Há uma década o movimento social conhecido como Occupy Wall Street aparecia pela primeira vez nos jornais, levantando importantes questionamentos acerca da má distribuição de renda pelo mundo. Neste texto, iremos explicar com mais detalhes o que foi o movimento e qual o seu contexto, além de refletirmos como a pauta levantada pelos ativistas do OWS pode ser pensada 10 anos depois.
O que foi o Occupy Wall Street
Em 17 de setembro de 2011, cerca de 150 pessoas ocuparam o Zuccotti Park, localizado em Manhattan, o distrito financeiro de Nova York. Segurando cartazes e gritando palavras de ordem, os manifestantes protestavam contra a desigualdade econômica e social nos Estados Unidos. O movimento, inspirado na Primavera Árabe, não possuía liderança e tinha como objetivo manter uma ocupação constante em Wall Street, a rua mais importante do distrito.
As manifestações ganharam força nos primeiros meses, gerando uma onda de protestos semelhantes em diversas cidades dos Estados Unidos, da Europa e de outras partes do mundo, incluindo o Brasil.
Qual o contexto do movimento
Em 2008, três anos antes da primeira ocupação em Wall Street, o mundo recebia a notícia de que o Lehman Brothers, um importante banco de investimentos dos Estados Unidos, havia decretado falência, desencadeando a crise financeira de 2008. Nos meses seguintes, a renda familiar estadunidense sofreu uma queda de 25%, enquanto o desemprego teve alta de 10,1%, o maior percentual em 25 anos. Nesse mesmo período, a desigualdade financeira entre a população dos Estados Unidos cresceu, assim como em outros países, mantendo-se elevada ao decorrer dos anos.
Em 2011, motivado pela própria indignação e usando a Internet como aliada, Kalle Lasn, o fundador da revista ativista Adbusters, convocou o protesto em Wall Street. Graças às mídias sociais, o movimento tornou-se conhecido por dezenas de pessoas, sobretudo jovens, que se identificaram com as pautas e confirmaram presença.
Nas ruas de Manhattan, em 17 de setembro, os manifestantes apareceram pela primeira vez segurando cartazes com o slogan do movimento: “We Are The 99%” (“Nós Somos os 99%”, em português). A frase refere-se à disparidade econômica existente entre o 1% mais rico e todo o resto da população mundial.
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Após dois meses de ocupação no Zuccotti Park, em 15 de novembro, a polícia de Nova York desmontou o acampamento dos manifestantes durante a madrugada, expulsando-os do local. Em muitas das passeatas que sucederam esse episódio, houve o uso de força policial, com centenas de pessoas detidas. Aos poucos, o movimento foi perdendo forças nos Estados Unidos. Em entrevista para o jornal CartaCapital, Micah White (editor da revista Adbusters e um dos criadores do protesto, junto à Kalle Lasn), explicou:
“O Occupy Wall Street combinou táticas usadas no Egito com as da Espanha e aplicou isso nos Estados Unidos. A polícia não soube responder a essa nova estratégia e é por isso que o movimento funcionou. Uma vez que a polícia descobre como responder, ela destrói todos os movimentos da mesma forma.
Nos estágios iniciais, a Internet foi muito importante para os movimentos sociais. Contudo, com o tempo, passou a ser prejudicial porque as coisas começaram a parecer melhores na Internet do que na vida real […]. O protesto parecia ser melhor no Facebook do que ele era nas ruas. Com o Occupy foi assim.”
Como podemos pensar essa pauta 10 anos depois
Entre 2011 e 2013, o Occupy Wall Street chamou a atenção do mundo, abrindo discussões e fazendo com que parte da população reconhecesse a ganância corporativa, a corrupção e a disparidade socioeconômica. Apesar disso, o movimento não conquistou mudanças significativas.
Atualmente, 10 anos após o início da ocupação, a pandemia da Covid-19 desencadeou mais uma crise em diversos países, intensificando a desigualdade social e financeira em muitos deles.
Em 2020, os Estados Unidos enfrentaram as piores taxas de desemprego desde que os registros começaram a ser feitos, em 1948. A desigualdade no país atingiu o maior índice dos últimos 50 anos, com 1% das pessoas mais ricas acumulando 35% de toda a riqueza local, de acordo com o censo estadunidense. A preocupação com a instabilidade econômica fez, até mesmo, com que um grupo de multimilionários protestassem pedindo o aumento de impostos para os cidadãos mais ricos dos EUA.
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Para o mundo, em uma década, houveram mais retrocessos do que avanços. No ano passado, uma pesquisa da Oxfam apontou que cerca de 2 mil bilionários possuem lucros superiores a 60% da população mundial. Assim como em 2011, a melhoria na distribuição de renda continua sendo um preocupante tema de muitas discussões entre a mídia, a população e, em algumas situações, entre governos.
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REFERÊNCIAS
BBC: ‘EUA estão desmoronando’: o multimilionário que pede que os mais ricos paguem mais impostos
BBC: Por que os EUA têm os piores índices de pobreza do mundo desenvolvido
Brasil de Fato: Pandemia deve acelerar desigualdade nos EUA, que já é a pior dos últimos 50 anos
CartaCapital: “A democracia está em crise porque o dinheiro controla governos”
Occupy Wall Street | NYC Protest for World Revolution
Oxfam: Bilionários do mundo têm mais riqueza do que 60% da população mundial