Foto de Emmett Till
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Caso Emmett Till: o crime de linchamento e ódio que abalou os EUA

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Menino gritando em um megafone em um protesto.
Imagem: freepik.

Em março de 2022, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assinou a lei Emmett Till, que classificou o linchamento como crime de ódio no país. A assinatura foi feita após mais de um século de luta do movimento negro e defensores dos direitos civis.

No país, os linchamentos estão ligados diretamente à herança racista que, por anos, promoveu diversas execuções contra a população negra sem a devida punição aos agressores.

A lei leva o nome de um jovem assassinado em 1955, aos 14 anos de idade, na cidade de Money, Mississipi, após ter supostamente assobiado para uma mulher branca, Carolyn Bryant.

Sua morte gerou enorme repercussão nos Estados Unidos, contribuindo para o crescimento do movimento pelos direitos civis. Vamos conhecer mais sobre essa história?

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O caso que expôs a brutalidade da segregação racial

Nascido em 25 de julho de 1941, Emmett morava com a mãe, Mamie Till Bradley, em Chicago. Durante as férias de verão em 1955, ele foi visitar os tios e primos em Mississipi, onde as leis de segregação racial eram muito mais rígidas com a população negra.

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No dia 24 de agosto, o menino estava com os primos dentro de um mercado quando supostamente assobiou para uma mulher branca de 21 anos, chamada Carolyn Bryant. O que sucedeu na loja naquele dia ainda é controverso, mas relatos apontam que Till teria dito “bye, baby” (“tchau, querida”, em tradução livre) antes de deixar o local.

Após a situação, o jovem foi procurado por amigos e familiares de Carolyn. Em uma noite, o grupo invadiu a casa dos seus tios e o levaram a um galpão, onde foi torturado, baleado na cabeça e jogado no rio Tallahatchie. O corpo mutilado foi encontrado três dias depois após o sequestro.

Pelo corpo estar inchado e desfigurado, uma das maneiras que a mãe Mamie provou que aquele era o corpo de filho foi um anel de prata que pertencia ao pai de Emmett.

Após ser reconhecido, a recomendação era que o caixão ficasse fechado, por conta da situação do corpo. No entanto, a mãe insistiu em deixar o caixão aberto para que as pessoas tirassem fotos e vissem o que havia acontecido com o seu filho. Esse ato de coragem gerou grande repercussão.

“Esse é o cheiro do corpo do meu filho. Fedendo a ódio racial. Eu quero que o mundo veja o que fizeram com meu bebê”, disse Mamie aos jornais da época.

O julgamento dos acusados começou em 19 de setembro de 1955, 22 dias após o assassinato. No dia 23 de setembro, durante uma sessão de 67 minutos, o júri que era composto majoritariamente por homens brancos, absolveu os acusados.

Após o encerramento do caso, a revista Look pagou aos irmãos Bryant US$4.000 para que contassem a verdadeira história. Sabendo que não poderiam ser julgados novamente, os irmãos confirmaram o crime.

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O que diz a nova lei

Duas mãos entrelaçadas.
Imagem: freepik

A lei Emmett Till foi a primeira legislação dos Estados Unidos que considera o linchamento como crime de ódio federal e foi aprovada pelo Congresso americano em 7 de março. Na ocasião, o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou:

“O linchamento é uma prática de puro terror, para impor a mentira de que nem todos, nem todos, pertencem à América, nem todos são criados iguais. O ódio racial não é um problema antigo, é um problema persistente. O ódio nunca vai embora. Ele apenas se esconde. Dando apenas um pouco de oxigênio, ele volta rugindo, gritando. O que o impede somos nós, todos nós temos que pará-lo.”

A lei anti-linchamento foi aprovada na Câmara dos Representantes por 422 votos a 3 no início do mês, depois do Senado aprovar por unanimidade. Com a lei, as autoridades terão mais ferramentas para julgar como crime de ódio casos de conspirações que resultem em tortura e morte. A pena máxima será de 30 anos de prisão. O autor da lei foi o democrata Bobby Rush.

Em agosto, o FBI disse que o número de crimes de ódio nos Estados Unidos subiu no ano anterior para o nível mais alto em mais de uma década, impulsionado por um aumento nos ataques contra vítimas negras e de ascendência asiática.

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A tipificação de “crime de ódio” é uma categoria separada dos delitos que podem ser punidos, nos quais as vítimas têm em comum suas características pessoais: raça, religião, sexo.

Vale ressaltar que no Brasil, de acordo com o livro ‘Linchamentos: a justiça popular no Brasil’ (2015), escrito pelo sociólogo José de Souza Martins, nos últimos 60 anos, cerca de um milhão de brasileiros participaram de ações de justiçamento de rua.

Os responsáveis por um linchamento podem ser punidos, de acordo com o Código Penal brasileiro, por tentativa de homicídio, homicídio ou lesão corporal. O que acontece, no entanto, é que quase ninguém é punido.

O ativismo e a história de luta da mãe

Após a repercussão do caso, Mamie, mãe de Emmett Till, se tornou ativista e palestrante pela Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (“National Association for the Advancement of Colored People”, a NAACP).

Em seu trabalho, ela também focou na educação, já que defendeu crianças que viviam em situação de vulnerabilidade social por mais de 40 anos, além de lecionar no sistema escolar público de Chicago ao longo de 23 anos.

Mamie também fundou “The Emmett Till Players”, um grupo de teatro que apresentava discursos famosos de líderes dos direitos civis, como Martin Luther King Jr, para inspirar esperança e união ao seu público.

Mamie Till morreu de insuficiência cardíaca aos 81 anos em 6 de janeiro de 2003 e foi enterrada perto de seu filho no Cemitério Burr Oak, onde seu monumento diz: “Sua dor uniu uma nação.”

Sua história foi retratada no filme “Till – A Busca por Justiça”, sendo interpretada por Danielle Deadwyler e com Whoopi Goldberg, Haley Bennett e Jalyn Hall no elenco.

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Conteúdo escrito por:
Graduada em jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM). Homenageada no 1º Prêmio Neusa Maria de Jornalismo e repórter da periferia.

Caso Emmett Till: o crime de linchamento e ódio que abalou os EUA

22 abr. 2024

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