História do PT: conheça o maior partido da esquerda no país

Publicado em:
Compartilhe este conteúdo!
Manifestantes carregando bandeira do PT durante ato em Brasília Imagem: Lula Marques/PT.
Manifestantes carregando bandeira do PT durante ato em Brasília Imagem: Lula Marques/PT.

Você com certeza já ouviu falar no Partido dos Trabalhadores, afinal ele já elegeu dois presidentes da República e costuma despertar opiniões fervorosas, tanto de seus apoiadores quanto de seus opositores. Mas, além desses fatos, o que você sabe sobre a história do PT?

Neste texto, a Politize! te ajudará a conhecer melhor esse partido político brasileiro. Gostando ou não de suas figuras e posicionamentos, é inegável que ele segue tendo grande relevância na política nacional, já que conta, por exemplo, com o segundo maior número de filiados, atrás apenas do MDB, e com a terceira maior bancada na Câmara dos Deputados.

Conheça o novo podcast da Politize!

Início da história do PT: anos 1980

Durante a ditadura militar no Brasil, toda a oposição estava reunida no Movimento Democrático Brasileiro. Com a perda de fôlego do regime, no entanto, o sistema de bipartidarismo teve fim. Quando foi liberada a criação de partidos políticos, houve grande fragmentação, especialmente por conta da diversidade ideológica no grupo democrático.

Esse é o contexto de surgimento do Partido dos Trabalhadores, que foi fundado em 10 de fevereiro de 1980. Identificado com ideias de esquerda, seu manifesto de fundação defendeu bandeiras como a participação política dos trabalhadores, a construção de um partido voltado às massas e a luta contra o sistema econômico e político vigente.

Contribuíram para a criação do partido lideranças de diferentes setores da sociedade, como sindicalistas, intelectuais, artistas e religiosos da igreja católica ligados à Teologia da Libertação. Muitas delas haviam sido perseguidas pela ditadura militar, a exemplo de Luiz Inácio Lula da Silva, então líder sindical na região do ABC Paulista.

A sigla obteve seu registro oficial no TSE em 1982, mesmo ano em que elegeu seu primeiro representante para um cargo do Poder Executivo, o prefeito de Diadema, Gilson Menezes. Nos anos seguintes, a militância do PT teve relevante participação no movimento “Diretas Já”, pelo retorno das eleições diretas para a presidência.

Veja também: História do CIDADANIA: de comunista a liberal progressista!

Lula discursa ao lado de outras lideranças no primeiro comício pelas eleições diretas, em 1983. Imagem: Agência Senado.
Lula discursa ao lado de outras lideranças no primeiro comício pelas eleições diretas, em 1983. Imagem: Agência Senado.

Em 1986, a legenda conseguiu eleger 16 deputados, dentre os quais Lula, que obteve a maior votação do país. Na Assembleia Nacional Constituinte, responsável por redigir a Constituição de 1988, o partido votou contra o texto aprovado, por considerá-lo insuficiente quanto à democratização do poder e à ampliação dos direitos sociais.

Apesar disso, ele assinou a nova Constituição, visando legitimar o processo de elaboração constitucional, do qual havia participado ativamente.

O PT na oposição

Em 1989, quando ocorreu a primeira eleição direta para a presidência da República após o fim da ditadura, o PT lançou Lula como candidato. Embora tenha chegado ao segundo turno, o petista foi derrotado por Fernando Collor de Mello (PRN).

O presidente eleito teve um mandato turbulento e, em pouco mais de dois anos, foi alvo de um processo de impeachment. Após deixar o governo, seu vice, Itamar Franco, assumiu o posto. A nova administração ficou marcada pelo Plano Real, ao qual o Partido dos Trabalhadores foi contrário.

Nos dois pleitos seguintes, Lula voltou a concorrer à presidência. Embora tenha obtido votação expressiva em ambos, ela não foi suficiente para evitar as vitórias em primeiro turno de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O tucano havia sido ministro da Fazenda de Itamar durante a implementação do plano de combate à hiperinflação e colheu nas urnas o resultado do sucesso da medida.

O PT manteve-se na oposição durante os dois mandatos de FHC. Sua atuação foi bastante incisiva, especialmente contra as privatizações realizadas na gestão tucana, tanto por razões ideológicas quanto por apontar possíveis irregularidades na condução desses processos.

O PT no governo

Veja ainda ao nosso vídeo sobre a história e ideologia política do PT!

O período que antecedeu as eleições presidenciais seguintes foi marcado por um clima de desconfiança entre os investidores, seja por conta da crise econômica pela qual o país passava, seja pela subida de Lula nas intenções de voto. Havia um receio de que o petista adotaria medidas radicais no campo econômico, se chegasse ao poder.

O “risco Lula”, assim chamado por alguns analistas, levou o risco Brasil e o dólar às alturas. Diante desse cenário, Lula publicou uma carta ao povo brasileiro, visando acalmar o mercado financeiro, ao assegurar que os contratos nacionais e internacionais seguiriam sendo respeitados, caso vencesse.

O documento foi um dos movimentos em direção à adoção de um tom mais conciliatório na campanha, em contraste com o socialismo democrático defendido na fundação do partido. Seu candidato aproximou-se de setores do empresariado e, pela primeira vez, fez parte de sua coligação um partido de fora do campo da esquerda – o PL, do candidato à vice-presidência José Alencar.

Em 2002, Lula venceu as eleições, derrotando em segundo turno o candidato do PSDB, José Serra. O PT chegava pela primeira vez à presidência da República.

Quer conhecer outros partidos políticos? Leia também nosso texto sobre a história do Republicanos!

Governo Lula

No governo, Lula seguiu com uma postura conciliatória, procurando acolher pautas tanto do grande capital quanto das classes populares. Em linhas gerais, foi dada continuidade à política econômica vigente no período de FHC, calcada no tripé macroeconômico. Mesmo alguns economistas de viés mais liberal foram convidados a participar do governo, como Henrique Meirelles, que assumiu a presidência do Banco Central.

Em razão de divergências quanto à condução econômica e a outros aspectos da administração, alguns integrantes do PT passaram a descumprir as orientações da bancada no Congresso. Ao votarem contra a reforma da previdência do governo, foram expulsos do partido e criaram o PSOL, mais fiel às pautas da esquerda.

A gestão do presidente petista foi marcada também pela implementação de programas sociais. Dentre eles, o mais conhecido é o programa de transferência de renda Bolsa Família. Ele foi resultado de um aprimoramento de políticas existentes no governo anterior, como o Bolsa Escola, e seu funcionamento consiste no pagamento direto de uma quantia a famílias em situação de pobreza.

Em 2005, um escândalo atingiu membros do alto escalão do governo e do partido. O mensalão, como ficou conhecido, funcionava mediante o repasse mensal de verbas a parlamentares, em troca de apoio a projetos do Executivo. O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, foi acusado de ser o mentor do esquema e outros nomes ligados à cúpula do PT foram apontados como participantes.

Veja também nosso vídeo sobre como seria se o Lula tivesse vencido as eleições de 1989!

Segundo mandato de Lula

Embora o mensalão tenha causado algum desgaste para a imagem do partido, Lula conseguiu a reeleição em 2006, vencendo Geraldo Alckmin (PSDB) no segundo turno. As principais razões para isso foram o crescimento econômico do país, aliado à redução da pobreza durante o primeiro mandato do presidente.

Os bons resultados sociais e econômicos se mantiveram no segundo mandato, em parte devido ao boom das commodities, isto é, um aumento dos preços de matérias-primas no mercado internacional.

Como o país é grande exportador de produtos primários, foi beneficiado por esse fenômeno econômico, já que o acelerado crescimento de economias emergentes, a exemplo da China, elevou a demanda por tais bens. O Brasil também foi pouco afetado pela crise de 2008, se comparado a outros países.

Todos esses fatores contribuíram para o ganho de popularidade de Lula, que terminou seu mandato com aprovação superior a 80%. Para sua sucessão no cargo, o presidente escolheu Dilma Rousseff, que havia iniciado o governo como ministra de Minas e Energia e assumido a Casa Civil em 2005, substituindo Dirceu.

Governo Dilma Rousseff

Apoiada por seu popular padrinho político, Dilma tornou-se a primeira mulher eleita presidente da República, ao vencer José Serra no segundo turno das eleições de 2010.

Em seu governo, deu continuidade a muitos programas do governo Lula. No entanto, a administração da petista aprofundou a alteração nos rumos da gestão econômica que vinha ocorrendo desde o fim do último mandato de seu aliado. A partir de 2011, ela adotou a política que ficou conhecida como nova matriz econômica.

De caráter heterodoxo (corrente minoritária entre acadêmicos da área econômica) e desenvolvimentista, sua principal característica foi a forte intervenção do Estado na economia, visando induzir ao crescimento. Para tanto, foram tomadas medidas como redução da taxa de juros, elevação do gasto público, concessão de subsídios e interferência nos preços do setor energético.

Até meados do primeiro mandato, o PIB seguiu crescendo, ainda que em ritmo menos acelerado do que no governo anterior. A presidente vinha mantendo um índice relativamente alto de aprovação, até que um evento marcaria o início de uma mudança drástica nos rumos da política brasileira: as manifestações de junho de 2013.

No começo, tratava-se de protestos contra o aumento na passagem do transporte público em algumas capitais. Mais adiante, porém, elas ganharam força e passaram a defender pautas mais amplas, como melhorias nas áreas da educação, da saúde e combate à corrupção. Após o movimento, a aprovação de Dilma caiu significativamente.

Outros fatores também ampliaram o desgaste do governo, como a estagnação econômica em 2014 e o início da operação Lava Jato no mesmo ano, responsável por apurar um grande esquema de lavagem de dinheiro chamado petrolão.

Para compreender melhor o debate entre diferentes políticas econômicas, veja nosso conteúdo sobre esquerda e direita na economia!

O segundo mandato de Dilma e o impeachment

Mesmo com os desafios enfrentados, Dilma foi reeleita em 2014, vencendo Aécio Neves (PSDB) no segundo turno. Porém, os problemas apenas se aprofundaram em seu novo mandato.

Em 2015 e 2016, o país foi atingido pela pior recessão econômica documentada em sua história, cuja magnitude superou a da grande depressão de 1929, levando a uma queda no PIB de 3,8% e 3,6% em cada um dos respectivos anos. Muitos economistas atribuíram a crise às políticas da nova matriz econômica.

Além disso, a inflação aumentou significativamente, assim como a taxa de juros. O mau desempenho econômico contribuiu para o aumento da pobreza, colocando em xeque parte dos avanços sociais conquistados em anos anteriores.

Em meio a esse cenário de piora na economia, deterioração das contas públicas e avanço da Lava Jato, expondo a corrupção na máquina pública, grandes manifestações contra Dilma e o PT tomaram as ruas do país. A maior delas, ocorrida em 13 de março de 2016, reuniu mais de 3 milhões de pessoas por todo o Brasil.

Diante da perda de apoio popular, da crise econômica e da crise política, partidos da base aliada no Congresso foram, aos poucos, desembarcando e a situação do governo tornou-se insustentável. No dia 17 de abril de 2016, a Câmara autorizou o prosseguimento do processo de impeachment da presidente, que teve seu mandato cassado pelo Senado em 31 de agosto do mesmo ano.

Até hoje, esse fato político suscita debates. Para seus defensores, as pedaladas fiscais praticadas por Dilma configuram crime de responsabilidade e o trâmite do processo ocorreu dentro da lei. Além disso, argumentam que a presidente não tinha mais condições de governabilidade.

Para o PT e seus apoiadores, por outro lado, não houve crime. O impeachment é visto por eles como um golpe cujo objetivo teria sido implementar no país uma agenda diferente daquela vitoriosa nas urnas.

Deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) profere o voto que garante o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma. Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

História recente do PT: o partido durante os governos Temer e Bolsonaro

Após o afastamento da presidente, o vice Michel Temer (MDB) assumiu o cargo. O Partido dos Trabalhadores voltou a figurar na oposição, votando contrariamente a medidas da nova gestão, como a PEC do teto de gastos e a Reforma Trabalhista, que entraram em vigor em 2017.

Durante o período, Lula passou a ser investigado na operação Lava Jato. O ex-presidente foi acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação envolvendo um triplex no Guarujá. Após sua condenação pelo então juiz federal Sérgio Moro e a confirmação da decisão em segunda instância, Lula foi preso no dia 7 de abril de 2018.

Por estar inelegível, o PT optou, naquele ano, por lançar em seu lugar a candidatura à presidência do ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad. O candidato chegou ao segundo turno, mas foi vencido por Jair Bolsonaro (PSL).

A derrota pode ser explicada, dentre outros fatores, pelo forte sentimento antipetista de parcela considerável da população, o que tornou a rejeição a Haddad bastante elevada. Nas eleições municipais de 2020, assim como havia ocorrido em 2016, o partido não obteve bons resultados, em comparação com pleitos anteriores.

Veja também nosso vídeo sobre as eleições de 2018!

Durante o governo Bolsonaro, o PT vem se mantendo na oposição. De 2019 para cá, Lula obteve vitórias na justiça, como sua soltura, depois que o Supremo Tribunal Federal revisou sua posição anterior quanto à prisão após condenação em segunda instância.

A Lava Jato sofreu duras críticas no período, principalmente após serem divulgados áudios revelando conversas entre procuradores da operação e Moro. Mais adiante, o ex-juiz foi considerado suspeito pelo STF, o que levou à anulação das acusações contra o ex-presidente.

O PT nas eleições de 2022

Lula foi o candidato do PT nas eleições presidenciais de 2022. O partido buscou ampliar o leque de alianças para formar uma espécie de frente ampla capaz de derrotar Bolsonaro. Ter o antigo adversário Geraldo Alckmin (PSB) como candidato à vice-presidência em sua chapa foi o maior símbolo dessa movimentação.

Convenção nacional do PSB oficiliza Alckmin como vice de Lula. Imagem: Ricardo Stuckert/Valor Econômico.
Convenção nacional do PSB oficializa Alckmin como vice de Lula. Imagem: Ricardo Stuckert/Valor Econômico.

Na coligação do petista, além do PV e do PCdoB, partidos com os quais o PT forma federação, estão Rede, PSOL, PSB, PROS, Solidariedade, Avante e Agir.

Após o primeiro turno, passaram a apoiá-lo também PDT, Cidadania, PCB, PCO, PSTU e UP. Ao fim do segundo turno mais acirrado da história, Lula saiu vitorioso com 50,9% dos votos válidos, totalizando 60.345.999 eleitores.

E aí, o que achou da história do PT? Aprendeu algo novo sobre o partido? Conte-nos nos comentários!

GoCache ajuda a servir este conteúdo com mais velocidade e segurança

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe este conteúdo!

ASSINE NOSSO BOLETIM SEMANAL

Seus dados estão protegidos de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)

FORTALEÇA A DEMOCRACIA E FIQUE POR DENTRO DE TODOS OS ASSUNTOS SOBRE POLÍTICA!

História do PT: conheça o maior partido da esquerda no país

15 abr. 2024

A Politize! precisa de você. Sua doação será convertida em ações de impacto social positivo para fortalecer a nossa democracia. Seja parte da solução!

Pular para o conteúdo