A cada 4 anos, o mundo observa atento à corrida eleitoral dos partidos políticos nos Estados Unidos (EUA). Democratas e Republicanos buscam angariar votos e em diversos países são feitas análises dos candidatos, de suas propostas e do seu principal eleitorado. Isso acontece pois o resultado das urnas não influencia apenas a realidade estadunidense, como também impacta de forma significativa as dinâmicas internacionais.
Ao acompanhar as eleições dos Estados Unidos, mesmo que de forma superficial, você já teve ter ouvido falar do Partido Democrata e do Partido Republicano. Mas você sabe a diferença entre eles? Se você ainda tem dúvida, esse texto é para você. Vamos lá?
Veja também nosso vídeo sobre como os EUA se tornou um país poderoso!
1. Quais são os partidos nos EUA?
Para iniciarmos essa discussão é preciso que você saiba que os EUA não apresentam apenas dois partidos políticos. Na verdade, a quantidade é bem maior que essa, pois o sistema do país facilita a criação de novas agremiações. Você deve se lembrar, por exemplo, que o cantor Kanye West concorreu à cadeira da presidência do país em 2020. West participou das eleições como filiado do partido Birthday Party, e recebeu apenas 60 mil votos de um total estimado de 160 milhões, ficando bem distante de Joe Biden e Donald Trump.
Outra figura que se candidatou à corrida eleitorial de 2020 foi Jo Jorgensen. Ela concorreu pelo Partido Libertário e ficou em 3º lugar na eleição presidencial do país, ao somar mais de 1,6 milhão de votos (1,1% do total de votos).
No entanto, poucas pessoas ouviram falar de Jorgesen, dado que os demais agrupamentos apresentam pouca força política e até hoje os partidos Democrata e Republicano são os que apresentam maior expressão dentro do país.
Isso ocorre devido a uma série de fatores, como a falta de um segundo turno, os Colégios Eleitorais e a independência de cada estado. Em uma matéria publicada pela BBC sobre o processo eleitoral no país, é explicado que – segundo Maurice Duverger (sociólogo francês) – a votação por maioria realizada em um turno tenderia ao dualismo partidário. Essa dinâmica presente nos EUA é resultado de um processo que combina a existência do voto indireto e do Colégio Eleitoral.
Os votos dos cidadãos de cada estado servem para a formação dos Colégios Eleitorais – que se diferenciam pela pela quantidade de membros: o Colégio Eleitoral do Texas, por exemplo, é formado por 38 delegados que representam 38 votos, já o estado da Califórnia apresenta 55 membros no seu Colégio Eleitoral e, portanto, reúne 55 votos. Essa diferença do número de delegados por estado se dá em razão das informações populacionais do Censo e da representação no Congresso do país.
Para mais informações acerca da dinâmica eleitoral dos EUA, você pode conferir esse outro texto da Politize! com uma explição de 10 passos acerca das eleições no país.
Ao final da contagem de votos de cada um dos estados, o candidato mais votado leva todos os votos daquela região (por exemplo, o candidato mais votado na Califórnia leva todos 55 votos referentes àquele estado) e nada é distribuído entre aqueles que ficam em segundo ou terceiro lugares – as únicas exceções sãos nos estados de Maine e Nebraska, pois também concedem votos aos vencedores de cada distrito. Para ser eleito presidente dos EUA, o candidato deve receber, ao menos, 270 votos.
Ademais, também é interessante pontuar que a independência nos processos de cada estado dificulta com que partidos mais fracos consigam desenvolver maior expressão. Isso porque os estados apresentam suas próprias regras para a inscrição dos candidatos na cédula das eleições, e, como trazido pela BBC, atender a todos os requisitos impostos requer dinheiro e uma boa estrutura organizacional.
Assim, o Partido Democrata (criado em 1828) e o Partido Republicano (criado em 1854) continuam se consolidando como os principais agrupamentos dentro da dinâmica política do país, e se alternam na cadeira da presidência estadunidense.
Veja também nosso vídeo sobre a Eleição Presidencial nos EUA em 2020!
2. Democratas e Republicanos: quais suas ideologias?
Agora que você já conhece o panorama geral acerca dos partidos políticos nos Estados Unidos, podemos analisar caracterísitcas específicas dos dois mais famosos. O que diferencia, por exemplo, um republicano de um democrata?
Para responder a essa questão, precisamos entender quais os principais pontos das ideologias que guiam cada um desses partidos.
- Ideologia do Partido Democrata
Segundo a página oficial do Partido Democrata – o agrupamento político em exercício mais antigo dos EUA – sua crença estaria nos seguintes pontos:
- A economia deve trabalhar por todos
- A assistência médica deve ser um direito
- A diversidade é a força do país
- A democracia deve ser defendida
A partir desses pontos trazidos pela página da organização, é possível observar que a ideologia do Partido Democrata se aproxima mais de concepções ligadas ao progressismo. Entretanto, nem sempre foi assim. No contexto histórico próximo à Guerra Civil Americana, os democratas eram a favor da utilização de mão de obra escrava, intervenção mínima do governo na economia e maior autonomia dos estados frente ao governo da União.
Leia também: Você sabe o que é uma Guerra Civil?
A mudança dos ideais antigos para os novos se deu de forma progressiva. Por exemplo, a dinimuição da pauta de intervenção mínina do Estado na economia foi reforçada no mandato de Franklin Delano Roosevelt com a implementação do New Deal. Como já explicado aqui na Politize!, o plano tinha por objetivo tornar o Estado um indutor econômico, a partir da injeção de investimentos em obras públicas de infraestrutura, por exemplo.
- Ideologia do Partido Republicano
Já segundo a página oficial do Partido Republicano, também conhecido pela sigla GOP (Grand Old Party – Grande Partido Antigo), sua força tarefa estaria atualmente direcionada para as seguinte questões:
- Empregos e economia
- Censura na internet
- O futuro das liberdades nos Estados Unidos
- Questões climáticas e de energia
- Segurança nos EUA
- Futuro do sistema de saúde
- Responsabilidades da China
Além dessas pautas mais fortemente debatidas pelos republicanos na atualidade, o partido, em geral, se caracteriza por concepções ligadas ao conservadorismo, à defesa do Estado mínimo e da redução de impostos.
No entanto, a agenda republicana apresenta alterações desde sua criação. Ao se observar os elementos históricos do Partido Republicano, é possível lembrar que, na sua fundação, algumas de suas principais pautas estavam ligadas à rejeição da escravidão e à defesa do aumento de cargas tributárias. Tal fato demostra a existência de elementos progressistas e de maior peso do Estado dentro das discussões republicanas na época.
Veja também nosso vídeo sobre o que é progressismo!
3. Quem está no poder?
Joe Biden é a figura que assumiu a cadeira da presidência dos Estados Unidos em 2021. Biden é do Partido Democrata e, antes de exercer o seu atual cargo, foi vice-presidente, do também democrata, Barack Obama.
A eleição que consolidou Biden como o novo mandatário no país foi muito acirrada. A disputa eleitoral do democrata contra o republicano Donald Trump foi bastante alongada e se desenvolveu sob um clima de tensão no país. Após o resultado das urnas, Trump não reconheceu de imediato o resultado e afirmou que recorreria à Justiça dos EUA.
Todavia, ao discutirmos qual dos partidos está ou apresenta maior poder dentro do país, não podemos olhar só para o posto da presidência. Outros cargos políticos são importantes e extremamente decisivos para a resolução de questões internamente, como é o caso dos deputados e senadores.
Na dinâmica doméstica dos EUA, o Congresso é formado pela Câmara dos Deputados/Câmara dos Representantes, que apresenta 435 parlamentares, e pelo Senado, que dispõe de 100 membros. O atual arranjo (o 117º arranjo do Congresso dos EUA) está configurado da seguinte forma:
- Câmara dos Deputados/Câmara dos Representantes: 211 Republicanos, 220 Democratas, 0 Outros e 4 vagas em aberto (essas quatro vagas em aberto representam os 2 deputados que faleceram e os 2 que renunciaram ao cargo)
- Senado: 50 Republicanos, 48 Democratas e 2 Senadores independentes que estão mais próximos politicamente do Partido Democrata.
Dessa forma, conseguimos ver que os democratas apresentam maioria na Câmara dos Representantes e se igualam em número com os republicanos no Senado. Tal dinâmica representa uma vantagem para os democratas pois por estarem em maior número da Câmara eles têm maior peso nas votações, e no Senado, o cenário também é favorável pois, caso ocorra um empate em alguma votação da casa, quem decide a questão é a vice-presidente democrata, Kamala Harris.
4. Presença em quais estados?
Você já pode ter ouvido falar das denominações “Red States” e “Blue States”. Esses nomes são dados para caracterizar a preferência de um certo estado por um dos dois partidos políticos. Os Red States (estados vermelhos) são aqueles que a maioria dos votos é direcionada aos Republicanos, enquanto que nos Blues States (estados azuis) o que ocorre é o inverso: a maioria dos votos é direcionada aos Democratas.
A consolidação dessa caracterização veio na eleição presidencial do ano 2000, quando a maioria dos canais de televisão começaram a usar essas cores para indicar em qual estado cada um dos candidatos havia ganhado.
Alguns exemplos de Red States são: os estados do Texas, do Arizona, do Kansas e da Carolina do Sul. Já alguns Blue States que podemos destacar aqui são: a Califórnia, New Jesey, Connecticut e Nova York.
Por outro lado, existem também os Purple States (estados roxos), também conhecidos como Swing States (estados pêndulo). Isso porque, esses estados alternam entre a escolha por um democrata ou um republicano a cada eleição. Alguns exemplos são os estados da Pensilvânia, de Ohio, da Virgínia e da Carolina do Norte.
Assim, conseguimos ver que a dinâmica partidária nos EUA é bem complexa, mesmo que abranja de forma mais específica apenas dois partidos. Democratas e Republicanos podem ter vários pontos de divergência, mas um ponto comum é que os dois são o grande foco da corrida eleitoral no país, então nas próximas eleições estadunidenses, você conseguirá entender melhor como se desenvolveu todo esse arranjo político.
E aí, conseguiu compreender como funcionam os partidos políticos nos EUA? Qualquer dúvida deixe nos comentários!
Referências:
- BBC – Eleições nos EUA 2020: por que o presidente dos EUA é sempre dos partidos Republicano ou Democrata
- Brasil Escola – História dos partidos republicano e democrata dos EUA
- CNN – Como é composto o Congresso dos EUA e como as eleições podem mudar as forças
- G1 – Joe Biden é eleito presidente dos EUA após vitória na Pensilvânia
- House of Representatives – The House Explained
- House of Representatives – Party Breakdown
- Raio Senado – Democratas conquistam maioria no Senado dos EUA
- U.S. Senate – Party Division
- Voice of America – Explainer: Red States, Blue States
1 comentário em “4 pontos fundamentais para entender os partidos nos EUA”
Eu diria que é um sistema bem esdrúxulo. Os EUA possuem centenas de partidos, alguns são estaduais, outros municipais, uns com ideologias abrangentes, outros com com alguns tópicos bem específicos ou mesmo um grande tema somente. A legislação partidária, eleitoral e política não está a cargo de nenhum órgão federal, o que garante que cada estado faça a sua, ou seja, se você quiser criar e manter um partido nos EUA, precisará antes de mais nada, de um corpo gigantesco de advogados especialistas para dar conta de 50 legislações, além de recursos financeiros consideráveis, o que acaba por inviabilizar a empreitada ou desmotivar as pessoas. Na prática quem quiser fazer política nos EUA deve se submeter a um dos dois partidos, caso contrário, jamais será eleito. O Trump foi do Partido Reformista, neste caso são chamados de independentes. Teve que entrar no Partido Republicano para ter chance e assim chegou lá.