Música e Política: conexão que transforma composições em luta

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A música é uma expressão cultural que busca unir e convocar pessoas a gritar aquilo que pensam, sentem e buscam. A vida é política. A forma como nos vestimos, nos portamos, as músicas que escolhemos escutar, tudo isso é uma forma de fazer política.

Por essas semelhanças, a música e a política se entrelaçam e mostram ferramentas à sociedade, como forma de demonstrar seus descontentamentos com determinada gestão política.

As composições musicais são poderosas ferramentas de comunicação, dando à população a possibilidade de questionar a falta de políticas públicas, ações de seus representantes no governo, bem como expor suas preocupações e propor mudanças.

A música é um movimento político, que possui uma grande importância na evolução da sociedade como um todo ao longo do tempo. Durante esse texto, vamos percorrer esse caminho da música na política.

Produções musicais políticas ao longo do tempo

Ainda no século XIX, Chiquinha Gonzaga (1847-1935), compositora e maestrina, foi responsável pela primeira marchinha de carnaval. Suas composições não tinham cunho político, mas a história de Chiquinha é política. Filha de um militar com uma mulher escravizada, ela seguiu sua arte mesmo que a sociedade não desse espaço para mulheres pretas.

Sua arte foi utilizada como forma de defender aquilo em que acreditava. Chiquinha Gonzaga vendia suas partituras visando arrecadar fundos para a Confederação Abolicionista, organização que tinha como objetivo de colocar pressão no governo pelo fim da escravidão.

Nos anos de 1930, Alvarenga e Ranchinho, que eram uma dupla caipira de comediantes, criaram composições de protesto contra o regime ditatorial de Getúlio Vargas (1882-1954).

Eles eram sempre presos depois dos shows, por falar mal do governo de Vargas. Isso tudo se tornou tão frequente que, segundo Ivan Vilela em uma entrevista para alunos de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo, Getúlio deixou a dupla livre e mencionou: “Fale mal ou bem, mas falem sobre mim”.

A música na década de 60, por exemplo, era ligada ao tratamento de manifestações populares, sendo uma forma de expressão política.

A marginalização e a criminalização de gêneros musicais, também marcaram atos políticos, tendo como a resistância algo que é abordado nas letras até os dias atuais.

A origem do samba, por exemplo, carregada por pessoas pretas escravisadas que já misturavam batuque a elementos religiosos e a dança, foi marginalizado e proíbido na maior parte dos lugares ditos “elitizados”, nos séculos XVIII e XIX.

Durante as décadas de 60 e 80, a ditadura militar mudou o conceito de fazer música voltado aos protestos políticos. Sem liberdade de expressão, torturas para quem se dizia contra o regime, além de presos e exilados políticos, a música foi uma forma de resistência por parte da comunidade artística.

Veja também: a ditadura militar no Brasil

Por meio de festivais de música televisionados pelas principais emissoras de TV da época, a MPB se difundiu e seguiu forte no combate à ditadura militar. Porém, durante a ascensão da Música Popular Brasileira houve um grande número de artistas presos e exilados. Entre eles Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Raul Seixas, entre outros.

Elis Regina. Imagem: Site Música Brasileira.

Músicas da época de ditadura militar:

· “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré;

· “Cálice”, Chico Buarque;

· “Tiro ao Álvaro”, Adoniran Barbosa;

· “Acender as Velas”, Zé Keti.

Veja também nosso vídeo sobre a Ditadura Militar!

Com a volta da democracia, as músicas com cunho político não acabaram, mas se modificaram nos anos seguintes. Na década de 90 aos anos 2000, as temáticas sobre as desigualdades sociais, de gênero e de raça começam a ganhar espaço na MPB, rap, samba, entre outros gêneros.

Alguns artistas, principalmente do rap, abordaram temas ligados aos problemas de desigualdade, violência contra a população negra e pobre, além de dar voz aos jovens da periferia.

Um dos maiores exemplos foi o Racionais MC’s, grupo formado por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. Suas composições foram duramente rechaçadas por poderes políticos, justamente pela forma aberta na qual o grupo abordava os assuntos nas músicas.

Racionais MC’s. Imagem: Red Bull Music Academy

No começo do século XX, o rap continuou sendo um dos principais gêneros musicais que se engaja com pautas sociais e políticas. O rapper Criolo é um dos exemplos que trouxe para essa nova geração a discussão de temáticas relevantes do Brasil dentro de suas músicas.

A música “Boca de Lobo”, é um exemplo de críticas abertas ao governo e sua “industrialização de um povo”.

Leia também: a estética política dos Racionais Mc’s

“É que a indústria da desgraça pro governo é um bom negócio/ Vende mais remédio, vende mais consórcio/ Vende até a mãe, dependendo do negócio/ Montesquieu padece, lotearam a sua fé/ Rap não é um prato aonde cê estica que cê quer/ É a caspa do capeta, é o medo que alimenta a besta/ Se três poder vira balcão, governo vira biqueira/ Olhe, essa é a máquina de matar pobre/ No Brasil, quem tem opinião, morre”.

Ao longo dos anos 2000/2010, não só as composições musicais, mas a existência de artistas LGBTQIA+, pretos, indígenas, portadores de deficiência, também virou um ato de resistência e luta.

Pabllo Vittar, Gloria Groove, Emicida, Kunumí MC, são alguns dos exemplos que transformaram a indústria musical e a forma com que a indústria se posiciona na sociedade.

Veja também nosso vídeo sobre a conquista de direitos étnico-racias!

Samba da avenida

Em tempos nos quais falar de política era um ato perigoso, a festa cultural mais popular do Brasil foi um grande palco de atos políticos e democráticos.

Em 2019, a escola de samba Estação Primeira de Mangueira, deu a cara a tapa para colocar seu samba-enredo politizado de forma clara e pontual. A História para Ninar Gente Grande (2019) é o exemplo de resistência de um gênero musical que nasceu para dar voz aos invisibilizados no processo de civilização.

A escola de samba cantou sobre os principais heróis brasileiros, que são pouco mencionados nos livros de história. Veja abaixo um pouco sobre cada um deles:

Heróis do Brasil. Imagem: produção própria.
Heróis do Brasil. Imagem: produção própria.

A música de fato é um ato político?

A música é um dos meios culturais que mais agregam e se misturam com a interação da sociedade e suas mais diversas formas de vida. Segundo a jornalista e produtora musical Cá Tavares, a arte em si é um ato político, mesmo que esse posicionamento não esteja escrito em suas composições.

“Artistas estão sempre procurando espaços para ocupar e nadando contra a maré do capitalismo para manterem as contas pagas de alguma maneira. O músico que diz não misturar arte e política já está se contradizendo na essência daquilo que faz”, completa.

A construção da identidade da sociedade moderna passa por diversas formas de expressão cultural, quebrando barreiras e contando para diversas gerações a história de um país através de canções. A ocupação cultural de um país é um ato político. A politização de um povo é feita através de ritmos, batidas, melodias, e muita resistência.

E você, acredita na importância que a música tem para a política de um país? Conta para a gente nos comentários.

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Conteúdo escrito por:
Meu nome é Yanna Calisto, sou uma mulher preta recém formada em jornalismo pelo Centro Universitário IESB e sou de Brasília. Apaixonada por música, uma arte que me move e que tem o poder de nos transformar politicamente.
Carvalho, Yanna. Música e Política: conexão que transforma composições em luta. Politize!, 11 de setembro, 2023
Disponível em: https://www.politize.com.br/musica-e-politica/.
Acesso em: 10 de dez, 2024.

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