Imagem de divulgação do Maio Laranja

Maio Laranja: o mês de combate à exploração sexual infantojuvenil

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No Brasil, o mês de maio serve como um lembrete para as iniciativas públicas de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes, por meio da campanha “Maio Laranja”

Para entender um pouco mais sobre o assunto, acompanhe a leitura.

Como surgiu a campanha do Maio Laranja?

A campanha do Maio Laranja surgiu em no ano 2000, da ideia de criar o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual e Comercial de Crianças e Adolescentes. A data foi firmada com através da Lei Federal 9.970/2000. Com isso, a campanha ‘Faça Bonito’ surgiu e, com ela, o Maio Laranja.

A Resolução Nº 236/2023 do CONANDA oficializou a campanha “Faça Bonito – Proteja nossas crianças e adolescentes”, com a flor amarela e laranja como símbolo nacional do enfrentamento ao abuso e exploração sexual, orientando ações de prevenção e proteção em todo o território nacional.

Imagem oficial da campanha "Faça Bonito", o desenho de uma flor amarela.
Imagem oficial da campanha “Faça Bonito”, que atua dentro do Maio Laranja. Imagem: Divulgação.

Caso de Araceli Cabrera Crespo: história por trás do Maio Laranja

Em 18 de maio de 1973, o estado do Espírito Santo foi palco de um crime que até hoje não foi solucionado. Nele, Araceli Cabrera Crespo, de 8 anos, foi raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada.

No dia do seu desaparecimento, a menina deveria sair mais cedo da escola para pegar o ônibus que a levaria de volta para casa. O caso ganhou repercussão da mídia nacional por conta da sua gravidade.

Imagem de uma menina de cabelo liso e franja, segurando uma boneca. Texto: Maio Laranja: o mês de combate à exploração sexual infantojuvenil
Araceli Cabrera Crespo. Imagem: Arquivo Pessoal.

Assista: Direitos das crianças e dos adolescentes: o que são e como surgiram? | Projeto Equidade

O corpo de Araceli foi encontrado seis dias depois, no dia 24 de maio de 1973, completamente desfigurado, atrás do Hospital Infantil de Vitória.

Na época, a Justiça chegou a três suspeitos: Dante de Barros Michelini (o Dantinho), Dante de Brito Michelini (pai de Dantinho) e Paulo Constanteen Helal. Todos de famílias influentes de Vitória.

Texto: Maio Laranja: o mês de combate à exploração sexual infantojuvenil
Dantinho (à esquerda), Paulo Helal (centro) e Dante Michelini (à direita) — Imagem: Reprodução/ TV Gazeta

Em uma das únicas vezes em que os acusados falaram disso fora dos tribunais, Dante Michelini alega que não conhecia a família e que o seu nome só estava ligado ao crime por uma brincadeira de um colega que trabalhava em um jornal.

Quer entender mais sobre Lei Henry Borel e ODS 16? Confira o conteúdo do Projeto Direito ao Desenvolvimento: Lei Henry Borel e o ODS 16: proteção de crianças e adolescentes no Brasil!

O desenrolar do julgamento dos acusados

A acusação que culminou o julgamento dos acusados afirmava o seguinte:

  • Araceli foi raptada por Paulo Helal, no bar em que foi vista após sair do colégio;
  • Depois disso, foi levada para um bar na praia de Camburi, que pertencia à Dante Michelini, onde foi estuprada e drogada;
  • Por conta das drogas, Araceli entrou em coma, foi levada para o Hospital Infantil em Vitória, já chegou morta e o seu corpo foi descartado.
Dois dos acusados entrando em um carro.
Dante e Dantinho, durante o andamento do caso. Imagem: Acervo Rede Gazeta.

Em 1977, o promotor Wolmar Bermudes falou sobre o caso para o Globo Repórter:

“O Dante Michelini pai pesa a acusação de haver mantido a menor em cárcere privado, dois dias, no sótão do seu bar, em Camburi. Contra os dois, o Dante Filho e o Helal, pesam as acusações de haver os dois ministrados à infeliz menor tóxicos e haver, ainda, de maneira violenta, mantido congresso carnal com a infeliz menina”.

No ano de 1980, o juiz definiu uma sentença, Paulo e Dantinho teriam que cumprir 18 anos de reclusão e o pagamento de uma multa. Já Dante Michelini foi condenado a 5 anos de prisão.

Em 1991, a defesa recorreu da sentença, o julgamento foi anulado e os suspeitos absolvidos. Em 1993, o crime prescreveu sem um culpado.

Segundo pesquisadores e notícias, o caso aconteceu no momento de maior repressão da Ditadura, e foi marcado por intensa manipulação. Testemunhas alegam ter sofrido ameaças e atentados, como a professora de Araceli, Marlene Stefanon.

Quer saber mais sobre os direitos das crianças e adolescentes? Veja nosso vídeo a seguir:

A exploração sexual infantil no Brasil

Para entender a extensão da exploração e da violência sexual infantil no Brasil, é preciso primeiro entender os modos que essa violência se apresenta.

A campanha define que essa agressão está classificada de dois jeitos, o abuso sexual e a exploração sexual. Além disso, o abuso sexual pode se apresentar de diversas formas:

  • Abuso intrafamiliar, que é cometido por pais, parentes ou responsáveis legais;
  • Abuso extrafamiliar, quando o é cometido por pessoas que a criança não conhece ou não é próxima.

Quais são os dados sobre a exploração sexual infantil no país?

No Brasil, em 2023, o Governo Federal divulgou um boletim epidemiológico que compila os dados sobre a violência sexual em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, de 2015 a 2021.

Texto: Maio Laranja: o mês de combate à exploração sexual infantojuvenil
Características da ocorrência de violência sexual contra crianças de 0 a 9 anos notificada no Sinan. Imagem: Governo Federal.

Segundo o documento, 202.948 casos de violência sexual foram registrados nesse período, onde 83.571 (41,2%) das vítimas tinham idade entre 0 e 09 anos e 119.377 (58,8%) de 10 a 19 anos.

Nas crianças, 76,8% das vítimas foram meninas. Os dados também apontam que a faixa etária que mais sofreu entre meninas e meninos é a mesma: de 05 a 09 anos.

A maior parte dos crimes reportados foram de estupro, a maior parte das vítimas eram negras e a maior parte dos agressores eram homens da família da vítima.

Leia nosso conteúdo: Direitos das crianças e dos adolescentes: o que são?

Texto: Maio Laranja: o mês de combate à exploração sexual infantojuvenil
Características da ocorrência de violência sexual contra adolescentes de 10 a 19 anos notificada no Sinan. Imagem: Governo Federal.

No caso dos adolescentes, o cenário quase não muda. A maioria das vítimas continua sendo meninas, dessa vez com idade entre 10 e 14 anos, com 92,7% das denúncias.

A principal diferença é a respeito do vínculo com o agressor, que passa a ser um amigo ou conhecido. Em ambas as classificações etárias, a maior parte dos agressores são homens.

O Disque 100 registrou mais de 657,2 mil denúncias em 2024 – aumento de 22,6% em relação a 2023, quando foram registradas 536,1 mil ocorrências.

Os números indicam que a maioria das vítimas das denúncias são do gênero feminino, com 372,3 mil denúncias. As violações ocorrem, em sua maioria, na casa da vítima e do suspeito, apontado para o número de 301,4 mil ocorrências nesse sentido. Entre os grupos mais vulneráveis estão crianças e adolescentes, que chegaram ao número de 289,4 mil.

Leia também: Privacidade e proteção de dados de crianças e adolescentes nos meios digitais

Somados os dois semestres de 2024, a SaferNet detectou 2,65 milhões de usuários em grupos e canais do Telegram contendo imagens de abuso e exploração sexual infantil. 

Quais são as principais iniciativas de combate à exploração sexual infantil?

As principais iniciativas de combate à exploração sexual no Brasil — principalmente no âmbito da campanha ‘Faça Bonito’, dentro do Maio Laranja, são um tripé de ações estratégicas: pauta técnica, pauta política e a mobilização social.

Em 2025, de acordo com a mobilização Faça Bonito

“[…] o convite é para florir mais uma vez o Brasil no mês de maio, e fortalecer o símbolo, que remete à lembrança dos desenhos da primeira infância e evoca o cuidado para o desenvolvimento saudável da infância e da adolescência.”

Entenda: Como surgiram os direitos das crianças e dos adolescentes?

Em agosto de 2022, a Lei Federal nº 14.432, instituiu que o Maio Laranja deve ser realizado de forma nacional, com atividades efetivas no combate à exploração sexual infantil. No Brasil, o Código Penal Brasileiro e o ECA são responsáveis pela legislação sobre o assunto.

As denúncias devem ser realizadas por meio dos Conselhos Tutelares, CREAS, Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Ministério Público, 1ª Vara da Infância e da Juventude e Disque 100.

O slogan “Faça Bonito” convoca à ação contínua, responsabilizando cada indivíduo e a sociedade na proteção contra a violência sexual. Convoca-se a todos para promover e participar das ações alusivas em seus municípios e estados, não compactuando com as violências praticadas contra crianças e adolescentes brasileiros/as em todo o país.

Veja mais sobre o assunto: Estupro de vulnerável: como reconhecer o crime e suas principais vítimas

Qual a sua opinião sobre o assunto? O Maio Laranja é uma iniciativa interessante? Deixe sua opinião e dúvidas nos comentários!

Publicado em 05/06/2024. Atualizado em 20/05/2025.

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Conteúdo escrito por:

Bianca Seabra Lopes

Por ser apaixonada por leitura desde pequena, escrever se tornou minha profissão e parte da minha identidade. Sou caiçara, jornalista e curiosa sobre como as relações sociais e políticas funcionam.
Lopes, Bianca. Maio Laranja: o mês de combate à exploração sexual infantojuvenil. Politize!, 20 de maio, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/maio-laranja/.
Acesso em: 15 de jun, 2025.

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