o avanço sueco naquela região. Cabe ressaltar que esta rixa entre dinamarqueses e suecos é anterior aos acontecimentos da Guerra dos Trinta anos, durante a chamada Guerra Nórdica dos Sete Anos, de onde a Suécia teria saído mais beneficiada.

Sem conseguir grandes feitos e sendo derrotada nos combates em que se envolveu, a participação da Dinamarca na Guerra dos 30 Anos foi pouco proveitosa para os ideais propostos por Cristiano IV. A principal figura causadora da derrota dinamarquesa foi o boêmio Albrecht von Wallenstein, um general católico que lutava em nome do Sacro Império Romano-Germânico. Posteriormente, Wallenstein não só fez com que as tropas dinamarquesas deixassem o território boêmio, como também os incomodou, inclusive, em seu próprio país.

A política para além da religião

Como dito anteriormente, as duas primeiras fases da Guerra dos 30 Anos são motivadas primordialmente por razões religiosas, onde católicos enfrentaram protestantes. Contudo, outro fator é acrescentado a este cenário durante as duas seguintes fases: o equilíbrio de poder. Além da disputa religiosa que permeia os conflitos, o aumento de poder do Sacro Império começou a representar uma ameaça política a outros Estados, dentre eles a França.

Armand Jean du Plessis, mais conhecido como Cardeal de Richelieu, era ministro do então rei francês Luís XIII e, diferente de tantos outros líderes religiosos, sua prioridade era a proteção do reino ao qual pertencia e não a religião que representava. Nascia, então, a chamada raison d’État (razão de Estado) – ou interesse nacional, como é conhecido nos dias atuais -, onde os objetivos nacionais, portanto, estariam acima dos ideais religiosos para o Cardeal.

Não deixe de conferir também: Revolução Francesa: etapas, causas e consequências.

O interesse nacional francês, sendo a proteção da sua própria existência, fez com que Armand du Plessis, o ministro cardeal, enxergasse nos protestantes – em especial, no então rei da Suécia – uma possibilidade de aliança que buscasse frear o avanço Habsburgo na Europa continental.

O período sueco (1630-1635)

Definido não só pela participação sueca, mas também pelo apoio francês, é durante este período de alianças improváveis que o curso da guerra começa a mudar. Observando as seguidas vitórias católicas e temendo um provável avanço até seu território, o rei sueco protestante Gustavus Adolphus, conhecido como “O Leão do Norte”, viu-se obrigado a participar da guerra.

Eram dois os principais interesses do monarca sueco: a defesa do protestantismo no norte germânico – o que garantia a proteção da religião em seu próprio reino -, e a garantia de proteção do Mar Báltico, que era por onde a Suécia desde 1629 controlava boa parte da rota comercial.

Foi então que em 1630, acompanhado de aproximadamente 4 mil soldados, Gustavus Adolphus desembarcou na Pomerânia – região ao norte germânico – e deu início em sua incursão ao território germânico. Conhecido como o pai da guerra moderna, o rei sueco é considerado um precursor no uso de artilharia móvel no campo de batalha, o que garantia vantagem e facilitava o deslocamento durante o avanço de seu exército.

Em janeiro de 1631, foi assinado o Tratado de Bärwalde, onde a França se comprometia a pagar 1 milhão de Libras francesas para que o exército de Gustavus Adolphus continuasse batalhando.

Gustavus Adolphus da Suécia na Batalha de Breitenfield. Imagem: Wikimedia Commons.
Gustavus Adolphus da Suécia na Batalha de Breitenfield. Imagem: Wikimedia Commons.

A participação sueca na Guerra dos 30 anos é fundamental para estabelecer o país como uma potência. Algumas das batalhas mais conhecidas deste período são a Batalha de Breitenfield e a Batalha de Lützen. A primeira, ocorrida em meados de setembro de 1631, é tida como a primeira grande vitória protestante, onde estima-se que 39 mil soldados protestantes derrotaram um exército de 35 mil católicos. Tal vitória teria então incentivado uma aliança entre os povos protestantes da região dominada pelo Sacro Império Romano-Germânico.

Já a Batalha de Lützen, que aconteceu em 16 de novembro de 1632, é conhecida por ser a última liderada pelo rei sueco. O principal objetivo ainda era enfrentar os exércitos do Sacro Imperador Fernando II que, nesta ocasião, estavam sendo liderados por Wallenstein. Durante a batalha, porém, Gustavus Adolphus – conhecido por acompanhar seu exército nas linhas de batalha – perde a vida. A falta de uma liderança tão marcante com a do Leão do Norte fez então com que o papel da Suécia na guerra se invertesse com o da França.

O período francês (1635-1648)

O principal fator que preocupava o Cardeal de Richelieu era o avanço do poder da dinastia Habsburgo, que colocava a França em segundo plano na geopolítica europeia. Apoiar os protestantes em território germânico ainda era, portanto, a melhor forma de fazer com que a influência francesa não diminuísse cada vez mais.

Os anos seguintes à morte de Gustavus Adolphus, entretanto, não foram um período de grandes vitórias como os anteriores. Foi a partir desta dificuldade em garantir suas conquistas de até então que, invertendo os papeis, a Suécia passou a financiar uma investida francesa em território germânico.

O ano de 1635 marca o início da participação direta da França no campo de batalha da Guerra dos 30 Anos. Estima-se que o rei francês Luís XIII – auxiliado por seu ministro e aliado não só à Suécia, mas também aos Países Baixos e a grupos de protestantes germânicos – tenha formado um exército de mais de 120 mil soldados. Além disso, a França declarou guerra também à Espanha e Áustria, que nesta época eram controladas pela dinastia dos Habsburgo.

Retrato triplo do Cardeal de Richelieu. Imagem: Wikimedia Commons.
Retrato triplo do Cardeal de Richelieu. Imagem: Wikimedia Commons.

Sendo este o período mais longo da guerra, é também o mais sangrento. Uma série de conflitos começou a se espalhar pela Europa continental e, com isso, não apenas a guerra em si era responsável pelas baixas, mas também suas consequências como a fome e os surtos de doenças.

Vale lembrar que, como forma de aumentar suas tropas, todos os envolvidos na Guerra dos Trinta Anos contavam com numerosos soldados mercenários. A matança e destruição crescia então cada vez mais, já que o pagamento a ser recebido por esses soldados era justamente os eventuais saques de suas invasões.

Com o tempo, as tropas francesas começaram a ganhar mais espaço, fazendo com que um acordo de paz estivesse cada vez mais próximo. No dia 15 de fevereiro de 1637, morre o então Sacro Imperador Fernando II, o que leva seu filho, Fernando III, a assumir o trono do Sacro Império.

Já em 1645, em uma região germânica chamada Westfália, autoridades representantes de ambos os combatentes da guerra se reuniram. A intenção era a busca de um acordo que pusesse um fim à guerra, o que aconteceria apenas três anos depois.

O fim da Guerra dos 30 anos e as suas consequências

Durante o reinado de Fernando III, foram assinados os chamados Tratados de Münster e Osnabrück, ocasionando a chamada Paz de Westfália no ano de 1648. Devido diversas perdas sofridas por todos os envolvidos – direta e indiretamente -, não é possível apontar um lado como o grande vitorioso e o outro como o derrotado.

Porém, as consequências de longo prazo que vieram com o fim da Guerra dos Trinta anos indicam a França como a potência mais beneficiada. Além disso, estes tratados faziam com que aquele fosse o início do declínio do Sacro Império Romano-Germânico, uma vez que o Imperador passava a não possuir mais autoridade sobre os príncipes de seus territórios.

Este ano é um marco importante no estudo das relações internacionais, uma vez que é a partir destes acordos firmados pelas potências europeias que nasce uma nova ordem mundial, baseada não mais exclusivamente em fatores religiosos, mas principalmente pela interação entre os Estados Soberanos.

Leia também sobre a Paz de Westfália!

A dinastia dos Habsburgo também foi influenciada pela Paz de Westfália, uma vez que a Holanda – até então dominada pela coroa espanhola – recebeu a sua independência, bem como a Suíça que era controlada pelo Sacro Império.

Outro resultado deste redesenho que o mapa europeu sofreu foi o aumento territorial do reino de Brandemburgo, espaço onde, anos depois, teria início a unificação alemã. Foi também neste período em que o território da Alsácia foi anexado à França, o que futuramente seria alvo de disputa, inclusive durante a Primeira Guerra Mundial.  

Embora tenha sido o inicial motivo pelo qual os conflitos tiveram início, e ainda fosse um fator de grande importância naqueles territórios, após a Guerra dos Trinta Anos, a religião perdeu grande parte do protagonismo que exercia até então sobre os interesses políticos das potências europeias.

A partir deste momento, portanto, não apenas o Calvinismo passou a ser aceite no território, mas também um certo nível de liberdade religiosa passou a existir, como forma de manter a estabilidade política.

Apontar o número exato das mortes causadas por esse conflito que tomou conta de todo um continente é algo praticamente impossível de se fazer, principalmente por se tratar de um período em que a comunicação era algo precário. Porém, baseado em documentos da época, estima-se que o número de vítimas seja algo entre 3 e 9 milhões de pessoas.

De forma proporcional, este conflito matou mais do que a Segunda Guerra Mundial. A Guerra dos Trinta Anos foi, portanto, a última grande guerra religiosa que tomou o continente europeu. 

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Conteúdo escrito por:
Graduando de Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Acredita que a educação abre portas que parecem trancadas, e por isso defende um ensino de qualidade e sempre acessível.

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22 abr. 2024

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