A contínua ocupação de habitantes nas cidades fez com que o meio ambiente natural sofresse diversas transformações, dentre eles as florestas urbanas. A impermeabilização do solo para a pavimentação de ruas, avenidas, estradas, bem como para a construção de casas e prédios, é um exemplo dessas alterações.
Essa e outras atividades modernas, como a intensa circulação de carros, não trouxeram apenas facilidades às sociedades. Elas também geraram e geram mudanças negativas na biodiversidade e no clima, por exemplo.
Para amenizar esses problemas, os governos passaram a tomar medidas regulatórias sobre a expansão citadina, bem como promover ações para o desenvolvimento de maior equilíbrio entre as cidades e a natureza. Assim, foram criadas as florestas urbanas, uma cobertura vegetal dentro do espaço urbano.
Para entender mais sobre esse conceito, a Politize! vai te contar diversas características desses espaços e como eles são vistos por diferentes pontos de vista.
Este conteúdo integra a trilha do Projeto Amazônia Urbana, uma iniciativa que busca aprofundar o entendimento sobre os desafios e transformações ambientais das cidades na região amazônica.
O projeto é realizado pela Politize!, em parceria com o Pulitzer Center.
Características das florestas urbanas
As florestas urbanas podem ser áreas naturais, que são regularmente preservadas por órgãos e instituições privados ou públicos, bem como podem ser planejadas pelos mesmos.
Nesse sentido, pesquisadores como Carise Cecchetto, Samara Christmann e Tarcísio Oliveira defendem que, apesar de ser possível a introdução de espécies exóticas em alguns espaços, a priorização de espécies nativas é importante.
Além de terem adaptação garantida ao ambiente, a produção de flores e frutos é mais provável e a propiciação de alimentos para os animais nativos também é um fator levado em consideração.
Ainda, os autores defendem que as espécies nativas de cada localidade podem atrair turistas que procuram características próprias das cidades por onde passam.
Sendo assim, além das florestas urbanas promoverem benefícios estéticos, que podem contribuir para o turismo, também trazem benefícios ambientais.
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De acordo com pesquisa realizada pela mestra em anatomia vegetal, Erica Silva, esse tipo de integração com a natureza pode proporcionar melhor qualidade de vida também pela viabilização da absorção de ruídos, da diminuição da temperatura, da conservação do solo, do sequestro de carbono, entre outros benefícios.
Qual a importância das Florestas Urbanas?
De acordo com pesquisa, florestas urbanas trazem diversos benefícios ambientais. O solo permeável das áreas verdes, por exemplo, favorece o escoamento e a infiltração da água. Esse fenômeno pode contribuir para a redução de danos causados por enchentes.
“A restauração dos ecossistemas nas cidades representa uma medida eficaz para reverter os processos de degradação ambiental resultantes da urbanização. A reversão desses processos pode ser favorecida em regiões com alta biodiversidade, ao multiplicar os serviços ecossistêmicos das florestas urbanas […], transformando-as em florestas funcionais.” (Silva et al, 2019, p. 85)
Já Checchetto, Christmann e Oliveira apontam uma série de outros benefícios. As raízes das árvores diminuem riscos de deslizamento, enquanto a copa das árvores produz sombras que contribuem para controlar o calor, gerando um conforto térmico.
Além disso, essa integração entre cidade e natureza deve levar em conta um planejamento. Esse planejamento afeta toda a cidade, uma vez que, para sua implementação, deve ter em vista diversos fatores.
O distanciamento entre os prédios, a largura das ruas e calçadas, a possibilidade de adaptação das espécies arbóreas que ali vivem ou que virão a ser introduzidas. Esse remanejamento altera a cidade.
De acordo com o economista Arlindo Villaschi, florestas urbanas ainda podem contribuir para o aumento do turismo. Além de poderem ser integradas a instrumentos de lazer, como parques infantis e academias ao ar livre, a vegetação nativa pode atrair turistas. É o caso do Parque Barigui e o Bosque do Alemão, em Curitiba.
A Politize! tem um artigo sobre turismo sustentável!
Benefícios das Florestas Urbanas para o meio ambiente
A evapotranspiração é um dos grandes benefícios decorrentes das florestas urbanas. Esse processo se refere ao retorno da água para a atmosfera e trata-se da evaporação da água combinada à respiração das plantas. Se bem esquematizado, pode contribuir para a umidificação do ar e a regulação das chuvas.
Além disso, Cecchetto, Christmann e Oliveira (2014) citam ainda outras diversas funções benéficas das florestas urbanas. Além da maior fixação da terra proporcionada pelas raízes das árvores e o conforto térmico causado pela sombra de suas copas, elas também possibilitam maior absorção de gases e folículos poluentes.
A arborização decorrente das florestas urbanas também serve como uma barreira natural para rajadas de vento e filtração das impurezas das águas. Além disso, conserva a flora nativa e contribui para o equilíbrio das cadeias alimentares. Não obstante, as florestas urbanas formam barreiras visuais e sonoras que embelezam as cidades!
Com a redução da poluição proporcionada pelas florestas urbanas e os espaços verdes para a socialização, com a integração de parques infantis e academias ao ar livre, é possível vislumbrar também benefícios para a saúde física e mental das populações.
Inclusive o setor imobiliário reconhece o potencial de áreas verdes na valorização de imóveis. Afinal, as florestas urbanas propiciam eficiência térmica e microclima, engajamento social, potencial disseminador de práticas de ESG, entre outros.
Até mesmo a Comissão de Valores Mobiliários, autarquia do governo federal, lançou um Plano de Ação de Finanças Sustentáveis entre 2023 e 2024. Seus objetivos visavam o combate a falsas propagandas de sustentabilidade das empresas; promoção de educação para investidores e transparência sobre as iniciativas sustentáveis promovidas pelo regulador do Mercado de Capitais.
Entretanto, existem limitações das florestas urbanas, e por isso, é necessário que elas sempre sejam planejadas. Afinal, as condições climáticas, do solo, do espaço e da exposição à poluição podem mitigar seus benefícios.
Exemplos de Florestas Urbanas no mundo
Shahzad Qureshi é um empreendedor paquistanês que tomou uma iniciativa sobre as florestas urbanas. Qureshi promoveu um financiamento coletivo para elaborar a primeira floresta urbana na cidade de Karachi.
A floresta urbana localizada mais especificamente no parque Clifton é um exemplo de integração entre cidade e natureza. Ela promoveu o envolvimento de mais de 9 mil pessoas para o plantio de mudas.
Além disso, aproximou diversos jovens à temática a partir de passeios escolares na região. Os resultados sociais e ambientais se mostram tão promissores que Qureshi planeja expandir o conceito por todo o Paquistão. Entre seus objetivos está a reversão de ilhas de calor.
Você pode ver mais sobre o projeto aqui.
Já o Bosque de Chapultepec é considerado o primeiro e mais importante pulmão da Cidade do México. O parque ameniza ilhas de calor e atrai chuva. Mais do que isso, sua extensão verde refugia diversas aves migratórias canadenses e estadunidenses, além das nativas.
O parque também promove diversas atrações, como o Museu Nacional de História, o Alfonso Herrera Zoo, os Lagos Mayor y Menor, o Museu Nacional de Antropologia e o Altar a la Pátria.
No Brasil, temos o Parque Estadual da Cantareira, localizado em São Paulo. O parque abrange quatro municípios: a capital paulista, Guarulhos, Mairiporã e Caieiras.
Ele é considerado uma das maiores florestas urbanas do mundo. Sua área comporta 7.916,52 hectares. Não à toa, foi declarado parte da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde paulistano pela UNESCO, em 1994.
O número de florestas urbanas ao redor do mundo tem crescido cada vez mais. Outros grandes centros urbanos como Medellín, na Colômbia, Nova Iorque, nos Estados Unidos, e Milão, na Espanha, também possuem áreas verdes por entre elas.
Desafios no desenvolvimento de Florestas Urbanas
Apesar dos diversos benefícios das florestas urbanas serem comprovados e múltiplos, elas também apresentam desafios.
Pesquisa realizada por Larissa Candro, especialista em arborização urbana, ressalta que a capacidade das florestas urbanas de fornecerem serviços ecossistêmicos pode diminuir se elas estiverem sob condições de estresse.
Podas inadequadas e períodos de seca são exemplos de fatores estressantes para as florestas urbanas. Esse clima é hostil às árvores e pode reverter os benefícios ambientais anteriormente citados. Afinal, sob fatores estressantes, as árvores podem emitir mais carbono do que sequestrar.
Candro chama especial atenção para as árvores em sistema viário, ou seja, aquelas localizadas mais próximas ao sistema de tráfego. Essas árvores geralmente requerem mais manutenção e estão, consequentemente, mais sujeitas a emissões indiretas de gases de efeito estufa.
Além de ressaltar a importância do planejamento em torno das florestas urbanas, a especialista reforça a importância da conscientização e do envolvimento da população.
O futuro das Florestas Urbanas
O artigo 255 da Constituição Federal de 1988 defende o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Ressalta ainda a sua natureza de uso comum e do povo, com importante papel na promoção da qualidade de vida.
Para que esse direito seja assegurado, o Poder Público deve desenvolver diversas ações em prol de medidas regulatórias e promotoras de iniciativas verdes.
Como vimos ao longo deste artigo, as florestas urbanas, embora possam vir a ter suas limitações, são medidas eficientes para a redução de danos da atividade urbana. Elas mitigam ilhas de calor, gerando conforto térmico, protegem a fauna, purificam o ar, evitam deslizamentos e alagamentos.
A adoção de florestas urbanas por grandes centros urbanos é um demonstrativo de sua importância e popularização. De toda maneira, como reforçado por pesquisa realizada por Larissa Candro (2022), as mudanças climáticas são tamanhas e os dados obtidos apontam que as florestas urbanas também serão atingidas por elas.
Isso reforça sua implementação como uma medida mitigatória de problemas maiores. Como apontado por matérias divulgadas pela Pulitzer, a Amazônia, conhecida como o pulmão do mundo, corre perigo. A floresta tem cada vez menos absorvido carbono e o desmatamento tem aumentado.
A ausência de políticas de conscientização e do engajamento da população com o meio ambiente pode favorecer atividades econômicas que, sem manejo sustentável, resultam em impactos ambientais negativos, como extração de madeira ou expansão imobiliária.
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O envolvimento popular, como ocorrido no Paquistão, no desenvolvimento de florestas urbanas pode ser uma maneira de diminuir a distância entre a sociedade e o meio ambiente.
Gostou de conhecer sobre florestas urbanas? Existe algum parque perto da sua casa? Você percebe climas mais amenos próximos a áreas verdes? Conta pra gente nos comentários!
Se você gostou do conteúdo, conheça o Projeto Amazônia Urbana, uma iniciativa da Politize! em parceria com o Pulitzer Center. O projeto busca ampliar o olhar sobre os desafios das cidades amazônicas, promovendo conteúdos acessíveis e didáticos sobre urbanização, justiça climática e participação cidadã na região. Acompanhe essa jornada!
Referências
- A Gazeta – Florestas urbanas para o clima e para as pessoas
- BBC – Florestas urbanas podem ser solução para combater ondas de calor em grandes cidades?
- CANDRO, Larissa. O papel das florestas urbanas na mitigação e adaptação frente às mudanças climáticas nas cidades: uma revisão sistemática. Orientador: Jeanne da Trindade. Monografia (Especialização). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Arborização Urbana, 2022.
- CECCHETTO, Carise; CHRISTMANN, Samara; OLIVEIRA, Tarcísio. Arborização urbana: importância e benefícios no planejamento ambiental das cidades. XVI Seminário Internacional de Educação no Mercosul. 2014. pp. 01-13.
- FERREIRA, Maurício; ZABOTTO, Alessandro; PERIOTTO, Fernando (Orgs.). Verde urbano. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2021.
- PodaLab – Florestas Urbanas
- Pulitzer – Plans for a waterway that will destroy 35 km of fish sanctuary are already causing deforestation and affecting quilombola communities in Pará
- Pulitzer – Trouble in the Amazon
- SILVA, Erica et. al.. Um novo ecossistema: florestas urbanas construídas pelo Estado e pelos ativistas. Estudos avançados, v. 33, n. 97, 2019. pp. 81-101.
- SILVA, Luiz; FONTES, Maria; FARIA, João. Microclimas em florestas urbanas: uma revisão de literatura. Revista Nacional de Gerenciamento de Cidades. v. 07, n. 51, 2019. pp. 114-127.
