Folclore: a cultura popular que reflete a identidade de um povo

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Folclore. Imagem: Plenarinho/ Câmara dos Deputados.
Folclore. Imagem: Plenarinho/ Câmara dos Deputados.

Quem nunca ouviu a canção “Nana Neném” e se questionou sobre a aparência dessa tal de Cuca? Ou, talvez, tenha ouvido falar que alguém “fuma como uma caipora” ou que o boto cor-de-rosa é, na verdade, um belo galanteador disfarçado. Caso não conheça uma dessas lendas do folclore brasileiro, pelo menos deve estar familiarizado com alguns personagens icônicos como o Saci Pererê, Iara – a mãe d’água – ou o Curupira.

Essas e muitas outras criaturas fazem parte da identidade cultural brasileira, que é muito rica, por sinal. Entretanto, o folclore não é invenção do Brasil e até a própria palavra tem origem estrangeira. O mais interessante de tudo é que inúmeras nações com diferentes culturas que nem possuíam conhecimento umas das outras tinham alguma forma de folclore.

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Quem descobriu o “Folclore”?

Antes de tudo, importa dizer que a palavra é um neologismo e vem da junção dos termos em inglês “Folk” e “Lore”. Em uma tradução para português significa “sabedoria do povo”. Logo, inclui manifestações artísticas, costumes e conhecimentos de uma população passados de geração para geração até se formar uma identidade. Por analisar o comportamento social e os costumes intergeracionais pode-se dizer que o folclore é um ramo de estudo antropológico.

Não só as lendas compõem o folclore. Ele abrange música, danças, superstições, brincadeiras e até comemorações festivas de uma região ou comunidade. A cultura popular é sua raiz, mas a valorização da sabedoria das massas e a documentação não era muito usual ou, se era, não tinha grande notoriedade até o século XVIII.

Então surgiram os irmãos Grimm, que tinham uma vasta curiosidade sobre literatura, em especial, poesia tradicional alemã. Entre as métricas e rimas, histórias fantásticas eram ali descritas. Logo, com a junção de vários elementos, tornou-se possível reconhecer uma identidade que constituía a cultura popular alemã.

Ao relatar essa pesquisa e a incrível descoberta aos versados no assunto, o interesse correu o mundo. Paulatinamente, outras nações buscaram reconhecer suas próprias tradições, histórias e costumes populares. A compilação dos irmãos Grimm, que resultou na escrita de contos sobre fábulas faladas, ganhou o mundo e continua impactando diferentes gerações.

Dessa forma, o termo folclore, conhecido primeiramente pela obra arqueólogo Ambrose Merton em carta à revista literária semanal de Londres “The Atheneum”, passou a ser usado para descrever essa unidade cultural de costumes, superstições, ritos e artes populares conhecidas.

O Folclore no Brasil

Com um território tão vasto e população plural, o Brasil detém uma expressiva cultura popular e, consequentemente, um rico folclore. Muitos dos mitos conhecidos hoje são oriundos das tribos indígenas, como a lenda da Iara e da Vitória Régia.

Devido à chegada do homem branco e ao desmatamento excessivo, contos sobre protetores da floresta e castigadores de exploradores da mata ganharam notoriedade, como o do Curupira, Boitatá e a Caipora. No Nordeste, a proteção das florestas ficou por conta da Comadre Fulozinha, enquanto o amedrontador das crianças era o “papa-figo”. O bicho-papão, por sua vez, foi uma herança da colonização portuguesa e o lobisomem, uma adaptação dos contos europeus.

A influência cristã e a luta abolicionista também tocaram as lendas. Inclusive, no século XIX, a história do “Negrinho do Pastoreio” causou grande comoção no país, influenciando o pensamento anti-escravista. Essa lenda e a do Saci Pererê têm origem e maior destaque no Sul do Brasil.

O menino de uma perna só, para quem não sabe, é uma junção da cultura africana, indígena e portuguesa, que até hoje consegue ser adaptado para obras atuais e diverte diferentes gerações. A propósito, você sabia que o gorro do saci é, na verdade, um píleo, muito usado na Grécia na Antiguidade?

Leia mais: Existem palavras de origem africana na língua portuguesa? Conheça!

Festas cheias de Folclore

Muitos desses mitos ganharam tanta importância que deram origem a comemorações. O Boi-bumbá, por exemplo, tem o seu próprio festival folclórico anual em Paratins-AM. Além disso, festas tradicionais católicas passaram por adaptações culturais. Hoje, estes festejos têm características muito fortes de identidades locais. Uma boa referência dessas modificações é a procissão do Fogaréu em Goiás, que ocorre na quarta-feira da Semana Santa.

As danças são muito presentes em festivais e as caracterizações de vestimentas são, de fato, resgatadas. Dessa forma, muitos dos trajes tradicionais não mais utilizados hoje em dia são apresentados. Isso dá ao espectador o gostinho de apreciar a história em movimento, representada por descendentes de uma tradição.

Em muitas expressões culturais, a combinação de roupas, músicas, instrumentos, danças e comemorações é essencial para a contextualização. Maracatu é um exemplo disso, pois, ao contrário do que muitos pensam, não se trata apenas de um ritmo. Sua manifestação artística é considerada tanto dança quanto música, arte, sincretismo religioso e até um ritual.

Várias das músicas utilizadas para as manifestações culturais são reproduzidas em instrumentos tradicionais, desenvolvidos na região. A siriri, dança popular do centro-oeste, é coreografada ao som do ganzá do mocho e da viola de cocho. Os movimentos corporais transmitem a ideia de respeito, amizade e harmonia, motivo pelo qual também é chamada de “dança-mensagem”.

Escola Educação – Folclore da região centro-oeste.

Apesar de grandes repressões, festividades de origem não-católicas conseguiram sobreviver ou ganhar novos contornos. Um bom exemplo é a Festa de Iemanjá, que hoje é oficialmente celebrada no mesmo dia de Nossa Senhora dos Navegantes – 02 de fevereiro. A comemoração conta com um verdadeiro ritual de oferendas em direção ao mar, principalmente no estado da Bahia.

Sem registros escritos e visuais, o Folclore se perderia

Sem dúvidas, a documentação foi importantíssima para o Folclore Brasileiro ser valorizado e se tornar popular hoje em dia. A relevância de autores, músicos e artistas brasileiros nesse processo é incontestável.

O Saci Pererê ganhou uma fama de grandes proporções por meio da obra de Monteiro Lobato e do quadrinista Ziraldo. Atualmente, ele é um dos personagens da série “Cidade Invisível”, da Netflix. Enquanto o Negrinho do pastoreio apareceu em muitas obras como a de Alberto Coelho da Cunha, a de João Simões Lopes Neto. Anos depois, se fez presente até no livro “Como Nasceram as Estrelas” de Clarice Lispector. Com o advento do Modernismo, histórias populares como essas ganharam força.

Veja também nosso vídeo sobre educação e cultura!

O Modernismo e o Folclore

No início do século XX, o folclore brasileiro passou a ser conhecido e admirado mundo afora. A contribuição do compositor erudito Heitor Villa-Lobos foi uma peça fundamental para a difusão da nossa cultura popular. Isso se deve ao fato de sua obra unir componentes do folclore à música clássica de forma magistral.

Villa-Lobos viajou por diversos lugares do Brasil como caixeiro viajante, artista, instrumentista e adquiriu vasto conhecimento sobre os sons, instrumentos e músicas de cada região. Seu fascínio pelos movimentos populares fez com que muitos elementos da sua obra refletissem o Brasil de diversas formas.

A participação na Semana da Arte Moderna foi definitiva para que conseguisse influência e projeção a nível internacional. Em Paris, com a ajuda de Tarsila do Amaral, o compositor transitou por grandes círculos sociais de música clássica. A sua contribuição foi tão grande para a notoriedade do Brasil no exterior que o Dia Nacional da Música Clássica é comemorado na data do seu nascimento.

Entretanto, Villa-Lobos não foi o único artista que se destacou na Semana da Arte Moderna por utilizar de componentes do Folclore. Mário de Andrade trabalhou como pesquisador de elementos folclóricos no evento. Sua obra enquanto escritor ressalta e reforça a importância da cultura popular.

Devido a tantos movimentos a favor da proteção do folclore, em 1940, a Unesco (entidade vinculada à ONU) recomendou o estudo e a preservação do folclore nacional. Tal incentivo resultou na criação da Comissão Nacional do Folclore no ano de 1947. Trata-se de uma entidade governamental dedicada ao fomento, estudo e conservação do tema.

Com isso, diversos congressos e eventos são feitos até hoje no Brasil. As finalidades dos encontros são, entre outras, resguardar, incentivar e reconhecer este patrimônio imaterial da história do país.

Confira também nosso conteúdo sobre as leis de incentivo à cultura no Brasil: Leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo: impacto cultural?

A proteção do Folclore hoje em dia

Graças a tantos movimentos em favor da valorização da cultura, muitas das manifestações folclóricas são respeitadas e reverenciadas.

Para isso, muitos mecanismos foram e são implantados para favorecer a conservação do patrimônio imaterial do Brasil. Em Pernambuco, por exemplo, foi inaugurado em 2014 um espaço cultural dedicado à pesquisa e à difusão da dança e da música de Frevo. Já no Rio de Janeiro, podemos encontrar o Centro Nacional do Folclore e Cultura Popular. O espaço desenvolve e executa programas e projetos de estudo, pesquisa, documentação e difusão de expressões dos saberes do povo brasileiro.

Além disso, em comemorações festivas regionais e nacionais como Carnaval e São João, vários ritmos, danças e fantasias são testemunhados por milhões de pessoas.

Veja também nosso vídeo sobre Cultura do Carnaval!

Quanto mais essas manifestações folclóricas são valorizadas pelo grande público, maior é o incentivo econômico, social e moral para que se dê continuidade a elas. Tal notoriedade é de suma importância para a conservação, o fomento e o aprimoramento cultural. Afinal, a cultura não é meramente um estudo do passado. Ela acontece e evolui todos os dias.

Espero que o texto tenha ajudando a entender um pouquinho sobre o folclore e sua origem.

Será que tem mais alguma lenda, dança ou festa que também merecem ser mencionadas? Se tiver, então comente para contribuir com este conteúdo que é ilimitado e fala muito sobre nossa história. Obrigada por chegar até aqui e até a próxima!

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Natural de Recife, jurista, especialista em Auditoria Ambiental e Direito Público, faz hoje 2ª graduação em Marketing. É apaixonada por escrever e pesquisar desde muito cedo, acredita que, através da comunicação adequada, qualquer interesse e empatia podem ser despertados se a ideia for bem direcionada.

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16 abr. 2024

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