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Entenda o acordo histórico anunciado entre Israel e Emirados Árabes

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Donald Trump
Donald Trump, então presidente dos Estados Unidos, foi um dos articuladores do acordo entre Israel e Emirados Árabes. Foto: Eric Thayer / Reuters.

No início de agosto de 2020, Israel e os Emirados Árabes Unidos chegaram a um acordo a fim de normalizar as relações diplomáticas entre os países. Até aquele momento, das nações árabes, apenas o Egito e a Jordânia mantinham relações diplomáticas com Israel. Assim sendo, os Emirados Árabes Unidos se tornaram o terceiro país a estabelecer esses laços.

Quer saber qual foi o teor deste acordo e quais suas consequências? A gente explica tudo aqui nesse conteúdo!

Veja também nosso vídeo sobre o conflito Israel x Palestina!

Contexto

Antes de falarmos propriamente do Acordo entre Israel e Emirados Árabes, precisamos esclarecer alguns pontos extremamente importantes para compreensão do assunto como um todo.

Primeiramente, esse Acordo entre Israel e Emirados Árabes  faz parte de uma empreitada estadunidense iniciada em 2020, a fim de promover a paz no Oriente Médio por meio do chamado “Acordo do Século“.

Esse Acordo do Século, apresentado em janeiro de 2020, ficou conhecido como Plano de Paz para Israel e Palestina, e teve como finalidade resolver os embates históricos entre esses vizinhos, já que os confrontos no território são milenares e mesclam disputas por territórios e heranças religiosas. 

Em segundo lugar, é preciso salientar que a ideia do “Acordo do Século” inicialmente era o de proporcionar um cenário mais diplomático no território que inclui outros países como Afeganistão, Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Comis, Irã, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã e Síria. 

Acontece que, entre alguns dos pontos do plano de paz, estavam cláusulas e situações que acabaram dificultando de fato o sucesso do acordo.

Um deles foi o incentivo ao reconhecimento de Israel como Estado judeu e Jerusalém como sua “capital indivisível”. Tal questão satisfez desejos históricos israelitas, já que para eles o reconhecimento de Israel como um Estado/país é mais que legítimo: eles acreditam que foram garantidos por Deus a tal direito. Em contrapartida, fortaleceu desavenças históricas vivenciadas por parte dos Palestinos, que ainda enxergam os israelenses como um povo invasor de seu território.

Além disso, outra questão foi bastante criticada no plano: a permissão de anexação, por parte de Israel, de todas as colônias e assentamentos na Cisjordânia e todo Vale do Jordão, tendo com isso, o país israelense soberania sobre os colonatos lá construídos. Essas disposições são contrárias às resoluções da ONU, que exigiam a retirada de Israel dos territórios ocupados após 1967 e o retorno dos refugiados que lá estavam. Além disso, os palestinos alegam  que Israel usa a força para se manter nos territórios invadidos e que impede os palestinos de viver com dignidade em um lugar que seria do povo árabe por direito há décadas.

Houveram ainda outras questões que culminaram em um afastamento entre os três países envolvidos no plano de paz. O presidente palestino, Mahmoud Abbas, informou que o país iria cortar todas as relações, inclusive de segurança, com Estados Unidos e Israel. Pois, além da não participação de representantes palestinos na formulação do acordo, Abbas acredita que o plano favorece Israel e não leva em conta os direitos mínimos e aspirações do povo palestiniano.

Mas qual a relação entre o Acordo entre Israel e Emirados Árabes e o Plano de Paz para Israel e Palestina?

Assim como dito anteriormente, o Acordo entre Israel e Emirados Árabes faz parte de uma empreitada estadunidense iniciada em 2020, a fim de promover a paz no Oriente médio e fortalecer relações diplomáticas.

E qual o papel dos EUA nesse acordo?

Sabemos que o Oriente Médio possui uma grande diversidade de culturas, etnias e religiões. Além disso, a economia do território é reconhecida principalmente pelo petróleo, afinal, a maior concentração mundial dessa fonte de energia pode ser encontrada neste ponto.

Assim, acredita-se que “os interesses dos Estados Unidos no Oriente Médio podem ser divididos em cinco áreas: garantir o livre fluxo de petróleo; prevenir a proliferação nuclear; combate ao terrorismo; manutenção da segurança de Israel; e a promoção da democratização” (BYMAN; MOLLER, 2016, tradução nossa).

Desde o governo de George W. Bush, esses interesses permaneceram os mesmos com exceção do governo de Obama, com um ciclo de maior indiferença. No entanto, com a entrada de Donald Trump, muitos destes interesses retornaram.

Assim, o acordo entre Israel e os Emirados Árabes representou mais um passo na política externa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump na manutenção de aliados e parceiros comerciais no território.

Vale lembrar que esse segundo acordo proposto pelos EUA foi alcançado com auxílio do Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e do príncipe herdeiro dos Emirados Árabes, Mohammed bin Zayed Al Nahyan.

Como um produto de longas conversas entre os três países, o tratado foi selado através de uma ligação por telefone. Por meio da sua conta oficial de Twitter, ainda, o presidente Trump afirmou que “a normalização das relações e a diplomacia pacífica reunirão dois dos sócios regionais mais confiáveis e capazes dos EUA”.

O acordo entre Israel e Emirados Árabes

As delegações de Israel e dos Emirados Árabes se reunirão em cerimônia a ser realizada na Casa Branca para assinarem os acordos bilaterais envolvendo cooperação diplomática, comercial e segurança, e lançar uma agenda estratégica para o Oriente Médio. No entanto, até o momento de lançamento desse texto, as delegações ainda não se reuniram.

O acordo prevê também que os fiéis muçulmanos poderão visitar a mesquita de Al-Aqsa, terceiro lugar mais sagrado do islã e situado na Cidade Velha de Jerusalém, em voos diretos de Abu Dhabi para Israel.

As autoridades descreveram que o pacto ficará conhecido como Acordo de Abraham (ou Acordo de Abraão), como o primeiro desse tipo desde que Israel e Jordânia assinaram um tratado de paz em 1994.

O primeiro-ministro israelense Netanyahu se pronunciou sobre o acordo e citou Trump, mencionando que se trata de “um dia histórico”.

O príncipe herdeiro dos Emirados Árabes também utilizou a plataforma e disse que os países concordaram em estabelecer cooperações e freiar novas anexações israelense de territórios palestinos, prática profundamente criticada pela comunidade internacional .

No comunicado conjunto emitido pelas três nações foi informado que os três líderes “concordaram com a normalização total das relações entre Israel e os Emirados Árabes Unidos” e que esse avanço fortalecerá a paz no Oriente Médio e desencadeará o grande potencial da região.

Repercussão na comunidade internacional

O acordo foi bem recebido pelo ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, e foi visto como uma contribuição significativa que “permitirá dar um novo impulso ao processo de paz no Oriente Médio”.  

Pelo Twitter, Trump considerou o pacto como “histórico” e um “enorme avanço”. Ele afirmou, ainda, que o acordo alcançado de fato faz parte do plano de paz para o Oriente Médio proposto em janeiro de 2020.  

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que, segundo seu porta-voz, “saúda qualquer iniciativa que possa promover a paz na região” lembra que a anexação de territórios por Israel “fecharia efetivamente a porta para uma retoma das negociações” e acabaria destruíndo as possibilidades de uma solução para dois Estados: o de Israel e do viável Estado Palestino.

A expetativa do secretário-geral da ONU é que o acordo favoreça as relações diplomáticas no território e crie oportunidades para que os líderes israelenses e palestinos “se envolvam de novo em negociações significativas, que irão realizar uma solução de dois Estados alinhada com as resoluções relevantes da organização, o direito internacional e os acordos bilaterais”. 

Mas, nem todos os posicionamentos foram favoráveis.

Como dito anteriormente, após as tratativas de paz propostas por Trump no início de 2020, as autoridades Palestinas ao considerarem vários prejuízos ao país, interromperam o diálogo e as negociações, resultando assim, na interrupção do acordo

Os líderes palestinos inicialmente descreveram a normalização das relações dos Emirados Árabes Unidos e do Bahrein com Israel como uma “traição” e “uma facada nas costas”.

Além disso, os palestinos temem que Trump esteja tentando obter apoio da Arábia Saudita (a maior potência econômica da região) e de outros países do Golfo Pérsico para os pressionarem a aceitarem o plano de paz que não os favorece.

Por isso, a Palestina, o Irã e Turquia criticaram o acordo entre Israel e Emirados Árabes e afirmaram que os Emirados Árabes Unidos “traíram a causa palestina” ao se aproximar do povo judeu.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, critica de maneira habitual os países árabes, que na sua visão não adotam uma atitude firme em relação a Israel. Assim, juntamente com o governo do Irã, afirmou que esse acordo “trai a causa palestina” visto que os Emirados Árabes Unidos estão apresentando isso como uma espécie de sacrifício da Palestina, para satisfazer seus próprios interesses.

Hamas, movimento islamista palestino, criticou o acordo e afirmou que “esse anúncio é uma recompensa pelos crimes de ocupação israelense” e uma “traição” aos palestinos. Juntamente aos chefes do Movimento Jihad Islâmica na Palestina, Hamas e Jihad querem fim do acordo considerado “fora do contexto histórico” e uma “violação dos princípios palestinos, árabes e islâmicos”.

Grupos pró-Palestina nos EUA também rejeitam acordo Israel-Emirados Árabes. Segundo esses grupos, os Emirados Árabes Unidos “deveriam se posicionar contra as políticas coloniais nos países árabes, além de apoiar os direitos legítimos dos palestinos”.

No Paquistão, milhares protestaram contra o acordo como forma de solidariedade e apoio à resistência palestina contra “a ocupação sionista”.

Incertezas

No acordo proposto para Israel e os Emirados, Israel firmou o compromisso de interromper as anexações de grande parte da Cisjordânia.

E, como mostrado no inicio deste conteúdo, a questão da anexação por parte de Israel de colônias na Cisjordânia e no Vale do Jordão contrariam as propostas da comunidade internacional, dificulta (ou quase impossibilita) as relações entre Israel e Palestina e consequentemente, mantêm o clima de instabilidade entre as relações entre países no Oriente Médio.

Os Emirados Árabes destacaram que o acordo diplomático firmado com Israel foi feito para enfrentar a ameaça de futuras anexações desses territórios, por isso, representam uma solução tanto para a Palestina quanto para Israel. 

Israel, no entanto, afirmou que mesmo assumido o compromisso  de suspender a anexação de territórios palestinos, a anexação de terras da Cijordânia “foi adiada” e que “não se renunciou a ela”.

Seria essa questão um possível problema para o futuro dessas negociações? Ainda não se sabe ao certo.

Segundo informações, depois dos Emirados Árabes Unidos, o Bahrein será o próximo a assinar acordo de paz, afirma autoridade israelense, mas nenhum prazo foi estabelecido nem mesmo informado mais detalhes.

Outros acordos e as relações diplomáticas entre países árabes

O acordo do dia 13 de agosto de 2020 é o terceiro acordo de paz árabe-israelense desde a declaração de independência de Israel em 1948. Entre as nações árabes, somente o Egito e a Jordânia têm vínculos diplomáticos com Israel.

Em 1979, foi assinado primeiro acordo de paz entre um país árabe e Israel. O acordo entre Egito e Israel ficou conhecido como Paz de Camp David, que teve uma avaliação positiva internacionalmente e recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

Entenda melhor o conflito Israel-Palestina aqui!

A Jordânia, 15 anos após Camp David, assinou em 1994, o segundo acordo de paz com um país árabe e as relações bilaterais desenvolveram-se de forma positiva: fronteiras foram abertas e grande intercâmbio de visitantes o que ocasionou bons frutos aos negócios.  

O terceiro acordo de paz será bem sucedido como os aqui citados? Será possível estabelecer acordos entre diversos Estados até que se forme uma paz duradoura no Oriente Médio? Acompanharemos de perto o desenrolar dessas tentativas.

E você, o que acha disso? Comenta aqui com a gente!

REFERÊNCIAS

Israel e Emirados Árabes chegam a acordo de paz histórico

Trump media acordo de paz histórico entre Israel e Emirados Árabes

Com ajuda dos EUA, Israel e Emirados Árabes Unidos selam acordo de paz histórico

Israel acerta acordo histórico com os Emirados Árabes e suspende a anexação da Cisjordânia

 

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Conteúdo escrito por:
Internacionalista e estudante de Direito, inclinada a compartilhar conhecimentos e contribuir para uma sociedade mais consciente.

Entenda o acordo histórico anunciado entre Israel e Emirados Árabes

18 mar. 2024

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