O que você sabe sobre a crise política no Peru?

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Protestos no centro de Lima em 12/12/2022. Fonte: Reprodução/Internet

O Peru vem enfrentando uma forte instabilidade política por um longo período. Nos últimos 30 anos, todos os presidentes peruanos são investigados ou condenados por corrupção. Este passado díficil do Peru continua a atormentar o país no final de 2022 e início de 2023.

Neste conteúdo, a Politize! esclarece a você esta nova crise política no Peru e você fica sabendo o que o país latino-americano está enfrentando.

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Surge a crise política no Peru

Para compreender o que motivou a revolta popular no Peru e o estopim da crise política, é importante saber que neste país o sistema de governo é o Semipresidencialismo. Em resumo, esta forma de regência é caracterizada pela figura do Presidente eleito pelo povo e pelo Primeiro Ministro formando o poder executivo.

Neste sistema, o Presidente possui a função de chefe de estado, isto é, ele representa o poder do povo, tem funções como dissolver o parlamento, nomear e demitir o primeiro ministro, cuidar da política externa do país, chefiar as forças armadas, vetar leis e dentre outras atribuições.

Já o Primeiro Ministro, é o chefe de governo. Ou seja, cabe a ele a liderança e a formulação de políticas públicas, econômicas, sociais e administrar assuntos internos.

Saiba mais em: Semipresidencialismo – o sistema de governo em 5 pontos!

Em 2022, o então presidente Pedro Castillo, em uma tentativa de golpe, dissolveu o congresso e decretou um governo de emergência. Isso ocorreu em meio à votação do terceito processo de impeachment que o parlamento procurava imputar a Castillo.

Entretanto, esse mesmo congresso – juntamente com o primeiro ministro – ignorou a atitude presidencial, aprovou o impeachment e o destituiu do cargo. Logo em seguida, Castillo foi preso por tentativa de golpe, incapacidade moral e corrupção.

Com a prisão do ex-presidente, assume em seu lugar sua vice Dina Boluarte. Sem apoio do congresso e principalmente da população, inicia-se uma onda de protestos no Peru.

A reação popular

A população peruana é fortemente polarizada. As crises que o país andino frequentemente enfrenta são reflexos do embate entre a capital Lima e as províncias pobres, especialmente as da região sul. Diante a carceragem de Castillo – um homem o qual representava os habitantes rurais, pobres e indígenas e disseminava um discurso contra as elites – protestos contínuos tomaram conta das regiões.

Veja também: O que é polarização e por que é prejudicial à democracia?

Os primeiros atos de manifestação contra Dina Boluarte incluíram o bloqueio de rodovias e estradas que levaram à escassez de mantimentos básicos de alimentação e higiene no país. A onda de indignação também tomou conta das ruas e praças da cidade, que resultou em uma forte ofensiva das forças policiais e militares em face aos manifestantes que infelizmente derivou em mortes e feridos.

Quem são os manifestantes?

A maior parte dos manifestantes peruanos são de origem indígena, pobres e população do meio rural. Estes manifestadores, no início, exigiam apenas direitos e atos que beneficiavam a sua própria classe. Entretanto, com os protestos ocorrendo há dois meses e diante novos pedidos que beneficiavam a toda a população peruana independente da sua classe social e econômica, outras pessoas da elite aderiram a onde de manifestações.

Pedidos dos protestos

No primeiro momento, como a maioria dos protestantes estavam a favor de Castillo, eles exigiam sua libertação da prisão. E ainda, a destituição ou renúncia da atual presidente Dina Boluarte. A baixíssima aprovação popular de Dina foi ocasionada pela forte e violenta presença da polícia nos protestos além de ela atribuir aos manifestantes a característica de ‘terruqueo’. Este termo utilizado pelos conservadores de direita peruano consiste em atribuir aos manifestadores a imagem de vândalos e terroristas, justificando o uso da violência policial para proteger a população peruano de propostas de esquerda.

Em seguida, houve fortes reinvindicações em relação:

  • À dissolução do Congresso por não representarem corretamente a população pobre e rural do Peru;
  • A novas eleições gerais diretas;
  • À convocação de uma Assembleia Constituinte para promulgar uma nova Constiuição.

O resultado

Em relação às eleições, a regra seria que ela ocorreria em abril de 2026. As manifestações almejavam a antecipação das eleições, os manifestantes demandavam que a votação ocorresse em outubro de 2023 e o segundo turno em dezembro de 2023. Porém, após reuniões o congresso decidiu que as eleições presidenciais deverá ocorrer em abril de 2024, uma resolução que agradou aos manifestantes.

Devido aos fortes movimentos populares e à atuação violenta das forças militares e policias sob o comando de Dina Boluarte, foi declarado toque de recolher e imobilização social obrigatória para evitar mais tragédias e mortes. Esta imobilização está em vigor em 9 das 25 regiões do Peru; ela determina que durante o período de 30 dias, os habitantes das regiões demarcadas devem ficar confinados em suas casas entre 20h e 04h da manhã.

Fim de uma crise política ou início de um novo capítulo?

O grande número de manifestações, barreiras em estradas e vias públicas, a forte resposta da polícia e do exército peruano para conter os protestantes, resultou no fechamento do aeroporto local da região sul andina. Este ato de fechar temporariamente os acessos ao sul do Peru foi justificado pelo governo federal como forma de proteger o patrimônio histórico daquela localidade, garantir a segurança de turistas e evitar a falta de produtos alimentícios e higiênicos básicos devido aos bloqueios nas rodovias.

Cidade inca de Machu Picchu, no Peru. Foto: Go Ga/GettyImages

As cidades de Cusco e Machu Picchu são municípios da região sul do Peru com grande expressão na área do turismo internacional devido as suas belezas naturais e patrimônios históricos da cultura Inca. Com os meios de transportes barrados pelo governo, intensos protestos e ausência de insumos, a localidade viu uma queda na circulação de dinheiro nos períodos mais lucrativos como dezembro e janeiro (período de Natal, ano novo e férias).

Montanha de Vinicunca ou de Sete Cores, a 100 km de Cusco. Fonte: Go Ga/Getty Images.

Com o governo federal liberando o acesso àquela região turística, aliado com um acordo em relação as novas datas da eleição e controle das manifestações por meio da imobilização social obrigatória, surgiu uma pequena esperança que seria possível controlar a crise política do país. Porém, novos acontecimentos no país podem influenciar que as manifestações continuem a ocorrer.

Nas últimas semanas, a região sul do Peru está lutando para se restabelecer de um grande desastre natural. Fortes chuvas na área ocasionaram enchentes e deslizamento de terra, resultando em mortes e cerca de 12 mil pessoas desabrigadas.

Outra situação está relacionada a um ato pacífico organizado no dia 10 de fevereiro de 2023 por peruanos, em memória às vítimas falecidas nos protestos de dezembro e janeiro. Uma reunião que seria marcada por reflexão e homenagens foi transformada em confronto com a polícia produzindo mais mortes.

Manifestantes fizeram ato em memória aos mortos no mês de janeiro em Juliaca no Peru. Fonte: Reprodução/Internet.

No momento do ato pacífico, alguns manifestantes tentaram invadir o Aeroporto Inca Manco Cápac e acabaram se fundindo com a passeata in memorian. A polícia precisou ser acionada para controlar a situação, o que infelizmente terminou em tragédia.

Frente à dificuldade do governo nacional em oferecer uma assistência adequada aos municípios afetados pelas fortes chuvas e a violenta repressão na manifestação do dia 10, novas ondas de protestos podem surgir no país.

E aí, conseguiu entender a crise política no Peru? Deixe suas dúvidas ou opiniões nos comentários!

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Sul-Mato-Grossense que acredita na Educação como instrumento efetivo de mudança social e que luta pela ideia de torná-la acessível às mentes de diferentes gerações.

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30 abr. 2024

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