temer de terno, homem branco médio com cabelos grisalhos atrás da logo do MDB que é a escrita do partido com um desenho de chama saindo do M

História do MDB: o partido para todos.

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Surge o partido de oposição: o MDB.

Fundado em 1966, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) surgiu por uma demanda externa. Mas, afinal, o que isso significa? Para que possamos compreender, de fato, a história do partido, precisamos retomar o cenário político brasileiro na década de 1960.

Durante o período ditatorial que experienciamos por 21 anos, diversos mecanismos legais foram instaurados para que o regime forjasse sua própria legitimidade. Entre eles, tivemos os Atos Institucionais, responsáveis por grandes mudanças no cenário sociopolítico.

O AI-2, por exemplo, foi imposto no segundo ano do regime, em 1965, e foi o encarregado de extinguir os partidos políticos até então vigentes. Assim, os militares que estavam no poder conseguiram enfraquecer seus opositores. Entretanto, para manter sua legitimidade, novas agremiações partidárias poderiam surgir, desde que estivessem de acordo com as normas descritas na Lei nº 4.740/65.

Saiba mais: Ditadura Militar no Brasil

Demandando que os fundadores dessa nova geração de partidos fossem do Congresso Nacional, as agremiações deveriam ter, no mínimo, 120 deputados federais e 20 senadores. E foi a partir disso que a ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) nasceram.

Enquanto a ARENA era o “partido da situação”, apoiando o regime e contribuindo para que os projetos ditatoriais fossem aprovados, o MDB surgiu como uma oposição consentida e tímida, graças a diversas cassações políticas que eram realizadas contra os antigos opositores.

Unindo 149 parlamentares na formação do partido, o MDB precisou ter jogo de cintura para se manter de pé. Com egressos do PSD, do PTB, da UDN e de outros partidos extintos, a diversidade de pensamentos era gigantesca.

Sendo assim, o partido se preocupou em priorizar a volta da democracia enquanto principal pauta. Esse foi o caminho para unir parlamentares suficientes para a formação da oposição ao regime ditatorial. Por conta disso, suas bandeiras eram bastante amplas e o partido caminhava pra lá e pra cá no espectro ideológico.

Entretanto, essa abordagem ampla não foi suficiente para agradar ao povo, que não comprava muito a ideia da então oposição ao governo. Não à toa, seus números nas eleições para deputados federais, por exemplo, diminuíram. De uma bancada de 132 deputados em 1966, o partido passou a ter apenas 87 nas eleições de 1970.

Foi a partir de então que o partido sofreu uma pequena cisão interna.

A ofensiva emedebista

Dividido entre moderados e autênticos, o partido se viu obrigado a tentar uma nova abordagem eleitoral. A fim de conquistar votos e derrotar o regime ditatorial, os autênticos, grupo de jovens políticos que haviam recém iniciado no cenário político, provocaram reestruturações internas.

Para combater a farsa das eleições de 1974 que estavam por vir, Ulysses Guimarães lançou sua anticandidatura como resposta à candidatura do General Ernesto Geisel. Ser um anticandidato significava uma oposição direta e ofensiva contra o regime e suas bandeiras.

Na Convenção Nacional do MDB, no final de 1973, Ulysses bradou:

“Não é o candidato que vai percorrer o país. É o anticandidato, para denunciar a antieleição, imposta pela anticonstituição que homizia o AI-5, submete o Legislativo e o Judiciário ao Executivo; possibilita prisões desamparadas pelo habeas corpus e condenações sem defesa, profana a indevassabilidade dos lares e das empresas pela escuta clandestina, torna inaudíveis as vozes discordantes, porque ensurdece a nação pela censura à imprensa, ao rádio, à televisão, ao teatro e ao cinema.”

Ulysses Guimarães anos mais tarde com a Constituição de 1988. Imagem: O Povo.

A partir disso, o MDB continuou fora da presidência, como era de se imaginar, mas a imagem do partido foi ressignificada e a confiança do povo, aos poucos conquistada.

O retorno do pluripartidarismo e suas consequências

Com o enfraquecimento do regime por diversos fatores, começamos a caminhar para a reabertura política no país. De acordo com a historiadora Tamires Pecoraro (2023), o governo ditatorial passou a reconhecer sua iminente derrota e mexeu alguns pauzinhos para que seu fim não fosse trágico.

Dentre as estratégias adotadas, estava o retorno do sistema político pluripartidário. Isso significava a extinção dos dois partidos até então vigentes e a criação de novos partidos. É, tudo de novo!

Com isso, a ARENA migrou, em maioria, para o PDS, e o MDB seguiu apenas com uma alteração formal: a adição da palavra “partido” no começo do nome.

Entretanto, como afirma a socióloga brasileira Maria Victória Benevides (1986), a mudança de “MDB” para “PMDB” não pode ser entendida apenas como um “espichamento verbal”. O aumento da sigla para cumprir a lei pós-bipartidarismo, de 1979, também representou uma transformação de propósitos.

E a transformação do partido pode ser melhor compreendida se levarmos em conta aquilo que o cientista político Rafael Machado Madeira (2006) ressalta: o bipartidarismo afunilou ideias semelhantes e, eventualmente, até divergentes em apenas dois partidos, e com o plano pluripartidário, isso não era mais necessário.

Assim, o (P)MDB deixou de ser o centro opositor. Afinal, outros novos partidos com novas lideranças surgiram. Tivemos, por exemplo, o PDT, com Leonel Brizola; o ressurgimento do PTB, com Ivete Vargas; o PT, com Lula; e o PP, com Tancredo Neves.

É importante frisarmos que embora tenhamos atualmente Partido Progressistas assumindo a sigla “PP”, como já conhecemos na Politize!, o Partido Popular o fez no passado. Surgido sob o restabelecimento do pluripartidarismo, o partido tinha a pretensão de ser uma alternativa política voltada ao centro. De toda maneira, sua história não foi longeva.

Apenas dois anos depois, em 1981, o partido foi incorporado ao (P)MDB, o que foi confuso para a imagem do movimento. Convém ressaltarmos que o (P)MDB, por muito tempo, foi conhecido como “o partido da sociedade civil”, enquanto o antigo PP, “o partido dos patrões”. Tínhamos, assim, uma contraposição de propósitos, de valores e ideais.

Em outras palavras, podemos dizer que o partido do povo estava agora enroscado com um partido da elite.

Alianças contraditórias e o MDB

Com o tímido renascimento da democracia no Brasil, o (P)MDB concorreu às eleições indiretas pela presidência da República em 1985. Tancredo Neves foi a nova aposta da democracia e José Sarney foi seu vice.

A contradição dessa candidatura com esses nomes está no fato de Tancredo ter sido do PP e José Sarney, do novo PDS que se formou com a maioria de ex-arenistas – o então partido do governo ditatorial.

De toda maneira, sua popularidade era tamanha e o partido venceu as eleições. Entretanto, quase no mesmo momento, houve uma perda gigantesca. Tancredo Neves faleceu às vésperas de assumir o cargo e seu vice, José Sarney, foi quem assumiu os novos rumos do Brasil.

O partido continuou atuando de forma importante para os pilares da redemocratização do país. Sua atuação na Assembleia Constituinte de 1988, por exemplo, foi fundamental. Entretanto, com tanta pluralidade de pensamentos dentro do partido, o mesmo penou para construir uma identidade mais forte e superar sua bandeira redemocratizante com bandeiras mais bem definidas.

Essa aglomeração de ideias e personagens às vezes divergentes acompanha a história do partido tal como sua defesa pelos valores democráticos. Não à toa, o partido atuou como um camaleão por diversos governos. Seja como base, como apoio, como ministério ou coalizão, o partido esteve em todas.

Leia mais: Impeachment de Dilma: uma retrospectiva

Quer saber mais sobre o espectro político do MDB? Veja nosso vídeo sobre isso!

O impeachment de Dilma Rousseff

Dilma Rousseff (PT) foi quem venceu as eleições presidenciais de 2014. Junto a ela na campanha estava Michel Temer, integrante do (P)MDB e vice de Dilma.

foto de lula, dilma e temer de mão dadas na posse da Dilma.
Posse de Dilma ao lado de seu companheiro petista, Lula, e seu então vice, Michel Temer.

No ano da vitória, a Operação Lava Jato foi iniciada, causando um estrondoso impacto na vida política do país. Diversos casos de corrupção do governo foram revelados e diversos nomes estiveram sujos. Dilma enfrentou diversos desafios e sua popularidade ia aos poucos sendo minada. Além disso, a economia não ia bem e tudo foi virando uma grande bola de neve.

Com isso, a então presidenta sofreu um processo de impeachment e Temer teve, assim, a chance de assumir o cargo. Entretanto, esse processo não foi tranquilo e limpo para o presidente que ficou popularmente conhecido. como “vampirão”. Afinal, o (P)MDB também fazia parte do governo, com sua flexibilidade política. Assim, o partido acabou sofrendo algumas penas também.

Não é à toa que, em 2017, ano seguinte ao impeachment, o partido se livrou do “P” em seu nome e voltou a chamar-se apenas “MDB”. De acordo com pesquisa realizada por Pecoraro (2023), a retomada do antigo nome pode ser entendida como uma tentativa de resgatar seus tempos de glória a favor da democracia, longe dos escândalos que o rondavam.

O partido, ao contrário, em sua página, alega que a mudança está atrelada à necessidade de renovação que o acesso à presidência demandava.

Conclusão

Se a mudança do nome foi ou não uma estratégia de remontar os velhos tempos ou apenas uma coincidência por ter Temer no poder e um lugar de destaque ao partido, não podemos afirmar com certeza.

Podemos apenas dizer que esse partido tem história à beça e continua sendo um dos maiores partidos que temos. Não à toa, nas eleições municipais de 2020, o partido foi o que mais elegeu prefeitos, vices e vereadores. Talvez, a flexiblidade política do MDB seja uma receita inconfundível de sucesso para sua longevidade.

E aí, curtiu conhecer um pouquinho mais desse partido? Conte pra gente nos comentários e se liga que as eleições estão chegando!

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Conteúdo escrito por:
Licenciado em ciências sociais, constantemente intrigado com questões subjetivas e estruturais. Apaixonado por música pop e entusiasta do amor. Professor preocupado com uma educação para além da sala de aula.
Damico, Rafael. História do MDB: o partido para todos.. Politize!, 3 de abril, 2024
Disponível em: https://www.politize.com.br/mdb/.
Acesso em: 6 de nov, 2024.

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