Guia prático: como identificar desinformação no dia a dia?

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No texto anterior da trilha, entendemos como o jornalismo de qualidade pode ajudar a enfrentar a desinformação e por que a imprensa segue sendo um pilar essencial para a democracia. Mas, além das instituições, cada pessoa também tem um papel importante nesse processo.

Afinal, como podemos identificar quando uma informação é falsa ou enganosa? Quais sinais observar em uma notícia, imagem ou vídeo antes de compartilhar? E, depois de reconhecer que se trata de desinformação, o que fazer? Denunciar às plataformas? Procurar canais oficiais do Estado?

Essas são algumas das perguntas que vamos responder na nona parte da Trilha sobre desinformação, uma parceria da Politize! com o *desinformante. Ao longo da série, investigamos os impactos da desinformação e os caminhos possíveis para combatê-la

Agora, chegou o momento de oferecer um guia prático para que você consiga identificar e denunciar conteúdos falsos no seu dia a dia.

5 dicas para identificar desinformação

À medida que campanhas desinformativas foram ganhando espaço nas redes sociais, pesquisadores, jornalistas e instituições têm trabalhado para entender as principais técnicas desses conteúdos. A partir disso, cartilhas e guias, como as publicadas pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil e pelo Tribunal Superior Eleitoral, trazem dicas para que cidadãos identifiquem as desinformações compartilhadas nas redes sociais.

Abaixo, separamos as principais dicas para você identificar desinformação ou repassar para aquele amigo que precisa de uma ajuda para estar mais atento! 

1 – Sempre busque a fonte

Ao receber um conteúdo, a primeira coisa a se fazer é buscar quem o produziu. Nesse momento, é importante saber qual a fonte dessa informação e se o site que a publicou é um veículo conhecido e com credibilidade.

Saiba mais sobre simulação de notícias!

Além disso, vale procurar se a mesma informação também foi publicada por outros veículos da imprensa, pois quanto mais compartilhada em sites e portais, mais chances daquela notícia ser verdadeira. Também é interessante conferir nos sites de agências de checagem

Se o conteúdo não tiver fonte: desconfie!

2 – Confira o contexto

Notícias verdadeiras podem ser usadas como ferramentas de disseminação de desinformação. Por isso, sempre é importante buscar conhecer o contexto da notícia e sua data de publicação, por exemplo, para saber se ela se refere corretamente àquilo que está sendo dito nas redes sociais.

Isso porque, muitas vezes, uma notícia verdadeira publicada anos atrás é usada para reforçar discursos e narrativas fora do contexto original em que ela foi publicada. 

Para além do tempo, descontextualizações de lugares (dizer que algo aconteceu em determinada localização, quando, na verdade, foi em outra) também é uma estratégia de desinformação comum.

3 – Questione!

Manter um pensamento crítico e questionador sobre o que se recebe nas redes sociais é sempre bom nesses momentos. 

“Temos que praticar o exercício saudável da dúvida, sem sermos uns chatos. Para tanto, é preciso tempo, mesmo que sejam segundos, para um prazo de reflexão”, afirmou Cristina Tardáguila ao desinformante. “Nos dias de hoje é preciso desconfiar de todas informações – nem que seja um pouquinho. E independente de onde elas vêm.”

Na era da manipulação de informações com ajuda das Inteligências Artificiais, isso também vale para imagens, vídeos e áudios. Nesses casos, como indicou o CGI.br, é importante atentar-se:

  • Os movimentos dos lábios estão sincronizados com a fala; 
  • Os olhos piscam naturalmente;
  • As sombras correspondem com as imagens e a posição da luz;
  • Há movimentos bruscos ou cortes no vídeo;
  • Há mudanças no tom da pele;
  • Há quebras de linhas ou distorções de formas;
  • Há descontinuidades entre o rosto e o restante do corpo.

4 – Verifique se há referências

No conteúdo recebido, há alguma fonte sendo entrevistada? Se sim, ela é de confiança? Além disso, a notícia tem autor? No jornalismo de qualidade, as matérias sempre são assinadas pelo jornalista que a produziu ou, pelo menos, tem alguma indicação de que a “redação” a escreveu. 

Outro ponto importante é conferir se a matéria tem links que levam para outros sites de confiança.

5 – Desconfie da emoção

Uma das principais técnicas da desinformação é apelar para a emoção. Raiva e medo são alguns dos principais sentimentos que fazem as pessoas compartilharem desinformação. E quem produz notícias falsas sabe muito bem disso. 

Por isso, desconfie de títulos muito chamativos e exagerados, textos com abuso de adjetivos (que são pouco comuns na escrita jornalística padrão) e informações com apelo emocional. Também fique de olho em conteúdos que reforçam estereótipos e apoio ideológico muito explícito.

Se desconfiar, não compartilhe!

Desconfiou de uma informação que recebeu no grupo do WhatsApp? É importante não passar  adiante. Essa orientação parece simples, mas, na prática, muitas vezes, acabamos compartilhando mesmo tendo dúvidas sobre a veracidade da informação. 

Por isso, especialistas indicam que é importante agirmos como um jornalista: buscar as fontes, comparar informações e checar se a notícia foi realmente publicada pelos sites jornalísticos.

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Como conversar com alguém que acredita em desinformação?

Como já falamos anteriormente na nossa trilha sobre desinformação, as pessoas estão suscetíveis a acreditar em desinformação. Dessa forma, é muito provável que você esbarrará com alguém que esteja compartilhando informações falsas. 

Nesses casos, a Unicef (Fundo das Nações Unidas para Infância) publicou dicas de como conversar com alguém que acredita em desinformação. Veja abaixo algumas delas:

  • Mantenha a calma: é importante lembrar que, na discussão, não se trata de ganhar ou perder, mas de ajudar a alguém a desenvolver o pensamento crítico e ver as coisas de uma nova perspectiva.
  • Ouça com atenção: preste atenção ao que a outra pessoa está dizendo e pratique a empatia tentando entender suas preocupações ou razões para acreditar em certas informações.
  • Faça perguntas: demonstre que você ouve os argumentos e, em seguida, pergunte gentilmente sobre fatos, fontes ou dados. Mantenha a curiosidade, sem confrontos.
  • Explique as nuances: deixe claro que as informações nem sempre são 100% verdadeiras ou 100% falsas, compreender as “áreas cinzentas” é uma parte importante do desenvolvimento do pensamento crítico.
  • Fatos vs. opiniões: ressalte que fatos podem ser apoiados por evidências, enquanto opiniões são pontos de vista pessoais. Enfatize a importância de se ater a informações confiáveis ​​e baseadas em fatos.

Como denunciar conteúdos desinformativos?

Agora que já vimos como identificar sinais de desinformação, é hora de dar um passo adiante: o que fazer quando encontramos esse tipo de conteúdo? 

Reconhecer é essencial, mas também precisamos saber como agir. Denunciar é uma das formas mais eficazes de reduzir o alcance de informações falsas e fortalecer o combate coletivo contra a desinformação.

Ao longo do tempo, diferentes plataformas digitais têm testado métodos variados para lidar com conteúdos enganosos. O X (antigo Twitter), por exemplo, foi pioneiro ao lançar em 2022 o modelo das Notas da Comunidade, permitindo que usuários escrevam e avaliem coletivamente informações, buscando consenso entre diferentes visões. 

Esse sistema chegou ao Brasil em 2023 e mostrou que, embora promova participação coletiva, não substitui a necessidade de checagem independente.

Em janeiro de 2025, o diretor-executivo da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou mudanças nas políticas de moderação de conteúdo em suas redes — Facebook, Instagram,  WhatsApp e Threads. 

A principal delas foi a extinção do Programa de Verificação de Fatos por Terceiros (3PFC), que contava com verificadores independentes, substituído pelas Notas da Comunidade, em modelo inspirado no X. 

A proposta é avaliar conteúdos com a participação de usuários com visões opostas, buscando consenso para “corrigir” informações potencialmente enganosas. Por enquanto, essa ferramenta está disponível apenas nos Estados Unidos, mas a Meta planeja expandir para outros países. 

O TikTok também começou a testar um modelo semelhante de Notas da Comunidade: anunciado em abril de 2025, entrou em funcionamento nos Estados Unidos em julho do mesmo ano.

Especialistas e estudos recentes criticam o uso exclusivo desse modelo de notas comunitárias pelas plataformas, apontando que a avaliação coletiva por usuários, sem verificação independente, pode não ser suficiente para conter a desinformação. 

O ideal, apontam os estudos, seria combinar checagem por terceiros e notas comunitárias, além de aprimorar a moderação de conteúdo em geral, garantindo que os conteúdos enganosos sejam avaliados com critérios claros e rigorosos.

Mesmo antes dessas mudanças, todas essas redes permitem que qualquer usuário denuncie conteúdos suspeitos diretamente na plataforma. Embora a remoção imediata seja rara, quanto maior o volume de denúncias, maiores as chances de que a plataforma avalie o material e seus possíveis impactos.

Nos próximos trechos, vamos detalhar passo a passo como denunciar em cada uma dessas plataformas, mostrando como você pode agir de forma prática ao se deparar com desinformação.

Como denunciar desinformação no Instagram? 

1. Clique nos três pontinhos que aparecem no canto direito superior da publicação que você pretende denunciar;

2. Selecione a opção “denunciar”;

3. Selecione a opção “informação falsa” e pronto!

Como denunciar desinformação no Facebook?

1. Acesse a publicação que deseja denunciar e clique nos três pontinhos (…) no canto superior direito da publicação;

2. Selecione a opção “denunciar publicação”;

3. Clique na opção que melhor descreve como a publicação viola os Padrões da Comunidade. Nesse caso, selecione a opção “Golpe, fraude ou informação falsa”;

4. Neste momento, será questionada qual a opção que melhor descreve o problema. Você deve selecionar a opção “compartilhamento de informação falsa”; 

5. Clique em “enviar” e pronto!

Como denunciar desinformação no Whatsapp?

O WhatsApp não dá a opção de denunciar por desinformação no próprio aplicativo, mas o usuário pode denunciar outro usuário (perfil > desliza até o final da tela > denunciar) ou denunciar uma mensagem específica e enviar um e-mail para o suporte da plataforma. Para denunciar uma mensagem específica:

1. Pressione e segure a mensagem até aparecer o menu;

2. Clique em ‘denunciar’;

3. Selecione se apenas deseja denunciar ou se quer também bloquear o usuário.

O usuário também pode enviar denúncias específicas para o e-mail support@whatsapp.com, detalhando o ocorrido com o máximo de informações possível e até anexando uma captura de tela.

Como denunciar desinformação no TikTok?

1. Selecione a seta que aparece na tela;

2. Selecione a opção “relatar”;

3. Em seguida, aparecerá uma lista de razões para a denúncia, selecione “informações incorretas”;

4. Em seguida, será questionado se é informação falsa sobre a eleição, informações falsas prejudiciais ou se são deepfakes, mídia sintética e mídia manipulada. Selecione a opção que mais se encaixa no vídeo que pretende denunciar;

5. Em seguida, clique em enviar e pronto!

Como denunciar desinformação no Kwai?

1. Selecione a seta que aparece na tela;

2. Selecione a opção “denunciar”;

3. Em seguida, aparecerá uma lista de razões para a denúncia, selecione “Informação falsa”;

4. Em seguida, clique em denunciar e pronto!

Como denunciar desinformação no X (twitter)?

No X (antigo Twitter), não existe uma opção específica para denunciar notícias falsas. No entanto, é possível reportar outros tipos de violações, como SPAM ou falsa identidade. Quando se trata de desinformação, o recomendado é:

1. Clique nos três pontinhos que aparecem no canto direito superior da publicação que você pretende denunciar;

2. Selecione a opção “Solicitar notas da Comunidade” ;

3. Neste momento, você poderá incluir um link para um post do X que explique ou contextualize o porquê de aquele conteúdo ser potencialmente enganoso; 

4. Clique em “concordo e solicitar uma nota” e pronto! 

Como denunciar desinformação no Bluesky?

1. Clique nos três pontinhos que aparecem no canto direito inferior da publicação que você pretende denunciar;

2. Selecione a opção “denunciar postagem” ;

3. Neste momento, você deve selecionar a opção “postagem enganosa”; 

5. Clique em “enviar denúncia” e pronto! 

Aparatos do Estado para denunciar desinformação

Agora que você já sabe quais ferramentas as redes sociais oferecem para denunciar conteúdos falsos e o passo a passo para utilizá-las, é importante conhecer quando e como recorrer ao Estado

Existem situações mais graves em que apenas denunciar nas plataformas pode não ser suficiente. Um exemplo é quando a desinformação coloca a vida ou a segurança de alguém em risco, envolve crimes como calúnia ou difamação, ocorre em contextos eleitorais, ou interfere diretamente no acesso a direitos, como programas sociais e serviços públicos, dentre outros.

Confira abaixo, algumas ferramentas públicas para denunciar desinformação:

FALA.br

O Fala.br é a plataforma do governo federal para registrar denúncias de notícias falsas relacionadas a serviços públicos federais. Para utilizá-la, basta:

  1. Acesse o site e faça login;
  2. Clique em “Nova manifestação” e depois em “Denúncia”;
  3. Descreva o conteúdo detalhadamente e, se possível, inclua prints, fotos ou links;
  4. Envie a denúncia, que será encaminhada aos órgãos competentes para análise.

Delegacias

Quando a desinformação ocorre no ambiente virtual e envolve crimes como calúnia, difamação ou injúria, recomenda-se acionar delegacias especializadas em crimes virtuais, que têm estrutura para investigar e responsabilizar os autores, garantindo proteção às vítimas. 

Caso a sua cidade não disponha de uma delegacia especializada, qualquer delegacia comum também pode receber denúncias desses tipos de crimes.

Contextos eleitorais

Em contextos eleitorais, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) oferecem canais oficiais para receber denúncias de desinformação de cunho político. 

Esses órgãos têm feito parcerias com plataformas digitais, verificando conteúdos suspeitos, criando estratégias específicas de combate e implementando canais de denúncia em redes como o WhatsApp. É uma articulação que reforça a importância de contar com mecanismos institucionais para proteger a integridade do debate público.

Em anos de eleições, é especialmente importante acompanhar o site e as redes sociais do TSE para conhecer as iniciativas disponíveis para denúncia e se manter informado sobre ações de enfrentamento à desinformação. 

O Tribunal também possui um Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação, que, nas eleições de 2024, implementou o Sistema de Alertas de Desinformação Eleitoral (Siade), ferramenta que permitiu a qualquer pessoa relatar fatos inverídicos ou descontextualizados capazes de comprometer o equilíbrio ou a integridade das eleições.

Agora que você já conhece estratégias de verificação e os caminhos para denunciar a desinformação, nossa expectativa é que consiga aplicá-los no seu dia a dia e, sempre que possível, apoiar pessoas que tenham mais dificuldade nesse processo. Afinal, educação e cidadania se constroem de forma coletiva, e combater a desinformação também depende dessa rede de cuidado e responsabilidade. No próximo e último texto da trilha, vamos discutir como a Inteligência Artificial tem potencializado a desinformação e por que esse é um tema tão urgente para o futuro da democracia.

O *desinformante é um projeto midiático realizado pelo Aláfia Lab e tem o objetivo de ser um espaço com informações confiáveis sobre desinformação, analisando o impacto do fenômeno desinformativo na sociedade e discutindo formas de combatê-lo. 

Referências

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Conteúdo escrito por:

Glenda Dantas

Glenda Dantas

Jornalista, ciberativista, pesquisadora e mestranda em Comunicação e Culturas Contemporâneas (PósCom/UFBA). Interessada em cultura digital, governança da internet, estudos de gênero e relações étnico-raciais.
Dantas, Glenda. Guia prático: como identificar desinformação no dia a dia?. Politize!, 19 de setembro, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/como-identificar-desinformacao/.
Acesso em: 19 de set, 2025.

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