O fast fashion, surgido nos anos 70, impulsiona a produção em massa de moda, mas esconde práticas éticas questionáveis. Com foco em países de mão de obra barata, empresas exploram condições análogas à escravidão. Grandes marcas, incluindo Zara e Renner, já foram acusadas dessas práticas.
O movimento slow fashion propõe consumo ético, transparente e consciente como alternativa. A necessidade de repensar a indústria da moda é evidente, destacando a importância de conhecer a origem dos produtos para promover uma mudança significativa.
Entendendo o que é fast fashion
Esse modelo nasceu nos anos 1970, com a ascensão de grandes lojas, mas o termo ‘fast fashion‘ somente foi cunhado nos anos 1990, pela mídia.
O conceito de fast fashion está atrelado às grandes marcas da indústria da moda, as quais seguem um modelo de comércio mais rápido e de grande produção.
Após a crise do petróleo, a indústria da moda desenvolveu a estratégia de criar tendências para impulsionar o consumo, visando conectar as pessoas às tendências emergentes e, assim, superar a crise, incentivando o escoamento de novas peças.
Apesar da produção em larga escala de peças idênticas, a distribuição dessas peças é fragmentada entre países, criando a ilusão de exclusividade para os consumidores, já que poucos exemplares da mesma peça chegam à mesma loja.
Cabe ressaltar que esse modelo de vendas movimenta bilhões de dólares anualmente e, com a ascensão das redes sociais, o fast fashion vem tendo um crescimento significativo, especialmente os serviços de e-commerce.
Para saber mais: Por que a shein vende mais barato?
De onde vem essa mão de obra
O que é mão de obra escrava?
Embora a escravidão tenha sido abolida há mais de um século em todo o mundo, ainda existem pessoas vivendo nessas condições. O trabalho análogo a escravidão é considerado uma violação aos direitos humanos segundo a Carta da ONU.
Segundo a Fundação Walk Free, aproximadamente 49,5 milhões de pessoas vivem em situação de escravidão moderna, sendo que 54% desse número são de mulheres.
As empresas de fast fashion mantêm um número reduzido de funcionários e contratados, o que perpetua a exploração do trabalho e resulta em condições análogas à escravidão.
Alguns dos pontos críticos dessa exploração ocorrem na China, Bangladesh, Camboja e em alguns países da América. Documentários, como “Inside Shein Machine: UNTOLD”, expõem as práticas desumanas nas fábricas da famosa empresa chinesa Shein, conhecida por vender roupas baratas e modernas.
Esse documentário revela como os trabalhadores são explorados, desrespeitando as leis trabalhistas do país. Com direito a apenas uma folga por mês e recebendo, em média, apenas 20 centavos por peça produzida. Esses funcionários são obrigados a produzir aproximadamente 500 peças por dia.
Entenda um pouco mais sobre violação aos direitos humanos: Violações de direitos humanos no mundo: qual o panorama?
Países alvos
No geral, essas empresas escolhem como alvo, países em situação de subdesenvolvimento, nos quais as leis trabalhistas são mais frágeis e flexíveis, possibilitando a exploração por parte das grandes marcas. China e Bangladesh são exemplos de países-alvo para essas empresas, devido aos direitos trabalhistas frágeis e à mão de obra barata, o que se torna um grande atrativo para essas indústrias.
No Brasil
Grandes empresas ao redor do mundo se beneficiam da mão de obra barata e escrava, entre os principais nomes estão: Animale, Broksfield Donna, Collins, Renner, Shein, H&M, Zara e 775.
Para algumas dessas marcas, o uso de mão de obra escrava não é algo novo. Em 2011, durante a CPI do Trabalho Escravo na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), a Zara admitiu em depoimento que uma de suas empresas terceirizadas de confecção utilizava trabalho escravo, e não havia monitoramento dessas atividades.
Outra grande empresa da moda que já foi alvo de investigações é a Renner. No ano de 2014, durante uma investigação do Ministério do Trabalho, trabalhadores que produziam roupas foram resgatados após serem mantidos em condições análogas a escravidão, em São Paulo e no Rio Grande do Sul.
Após ser questionada, a empresa alegou em sua defesa que esses trabalhadores eram funcionários de uma prestadora de serviços terceirizada e que a empresa não tinha conhecimento do ocorrido.
Slow Fashion, a alternativa consciente
O slow fashion traduzido como moda lenta, é uma corrente relativamente nova no mundo da moda que propõe a ideia de consumo baseada na ética e no consumo consciente.
Em contrapartida ao que ocorre no sistema de fast fashion, que visa a produção em larga escala de produtos sem que haja nenhum comprometimento da indústria com questões sociais e ambientais, o slow fashion preza por uma produção mais sustentável e responsável.
Os sistemas de produção dentro do sistema de slow fashion devem ser mais transparentes e com um nível menor de intermediação entre produtor e consumidor. Isso permite que a empresa informe a origem real dos produtos.
Conclusão
Em resumo, o fast fashion não apenas introduziu tendências de moda rápidas, mas também trouxe à tona preocupações éticas e sociais. A exploração da mão de obra em condições semelhantes à escravidão em diversos países demonstra a necessidade de repensar e adotar práticas mais éticas na indústria da moda.
O slow fashion surge como uma alternativa consciente, promovendo a transparência e incentivando um consumo mais ético e responsável. Conscientizar os consumidores sobre a origem de seus produtos é crucial para promover mudanças significativas e construir uma indústria da moda mais sustentável e justa.
Referências:
- As marcas da moda flagradas com trabalho escravo
- A exploração da mão de obra no Fast Fashion sob a ótica da Teoria do Sistema Mundo
- A lógica perversa de exploração na indústria têxtil – DW – 19/12/2017
- The True Cost – documentario
- CPI do Trabalho Escravo aprova relatório final
- CPI Trabalho Escravo Como o fast fashion pode afetar o meio ambiente? – Canal Agro Estadão
- Escravidão e gênero: o perfil das mulheres exploradas no Brasil atual – Revista Esquinas
- Fornecedoras da Renner são multadas em R$ 1 mi por trabalho escravo | VEJA
- Global Slavery Index | Walk Free
- Justiça reconhece responsabilidade da grife Collins por trabalho escravo
- Ministério confirma trabalho escravo em oficina que costurava para lojas
- O modelo Fast Fashion de produção de vestuário causa danos ambientais e trabalho escravo – Jornal da USP
- O que é slow fashion e por que adotar essa moda? – eCycle
- COUTINHO, Marina; KAULING, Graziela Brunhari. Fast fashion e slow fashion: o paradoxo e a transição. Revista Memorare, v. 7, n. 3, p. 83, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.19177/memorare.v7e3202083-99
- LOS, V. A.; BRILHANTE, M. L. S.; BABINSKI JÚNIOR, V.; GRETTER, G. E.; PIONTKIEWICZ, G. M. A.; UBINSKI, . S. G. Fast Fashion: pesquisa sobre a exploração da mão de obra em negócios de vestuário no Brasil. Revista Poliedro, Pelotas, Brasil, v. 5, n. 5, p. 103–130, 2021. DOI: 10.15536/2594-4398.2021.v5.n5.pp.103-130.2652. Disponível em: https://periodicos.ifsul.edu.br/index.php/poliedro/article/view/2652. Acesso em: 31 out. 2023. ZARA: Fast Fashion