Quem foi Rosa Parks?

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Você sabia que um simples ato de resistência silenciosa em um ônibus foi o estopim de um dos movimentos mais importantes pelos direitos civis nos Estados Unidos? Conheça a história de Rosa Parks, a mulher negra que se tornou símbolo da resistência contra a segregação racial no século XX.

Quem foi Rosa Parks?

Rosa Louise McCauley Parks nasceu em 4 de fevereiro de 1913, em Tuskegee, Alabama, no sul dos Estados Unidos. Desde cedo, conviveu com a dura realidade do racismo institucionalizado: escolas separadas para brancos e negros, acesso desigual a recursos e violências cotidianas.

Antes de se tornar um símbolo da causa, Parks já era uma ativista organizada. Era secretária da seção local da NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor), onde investigava casos de abuso sexual e violência policial contra negros, especialmente contra mulheres negras — algo muito silenciado à época.

Rosa Parks. Imagem: Reprodução Internet.

Contexto político: a segregação racial nos Estados Unidos

Durante a primeira metade do século XX, os EUA, principalmente os estados do sul, estavam sob o domínio das Leis Jim Crow, que impunham segregação legalizada em escolas, transportes públicos, restaurantes e até cemitérios.

A Suprema Corte americana havia legitimado essa separação racial no caso Plessy v. Ferguson (1896), afirmando que os espaços poderiam ser “separados, mas iguais”.

Essa desigualdade se refletia em todas as esferas da vida. Segundo a Encyclopedia Britannica, negros tinham pouco acesso a direitos políticos, além de enfrentarem linchamentos, pobreza crônica e exclusão social. Em meio à Guerra Fria, os EUA queriam projetar uma imagem de democracia global, mas internamente negavam direitos civis a milhões de cidadãos negros.

Nos anos 1950, era comum o discurso conservador de que a segregação racial servia para manter a ordem social e evitar conflitos raciais. A retórica da época sustentava que a miscigenação ou a convivência entre raças provocaria desordem, e que os estados tinham o direito constitucional de impor suas leis.

Para esses grupos, a convivência entre negros e brancos em espaços públicos poderia gerar conflitos, e a separação seria uma solução “pragmática” para evitar o que consideravam um colapso da coesão comunitária.

Entre eles estava o gorvenador do Alabama, George Wallace, eleito em 1962 com uma plataforma abertamente segregacionista, tornou-se o principal símbolo da resistência conservadora à integração racial.

Em 1963, bloqueou pessoalmente a entrada de estudantes negros na Universidade do Alabama. Ficou conhecido pela seu famoso discurso: “Segregation now, segregation tomorrow, segregation forever.”

Além disso, a maioria da população branca do sul dos EUA apoiava essa política, e os que se posicionavam a favor da integração enfrentavam ameaças, boicotes e violência.

O grupo Citizens’ Councils (Conselhos de Cidadãos Brancos) formados por comerciantes, políticos, pastores e líderes locais brancos, fundado em 1954 no Mississippi, se autodenominavam defensores da “liberdade local” e da “civilização cristã” e usavam táticas legais e econômicas para intimidar negros e manter a segregação (ex: boicotes, perda de emprego).

Um caso emblemático foi o da escola de Little Rock (1957), onde o governador do Arkansas mobilizou a Guarda Nacional para impedir a entrada de estudantes negros. Só com intervenção do presidente Eisenhower e envio de tropas federais foi possível garantir a entrada dos alunos.

Segundo o historiador Kevin M. Kruse, em White Flight: Atlanta and the Making of Modern Conservatism (2005), argumenta que a resistência branca à integração escolar e à igualdade racial serviu como catalisadora para o surgimento de um novo conservadorismo urbano nos EUA, baseado não apenas no racismo, mas também em discursos sobre “liberdade individual”, “propriedade privada” e rejeição à interferência do governo federal.

Jason Sokol, em seu livro There Goes My Everything, utiliza entrevistas, cartas e reportagens de época para construir um retrato complexo da mentalidade e perfil do cidadão conservador: classe média branca, frequentemente influenciado por lideranças religiosas que defendiam a segregação como um “modelo moral e natural”, envolvido em redes locais como igrejas, associações de bairro e clubes cívicos, acreditavam que a integração traria “caos social”, “diluição cultural” ou “ameaças à família tradicional”.

Rosa Parks e o boicote aos ônibus de Montgomery

Em 1º de dezembro de 1955, Rosa Parks se recusou a ceder seu assento a um homem branco em um ônibus segregado em Montgomery, Alabama. O motorista chamou a polícia e ela foi presa. Seu ato, porém, não foi impulsivo, pois Rosa já havia sido treinada em desobediência civil não violenta, e seu gesto foi um ato político planejado, como apontam fontes da Embaixada dos EUA.

A prisão levou ao Boicote aos Ônibus de Montgomery, um protesto coletivo que durou 381 dias. Durante esse período, milhares de negros deixaram de usar os ônibus da cidade, organizando redes de carona e enfrentando ameaças. O movimento foi liderado por um jovem pastor, Martin Luther King Jr., e se tornou o marco inicial da luta moderna pelos direitos civis nos EUA.

A pressão resultou na decisão da Suprema Corte, em 1956, de declarar a segregação nos transportes públicos inconstitucional. Rosa Parks foi reconhecida nacionalmente como “a mãe do movimento dos direitos civis”.

rosa parks, uma mulher negra sentando nas cadeiras da frente de um onibus em Montgomery
Rosa Parks dentro do ônibus. Imagem: Getty imagens.

Veja também: a história dos direitos étnico-raciais

Últimos anos e legado

Após o boicote, Rosa Parks e seu marido Raymond sofreram represálias e se mudaram para Detroit, Michigan, onde ela continuou lutando por justiça social. Trabalhou por mais de 20 anos no gabinete do congressista John Conyers, um dos primeiros negros a chegar ao Congresso americano.

Rosa Parks recebeu mais de 40 títulos de doutora honorária, incluindo da Harvard University, e foi agraciada com a Medalha Presidencial da Liberdade e a Medalha de Ouro do Congresso, duas das maiores honrarias civis dos EUA.

Morreu em 24 de outubro de 2005, aos 92 anos, e foi a primeira mulher negra a ser velada no Capitólio dos Estados Unidos, um reconhecimento póstumo à sua importância histórica.

Em 2025, a cidade de Detroit iniciou o processo para transformar o antigo apartamento onde ela viveu em um marco histórico nacional, preservando sua memória para futuras gerações.

foto colorida de um homem branco, cabelos grisalhos e terno entregando um certificado a uma mulher negra de cabelos grisalhos amarrado para trás, de ocúlos e vestido rosa.
O presidente Bill Clinton em 1996, entrega a Rosa Parks, ícone dos direitos civis, o certificado da Medalha Presidencial da Liberdade no Salão Oval. Imagem: Reprodução Wikipedia.

Rosa Parks no cinema: “The Rosa Parks Story”

A trajetória de Rosa Parks foi retratada no filme “The Rosa Parks Story” (2002), dirigido por Julie Dash e estrelado por Angela Bassett. O longa destaca não só o episódio do ônibus, mas também sua infância, seu ativismo silencioso, a pressão social e a vida após o protesto.

A atuação de Bassett foi amplamente elogiada por capturar a força e a dignidade de Rosa Parks. O filme é considerado material educativo valioso em escolas norte-americanas e pode ser encontrado em plataformas como YouTube e bibliotecas digitais.

Capa do DVD do filme de Rosa Parks- Reprodução Internet

A história de Rosa Parks continua sendo símbolo de coragem e transformação, mas também serve como espelho das tensões políticas que cercam o progresso social: a disputa entre mudança e conservadorismo, entre direitos individuais e coletivos, entre ação popular e instituições.

“As pessoas sempre dizem que eu não cedi o assento porque estava cansada, mas isso não é verdade. Eu não estava cansada fisicamente, mas cansada de ceder” – Rosa Parks, em sua autobiografia.

Como diferentes correntes políticas reagiriam ao gesto de Rosa Parks se ele ocorresse hoje? Que paralelos podemos traçar com debates contemporâneos sobre igualdade e resistência civil? Deixe nos comentários!

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Conteúdo escrito por:

Maicon Araújo Nunes de Jesus

Jequieense, filho de Maria Lúcia e apaixonado por esportes. Tutor da cadelinha Amora, sigo um estilo de vida vegano e mantenho uma postura anticapitalista. Como estudante de direito, trago a perspectiva de quem vive na periferia e carrega uma identidade étnico-racial forte, almejando uma justiça processual que se cumpra. Influenciado pelo Hardcore, que molda minha escrita e reflexão em prol de um mundo mais digno.
Jesus, Maicon. Quem foi Rosa Parks?. Politize!, 18 de agosto, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/quem-foi-rosa-parks/.
Acesso em: 22 de ago, 2025.

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