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Polarização ou eleições polarizadas? Como assim?

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A imagem apresenta uma cabine de votação pelo lado de fora. é possível ver o nome "Justiça Eleitoral" e o símbolo da República. Uma pessoa que está dentro da cabine, vota. não é possível ver seu rosto.
Cabine votação. Imagem: Fotos públicas

Polarização foi um termo super pesquisado no Google no período eleitoral de 2022. Mas como assim? O que isso significa? Que tal entender um pouco mais sobre esse tema?

Neste texto, a Politize! explica o que polarização significa, como ela ocorreu no Brasil e quais as consequências da polarização política no país. Para saber mais, continue a leitura!

Saiba mais: polarização política e eleições presidenciais

O que é polarização política?

A discussão sobre polarização não é novidade e nos circunda há um bom tempo.

A contar da primeira eleição presidencial após a redemocratização do país, isto é, desde 1989, a temática tornou-se objeto de estudos e de pautas midiáticas (veja mais sobre o tema em outros textos aqui no Politize!).

O termo polarização tem sido fortemente disseminado pela mídia e no meio acadêmico desde 2018, depois do surgimento da ‘nova direita’ e/ou extrema direita (radicalização da direita, para alguns estudiosos, como Mario Fuks e Pedro H. Marques).

Veja também nosso vídeo sobre as eleições de 2018!

Mas o que significa polarização?

Vamos por partes! Em recente publicação, Antonio C. Alkmim e Sonia L. Terron (2022), ambos cientistas políticos, antes de entrar especificamente no tema sobre eleições polarizadas, explicam primeiramente que polarização significa, de maneira genérica, uma ‘situação bipolar’, onde opiniões e atitudes se firmam diametralmente em posições opostas.

Neste mesmo artigo, os autores também trazem que a definição de polarização pode ser feita à luz de perspectivas distintas. Como exemplo, falam da teoria da motivação psicológica, aplicada em ambiente político, para identificar que a polarização “diz respeito à posição mais subjetiva dos eleitores”, ou seja, reconhecida não só pela sua percepção, mas também pela sua interação social e política. Todavia, há outras perspectivas…

Ainda no que tange à política, Alkmim e Terron exploram a concepção de eleições polarizadas, caracterizando-as quando há “dois partidos e forças eleitorais” competindo “exclusiva ou quase exclusivamente dentro do cenário eleitoral, e chegam nas duas primeiras posições, com ou sem uma terceira força expressiva”. (ALKMIM; TERRON, 2022, p. 9).

E é neste quadro que eles questionam: o Brasil é realmente um país polarizado? Para responder a esta pergunta, Alkmim e Terron abordaram também outras perspectivas, além da polarização eleitoral.

Desta vez, os pesquisadores, Alkmim e Terron, se pautaram pela polarização geográfica (‘que se define pelas diferenças diametralmente e geograficamente opostas entre a preferência eleitoral por determinado partido e/ou candidato em forte detrimento de outro’) e da “influência do contexto geográfico na conformação de padrões geográficos polarizados”.

Foi considerando estes três aspectos que eles responderam: Sim! O Brasil é um país polarizado do ponto de vista das eleições. Resposta alcançada após os pesquisadores realizarem uma ampla análise a partir de dados disponibilizados pelo TSE das eleições presidenciais de 1989 a 2018.

Veja também: como a polarização é percebida no Brasil e no mundo

Ocorreu polarização nas eleições?

Por outro lado, os pesquisadores Mario Fuks e Pedro H. Marques, fazem ressalvas sobre eleições polarizadas. Eles buscam identificar e analisar a existência de uma polarização política no Brasil por meio de duas vertentes:

  1. a polarização afetiva: o indivíduo com relação ao partido e à liderança e
  2. a polarização ideológica: posição do eleitor na escala ideológica.

Essas categorias de análises, no entanto, de acordo com os autores, devem ser consideradas juntamente com o contexto político do país, isto é, adaptadas ao cenário do país.

Fuks e Marques explicam que o Brasil vive um ‘sistema multipartidário instável e sem ampla base social’, o que o diferencia de outros países e por isso o cálculo para mensurar a polarização deve necessariamente considerar tais características (isso porque a literatura mais consultada para o tema é, geralmente,a americana, onde o contexto é diferente do Brasil em vários pontos).

Os achados de Fuks e Marques, ao considerar a polarização e o contexto das eleições de 2018, apontam que “24,3% do eleitorado são polarizados afetivamente em relação aos líderes, 9,4%, em relação aos partidos e 37,3% são ideologicamente extremistas” (FUKS; MARQUES, 2023, p. 577).

A partir destes e de outros dados os pesquisasores, Fuks e Marques, inferem ainda que os eleitores mais interessados por política contribuem para

“a formação do senso comum de que a sociedade brasileira está mais politizada, quando na realidade, a polarização, na medida em que ocorre, concentra-se em certos grupos” (FUKS; MARQUES, 2023, p. 579),

ou seja, naqueles que estão mais interessados e próximos da política.

Leia também: polarização e onda de cancelamento: qual é a relação?

Mas em 2022, as eleições foram polarizadas?

Com o resultado da votação para a presidência da República, onde 50,9% dos eleitores escolheram Lula e 49,1% votaram Bolsonaro, parece não haver mais dúvidas sobre a existência de eleições polarizadas no país. Outros dados também reforçam essa tese. De acordo com um levantamento feito pela Folha de SP, Lula obteve maior número de votos em 13 estados e Bolsonaro em 14, dos 27, numa divisão geográfica visível do país (veja o mapa).

No dia 2 de outubro de 2022, dia da votação, o jornal Correio Braziliense, o maior da capital do país, desde logo postava a seguinte matéria “Maior eleição da história é marcada por polarização, embates e questionamentos”, determinando que era uma das eleições mais polarizadas já realizadas no país até então.

No entanto, para embasar tal afirmação, o jornal usa a fala do professor e cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira (FGV-SP) que diz:

“Estamos vivendo uma das eleições mais disputadas e violentas da história, … tudo isso está criando um clima de mal estar enorme e evitando a expressão do maior legado da democracia, que é a discussão das percepções e a busca para a tomada de decisões publicamente. É um momento difícil para a sociedade brasileira”.

Neste caso, apesar de apresentar dados estatísticos sobre o número de eleitores aptos a votar, no decorrer da notícia não há dados que comprovem a existência de uma polarização. Será então só uma sensação de que o país está dividido em dois lados opostos?! Vamos lá…

No dia 28 de outubro, véspera de votação do segundo turno das eleições, um outro jornal, desta vez, o Le Monde Diplomatique Brasil, traz uma matéria intitulada: “Eleições 2022: polarização e nacionalização de todas as disputas”. O texto foi escrito pelo professor, cientista político, Josué Medeiros (UFRJ) que fundamenta a sua afirmação de que as eleições foram polarizadas com base nos dados e posicionamentos dos/das representantes que foram eleitos/as e/ou ainda estavam na disputa (no 2º turno).

Medeiros considera, neste caso, tanto os partidos como os candidatos colocando-os e situando-os no espectro político para definir se tivemos eleições polarizadas. De acordo com professor, nas eleições de 2022 a polarização ficou caracterizada por conta de a maior parte dos representantes estarem divididos basicamente entre ‘lulistas’ (esquerda) e ‘bolsonaristas’ (extrema-direita), considerando a votação para o Senado, Câmara e Assembleias legislativas, além da disputa presidencial.

Para a Câmara do Deputados, segundo dados apresentados no artigo do Professor Medeiros, foram eleitos:

  • 187 bolsonaristas;
  • 125 esquerdistas;
  • 201 congressistas com perfil de direita (tradicional).

Para as Assembleias Legislativas foram eleitos:

  • 126 deputados do PL (partido bolsonarista);
  • 117 do PT (partido do Lula),

Estes resultados colocaram os partidos PT e PL em posições de destaque, considerando a quantidade de representantes eleitos no pleito de 2022.

Veja também nosso vídeo sobre a polarização entre Lula e Bolsonaro!

Mas a polarização é boa ou ruim?

No relatório de 2023 do Instituto V-DEM (Projeto que analisa as variedades de democracias em diversos países), pesquisadores apontam que um ambiente político polarizado pode contribuir para desestabilizar uma democracia, destacando o caso recente do Brasil.

De acordo com dados apresentados no Democracy Report 2023: Defiance in the Face of Autocratization, enquanto o aspecto de eleições polariazadas no Brasil cresceu e atingiu seu ápice em 2022, considerando os dez últimos anos, a posição do país no ranking do Índice de Democracia Liberal (IDL) apresentou sua pior pontuação entre os anos 2018 e 2021, com uma leve recuperação em 2022.

Do mesmo modo, para os pesquisadores Fuks e Marques (2023, p. 580), a existência de uma polarização predominante de natureza afetiva, ou seja, entre eleitores, no país pode produzir ‘efeitos nocivos para a democracia, dentro os quais se destaca o apoio a medidas autoritárias das lideranças políticas”.

Como vimos o assunto eleições polarizadas é complexo, podendo resultar em vários desdobramentos e por isso não se encerra aqui. São muitos os pesquisadores que se debruçam sobre esse assunto emergente em busca de compreensão. Importante saber que outros fatores também auxiliam para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Continue acompanhando nossas publicações e saberá muito mais.

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Conteúdo escrito por:
Mulher, feminista, doutoranda em Ciências da Comunicação na Universidade de Coimbra, Portugal. Mestre em Comunicação e Sociedade pela Universidade de Brasília – UnB. Graduada em Administração de Empresas, com especialização em Marketing. Adoro fotografar por paixão pelas imagens.

Polarização ou eleições polarizadas? Como assim?

30 abr. 2024

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