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Quem foi Nise da Silveira: conheça a psiquiatra da criatividade

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Conhecida por sua sensibilidade e coragem, Nise da Silveira foi a mulher responsável por revolucionar o setor psiquiátrico no Brasil. Pioneira na defesa de tratamentos humanizados e ativista contra as práticas violentas nos hospitais psiquiátricos, Nise introduziu tratamentos que colocavam os pacientes em contato com animais domésticos e expressões artísticas como métodos psicoterapêuticos.

Com feitos tão notáveis e inovadores, ela ficou conhecida em todo mundo. Neste conteúdo, a Politize! abordará a vida e o legado dessa grande personalidade da psiquiatria brasileira.

A imagem é uma foto de Nise da Silveira. Ela está olhando para cima e para direita. Seus cabelos grisalhos estão presos e ela está usando óculos de lentes redondas e um vestido florido.
Nise da Silveira. Imagem: reprodução: documentário Nise da Silveira – caminhos de uma psiquiatra rebelde, de Luiz Carlos Mello

Nascimento e Juventude

Nise Magalhães da Silveira nasceu em Maceió (AL) no dia 15 de fevereiro de 1905. Filha do professor e jornalista Faustino Magalhães e da pianista Maria Lídia da Silveira, Nise teve sua educação primária no Colégio Santíssimo Sacramento, uma instituição de freiras só para meninas, considerada um dos melhores ensino de Alagoas.

Em 1920, ingressou com apenas 16 anos na Faculdade de Medicina da Bahia e se graduou em 1926 numa turma de 157 pessoas, sendo a única representante mulher. Com foco na carreira de medicina, Nise se mudou para o Rio de Janeiro com o marido, o médico sanitarista Mário Magalhães da Silveira, em 1927.

A jovem Nise estagiou na clínica do médico neurologista Antônio Austregésilo e pôde se especializar profundamente em psiquiatria. Em 1933, Silveira passou em um concurso público e começou a trabalhar no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospício Nacional de Alienados, onde começou a se incomodar com a forma como os pacientes eram tratados.

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Prisão de Nise

O início de sua carreira foi interrompido devido ao rigoroso cenário político do Brasil na década de 1930. Ao se engajar politicamente, Nise foi denunciada por uma enfermeira e acabou presa durante o regime de exceção de Getúlio Vargas por ter livros marxistas em sua estante, tornando-se suspeita de ligação com o Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Nise permaneceu encarcerada até agosto de 1937 no presídio Frei Caneca. Presa por 18 meses, aproximou-se do escritor Graciliano Ramos, que também estava detido, e se tornou um personagem do seu livro Memórias do Cárcere.

Após sua liberdade, Silveira se manteve escondida e mergulhou nos estudos sobre o filósofo holandês Baruch Spinoza, ao qual redigiu cartas de questionamentos, que, posteriormente, foram publicadas em forma de livro. A obra chama-se Cartas a Spinoza.

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Carreira de Nise na psiquiatria

Com o enfraquecimento da ditadura do Estado Novo no Brasil, Nise retomou a carreira. Em 1944, foi inserida no serviço público brasileiro e passou a atuar no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, atualmente conhecido como Instituto Municipal Nise da Silveira, localizado no Engenho de Dentro, região suburbana do Rio de Janeiro. Foi nesse local que suas atividades revolucionaram o campo psiquiátrico.

A atuação de Nise da Silveira foi marcada por sua oposição e combate às práticas tradicionais da psiquiatria da época. Ela não concordava com os métodos de tratamento psiquiátricos, por serem invasivos e violentos, como o uso inadequado de eletroconvulsoterapia, camisas de força, lobotomia, insulinoterapia e confinamento.

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Nise propunha tratamentos alternativos e humanizados para garantir a recuperação dos pacientes e foi transferida para trabalhar com terapia ocupacional. Em 1946, a médica reinventou seu próprio departamento na área e um dos métodos alternativos oferecidos por Nise foi o uso da arte.

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Uso da arte como ferramenta terapêutica

Um espaço que servia para delegar tarefas de limpeza e manutenção aos pacientes foi transformado, sob comando de Nise, em ateliê de pintura e modelagem. Ela mantinha contato próximo com seus pacientes e os incentivava a se dedicar à arte como forma de tratar a saúde mental. A psiquiatra acreditava que a arte ajudava seus pacientes a redefinir suas conexões com o mundo real através de expressões criativas e simbólicas do inconsciente.

Os resultados desse trabalho estão expostos no Museu de Imagens do Inconsciente. Fundada por Nise em 1952, a instituição se dedica ao estudo, pesquisa e preservação das obras produzidas nos ateliês. Com o objetivo de levar as obras dos pacientes para o público, ela abriga atualmente um acervo de cerca de 350 mil obras produzidas por artistas-pacientes.

No livro Imagens do Inconsciente, a própria Silveira analisa detalhadamente 272 ilustrações produzidas por seus pacientes.

A imagem apresenta uma colagem com uma foto de Nise da Silveira e uma pintura. Nise está de lado e olha para frente. Seu cabelo está amarrado em um coque.
Nise da Silveira. Imagem: reprodução: Museu de Imagens do Inconsciente.

Métodos Alternativos

Além disso, Nise da Silveira se destacou por utilizar cães e gatos como “coterapeutas” no tratamento de seus clientes. Crente no laço afetivo desenvolvido com os animais, ela os usava como reforço no fortalecimento das relações afetivas e também como auxílio para construir responsabilidade e autonomia. A técnica ficou muito conhecida e Nise lançou um livro a respeito da iniciativa chamado Gatos, a emoção de lidar.

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No Hospital em que trabalhava, também era comum Nise passear com seus pacientes, levando-os a excursões e piqueniques.

Suas atividades não ficaram restritas ao Centro Psiquiátrico Nacional. Nise da Silveira fundou a Casa das Palmeiras em 1956, clínica destinada a reabilitar ex pacientes de instituições psiquiátricas, onde os clientes são encorajados ao contato social e à continuidade nos tratamentos através da expressão artística.

Seu trabalho foi considerado inédito no Brasil, permitindo um avanço significativo nos tratamentos oferecidos pela psiquiatria.

Psicologia Junguiana no Brasil

Nise foi precursora ao introduzir no Brasil estudos sobre Carl Gustav Jung, importante psiquiatra da Suíça. Apreciadora da Psicologia Junguiana, Nise denominava Jung como mestre, e a ele escreveu o livro Jung: vida e obra.

Silveira estudou por dois períodos no instituto fundado por Jung e em 1957, a convite dele, fez uma exposição com os trabalhos feitos nos ateliês em um congresso internacional em Zurique, na Suíça. A exposição gerou grande reconhecimento e apreciação mundial ao seu trabalho e à arte produzida por seus pacientes.

Nise ainda manteve contato com Marie Louise von Franz, psicoterapeuta analítica, pesquisadora, escritora e continuadora do trabalho de Jung. Dessa forma, Nise contribuiu para a difusão dos métodos de tratamento propostos por Jung.

Homenagens

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), em 2017, propôs a inclusão de Nise da Silveira no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A deputada pontuou que sua proposta era baseada no papel pioneiro e revolucionário de Nise na psiquiatria e deveria ter reconhecimento nacional.

O Senado aprovou o projeto de lei de Feghali em abril de 2022, porém ele foi vetado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro um mês depois. Conforme a Agência Senado, Bolsonaro vetou a homenagem por representar “contrariedade ao interesse público”.

No entanto, não faltam reconhecimentos e homenagens à carreira de Nise da Silveira. A Dra. Nise recebeu condecorações, títulos e prêmios em diversas áreas do conhecimento: saúde, educação, arte e literatura. Seu trabalho e seus princípios inspiraram a criação de museus, centros culturais e instituições terapêuticas no Brasil e no exterior, como em Portugal, França e Itália.

Ela foi reconhecida com o grau de oficial da Ordem de Rio Branco, em 1987. Em 1992, ganhou o título de personalidade do ano pela Associação Brasileira de Críticos de Arte e também recebeu a Ordem Nacional do Mérito Educativo do Ministério da Educação e a Medalha Chico Mendes do grupo Tortura Nunca Mais.

Filme sobre Nise

Depois de 13 anos de ampla pesquisa, Nise – O Coração da Loucura, filme brasileiro longa-metragem, foi lançado em 2016 e é baseado em um momento da vida da psiquiatra Nise da Silveira.

O filme foi dirigido por Roberto Berliner e a atriz Glória Pires interpretou Nise, ao lado do elenco composto por Fabrício Boliveira, Fernando Eiras, Perfeito Fortuna, Roberta Rodrigues, Augusto Madeira, Simone Mazzer, Zé Carlos Machado, Tadeu Aguiar, entre outros.

Legado de Nise da Silveira

Nise morreu em 30 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro, devido a uma parada cardíaca. Como uma mulher à frente de seu tempo e com uma sensibilidade admirável, Nise deixou um importante legado. Ela humanizou a forma como os doentes mentais eram tratados, revolucionou a psiquiatria, e com força e personalidade, fez tudo isso entrando em espaços dominados por homens, enfrentando o preconceito, a resistência e o machismo.

Com inteligência, ganhou notoriedade internacional e criou tratamentos responsáveis por melhorias significativas na qualidade de vida dos pacientes.

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01 maio. 2024

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