Você já parou para pensar como a tecnologia molda as novas gerações? Enquanto os millennials e a geração Z cresceram em um mundo de transformações digitais, a geração beta surge com a inteligência artificial (IA) já inserida em seu DNA social e cultural.
Para esses jovens, a IA não é apenas uma ferramenta, mas uma extensão natural de suas vidas. Mas o que isso significa para o futuro da sociedade, educação e políticas públicas?
Nesse texto, vamos refletir sobre essas questões e explorar as possibilidades que se apresentam.
O que é a geração beta?
Para entender a geração beta, é importante olhar para a evolução das gerações anteriores e como cada uma se relacionou com a tecnologia:
- Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964): cresceram em um mundo analógico, em que a tecnologia era limitada a rádios, televisões e telefones fixos. A internet ainda não existia e o acesso à informação era mais restrito;
- Geração X (nascidos entre 1965 e 1980): viram o surgimento dos computadores pessoais e o início da internet. Eles foram a primeira geração a experimentar a transição do analógico para o digital, mas ainda de forma limitada;
- Millennials ou Geração Y (nascidos entre 1981 e 1996): cresceram junto com a expansão da internet e dos celulares. Foram os primeiros a adotar redes sociais e a viver em um mundo cada vez mais conectado;
- Geração Z (nascidos entre 1997 e 2010): já nasceram em um mundo digital, onde smartphones e redes sociais são parte do cotidiano. Eles são nativos digitais, mas ainda viram a tecnologia evoluir rapidamente.
- Geração Beta (nascidos a partir de 2010): diferente de todas as anteriores, a geração beta já nasce em um mundo onde a inteligência artificial é uma realidade consolidada. Para eles, assistentes virtuais, algoritmos personalizados e dispositivos conectados são tão naturais quanto a eletricidade ou a internet.
As gerações no contexto brasileiro
Ao falarmos sobre as gerações e sua relação com a tecnologia, é essencial adaptar esse olhar à realidade brasileira. Isso porque os marcos geracionais tradicionais, como os definidos nos Estados Unidos ou na Europa, nem sempre refletem a experiência vivida por aqui.
Segundo Milhome (2022):
“Não é possível utilizar, de forma integral, classificações de gerações criadas a partir de uma realidade social estrangeira em uma sociedade completamente distinta.”
Para a autora, é fundamental observar os eventos históricos que realmente moldaram a vida dos brasileiros, como a redemocratização, a globalização tardia e as políticas públicas de inclusão digital.
Dutra (2015) também reforça esse ponto ao afirmar que
“A formação de gerações se dá em meio a mudanças políticas, econômicas e sociais, como o fim do regime militar, a abertura econômica e a popularização da tecnologia apenas nos anos 2000”.
Esses elementos influenciaram profundamente a maneira como os brasileiros acessam e usam a tecnologia, o que, por sua vez, impacta diretamente o desenvolvimento da geração beta.
Essa geração, portanto, não vive a realidade tecnológica de forma homogênea. Enquanto alguns têm acesso desde cedo a dispositivos conectados e conteúdos personalizados por inteligência artificial, outros enfrentam barreiras, como falta de infraestrutura, exclusão digital e precariedade nas escolas públicas.
Discutir o recorte geracional com base em nossa realidade permite compreender melhor os desafios e oportunidades enfrentados por crianças e adolescentes brasileiros na era da IA, é um passo importante para a formulação de políticas públicas mais justas.
Beta: os traços marcantes dessa geração
As características mais comuns dessa geração são:
- Hiperconectividade: estão sempre online, seja por meio de smartphones, tablets ou dispositivos vestíveis;
- Personalização: crescem em um mundo onde os algoritmos entendem seus gostos e preferências, desde as playlists que ouvem até os vídeos que assistem;
- Aprendizado acelerado: a IA facilita o acesso ao conhecimento, mas também desafia a forma como aprendemos e pensamos.
Impactos positivos e negativos da IA na vida da geração beta
Com a inteligência artificial cada vez mais presente no dia a dia, especialmente entre os mais jovens, é importante considerar os efeitos que essa tecnologia pode trazer.
A seguir, apresentamos alguns argumentos a favor e contra o uso massivo da IA na vida da geração beta, abordando seus impactos na educação, saúde, mercado de trabalho e bem-estar social.
Argumentos a favor
- Democratização do conhecimento: plataformas de ensino adaptativo, como Khan Academy e Duolingo, usam IA para personalizar o aprendizado, tornando a educação mais acessível e eficiente;
- Inovação na saúde: a IA já é usada para diagnósticos médicos mais precisos e tratamentos personalizados, beneficiando a geração beta com avanços que antes eram impensáveis;
- Oportunidades no mercado de trabalho: a integração da IA cria novas profissões e demanda habilidades como programação e análise de dados, preparando os jovens para um futuro tecnológico.
Veja mais: Cidadania digital: o acesso democrático à tecnologia no Brasil
Argumentos contra
- Privacidade em risco: a coleta massiva de dados pessoais por algoritmos pode expor a geração beta a violações de privacidade e uso indevido de informações;
- Dependência tecnológica: o uso excessivo de dispositivos conectados pode levar a problemas de saúde mental, como ansiedade e isolamento social;
- Desigualdade digital: nem todos têm acesso às mesmas ferramentas tecnológicas, o que pode ampliar as disparidades sociais e educacionais.
Leia também: Inclusão e Diversidade Digital para um futuro saudável sustentável

Impactos sociais e políticos
A integração da IA na vida da geração beta traz oportunidades, mas também desafios. Por um lado, a tecnologia pode democratizar o acesso à educação, saúde e informação. Por outro, questões como privacidade, ética e dependência tecnológica precisam ser discutidas.
No campo das políticas públicas, é urgente pensar em:
- Regulamentação: como proteger os dados pessoais dessa geração hiperconectada?
- Educação: como preparar os jovens para um mercado de trabalho cada vez mais automatizado?
- Inclusão digital: como garantir que todos tenham acesso às ferramentas tecnológicas, evitando uma nova forma de exclusão social?
Saiba mais: Inclusão digital no Brasil: em que estágio desse processo estamos?
A geração beta já está entre nós, e seu impacto no futuro será inevitável. Como sociedade, é nossa responsabilidade garantir que essa integração entre humanos e máquinas ocorra de forma ética, inclusiva e benéfica para todos.
Como acha que a IA está transformando a forma como vivemos e nos relacionamos? Será que estamos preparados para os desafios éticos e sociais que essa nova era traz?
Que tal refletir sobre o tema e discutir com amigos e familiares? Afinal, o futuro não pertence apenas aos betas – ele é de todos.
E você, faz parte da geração beta ou convive com alguém que faz? Diga para a gente nos comentários!
Referências
- MILHOME, Jaqueline Cavalcante. Gerações brasileiras: uma proposta de classificação e identificação dos valores pessoais e no trabalho. Tese (Doutorado) – Universidade Federal da Bahia, 2022. p. 62-63. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/37082/1/Tese%20de%20Doutorado.pdf
- DUTRA, Wellintom. Estudo das gerações no contexto histórico brasileiro. Trabalho de Conclusão de Curso – FATEC Americana, 2015. p. 13-14. Disponível em: https://ric.cps.sp.gov.br/bitstream/123456789/480/1/20151S_DUTRAWellintom_CD2187.pdf
- Common Sense Media – The Common Sense Census: Media Use by Tweens and Teens
- Pew Research Center – AI and the Future of Humans
- OECD – The Impact of AI on the Future of Work
- UNESCO – AI and Education: Guidance for Policy-Makers
- UNICEF – Children in a Digital World
- World Economic Forum – The Future of Jobs