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Inovação em governo é gato por lebre? 

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Tornar as instituições públicas mais inovadoras tem sido uma demanda crescente. No entanto, seria este apenas mais um assunto da moda, para vender caras consultorias? Uma forma de desviar o foco do que é realmente relevante? Seria mais uma palavra de efeito para decorar falatório político?

DEFINIÇÃO DE INOVAÇÃO

Gosto muito da definição adotada pelo Fórum de Inovação da FGV-EAESP, sinteticamente apresentada na equação: Inovação = Ideia + Ação + Resultado Positivo

Isto é, a Ideia pode ser algo novo ou uma melhoria de algo existente, mas precisa ser implementada na prática, não pode ficar no plano das ideias. Tem que virar Ação. Além disso, para ser inovação, esta ideia implementada precisa gerar Resultado Positivo para um grupo de pessoas (público-alvo), de forma sustentável e por um período satisfatório de tempo.

Esta forma de organizar o tema, sem reduzi-lo ou simplificá-lo, considera e engloba desde as inovações incrementais (melhoria contínua e qualidade total) até as de ruptura (mudança mais estrutural de paradigma). O assunto é complexo e existem várias definições válidas e complementares. Na essência, o motor do processo é a constatação de que necessidades não estão sendo atendidas e algo, alguma ideia, precisa ser criada e implementada para satisfazer tais carências.

E COMO ISSO SE APLICA AO CONTEXTO GOVERNAMENTAL?

Nota-se um pouco deste campo emergente no país pesquisando a incidência aproximada de termos no Google-Brasil ao longo dos anos, como “inovação em governo”, “inovação no governo” e “inovação do governo”. Considerando a soma das incidências dos três termos, vemos um incremento de 78.3 vezes em oito anos, de 15 incidências em 2005 para 1.174 em 2013:

É uma evolução sólida, difícil de ignorar. Por isto, convido-lhe a considerar possível, por um momento, ser este um assunto importante. Se topou, provavelmente indagará: por que é fundamental inovar em governo? Em seus processos, sua cultura, seu modo de servir à sociedade e em tantos outros aspectos? Para responder, vale ir mais a fundo e compreender qual a real necessidade debaixo desta demanda.

POR QUE INOVAR NO GOVERNO?

Em 2014, o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento de Tributação) lançou a quinta edição do estudo “Carga Tributária/PIB X IDH” e constatou que o Brasil está entre os 30 países de maior carga tributária do mundo, mas continua oferecendo os piores serviços à população em termos de saúde, educação, transporte, segurança, saneamento, pavimentação das estradas, etc. Outra conclusão do IBPT é que o brasileiro, em média, tem que trabalhar 150 dias para pagar todos os impostos e, em relação à década de 70, hoje se trabalha o dobro de tempo para pagar a tributação.

Também em 2014, foi lançado o Segundo Relatório de Tendências do MyFunCity, que reforça a insatisfação do brasileiro com os serviços públicos existentes. E a estas, poderia acrescentar outras pesquisas de satisfação e desempenho sobre o Governo e que indicam um descompasso, uma percepção de déficit entre aquilo que é pago pela população e aquilo que ela recebe.

Então, pode-se traduzir a demanda por “inovar” como sendo um pedido de mudança e transformação do trabalho governamental (seja ele federal, estadual, municipal, direto ou indireto) para que a sociedade aumente seu bem-estar. Hoje, o que se deseja alcançar é, em grande parte, um crescimento na eficiência e na eficácia da gestão pública e um crescimento na efetividade do resultado gerado. Isto é, deseja-se tanto reduzir e otimizar os recursos consumidos pelo Estado quanto aumentar e melhorar o efeito final para a sociedade. Trocando em miúdos, deseja-se que ele gere melhores e mais benefícios, gastando menos recursos para isto.

Mas justiça seja feita, o governo tem crescentemente se esforçado para inovar. Evidências disto são os prêmios (como o Concurso Inovação na Gestão Pública Federal e o Prêmio Mario Covas), as escolas de administração pública (como a Fundap e a ENAP), as instituições de fomento (como a Rede Paulista de Inovação em Governo-iGovSP e inovaDay* foto abaixo), entre muitas outras iniciativas. Mesmo assim, as melhorias não têm dado conta do desafio e o abismo entre o dar e o receber é imenso.

Leia também: o que faz um facilitador?

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Por que isto acontece? É falta de investimento e apoio? Mau uso dos recursos? As mudanças são lentas ou pequenas demais? As pessoas estão mais exigentes? Acredito ser um pouco das anteriores, somado a diversas outras razões. Para uma delas, gostaria de chamar a atenção.

Acredito que o tipo de inovação capaz de diminuir tal abismo e descompasso seja diferente do tipo já consolidado (como a desburocratização, gestão por resultados, qualidade total, etc.). Este tipo diferenciado engloba o tradicional, mas o expande e aprofunda. Um dos aspectos que o diferencia é operar a partir de certos conceitos, como por exemplo: complexidade; redes distribuídas; colaboração; inteligência coletiva; sistêmico; criatividade; experiência do usuário; transparência; diálogo; engajamento; aberto; horizontalidade; sustentabilidade; empoderamento; entre muitos outros.

O conjunto destes conceitos representa e caracteriza uma nova cultura, um novo modo de pensar e de se relacionar. Da mesma maneira, representa processos e ferramentas específicos para lidar com a realidade. Quando utilizados e combinados entre si para melhorar a vida ou resolver um problema social, o efeito final tende a ser diferente do tradicional. Em geral, o saldo do impacto é mais positivo e duradouro.

A respeito do tema, recomendo baixar e estudar o excelente livro “Dá Pra Fazer – Gestão do Conhecimento e Inovação no Setor Público”, elaborado pela equipe da Rede Paulista de Inovação em Governo-iGovSP, com a participação de especialistas convidados.

No Brasil, tais práticas inovadoras são minoritárias, estamos no início de uma longa estrada. Em outros países, como Reino Unido (ver Nesta), Austrália (ver Public Sector Innovation), Dinamarca (ver Mind-Lab), Singapura (ver Co-Innovation), Alemanha (ver Ver­wal­tung In­no­va­tiv), Estados Unidos (ver Data.gov), etc., elas já estão estabelecidas, com uma grande coleção de casos de sucesso.

NOVOS PARADIGMAS PARA INOVAÇÃO NO GOVERNO

Em suma, não basta mudar e reformar o trabalho do governo. É o que tem sido realizado por décadas e, no geral, com ganhos insuficientes para o atual contexto do país. Para gerar um resultado diferente do que temos vivenciado e que atenda satisfatoriamente às necessidades da população, cada vez mais complexa, a maneira como se gera este resultado precisa também ser diferente. Vale lembrar uma citação muito difundida e atribuída a Albert Einstein:

“É insanidade continuar a fazer a mesma coisa, da mesma forma, dia após dia, e esperar resultados diferentes”.

As formas tradicionais de inovação precisam ser complementadas por outras que carregam novos paradigmas.

Na sua realidade dentro do governo como estes conceitos estão sendo aplicados, quais as resistências encontradas e quais os frutos obtidos?

Nota: Publicado originalmente em WeGov.

A WeGov é um espaço de aprendizado em governo, que dissemina a cultura de inovação no setor público. As ações da WeGov tem como premissas: empoderar os agentes públicos; iluminar ideias e ações que possam ser replicadas; aproximar os agentes públicos das três esferas e dos três poderes. Todas as quintas, novo post da WeGov no Politize!. Fique ligado!

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19 mar. 2024

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