Correntes de pensamento político: uma introdução
Social democracia explicada em quatro pontos
O que é socialismo?
Você está aqui
Liberalismo: entenda essa corrente política
Libertarianismo: entenda essa corrente de pensamento!
Comunismo: 4 pontos para entender este conceito
Anarquismo: você conhece essa ideologia?
Progressismo: o que é?
O conservadorismo é um pensamento político que defende a manutenção das instituições sociais tradicionais, como a família, a comunidade local e a religião, além dos usos, costumes, tradições e convenções.
Essa corrente enfatiza a continuidade e a estabilidade das instituições, opondo-se a qualquer tipo de movimentos revolucionários e de políticas progressistas.
Acompanhe o texto para saber tudo sobre o que é conservadorismo!
Veja também nosso vídeo sobre ideologias políticas!
Qual a diferença entre conservadorismo e postura conservadora?
O conservadorismo é o pensamento político enquanto a postura conservadora é a atitude em relação às mudanças políticas (com outras como reacionários, progressistas e radicais).
O conservador, neste último sentido, busca manter a situação política do jeito que está, independentemente do conjunto de ideias a que se aplica. É um termo normalmente aplicável a qualquer pensamento político que esteja no poder.
Um socialista ou um liberal que esteja governando pode ser conservador nesse sentido, pois deseja manter-se no poder e almeja a continuação de suas políticas. Um revolucionário torna-se um conservador depois do sucesso de sua revolução.
O conservadorismo que será abordado aqui é aquele que existe no Brasil e tem diversas semelhanças com o conservadorismo ocidental existente na América Latina, na América do Norte e na Europa. Isso porque todos eles têm como base a doutrina cristã e a adoção, em maior ou menor grau, das ideias políticas liberais.
Mas é importante entender que mesmo o conservadorismo ocidental possui muitas variantes e é difícil identificar um posicionamento político específico. Partidos políticos conservadores podem até ter opiniões divergentes entre si sobre algumas questões.
Valores conservadores
É possível determinar algumas características fundamentais do pensamento conservador ocidental. O conservadorismo tem como seus principais valores a liberdade e a ordem, especialmente a liberdade política e econômica e a ordem social e moral.
O conservador acredita que há uma ordem moral duradoura e transcendente, que no caso do conservadorismo ocidental é baseada na doutrina cristã e tem na religião a sua base.
O conservadorismo valoriza a diversidade típica do individualismo e rejeita a igualdade como um objetivo da política.

Essa corrente não é um conjunto de ideias políticas definidas, pois os valores conservadores variam conforme os lugares e com o tempo.
O conservador, assim como o libertário, entende que a igualdade político-jurídica é suficiente para garantir a igualdade necessária entre as pessoas. Qualquer desigualdade material ou de resultado é consequência inevitável das diferenças naturais entre os indivíduos, de seus esforços e de suas decisões.
Na esfera política, o conservador procura preservar as instituições políticas e sociais que se desenvolveram ao longo do tempo sendo fruto dos usos, costumes e tradições.
O conservadorismo entende que as mudanças e o progresso são necessários para manter uma sociedade saudável, mas essas mudanças devem ser cautelosas e graduais.
Assim, a política do conservador é a política da prudência, sempre preferindo manter e melhorar as instituições estáveis e testadas do que tentar rupturas para implantar modelos de sociedade e instituições advindas da razão humana.
Essa postura coloca o pensamento conservador em conflito com ideologias essencialmente reformistas, que almejam criar uma sociedade “perfeita” pelo uso da política. Para o conservador, a política é a “arte do possível” e não um meio para se chegar a uma sociedade utópica.
Nas esferas social e moral, o conservador defende a manutenção dos usos, costumes e convenções, além de uma estrutura social e hierárquica tradicional. Na cultura, o conservadorismo valoriza as manifestações locais e uma identidade nacional.
Nessas esferas, os conservadores são coletivistas, pois entendem que toda a comunidade deve adotar certos padrões de comportamento e certos valores para garantir uma coesão social e a identificação dos indivíduos com a comunidade.
Assista ao nosso vídeo sobre o Conservadorismo no Brasil
Conservadorismo na economia
O conservadorismo defende o individualismo na esfera econômica. A defesa da propriedade privada também é vista como uma questão intimamente ligada à liberdade, pois não é possível ser livre se os meios de sobrevivência de um indivíduo estão nas mãos de outros, dos quais acaba se tornando dependente.
Entretanto, a defesa de uma economia de livre mercado não é assunto de consenso entre os conservadores de vários países do mundo, inclusive os brasileiros.
Mesmo os conservadores que defendem a globalização e a abertura dos mercados ao capital internacional tentam manter essa integração somente no âmbito econômico e financeiro, protegendo a cultura e a identidade nacionais de influências externas.
Como o conservadorismo costuma ter fortes traços de nacionalismo, as ideias econômicas acabam sendo influenciadas e, assim, boa parte dos conservadores nacionais preferem políticas econômicas desenvolvimentistas, nacionalistas e protecionistas.
Esse fato não impede que políticos conservadores sejam chamados de neoliberais na América Latina, o que não é uma designação correta geralmente, visto que muitos conservadores advogam políticas intervencionistas no âmbito econômico.
Quais são as principais críticas ao conservadorismo?
A crítica mais comum ao conservadorismo é a sua ideia de que toda a sociedade deve acatar o código moral e a estrutura social tradicionais, o que é uma visão conflituosa com as ideias progressistas.
Herbert Marcuse, no livro Eros e Civilização, critica o moralismo conservador por reprimir a liberdade individual e o prazer em nome da ordem social, por exemplo.
A moral tradicional, para ele, carrega uma sabedoria histórica que não pode ser substituída por projetos abstratos de libertação.
Para os seus críticos, é uma contradição o conservadorismo defender indivíduos autônomos na esfera econômica enquanto defende a aceitação de padrões na esfera social e moral.
Nesse sentido, Karl Polanyi, em A Grande Transformação, mostra como a liberalização econômica cria instabilidade social, que os conservadores tentam resolver com rigidez moral.
Já Patrick J. Deneen, em Why Liberalism Failed, argumenta que a autonomia econômica e moral promovida pelo liberalismo, mesmo quando dentro da perspectiva do conservadorismo, levou à fragmentação das comunidades e à erosão das tradições. Para Deneen, a verdadeira liberdade não está na ausência de vínculos, mas no pertencimento a instituições enraizadas, como a família, a religião e a cultura local.
Outra crítica comum ao conservadorismo é sua rejeição ao multiculturalismo e ao cosmopolismo cultural, comuns nos grandes centros urbanos. Para o conservador, uma cultura local ou nacional compartilhada por todos os membros da sociedade é uma condição necessária para criar coesão social e espírito de comunidade.
Yoram Hazony, em The Virtue of Nationalism, oferece uma defesa articulada dessa posição. Ele argumenta que a valorização da identidade nacional é essencial para garantir a autodeterminação dos povos e a estabilidade política.
Segundo Hazony, sociedades coesas precisam de um núcleo cultural comum, não como forma de excluir, mas como fundamento da solidariedade e da responsabilidade mútua. Para ele, o multiculturalismo radical pode minar os laços comunitários ao diluir valores compartilhados.
Na esfera política, o principal embate entre os conservadores e seus adversários ocorre em torno do valor da igualdade. Os conservadores, assim como os liberais, elogiam a diversidade e entendem que não é papel do Estado promover políticas igualitárias para além da igualdade político-jurídica.
Mas os seus opositores argumentam que não basta promover uma igualdade político-jurídica de cunho formal se esta não se concretiza pela igualdade material e de resultados.
Thomas Piketty, por exemplo, demonstra como as desigualdades econômicas se perpetuam sem ação redistributiva do Estado. Além disso, critica o conservadorismo por manter privilégios patrimoniais.
Na mesma linha de pensamento, os conservadores entendem que a assistência estatal deve limitar-se somente aos que realmente precisam dela e não deve se estender a toda a vida das pessoas, como é proposto pelo Estado do Bem-Estar Social.
Essa visão atrai as críticas daqueles que entendem que o Estado deve prover uma rede de segurança aos cidadãos durante todas as fases da vida e que cubra um grande leque de situações.
Patrick Deneen e Hazony, nesse ponto, argumentam que uma assistência estatal extensa pode enfraquecer o senso de responsabilidade pessoal e a solidariedade comunitária.
Ambos defendem uma rede de apoio baseada em instituições intermediárias (família, igrejas, vizinhanças), e não num Estado centralizador que substitui essas relações por burocracias impessoais.
E agora, já sabe tudo sobre conservadorismo? Se ficou alguma dúvida, deixe nos comentários!
Publicado em 6 de janeiro de 2017. Atualizado em 25 de abril de 2025.
Referências
- RAMALHO, José Ricardo. A construção social do conservadorismo no Brasil: apontamentos para uma abordagem sociológica. Economia e Sociedade, Campinas, v. 30, n. 2 (82), p. 569-589, maio/ago. 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ecos/a/gtvwjhhpkWBtPqnYzV4fmPN/. Acesso em: 24 abr. 2025.
- Livro Urgente da Política Brasileira
- G1 – Em livro provocador, Roger Scruton explica as ideias conservadoras
- SOUZA, Jessé de. A formação do pensamento conservador brasileiro: a ideologia da competência e a naturalização da desigualdade social. Revista Subjetividades, v. 11, n. 1, 2011. Disponível em: http://www.revispsi.uerj.br/v11n1/artigos/html/v11n1a08.html. Acesso em: 24 abr. 2025.
- POLANYI, Karl. A grande transformação
- HAZONY, Yoram. The virtue of nationalism
3 comentários em “Conservadorismo: entenda o conceito em 4 pontos”
Gostei! Parabéns pelo texto!
Simplesmente nega todos os valores de solidariedade, compaixão e misericórdia proposto por Jesus de Nazaré e não só isso é o conservadorismo responsável por todo o processo de escravidão nas Américas e pela exterminação indígena dos peles vermelhas nos Estados Unidos de 1837 a 1843 assassinando 10 milhões de indígenas em nome de seres calvinistas supostamente superiores.
Tanto edmund Burke como outras referências conservadoras refutam veementemente todos os valores de Jesus de Nazaré como solidariedade misericórdia. Ascensão social da classe trabalhadora também é refutada pelos conservadores que ajudaram a criar o século 21 nomes famosos como Adolf Hitler, Benito Mussolini, Francisco Franco Salazar em Portugal sem contar todas as ditaduras da América do Sul em nome de Jesus obrigou-se até práticas sexuais entre cachorros e seres humanos.