Maconha medicinal: você sabe o que é?

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A maconha medicinal é o uso da planta da espécie Cannabis para fins terapêuticos e/ou medicinais. A planta é estudada para servir de tratamento e aliviar sintomas de diversas condições, transtornos e doenças.
Ao passar dos anos, cada vez mais cresce o número de pesquisas científicas em relação aos possíveis tratamentos que a maconha medicinal pode auxiliar. Apesar de infinitos debates políticos e científicos, o mercado canábico já é uma realidade global.
Por isso a Politize! decidiu trazer um texto contando sobre a sua história, o que de fato as pesquisas dizem e quais são os tratamentos que já estão sendo estudados pela comunidade científica. Venha entender tudo isso e mais um pouco sobre a Maconha, no texto a seguir.

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História da maconha medicinal

Muitos não sabem, porém, o uso da planta maconha para fins terapêuticos está na história da humanidade já há milhares de anos. Os seus primeiros relatos datam de 2737 a. C., quando o imperador Chinês Shen-Nung a prescrevia para o tratamento de gota, reumatismo, malária, epilepsia, tuberculose e memória fraca.

Entretanto, a sua popularidade e conhecimento de uso como medicamento foi concretizado na Índia antes ainda de 1000 a. C., administrada como relaxante muscular, estimulante de apetite, sedação, ansiolítico e hipnótico (estes dois últimos para o tratamento de ansiedade).

De origem asiática, a planta teve entrada na Europa por volta de 430 a. C. pela Grécia, por suas propriedades medicinais, e na Itália como fibra para a confecção de roupas e velas para barcos. Até então não havia estudos oficiais de acordo com os efeitos que a maconha medicinal poderia trazer para o organismo.

Muitos anos depois, quando seu uso já estava concretizado em todo o globo, o bioquímico israelense Raphael Mechoulam fez uma descoberta fundamental para os estudos científicos da maconha. Precisamente em 1963, Raphael isolou os componentes químicos da planta e descobriu a existência dos fitocanabinoides.

Neste momento, ele pode isolar e estruturar a substância mais abundante da planta, o Canabidiol, conhecido como CBD. E no ano seguinte, fez o mesmo com a principal substância psicoativa, o delta-9-tetrahidrocanabidiol ou THC.

Porém, a partir destes estudos foram encontrados apenas os efeitos causados pelo psicoativo do THC (sensações de euforia), deixando de lado as propriedades medicinais que poderiam existir no CBD. E para essa descoberta, o Brasil foi fundamental.

Foi durante a década dos anos 70 e 80, que o professor brasileiro Elisaldo Carlini conduziu um grupo de pesquisa, onde foi descoberto o efeito antiepiléptico do CBD. Com mais de 40 trabalhos publicados em revistas científicas internacionais, foram abordadas investigações para o tratamento de náuseas e vômitos causados por quimioterapias e, também, em relação a melhora no enfraquecimento extremo de pessoas com HIV e câncer.

Estes benefícios só são possíveis de serem dirigidos pelo nosso corpo, por causa da sua interação com o sistema endocanabinoide. O sistema, que todos os mamíferos possuem, é composto de endógenos naturais produzidos pelo nosso próprio organismo. Ele detém o poder de se conectar com os receptores da maconha, sendo os mais estudados, o CB1 e o CB2.

Espécies de Cannabis

Hoje em dia, com um maior conhecimento sobre as origens e variedades da planta, são reconhecidas três espécies da Cannabis:

  • C. Sativa (níveis mais altos de THC do que CBD);
  • C. Indica (níveis mais altos de CBD do que THC);
  • C. Ruderalis (níveis baixos de ambos os componentes);
  • Além das híbridas, que são a mescla da Sativa com a Indica

Estudos e Tratamentos sobre a maconha medicinal

Como vimos, desde a Antiguidade existe a presença da maconha medicinal. Entretanto, é mais do que necessário que haja pesquisas modernas atualizadas e incentivadas constantemente para que os tratamentos medicinais e terapêuticos da planta sejam regulamentados e utilizados da melhor maneira possível para cada tipo de ação medicinal.

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Venha conferir quatro estudos sobre possíveis tratamentos com a maconha medicinal!

Depressão

De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas no mundo inteiro vivem com depressão. O transtorno mental, considerado um dos mais comuns, têm a prevalência ao longo da vida em torno de 15,5% dos brasileiros.

Na tentativa de driblar os sintomas de uma das doenças da modernidade, são feitas pesquisas e investigações para observar quais os efeitos do uso da planta maconha medicinal com pacientes depressivos.

Há pesquisas para tratamento tanto com THC, quanto com CBD. Em relação ao THC, em doses baixas (até 7 miligramas), foram vistas pelo psiquiatra Wilson Lessa Júnior, ações:

  • Ansiolíticas (calmante e tranquilizante);
  • Antidepressivas; e
  • Aumento da alegria, sem os efeitos psicoativos do componente.

A linha é tênue, já que se a dose já for aumentada, é observada a potencialização de quadros de ansiedade e depressão. Além de que a maconha com altos níveis de THC, pode precipitar sintomas psicóticos e favorecer sentimento suicida de pacientes com quadros mais graves do transtorno.

Em relação ao canabidiol, a história já é outra. Foi vista, através de experimentos com camundongos, a reversão dos sintomas da depressão.Segundo o professor José Alexandre de Souza Crippa, em uma entrevista para o UOL, afirmou: “Também foi demonstrado que apresenta um papel neuroprotetor em relação à neurotoxicidade da depressão, em áreas límbicas e paralímbicas, como o hipocampo [estrutura que pode diminuir de volume em algumas pessoas com depressão]”.

Entretanto, ainda não há estudos clínicos “padrão-ouro”* com o CBD associado à depressão. Estes estudos chamados de padrão-ouro, são ensaios clínicos randomizados, que realizam experimentos com voluntários em grupos com o princípio ativo e outros com o placebo. Sendo que ninguém possui consciência do componente que está tomando.

Por isso, os pesquisadores concordam que faltam provas da segurança, de como administrar doses em relação a cada moderação do transtorno e do potencial em agregar com o tratamento de antidepressivos convencionais. Ou seja, ainda há muito para avançar em estudos clínicos para vermos de fato o verdadeiro benefício da planta no tratamento da depressão.

Epilepsia

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 50 milhões de pessoas no mundo todo sofrem com crises epilépticas ativas necessitando de tratamento. Entre estes, 30% dos pacientes não possuem resposta positiva ao medicamento disponível no mercado. E no Brasil, segundo a Secretária de Saúde do Distrito Federal, estima-se que 3 milhões de pessoas vivam com a epilepsia. Que afeta, principalmente, crianças e idosos.

A partir destes dados, muitos países iniciaram a liberação do uso do canabidiol como tratamento para esse tipo de condição. Segundo estudos da BMC Medicine, uma revista internacional de medicina, a epilepsia é a única doença onde o CBD possui alto grau de eficácia de evidência no tratamento. Tratando, especialmente, a síndrome de Lennox–Gastaut (SLG) e a Síndrome de Dravet (SD), ambas epilepsias infantis.

O que o CBD faz nestes casos?

  • Efeitos antiepilépticos: controla as descargas de neurotransmissores nos neurônios pré-sinápticos;
  • Auxilia a redução de crises convulsivas, tanto quanto intensidade, quanto quantidade;
  • Conforme a Revista Medicina S/A, outros benefícios do tratamento incluem o fígado não ficar sobrecarregado e também não provocar mudanças de humor.

O remédio feito com o canabidiol isolado (com 99% de pureza) já aprovado pela FDA, agência equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) dos Estados Unidos, é chamado de Epidiolex. Ele é usado como uma terapia para pessoas com convulsões muito graves ou difíceis de tratar. Em estudos, algumas pessoas tiveram uma queda dramática nas convulsões depois de tomar este medicamento.

Frequentemente, a maconha é utilizada como terapia adicional do tratamento tradicional para epilepsia. Porém, em muitos casos, pacientes que não respondem aos tratamentos convencionais, encontram na planta alívio e o controle das crises. Da mesma maneira, a cannabis auxilia adolescentes e adultos que apresentem quadros leves de epilepsia.

Alzheimer

As investigações científicas que avaliam o quão benéfico é o tratamento com maconha medicinal para o Alzheimer estão cada vez maiores. A doença atinge cerca de 1,2 milhões de brasileiros, e tem como sintomas típicos: perda de memória, deficiências cognitivas e alterações comportamentais. Devido ao avanço e progresso rápido que a doença possui, buscas para novos tratamentos estão sempre em discussão na comunidade científica.

Em relação a planta medicinal como tratamento, podemos mencionar que testes com cobaias humanas e animais ainda estão em fases iniciais. Estudos com ratos já são administrados em universidades brasileiras, como na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade de São Paulo (USP).

Entretanto, por mais que ambas pesquisas demonstrem efeitos animadores em relação a perda de memória dos roedores, ainda é inconclusivo dizer que o tratamento para humanos é 100% eficaz e seguro.

Um caso promissor, foi o do paciente pioneiro Delci Ruver. Quem iniciou um tratamento medicamentoso com o extrato da maconha medicinal, em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. Segundo o portal do G1, foi observada a reversão dos sintomas referente a sua autonomia em tarefas do dia-a-dia e da qualidade de vida.

“Esse tipo de aplicação pode ser muito útil para aprimorar a qualidade de vida do paciente e de quem o cerca. Mas, é importante ressaltar que a escolha pela terapia deve ser discutida com profissionais de saúde, para verificar todas as alternativas possíveis, e seus benefícios e riscos”, resalta a jornalista Bettina Gehm a Redação da Associação de Dores Crônicas (CDD). Devemos lembrar que apenas um caso que deu certo. não consegue afirmar a total segurança e eficiência do tratamento.

Dores crônicas

Dores crônicas são aquelas dores que recorrem por mais de 3 meses e persistem mesmo após a recuperação de lesão nos tecidos. Nestes casos, medicamentos à base de canabidiol não são indicados como únicos nos tratamentos, mas sim como uma medicação coadjuvante. Os canabinóides são um instrumento importante no gerenciamento do paciente com dor crônica, podendo diminuir até 30% as escalas de dor. A cannabis pode ser usada para tratar a artrite reumatóide e osteoartrite, já que o CBD traz uma poderosa ação anti-inflamatória.

Outros efeitos relatados são:

  • Diminuição da dor;
  • Aumento da tolerância à dor;
  • Melhora da qualidade de vida; e
  • Retorno às atividades de vida diária.

Outros tratamentos

Segundo o Conselho Federal de Medicina, no acúmulo de evidências científicas através de experimentos com a maconha medicinal, é possível citar o potencial terapêutico (além dos já discutidos ao longo do texto), nos seguintes quadros clínicos:

  • Esquizofrenia;
  • Doença de Parkinson;
  • Isquemias;
  • Diabetes;
  • Náuseas;
  • Câncer, como analgésico e imunossupressor;
  • Distúrbios de ansiedade, do sono e do movimento.

Outro destaque na história da maconha medicinal foi em 2017, quando o primeiro medicamento produzido à base de Maconha Sativa foi aprovado pela Anvisa. O remédio serve de tratamento aos sintomas de rigidez muscular causados pela esclerose múltipla.

Chamado no Brasil de Mevatyl, contém os canabinóides tetraidrocanabinol (THC), com 27 mg/mL e canabidiol (CBD), com 25 mg/mL. O medicamento já é aprovado em mais de 27 países, demonstrando melhoria clínica significativa nos tratamentos da enfermidade.

À medida que haja o desenvolvimento de novos tratamentos em diferentes especialidades médicas, com eficácia e segurança, podemos esperar uma legislação cada vez mais flexível para o grande potencial terapêutico e medicinal da maconha.

É verdade que o tema da maconha ainda vai gerar diversos debates no mundo todo, mas e você o que achou sobre? Já sabia de todos os possíveis tratamentos com a Cannabis? Deixe nos comentários a sua opinião ou suas dúvidas! Venha saber mais sobre Cannabis recreativa neste conteúdo Politize!

Fontes:

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Conteúdo escrito por:
Formada em Relações Internacionais pela PUC-SP, com interesse pelas temáticas de justiça ambiental, direitos humanos e setor cultural brasileiro. Acredita que através da difusão de conhecimento é possível impactar positivamente indivíduos, e consequentemente, a sociedade.

Maconha medicinal: você sabe o que é?

23 abr. 2024

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