Grandes Navegações: o que foi esse período?

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Prepare-se para uma viagem no tempo! Neste texto, você vai entender como as Grandes Navegações mudaram o rumo da história, conectando povos, culturas e continentes.

Acompanhe a leitura e descubra os motivos, os protagonistas e os impactos desse período que transformou o mundo, cujas consequências ainda refletem na sociedade atual.

O que foram as Grandes Navegações?

As Grandes Navegações, ocorridas entre os séculos XV e XVII, foram um fenômeno histórico marcado pela expansão marítima europeia, impulsionada por motivações econômicas (busca de novas rotas oceânicas comerciais), políticas, sociais e religiosas.

Ilustração de caravelas navegando em mar aberto. Texto: Grandes Navegações: o que foi esse período?
Caravelas. Imagem: Gerado por IA.

Elas aconteceram graças a avanços tecnológicos como a caravela e a bússola, lideradas inicialmente por Portugal e Espanha e, mais tarde, por holandeses, ingleses e franceses.

Neste mesmo período iniciava-se o Renascimento, onde há uma relação intrínseca entre ambos os fenômenos, como, por exemplo, a renovação da geografia a partir da visão europeia (BAUAB; MAGUELNISKI, 2024).

Sob a ótica da história econômica e social, esse processo teve impactos na reconfiguração do mundo, promovendo a integração de mercados, a exploração de novos territórios (Era das Descobertas) e a formação de um sistema global de trocas.

Contexto histórico das Grandes Navegações

As Grandes Navegações transformaram profundamente o mundo a partir do século XV. Até então, os europeus conheciam somente a Eurásia (Europa e Ásia) e a África. Com as expedições marítimas, descobriram o Novo Mundo (as Américas).

Neste período, enquanto a Europa expandia-se maritimamente, impérios como o Ming (China), Otomano e Mogol consolidavam-se na Ásia. (BRAUDEL, 2009; GRUZINSKI, 2014).

Fatores que impulsionaram as Grandes Navegações

As Grandes Navegações (séculos XV–XVII) foram motivadas por uma combinação de fatores econômicos, políticos, tecnológicos, sociais e religiosos.

Estes fatores logo impulsionaram as buscas por metais preciosos, especiarias e outros produtos de alto valor comercial. A expansão do comércio e das novas rotas, porém, teve altos custos provocados pelas guerras e disputas para ocupar territórios e explorar riquezas. (FAORO, 2012).

De outro modo, podemos entender que a busca por novas rotas comerciais não foi acidental, mas resultado de pressões estruturais e oportunidades tecnológicas. Neste caso, o início das grandes navegações foi protagonizado pelos portugueses e pelos espanhóis.

No começo do século XV, como aponta Darwin (2016), o “reino de Portugal era um Estado pequeno e fraco na periferia atlântica”. O país, porém, possuía uma vantagem estratégica perante as demais regiões europeias: o porto de Lisboa. Ele servia como um “entreposto para o comércio e informações comerciais e para a troca de ideias sobre navegação e marinhagem” (DARWIN, 2016, p. 79). Entreposto era um local de parada e comércio.

Foi a partir dali, daquele importante polo comercial, que partiram as primeiras expedições marítimas portuguesas que ganharam importância histórica. Embora, segundo o historiador Ab’Saber (2008), a expansão ultramarina de Portugal iniciou-se em 1415, no reinado de D. João I, com a expedição que tomou a cidade de Ceuta.

Em seu livro sobre A Época Colonial: do descobrimento à expansão territorial, Ab’Saber (2008) descreve como ocorreram as conquistas territoriais de Portugal no século XV. O objetivo principal, segundo o autor, tanto de Portugal e quanto da Espanha era buscar uma rota comercial alternativa para chegar à Índia.

Isso porque o comércio europeu com Oriente envolvia a compra de especiarias (pimenta, cravo, canela) de alto valor para a elite europeia, mas havia, à época, intermediários Árabes que impunham taxas abusivas e monopólios sobre os produtos, encarecendo, assim, os bens e limitando o acesso dos produtos indianos aos europeus.

Em suas expedições, contornando o continente africano, Portugal criou sua própria rota, entre as décadas de 1460 e 1470, estabelecendo um porto em Mina (atual Elmina, no Gana), onde construiu uma fortaleza destinada ao comércio de ouro (DARWIN, 2016, p. 78). Com os lucros alcançados com esta rota o reino lusitano pôde investir na expansão marítima para alcançar a Índia, seu principal objetivo.

Neste trajeto, Bartolomeu Dias, em 1488 chegou ao cabo da Boa Esperança (antes cabo das Tormentas), Vasco da Gama seguiu o caminho e então conclui o feito, em 1498, quando chegou a Calecute, na costa do Malabar, na Índia. (DARWIN, 2016, p. 78–79)

Antes deste período, rotas comerciais terrestres, fluviais e marítimas já conectavam Eurásia e África, incluindo uma rota regular no Mediterrâneo, Canal da Mancha e o Mar do Norte estabelecida após a Reconquista Cristã da Espanha no século XIII.

Este período reflete a busca por inovação, competitividade, abertura de mercados e geração de riqueza, que foram fundamentais para a consolidação do capitalismo mercantil europeu.

O papel da expansão do comércio e do mercantilismo

A expansão do comércio e a consolidação do mercantilismo (europeu) foram fundamentais para as Grandes Navegações. O comércio foi um dos elementos que impulsionou os países da Europa a investir em novas rotas comerciais.

Elas já existiam por terra e por mar (basicamente pelo Mediterrâneo) entre Europa, Ásia e África, mas era preciso contorná-las para evitar intermediários/mercadores (como árabes, turcos, venezianos) que encareciam os produtos cobrando taxas sobre o valor dos produtos.

Algumas de suas consequências foram as ‘descobertas’ que permitiram, entre outros fenômenos: maior acumulação de riqueza e de metais preciosos (prata e ouro), formação de monopólicos comerciais, exploração colonial, inicio das trocas comerciais para uma escala global.

Neste caso, algumas literaturas apontam que o mercantilismo deu origem ao capitalismo comercial.

A influência da Igreja Católica e do desejo de evangelização

A Igreja Católica teve influência relevante nas Grandes Navegações, tanto como motivadora quanto como legitimadora da expansão marítima europeia. A evangelização foi um dos pilares ideológicos que justificaram a conquista e colonização de novos territórios, especialmente nas Américas, África e Ásia.

No caso de Portugal, coube à religião uma importante responsabilidade “na ampliação dos poderes da monarquia” (AB’SABER, 2008, p. 27). A Igreja legitimou a expansão através de bulas papais, documentos emitidos pelo papa (Dum Diversas e Romanus Pontifex), que autorizavam a conquista e escravização de não cristãos.

Estes documentos deram ‘justificativas’ religiosas para a expansão marítima europeia (interesses mercantis), englobando o colonialismo e o início do tráfico transatlântico de escravos. Nela, o papa concedeu ao Rei português e aos seus descendentes o direito de explorar, conquistar e escravizar perpetuamente povos não cristãos (WILLIAMS, 2012; ADIELE, 2017).

Leia também: Colonialidade e Decolonialidade: você conhece esses conceitos?

Mais tarde, em 1493, o Papa Alexandre VI, também emitiu uma bula papal (Inter Caetera), documento que reservava a Colombo o direito de comandar as expedições e as posses no Novo Mundo em nome do reino espanhol.

O fato demonstra que a Igreja regulava e conferia legitimidade às conquistas territoriais, exercendo considerável influência na política imperial espanhola (The Gilder Lehrman Institute).

Principais navegadores e suas conquistas

Portugal e Espanha foram os pioneiros nas Grandes Navegações devido à posição geográfica favorável e ao investimento em tecnologia náutica. Alguns dos grandes navegadores que ficaram conhecidos na história foram:

Imagem de um leme. Texto: Grandes Navegações: o que foi esse período?
Leme. Imagem: Pixabay.

Bartolomeu Dias (1450–1500)

  • Feito: primeiro europeu a contornar o Cabo da Boa Esperança (1488), abrindo a rota marítima para a Índia;
  • Impacto: demonstrou a conexão entre os oceanos Atlântico e Índico, possibilitando as viagens de Vasco da Gama.

Em 1500, ele participou de uma nova expedição, desta vez comandada por Pedro Álvares Cabral. Durante essa viagem, eles descobriram a costa do Brasil. Porém, o navio de Bartolomeu continuou sua jornada em direção ao Cabo da Boa Esperança, mas não conseguiu chegar ao destino.

No caminho, enfrentaram tempestades fortes que destruíram o navio e fizeram com que toda a tripulação se perdesse.

Durante sua vida Dias, como cosmógrafo, contribuiu para o conhecimento geográfico do mundo (cartografia) e para construções de novos navios capazes de enfrentar o Atlântico.

Cristóvão Colombo (1451–1506)

  • Feito: cruzou o Atlântico em 1492, chegando às Américas (ilhas do Caribe);
  • Impacto: iniciou a colonização europeia do “Novo Mundo” e levou ao Tratado das Tordesilhas (1494).

Saiba mais no texto Cristóvão Colombo: explorador ou conquistador?

Américo Vespúcio (1454–1512)

  • Feito: participou de expedições à América (1499-1502) e propôs que as terras descobertas eram um novo continente;
  • Impacto: seu nome foi usado para batizar o continente (“América”).

Vasco da Gama (1469–1524)

  • Feito: primeiro a chegar à Índia por mar (1498), estabelecendo a rota das especiarias;
  • Impacto: consolidou Portugal como potência comercial no Oceano Índico. Sua liderança transformou-o em um símbolo da capacidade portuguesa de unir estratégia política e inovação náutica.

Pedro Álvares Cabral (1467–1520)

  • Feito: “descobriu” o Brasil em 1500 e consolidou a rota para a Índia.
  • Impacto: iniciou a colonização portuguesa na América. Cabral é retratado na história portuguesa como um comandante estratégico cuja expedição, apesar do desvio para o Brasil, reforçou o domínio português no comércio asiático e ampliou as fronteiras do império ultramarino, marcando o início da presença lusa na América (SOUZA, 1964).

Para complementar sua leitura confira este conteúdo Descobrimento do Brasil em 1500: descoberto ou invadido?

Fernão de Magalhães (1480–1521)

  • Feito: iniciou a primeira circum-navegação do globo (1519-1522), concluída por Elcano;
  • Impacto: comprovou na prática a possibilidade de circunavegação da Terra e ampliou o conhecimento geográfico. Ele faleceu nas Filipinas, mas sua expedição foi concluída por Juan Sebastián Elcano (SOUZA, 1961).

Esses navegadores e suas conquistas foram fundamentais para a expansão europeia e a formação do mundo moderno tal qual o conhecemos hoje.

As inovações tecnológicas na navegação

Os portugueses revolucionaram a navegação no século XV ao combinar três elementos-chave:

  1. Caravelas — navios rápidos e manobráveis que eles aperfeiçoaram;
  2. Instrumentos precisos como bússola e astrolábio;
  3. Mapas detalhados com rotas oceânicas.

Como mostra Souza (1964), esses avanços incluíam:

  • Rotas mapeadas (como a de Vasco da Gama para a Índia);
  • Manuais de navegação (usados por Cabral);
  • Domínio dos ventos e correntes (que levaram ao “descobrimento” do Brasil);
  • Técnicas comprovadas de navegação à vela.

Resultado: Portugal tornou-se a maior potência naval da época, abrindo novas rotas comerciais que conectaram o mundo. Essas inovações não apenas permitiram as Grandes Navegações, mas criaram as bases do comércio global moderno.

Impactos e consequências das Grandes Navegações

O comércio internacional foi transformado, criando rotas globais e aumentando o intercâmbio de mercadorias entre continentes.

As novas rotas marítimas influenciaram as representações cartográficas, transformando a visão europeia sobre o mundo (BAUAB; MAGUELNISKI, 2024).

A colonização e seus efeitos culturais e sociais

As Grandes Navegações (séculos XV-XVII) não apenas expandiram o mundo conhecido, mas desencadearam processos profundos de transformação social, cultural e econômica. Seus principais efeitos foram:

1. Colonização e exploração

  • Dominação territorial: europeus impuseram seu controle sobre as Américas, África e partes da Ásia, explorando recursos naturais (ouro, prata, açúcar) e estabelecendo sistemas coloniais;
  • Escravidão em massa: o tráfico transatlântico de africanos escravizados (séculos XVI-XIX) tornou-se base econômica das colônias, especialmente no Brasil.

2. Impactos demográficos e sociais

  • Extermínio em massa: doenças, guerras e trabalhos forçados reduziram drasticamente a população nativa das Américas;
  • Diáspora africana: milhões de africanos foram trazidos à força para as colônias, alterando permanentemente a demografia do continente americano;
  • Hierarquias raciais: surgiram sociedades estratificadas, onde brancos europeus dominavam indígenas, africanos e mestiços.

3. Intercâmbio e conflitos culturais

  • Sincretismo: houve mistura de tradições (ex: religiões afro-brasileiras, culinária, línguas), mas também imposição violenta da cultura europeia;
  • Impactos significativos: muitas culturas indígenas e africanas foram suprimidas ou adaptadas à força, como nota Fernand Braudel ao falar em “cruzamento de civilizações”.

4. Consequências Ambientais

  • Desflorestação: agricultura em larga escala (cana-de-açúcar, algodão) devastou ecossistemas;
  • Espécies invasoras: animais e plantas foram introduzidos nos novos territórios, afetando biodiversidade local.

Legados

Se as Grandes Navegações conectaram o mundo e impulsionaram a economia global, também legaram:

Avanços tecnológicos e econômicos:

  • Rotas comerciais intercontinentais;
  • Troca de conhecimentos científicos etecnológicos.

Consequências negativas:

  • Escravidão, racismo e colonialismo;
  • Desigualdades sociais persistentes.

Em suma, as Grandes Navegações, ocorridas no contexto do Renascimento, constituíram um fenômeno que promoveu uma transformação profunda nos conhecimentos geográficos, nas representações do mundo e nas concepções acerca do homem e da natureza, instaurando um novo paradigma europeu de exploração, de compreensão e de controle territorial e econômico de âmbito global (BAUAB; MAGUELNISKI, 2024).

E embora tenham causado efeitos negativos sobre populações, por exemplo, como os povos originários no Brasil e África, muitos historiadores destacam que esse período foi responsável pela expansão de conhecimentos geográficos, pelo desenvolvimento da ciência náutica e pela interconexão econômica que moldou o mundo moderno.

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Referências

  • AB’SABER, A. N. A Época Colonial – Do Descobrimento à Expansao Territorial. 16. ed. Rio de Janeiro, Brasil: Bertrand Brasil, 2008. v. 1. (História Geral da Civilização Brasileira, I).
  • BAUAB, F. P.; MAGUELNISKI, D. A Complexidade do Renascimento e as Chamadas Grandes Navegações: : Novas Visões de Natureza, Homem e Espaço. Caderno Prudentino de Geografia, v. 1, n. 46, p. 129–154, 13 jun. 2024.
  • BRAUDEL, F. Civilização material, economia e capitalismo: Séculos XV-XVIII: o tempo do mundo. Sao Paulo: Wmf Martins Fontes, 2009. v. 3.
  • DARWIN, J. Ascensão e queda dos impérios globais 1400-200. Tradução Jaime Araujo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2016.
  • DOMINGUES, F. C. Vasco da Gama’s Voyage: Myths and Realities in Maritime History. Portuguese Studies, v. 19, p. 1–8, 1 jan. 2003.
  • EBSCO.Bartolomeu Dias Rounds the Cape of Good Hope. MAGNAGHI, Russell M. & HORVAT, Marian T. https://www.ebsco.com/research-starters/history/bartolomeu-dias-rounds-cape-good-hope . Acesso em 22/5/25.
  • EBSCO. Bartolomeu Dias. KLINE, James, In Salem Press Biographical Encyclopedia, 2022. https://research.ebsco.com/c/2ed5h2/viewer/html/twjd3nda7z. Acesso em 22/5/25.
  • FAORO, R. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 5. ed. São Paulo, Brasil: Editora Globo, 2012.
  • GENÓFRE, E. M. Cristóvão Colombo e a ação papal. Revista de História, v. 26, n. 53, p. 129–143, 29 mar. 1963.
  • GRUZINSKI, S. As quatro partes do mundo: história de uma mundialização. São Paulo, Brasil: Edusp; Editora UFMG, 2014.
  • SOUZA, T. O. M. DE. A viagem de Fernão de Magalhães e Americo Vespucci. Revista de História, v. 23, n. 48, p. 339–349, 20 set. 1961.
  • SOUZA, T. O. M. DE. A viagem de Pedro Álvares Cabral sob o ponto de vista náutico. Revista de História, v. 29, n. 59, p. 53–65, 29 set. 1964.
  • The Gilder Lehrman Institute of American History. The Doctrine of Discovery 1493: a spotligh on a primary source by Pope Alexander VI. Acesso em 22/5/25.
  • WILLIAMS, E. Capitalismo e escravidão. Editora Companhia das Letras. 2012.
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Conteúdo escrito por:

Keila Cristina Gonçalves Rosa

Mulher, feminista, doutoranda em Ciências da Comunicação na Universidade de Coimbra, Portugal. Mestre em Comunicação e Sociedade pela Universidade de Brasília – UnB. Graduada em Administração de Empresas, com especialização em Marketing. Adoro fotografar por paixão pelas imagens.
Rosa, Keila. Grandes Navegações: o que foi esse período?. Politize!, 30 de junho, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/grandes-navegacoes/.
Acesso em: 30 de jun, 2025.

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