Quais as definições sobre Ecossocialismo? Quais as suas fases? Como o Ecossocialismo pensa o meio ambiente e as relações capitalistas?
Pode-se considerar que o mundo está cada vez mais alerta com as crises ambientais e sanitárias que vêm afetando a biodiversidade do Planeta Terra. A preocupação, inclusive, torna-se ainda mais perceptível ao observarmos a realidade pandêmica em que estamos inseridos e que, de acordo com especialistas, também é proveniente de um desequilíbrio ambiental.
Em matéria publicada pelo jornal Estado de Minas, por exemplo, o gestor ambiental, Hiuri Metaxos, diz que a própria pandemia de COVID-19 surge desse desiquilíbrio, uma vez que o aumento da poluição e do desmatamento leva animais a saírem dos seus habitats naturais para as áreas urbanas, onde podem ter contato com humanos e infectá-los, caso sejam portadores de patógenos.
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Mas, afinal, o que é o ecossocialismo e o que ele defende? Existe relação do capitalismo com o agravamento das crises ambientais no mundo? Para facilitar a sua compreensão, neste texto, abordaremos algumas dessas questões.

O que é o ecossocialismo?
O ecossocialismo pode ser entendido como uma abordagem crítica e alternativa do que já conhecemos por desenvolvimento sustentável.
Neste sentido, enquanto o desenvolvimento sustentável visa a capacidade de suprimento de necessidades da atual geração, sem comprometer as necessidades da geração futura, conciliando desenvolvimento econômico com a conservação ambiental; o ecossocialismo parte de uma visão crítica ao capitalismo e às consequências ambientais e sociais causadas pelo sistema vigente.
A principal crítica do ecossocialismo é direcionada ao modo de produção e consumo capitalistas, argumentando que esse sistema concebe a natureza como uma fonte de lucros inesgotável e de recursos infinitos.
Um dos maiores estudiosos e defensores do assunto é o brasileiro Michael Löwy (1938). Radicado na França e filho de pais judeus austríacos, Löwy é um dos mais notáveis pensadores marxistas e cientistas sociais em atividade, tendo escrito cerca de trinta livros publicados em diversos países.
Em seu livro “O que é o ecossocialismo?”, referência no debate e nos estudos sobre o tema, o sociólogo define o ecossocialismo como “um projeto socialista que visa não apenas uma nova sociedade e de um novo modo de produção, mas também um novo paradigma de civilização.”
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Qual é a origem da corrente de pensamento do ecossocialismo?
De acordo com a literatura, os primeiros teóricos denominados “ecossocialistas” surgiram no fim da década de 1980, a partir do interesse pelo estudo da relação entre sociedade e natureza. Desse modo, esses estudiosos, advindos do campos das Ciências Sociais, propuseram uma abordagem mais crítica ao ambientalismo, buscando a superação do sistema capitalista.
Löwy afirma que essa corrente de pensamento “se desenvolveu sobretudo nos últimos trinta anos, graças a obras de pensadores do porte de Manuel Sacristan, Raymond Williams, Rudolf Bahro e André Gorz”. Ele também cita a importância de pensadores como James O’Connor, Barry Commoner, John Bellamy Foster, Joel Kovel e de muitos outros que foram igualmente importantes para o avanço dessa pauta.
Alguns artigos também apontam que o marco inicial do ecossocialismo é o periódico “Capitalism, Nature, Socialism: A jornal of socialist ecology”, fundado em 1988, por James O’Conner, um sociólogo estadunidense.
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As fases do debate ecossocialista
Como a maioria das correntes de pensamento, o ecossocialismo também possui suas fases de evolução. Descritas também como estágios, três importantes fases são reconhecidas pelos estudiosos dessa abordagem crítica.
Primeira fase: debater o meio ambiente pelo viés socialista
De acordo com a doutora em Sociologia, Sabrina Fernandes, que possui um canal no YouTube chamado “Tese Onze”, a primeira fase do ecossocialismo surge entre as décadas de 80 e 90.
Logo, o principal objetivo dessa corrente de pensamento é integrar os estudos socialistas às questões ligadas à preservação do meio ambiente, questionando, por exemplo, o produtivismo da União Soviética que gerou diversos problemas ambientais.
Desse modo, enquanto na segunda metade do século XX, o ambientalismo começa a se constituir como um movimento político, o ecossocialismo surge a partir do interesse de alguns grupos militantes socialistas em abordar os debates sobre questões de ordem ambiental, econômica e social pelo viés socialista. Como descreve a pesquisadora, a intenção era unir as bandeiras “verde” e “vermelha”.
Nesta fase, os debates estavam, majoritariamente, mais entrelaçados com os escritos de Karl Marx, tomando como base os estudos sobre a produção industrial. Além disso, havia também críticas direcionadas ao stalinismo, um regime totalitário que imperou na União Soviética, de 1927 a 1953, e que foi liderado por Josef Stalin.
Segunda fase: buscar a Teoria Verde dentro dos parâmetros marxistas
Neste segundo estágio do ecossocialismo, a intenção era procurar os fundamentos para a formulação de uma Teoria Verde dentro dos estudos e discussões propostas por Karl Marx.
Desse modo, a segunda fase tem como ponto de partida a publicação do livro “Karl Marx’s Ecossocialism”. Escrita pelo filósofo Kohei Saito, a obra busca evidenciar de que modo a teoria marxista também propõe um embate das teses ambientalistas contra o capital e como as ideias do marxismo e da ecologia também estão interconectadas.
No prefácio do livro, escrito por Sabrina Fernandes, ela diz que:
“se em 1844 Marx demonstrava preocupação com a cisão entre ser humano e natureza impulsionada pelo capitalismo, em 1865 escrevia a Engels sobre seu interesse em química e fertilidade do solo. A partir dessa análise, Marx nos entrega elementos para a discussão de ruptura metabólica que nos permite questionar os limites ecológicos do sistema capitalista e, ao mesmo tempo, criticar os impactos da agricultura em larga escala.”
Terceira fase: reflexão crítica aos movimentos sociais e aos debates político-sociais
Segundo Sabrina Fernandes, em seu vídeo “Fundamentos do Ecossocialismo”, a fase mais atual do ecossocialismo busca inserir os fundamentos nos debates anticoloniais, desenvolvimentistas, indígenas, tecnológicos e que envolvam, por exemplo, a dicotomia entre campo e cidade.
A doutora também cita o veganismo como uma das mais recentes práticas ativistas em que o ecossocialismo também se insere a partir de um amplo debate. Isso acontece, segundo ela, porque os animais também devem ser inseridos nessas discussões.
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Você conseguiu entender o que é o ecossocialismo? E qual a sua opinião sobre o debate ecossocialista? Escreva para nós nos comentários!
REFERÊNCIAS
Carta aos governantes do mundo | Por ocasião da Cúpula de Mudanças Climáticas
CNN Brasil – Crise climática: entenda por que o mundo está mais quente
CNN Brasil – Em meio à pandemia, como discutir a crise da mudança climática?
Esquerda Online – Marx era um ecossocialista? Uma resposta a Kohei Saito
Estado de Minas – Coronavírus: destruição ambiental gera exposição a novas epidemias
G1 – Desmatamento na Amazônia é o maior dos últimos dez anos
Tese Onze – Pra vegano conhecer o ecossocialismo
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