O que é o Humanismo: conceito, origem e características

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Antes de entender o que é o Humanismo, é necessário compreender o contexto histórico da época em que ele surgiu.

A Idade Média tinha uma hierarquia de classes sociais muito rígida. Nessa rigidez e com a decadência do feudalismo, surgiu a burguesia. A palavra burguesia, vem de burgos que significa cidade, e ela era a classe de pessoas que não pertenciam nem à nobreza, nem aos servos.

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Os burgueses trabalhavam no comércio e nas pequenas indústrias. Na época, o comércio estava em desenvolvimento e as pequenas indústrias estavam surgindo. Foram as atividades exercidas pelos burgueses que fizeram as cidades surgirem e se desenvolverem.

Neste contexto, surgiu o Humanismo. Se você quer entender sobre esse movimento e qual o impacto dele na forma de ver e de agir no mundo, continue acompanhando este texto da Politize!

Antropocentrismo X Teocentrismo durante o Humanismo

Na Idade Média não era costume pensar em um mundo que ia além dos feudos. Com as grandes navegações, a visão de mundo foi ampliada, assim como a confiança do homem em sua capacidade de enfrentar o desconhecido e dominar a natureza somente com esforço, coragem e saber, sem precisar da religião.

A religião foi aos poucos desvalorizada e iniciou-se um processo de mudanças que atingiu seu ápice com a chegada do Renascimento.

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Na Idade Média o que dominava era a visão Teocentrista em que Deus era o centro do universo e tudo girava em torno dele e da religião. A partir da mudança de mentalidade que ocorreu com as descobertas dos navegantes, o homem passou a se questionar sobre Deus e a religião.

Foi com todo esse questionamento que surgiu o Antropocentrismo. Nele, o homem passou a ser o centro do universo, aquele que não se considerava mais à imagem e semelhança de Deus.

O Antropocentrismo vê o homem como único responsável por seus pensamentos e ações, sem envolver religião e sem precisar de qualquer tipo de permissão religiosa.

Naquela época, portanto, duas visões de mundo, extremamente importantes, conviveram entre si: a visão teocêntrica e a visão antropocêntrica.

As grandes invenções

Um outro acontecimento importante que ajudou a propagar as novas ideias foi a invenção da imprensa pelo alemão Johannes Gutenberg em 1452.

Apesar dessa novidade só ter chegado a Portugal em 1494, os estudos humanistas que estavam sendo difundidos no restante da Europa, em especial na Itália, chegaram a tempo de mexer com as estruturas portuguesas da Idade Média.

Nesse período também houve o crescimento das universidades por toda a Europa o que ajudou no aprofundamento das pesquisas e do saber. Com a invenção da imprensa esse saber foi divulgado para um público mais numeroso.

A invenção da bússola, e as navegações para expansão comercial e territorial fizeram com que o homem passasse a ter uma visão mais científica e racional das coisas.

Muitos autores gregos, anteriores ao Cristianismo, foram publicados nessa época, o que ajudou a disseminar a forma de pensar e de viver das sociedades clássicas. Essa difusão da cultura grega ficou conhecida como “cultura clássica”.

Nicolau Copérnico divulgou a teoria heliocêntrica na qual o Sol é o centro do universo e Galileu Galilei provou o duplo movimento da Terra.

As grandes navegações e invenções mostraram que o homem não precisava mais de Deus para conseguir o que queria, que tudo era possível com esforço e conhecimento.

Bússola e as grandes descobertas. Imagem: Freepik

Todas essas descobertas e acontecimentos mexeram muito com as estruturas da época e mostraram que muitas ideias que eram difundidas, não eram verdadeiras, o que provocou muitos questionamentos entre a população.

O que é o Humanismo

O Humanismo é a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna ou entre o Trovadorismo e o Renascimento. Surgiu durante o Renascimento Cultural nas cidades de Florença, Roma e Veneza, todas na Itália, com os trabalhos de Francesco Petrarca, Giovanni Boccaccio e Dante Alighieri. Também é conhecido como Humanismo Renascentista e deu origem aos estudos humanistas.

O Humanismo Italiano foi muito influenciado pela cultura clássica por causa da forte relação da Itália com essa cultura. Os humanistas italianos estudavam a gramática, poesia, história, retórica e filosofia moral.

Com a criação das universidades, obras importantes que antes eram inacessíveis, foram traduzidas enriquecendo ainda mais o conhecimento que já vinha sendo aprendido na época.

O início do Humanismo em Portugal se deu em 1434 com a escolha de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo. Na Torre do Tombo estava o arquivo do Estado.

Fernão Lopes registrava a história do seu país de uma maneira diferente daquela que todos já estavam acostumados, diferente da maneira como aqueles que o precederam registravam.

O Humanismo encerra-se no ano de 1527 com a volta do poeta Sá de Miranda a Portugal, após ele ficar 6 anos na Itália. De lá ele levou para Portugal uma bagagem de ideias a respeito da arte, especialmente da literatura.

Manifestações artísticas durante o Humanismo

A arte absorveu todo esse clima de transição. Falaremos sobre algumas manifestações artísticas para você entender melhor como a arte recebeu essas mudanças.

Arquitetura, escultura e pintura

A nobreza e a vida religiosa passaram a não ser exclusivas das representações artísticas. Muitos arquitetos, escultores e pintores representavam figuras cada vez mais próximas dos seres humanos que não pertenciam à nobreza.

Os artistas da época usavam modelos reais para expressar os traços naturais da pessoa, tanto na pintura quanto na escultura.

Na arquitetura, o estilo gótico, que dominou a Idade Média, passou a ser cada vez mais raro.

Na escultura e na pintura, as obras passaram a ser independentes e representavam o mundo de maneira bem realista. Para entender melhor, na Idade Média as obras de escultores e pintores faziam parte de grandes obras arquitetônicas, como por exemplo, a construção de uma igreja.

Com o Humanismo, esses artistas passaram a criar obras soltas que não estavam sendo criadas para fazerem parte de algum espaço, mas com o intuito de representarem somente algum aspecto da vida cotidiana das pessoas comuns.

Literatura

As obras literárias mostram a maneira de ver e de ser dos burgueses. Eles eram muito práticos, portanto, não gostavam das obras que levavam a devaneios, deleite e distração. Por este motivo, nessa época encontramos obras em prosa doutrinária e historiografia que tinham como intuito instruir, constituindo-se como guias.

Dentro da historiografia temos as crônicas. Naquela época as crônicas eram o registro da vida de pessoas e acontecimentos históricos contados exclusivamente para conhecimento, ou seja, podemos entender esses cronistas como historiadores.

Humanismo em Portugal

A literatura portuguesa durante o Humanismo se organizou em:

  • Teatro;
  • Poesia;
  • Prosa.

A seguir, um politizar! mostra os principais autores e as características das obras literárias do Humanismo em Portugal.

Fernão Lopes

Fernão Lopes foi o principal cronista português da época. Ele foi o primeiro cronista a mostrar que o povo teve um papel importante nas mudanças históricas, status, antes, atribuído à nobreza.

Ele também humaniza os reis e nobres, mostrando que não estão acima de nenhum outro ser humano e que, portanto, têm sentimentos, qualidades e defeitos como todas as demais pessoas.

Suas obras foram:

  • Crônica de El-Rei D. Pedro de 1434;
  • Crônica de El-Rei D. Fernando de 1436;
  • Crônica de El-Rei D. João I de 1443.

Gil Vicente

No teatro, o destaque é para Gil Vicente. Ele foi ourives oficial da corte. Escreveu e declamou o “Monólogo do Vaqueiro”. Como foi um êxito, passou a escrever e representar outras peças de teatro para a nobreza.

O “Monólogo do Vaqueiro” foi escrito para a rainha D. Maria com o intuito de diverti-la quando deu à luz a D. João III, futuro rei de Portugal. O texto foi escrito com base na cena bíblica na qual Cristo foi adorado pelos reis magos enquanto estava na manjedoura.

A obra de Gil Vicente pode ser dividida em:

  • Autos: peças teatrais de assunto religioso, escritos de maneira séria ou cômica. Os mais conhecidos são o Auto da Alma que contém a trilogia das barcas: Auto da barca do inferno, Auto da barca da Glória e Auto da barca do purgatório. Também tem o Auto da Visitação de 1502 e o Auto do velho da horta de 1512.
  • Farsas: peças curtas de um só ato, poucas personagens e enredo inspirado em situações cotidianas. As farsas mais conhecidas de Gil Vicente são: Farsa de Inês Pereira de 1523, Farsa do velho da horta e Quem tem farelos?

Características do teatro vicentino

As personagens se distinguem pela ocupação que exercem ou por algum traço social. Mesmo não citando nomes, todas elas apresentam uma classe social da época, mostrando uma faceta dessa sociedade.

Gil Vicente é um autor que critica, em suas obras, muitos comportamentos da sociedade da época como o adultério, a falta de sentimento religioso, o materialismo, a vaidade, o desejo exacerbado e imprudente, dentre outros. Ele exalta a fé legítima, o desprendimento material, a caridade e a simplicidade.

Humanismo em Portugal: Poesia

A burguesia não achava que a poesia era proveitosa, já que eles tinham uma visão pragmática e terrena da vida. Por este motivo, este gênero literário entrou em declínio e somente voltou a ter importância quase no final do Humanismo com a publicação do Cancioneiro Geral em 1516.

O Cancioneiro Geral é uma coletânea de poemas organizada pelo poeta português Garcia Resende. Poucos poemas tinham acompanhamento musical, o que diferencia a poesia Humanista das poesias do Trovadorismo.

Humanismo em Portugal: Ficção

Por ser um período em transição de pensamentos, as novelas de cavalaria ainda faziam sucesso. A mais famosa da época foi Amadis de Gaula que mostra um herói mais humano que se deixa levar pela paixão e a realização do amor carnal.

Principais representantes do Humanismo

  • Dante Alighieri (1265-1321): poeta e político italiano;
  • Erasmo de Rotterdam (1466-1536): teólogo e filósofo neerlandês;
  • Francesco Petrarca (1304-1374): poeta italiano;
  • François Rabelais (1494-1553): escritor, pedagogo e médico francês;
  • Giovanni Boccaccio (1313-1375): poeta italiano;
  • Giovanni Pico Della Mirandola (1463-1494): pensador italiano;
  • Leonardo Bruni (1370-1444): historiador e político italiano;
  • Michel de Montaigne (1533-1592): filósofo e escritor francês:
  • Nicolau Maquiavel (1469-1527): político, filósofo, diplomata italiano;
  • Thomas More (1478-1535): escritor e filósofo inglês.

Resumo das principais características do humanismo

  • Afastamento das doutrinas religiosas;
  • Ampliação do conhecimento de mundo;
  • Antropocentrismo;
  • Busca da perfeição;
  • Cultura greco-romana
  • Difusão de novas ideias;
  • Pragmatismo;
  • Racionalidade;
  • Valorização da Ciência;
  • Valorização do ter em detrimento do ser.

E aí, você entendeu sobre Humanismo e qual a sua importância e impactos na sociedade medieval? Deixe sua opinião ou dúvidas nos comentários!

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Muito prazer: paulistana e criadora do Blog da Talima, Ekoar Ambiental e Fui, Chao, Bye Bye. Online desde 2014, produtora de conteúdos digitais, formada em Letras, viajando pelo Brasil, aprendendo lettering, descobrindo mais sobre mim e me preparando para um possível mestrado, quem sabe! Atualmente, curtindo o momento e querendo aproveitar cada segundo de vida para fazer coisas diferentes. Batalhando, diariamente, para alcançar meus objetivos e deixar um pedaço de mim no mundo. Aprendendo a respeitar as diferenças e o tempo de cada um. Filha de baiana e mineiro. Diretamente do Capão Redondo para o resto do Brasil. É nóis!
Silva, Tatiane. O que é o Humanismo: conceito, origem e características. Politize!, 24 de outubro, 2023
Disponível em: https://www.politize.com.br/humanismo/.
Acesso em: 10 de out, 2024.

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