Saci Pererê: conheça a história do personagem que é a cara do Brasil

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Entre os mitos que cercam o Folclore, o Saci-Pererê se consagra como o mais famoso e reproduzido.

Protagonista do primeiro gibi a cores do Brasil, o personagem surgiu de uma mistura que forma o povo brasileiro.

Você já conhece essa história? A Politize preparou um material especial para você entender melhor a origem do Saci.

O que é um mito? Como ele surge?

Antes de pensar em como o Saci surgiu é preciso entender como funciona a criação de uma história no imaginário popular.

Nesse sentido, os significados de algumas palavras podem ajudar a traçar uma definição do que é um mito dentro do folclore. Por exemplo:

  • A palavra mito tem a sua origem no vocábulo grego mýthos, que compartilha o mesmo radical do verbo grego mýtheomai. Esse termo significa “dizer”.

Assim, é possível concluir que “mito” significa a história que foi falada;

  • Folclore surgiu da junção de dois termos em inglês: “folk” e “lore”. O primeiro se refere ao povo e o segundo pode ser usado para falar sobre tradição, conhecimento ou uma coletânea de fatos.

Ou seja, o folclore é a junção de todas as histórias que transmitem o conhecimento do povo.

Saiba mais: Folclore: a cultura popular que reflete a identidade de um povo

Assim, o nascimento de uma lenda folclórica acontece com a transmissão de histórias que concentram em si a sabedoria popular.

Mas e o Saci? Como nasceu?

Existem algumas hipóteses que discutem o surgimento do Saci. A mais aceita é a que o personagem é uma fusão de influências que formam o imaginário brasileiro.

Em primeiro lugar, com os povos originários, os indígenas, com o ‘çaa cy perereg’ (Yacy Yateré) do guarani, e outros mitos. Depois, com os portugueses e os negros escravizados.

Assim, aos poucos, o Saci Pererê passou a ter na pele, nas roupas e no significado, a história do Brasil.

Independente do criador original, desde seu início, entre os séculos 18 e 19, o Saci é considerado símbolo de luta por muitos estudiosos.

Para Francisco José Nunes, professor e integrante da Sociedade dos Observadores do Saci, o personagem é um representante das lutas populares:

“Chamava-se Yacy-Yateré, assumiu as lutas de resistência indígena e depois virou Saci com as lutas do povo negro, contra a escravidão. “

Quais as principais características do Saci?

Em 1917, Monteiro Lobato usou o seu espaço na mídia para pedir a colaboração de brasileiros na elaboração do que viria a se tornar o livro ‘Sacy Perere – O resultado de um inquérito’, publicado em 1918.

O autor recebeu mais de 70 respostas com causos e histórias de aparição do Saci por todo o país.

O texto foi uma das primeiras obras a falar sobre o Saci, e é citado em diversas pesquisas sobre o assunto.

Além disso, foi por meio desse registro em que as características mais conhecidas do Saci foram destacadas.

As características canônicas do personagem descrevem um menino negro, de uma perna só, que carrega um cachimbo e usa um capuz vermelho, que é a fonte dos seus poderes.

Já a sua personalidade é descrita como arteira, cheia de pequenos delitos, mas sem nunca ser má de verdade.

O Saci é descrito como protetor das florestas e das crianças. Além disso, também é comum em sua história que o seu meio de locomoção seja um redemoinho.

O uso da imagem do Saci pelas elites brasileiras

As imagens dos personagens folclóricos do Brasil sempre foram utilizadas pelas elites para reforçar estereótipos. Com o Saci, não foi diferente.

Para Renato Queiroz, a elite rural do Século 18 formou a caracterização do Saci usando conceitos preconceituosos.

As descrições consideravam o negro brasileiro a um ser inferior, próximo da animalidade, capaz de atos maléficos.

Leia também: Quais as origens do racismo estrutural no Brasil?

O pesquisador destaca que mesmo quando havia o tom de humor, os termos utilizados “acabam por reforçar, na verdade, esse propósito de desqualificar o indivíduo discriminado”.

Com a urbanização, o Saci foi “domesticado”. O primeiro a fazer isso foi Monteiro Lobato, nas obras ‘O Sítio do Pica-Pau Amarelo’, de 1920 e ‘O Saci’, de 1921.

Suas características mais rudes foram esquecidas, e assim foi criada a primeira versão do Saci que conhecemos hoje, um amigo trapalhão e bem-humorado.

Queiroz ressalta que essas mudanças são exploradas pelas classes dominantes para a manutenção de narrativas:

“Convertendo manifestações culturais que tiveram origem no interior de grupos subalternos (etnias ou classes) em símbolos de nacionalidade, os segmentos sociais dominantes reafirmam a concepção de que o Brasil constitui uma realidade exemplar, um “paraíso” intocado das lutas de classes e dos preconceitos”.

O autor diz que, ao mesmo tempo, esses grupos marginalizados perdem símbolos de identidade e enfrentam dificuldades no reconhecimento da existência das desigualdades da sociedade.

Veja também nosso vídeo sobre direitos étnico-raciais!

O Saci deixou de ser o “diabinho” que ocupava apenas o imaginário, para virar o personagem infantilizado que estava presente em diversas histórias.

As representações do Saci na mídia

A Turma do Pererê – 365 dias na Mata do Fundão #1, 2004. Imagem: Ziraldo/Globo Livros

O Saci foi o personagem principal do primeiro gibi em cores produzido inteiramente no Brasil – A Turma do Pererê, do cartunista Ziraldo.

Além disso, apesar de aparecer como personagem secundário, também faz parte da obra ‘Sítio do Pica-Pau Amarelo’, nos livros e na TV.

Isak Dahora como Saci-Pererê no ‘Sítio do Picapau Amarelo’, 2007. Imagem: Globo / Divulgação”

Com suas representações iniciais na mídia, o Saci foi introduzido à literatura infantil e participou da alfabetização de mais de uma geração de brasileiros.

Em 2010, para uma matéria do jornal ‘O Globo’, Ziraldo conta que a criação da HQ partiu de um projeto de nacionalização dos gibis:

“Nos anos 50, surgiu um projeto de nacionalização das HQs. Na época, a revistinha da Luluzinha e do Bolinha vendia horrores, tipo uns 150 mil por mês.”

O Saci, que nasceu das lutas dos povos que formaram o Brasil, se tornou, com a apropriação da elite burguesa, o principal símbolo de brasilidade da literatura, capaz de bater de frente com publicações internacionais.

Principais publicações e representações:

  • O Saci-Pererê: Resultado de um Inquérito, 1917;
  • O Sítio do Pica-Pau Amarelo, 1920;
  • O Saci, 1921;
  • A Turma do Pererê, 1960;
  • Sítio do Pica-Pau Amarelo (TV), 1977;
  • Sítio do Pica-Pau Amarelo (TV), 2001.

O Dia do Saci: como a data surgiu?

A ideia surgiu inicialmente em 2003, com o deputado Aldo Rebelo Figueiredo, mas só foi para frente em 2013.

O deputado federal Chico Alencar (PSOL) e a vereadora de São José dos Campos Ângela Guadagnin (PT), apresentaram o Projeto de Lei Federal nº 2.479.

A ideia é que a comemoração seja feita todo dia 31 de outubro, como forma de valorização da cultura nacional.

No documento, fica claro que a escolha da data é proposital:

“Em vez de bruxas e gnomos, a manifestação cultural deve valorizar figuras folclóricas que se refiram às tradições brasileiras. Afinal, o saci é da nossa cultura e uma síntese das três raças que estão na origem da nação brasileira – o índio, negro e o branco.”

Em São Paulo, a data já era comemorada desde 2004, por meio da Lei Estadual nº 11.669.

O que achou da história do Saci? Conta aqui nos comentários?

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Por ser apaixonada por leitura desde pequena, escrever se tornou minha profissão e parte da minha identidade. Sou caiçara, jornalista e curiosa sobre como as relações sociais e políticas funcionam.

Saci Pererê: conheça a história do personagem que é a cara do Brasil

09 maio. 2024

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