Saiba como ocorreu a Revolução Cultural Chinesa

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A Revolução Cultural Chinesa foi um movimento sob liderança de Mao Tsé-Tung entre os anos de 1966 e 1976 com a finalidade de derrubar opositores do regime maoísta e, por consequência, impedir a influência capitalista. Essa perseguição atingiu tanto opositores dentro do Partido Comunista Chinês (PCCh), quanto membros da sociedade.

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Esses 10 anos de Revolução Cultural presenciaram momentos turbulentos, deixando marcas significativas no país asiático. Quer saber mais sobre esse momento da história da China e como tudo isso começou? Continue a leitura!

Estátua de Mao Tsé-Tung. Imagem: Pexels.

Antecedentes da Revolução Cultural

Antes de falar mais especificamente sobre a Revolução Cultural, é importante analisar alguns momentos precedentes que nos ajudam a entender a razão pela qual Mao Tsé-Tung a iniciou.

O Grande Salto Adiante (1958-1960)

O Grande Salto Adiante (ou Grande Salto à Frente) é, sem sombra de dúvida, uma das principais razões por trás da Revolução Cultural Chinesa. Este foi um plano econômico fracassado do final da década de 1950 do próprio Mao, presidente na época.

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O plano tinha como objetivo promover a industrialização na China, dado o incipiente setor industrial do país. Milhões de trabalhadores, em particular os camponeses, foram mobilizados para atuarem em três áreas:

  1. Na irrigação, no controle de enchentes e na renovação da terra;
  2. Na produtividade agrícola;
  3. Na expansão da produção industrial.

Diversas comunas foram criadas para que os camponeses as aderissem e começassem a produzir ferro e aço para a indústria local. Para isso, os camponeses tiveram que abandonar a produção agrícola.

Ou seja, houve uma abrupta queda de produtos agrícolas, o que gerou um desequilíbrio na economia chinesa. Diante disso, o país se viu obrigado a importar alimentos de países ocidentais e enfrentou, no início na década de 1960, a Grande Fome. Historiadores apontam que a Grande Fome levou a morte de 20 milhões a 40 milhões de pessoas no país.

Esse fracasso no plano econômico afetou a imagem de Mao perante a população e fez com que os membros do partido, Liu Shaoqi e Deng Xiaoping, o retirassem do comando político chinês. Somente no ano de 1966 que Mao Tsé-Tung voltaria ao comando por meio da Revolução Cultural Chinesa.

Com as críticas à Mao em decorrência de seu plano econômico, sua popularidade dentro do PCCh se viu em declínio. A vertente encabeçada por ele se enfraqueceu, enquanto que a vertente de Liu Shao-Chi e Deng Xiaoping, que apresentavam uma visão mais moderada, ganhou força.

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As experiências da União Soviética

Mao também olhava para o que aconteceu com a União Soviética. Lá, houve um processo de desestalinização, em que o culto ao líder, neste caso Stálin, declinou. Isso impactou também a China e a forma pela qual Mao era tratado.

O XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética de 1956 estabeleceu a política de coexistência pacífica. Isto é, o caminho armado não seria mais visto como único caminho para a transição do capitalismo ao socialismo. A transição pacífica também seria um caminho viável. Ainda no Congresso, Nikita Kruschev, então secretário do Partido Comunista da União Soviética, condenou crimes cometidos por Josef Stálin.

O PCCh, por sua vez, condenou tais posicionamentos de Kruschev, enfatizando que os pareceres sobre Stálin e a transição pacífica seriam caminhos que levariam ao crescimento do revisionismo dentro do Partido Comunista da União Soviética.

A Revolução Cultural Chinesa

Diante do contexto de perda de influência, Mao se valeu de seu cargo como presidente do PCCh e iniciou a Revolução Cultural Chinesa em maio de 1966 a partir da publicação da Circular de 16 de Maio.

Esse documento trouxe à público disputas internas do PCCh e incentivava a população a lutar contra quadros do alto escalão e a posicionamentos revisionistas que poderiam surgir na sociedade em geral (locais de trabalho e escolas, por exemplo).

As massas foram convocadas a dar prosseguimento a Revolução Cultural. Afinal, seriam elas as que levariam a expulsão daqueles associados com a vertente capitalista. O objetivo da revolução seria o de destituir de seus cargos do partido aqueles que se filiavam a uma linha capitalista e que disseminavam ideologia burguesa na academia e na cultura.

Para Fairbank (1966), é importante entender a forma pela qual a sociedade chinesa se organizava. A passividade presente na China em relação aos assuntos públicos e à obediência perante uma autoridade abrem espaço para o surgimento de figuras como a de um Grande Líder.

No campo, por exemplo, essa forma de ser está enraizada nos ensinamentos confucionistas de auto subordinação obediente, o que também influencia a vida familiar. Além disso, a hierarquia na China era verticalizada, fazendo com que o líder do partido no poder fosse reconhecido e venerado como chefe supremo.

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O começo da Revolução Cultural e seus objetivos

O principal motor foi a atuação de estudantes, que aderiram à convocação de Mao, e agiram contra os opositores do maoísmo ou pessoas ligadas às práticas burguesas e o revisionismo dentro da China.

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Mao conseguiu seguir com a Revolução devido a tradição de obediência disciplinada, fazendo com que ela fosse aprovada nas diretivas do Comitê Central. Objetivava-se retirar do PCCh a influência daqueles que aderiram a vertentes mais moderadas, como era o caso do então presidente chinês Liu Shao-Chi, na época crítico das ideias maoístas.

Com isso, o presidente do PCCh conseguiria restabelecer sua imagem, enfraquecida pelos resultados negativos do Grande Salto Adiante.

Marco para a revolução foi a peça teatral, A destituição de Hai Rui, escrita pelo vice-prefeito de Xangai, Wu Han. Ela é tida como um prelúdio da Revolução Cultural Chinesa. Trata-se da história de um funcionário sendo vítima de um imperador tirânico. Essa peça, na realidade, refere-se à destituição do Marechal Peng Dehuai em 1959. Isso porque Peng escreveu uma carta com críticas às políticas adotadas durante o Grande Salto Adiante.

A Guarda Vermelha

Como apontado anteriormente, o corpo da Revolução foi composta, principalmente, pelos estudantes, muitos dos quais compunham a Guarda Vermelha (formada em 1966).

Ao aprender a revolução fazendo a revolução, os guardas vermelhos deixaram um rastro de violência por onde passavam. Esses jovens estudantes, com idades entre 9 e 18 anos, andavam pelas ruas com braçadeiras vermelhas e perseguiam qualquer um que apresentasse indícios de estrangeirismo ou intelectualismo.

Espalhados pela China, os guardas vermelhos defendiam o maoísmo e denunciavam aqueles que não seguiam os mesmos ideais, inclusive a partir do uso da violência. A Guarda perseguia os “quatro velhos”: velhas ideias, velhas culturas, velhos costumes e velhos hábitos.

Os principais alvos foram os intelectuais (como cientistas e professores) e os artistas. A perseguição contra os professores, por exemplo, afetou gravemente o ensino superior no país, que praticamente parou de funcionar.

O confucionismo, a religião e a própria cultura milenar chinesa foram alvos da Revolução. Artefatos milenares e templos foram destruídos. Livros com conhecimentos entendidos como “ocidentais” foram censurados e incendiados.

Os campos de reeducação

Aqueles que foram perseguidos pela Guarda Vermelha foram enviados para campos de reeducação, locais em que foram colocados sob regime de trabalho forçado e reeducação política.

Esses campos eram compostos tanto por aldeias sem água encanada, sistema de esgoto e luz elétrica; quanto por fábricas. A ideia era de que o trabalho no campo e nas fábricas fortaleceria o aprendizado com as massas e a reeducação ideológica. Assim, o pensamento desses cidadãos seriam reformados, a ponto de se tornarem aptos à revolução.

A expectativa era de que a mobilização dos guardas vermelhos contra o Estado central e a hierarquia partidária – isto é, contra o revisionismo – instaurasse uma revolução construtiva. Entretanto, não foi isso que aconteceu. A perseguição e a violência se espalharam pela China e atingiram tal intensidade que Mao se viu obrigado a intervir por meio do exército chinês.

Mesmo com a dissolução da Guarda Vermelha em 1968, a turbulência da Revolução Cultural ainda permaneceu. Ela só encontrou fim com a morte de Mao em 1976.

Os feitos de Lin Bao

Tendo dissolvido a Guarda Vermelha, a Revolução ainda continuou. Entre os anos de 1969 e 1971, a Revolução Cultural Chinesa entrou na fase Lin Biao, em referência ao vice-presidente do PCCh e indicado para a sucessão de Mao.

Porém, a posição de Lin como sucessor começou a ser enfraquecida. Apesar de ter atuado ao lado do regime maoísta e na própria Revolução Cultural, Mao passou a favorecer Zhou Enlai, então número três na hierarquia do partido.

Mao passou a criticar Lin perante comandantes militares regionais. Ao saber disso, Lin se envolveu em uma conspiração, junto a seu filho, para assassinar o ex-presidente e tomar o poder por meio de um golpe militar. Porém, Mao se informou sobre o plano de Lin, obrigando ele e sua esposa a fugir do país para a União Soviética em 1971. O avião em que estavam foi destruído na distante Mongólia e Lin morreu na tragédia.

A Gangue dos Quatro

Chega-se à fase final da Revolução, associada à Gangue dos Quatro. Esta era formada pela esposa de Mao, uma antiga atriz chinesa chamada Jiang Qing, além de Zhang Chunqiao, Wang Hongwen e Yao Wenyuan.

A gangue chegou ao poder em 1972 e deu continuidade à revolução. Contudo, o caminho para a Gangue dos Quatro não estava tão livre. Mao e Zhou Enlai, por exemplo, trouxeram Deng Xiaoping de volta ao poder. Vale observar que Deng foi uma das mais importantes vítimas da Revolução Cultural, sendo, inclusive, enviado para um campo de reeducação.

Desde meados de 1973 até a morte de Mao, em 1976, a política chinesa mudou entre a Gangue dos Quatro e o grupo de Zhou e Deng. A Gangue seguia uma linha de mobilização política e de luta de classes, enquanto que Zhou e Deng favoreciam o crescimento econômico, a estabilidade e o progresso educacional.

Com a morte de Mao, em 1976, a gangue foi destituída e seus integrantes presos, dando fim à Revolução Cultural Chinesa.

E depois?

Com o fim da Revolução, um novo governo chegou ao poder no país asiático, com Deng Xiaoping assumindo a presidência em 1978.

Os crimes cometidos durante os 10 anos de Revolução foram investigados e julgados. Nisso, inclui-se a Gangue dos Quatro, cujos membros foram condenados. A esposa de Mao, chegou a ser sentenciada à morte, mas teve sua pena alterada para prisão perpétua. Ela cometeu suicídio na prisão, em 1991. Nesse período pós-Revolução Cultural, aproximadamente três milhôes de membros do partido e inúmeros cidadãos expurgados injustamente aguardavam a reintegração ao país asiático.

A Revolução Cultural é considerada como a década perdida pelos chineses. Qualquer iniciativa para o desenvolvimento não vingou, já que prevaleceu a perseguição aos críticos do maoísmo. A educação chinesa, em particular o ensino superior, sofreu com a perseguição de professores. Além disso, a produtividade da economia do país na época ficou irregular.

Em 1978, Deng Xiaoping lançou o programa Boluan Fanzheng como forma de corrigir os males causados pela Revolução Cultural. O objetivo central era a abertura econômica mediante a intervenção do Estado e a entrada controlada de capital externo para o país.

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Paranaense de origem, atualmente mora em Florianópolis, local onde se formou em Relações Internacionais na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tem interesse em análise de dados e em temáticas envolvendo inovação, desenvolvimento socioeconômico e teoria política e econômica.

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29 abr. 2024

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