A Intentona Comunista foi um movimento deflagrado em diferentes estados do Brasil no ano de 1935.
Em meio ao contexto internacional de proliferação das ideias comunistas ao redor do mundo, a Revolta Comunista de 1935 foi um símbolo nacional dos movimentos que pensavam o comunismo como prática ideal frente às críticas ao governo de sua época.
Com duração rápida e violenta repressão, a Intentona Comunista representou um retrato do Brasil na década de 1930.
Uma república em desenvolvimento que, aliada a estruturas sociais em formação, experimentava a prática política em meio a disputa de interesses de seus principais grupos.

O que foi a Intentona Comunista?
O movimento conhecido como Intentona Comunista ocorreu em 1935 no Rio Grande do Norte, Pernambuco e Rio de Janeiro. Estados como Minas Gerais, Rio Grande do Sul e o Distrito Federal também participaram de discussões sobre a revolta, sem que, entretanto, chegassem a colocá-las em prática.
Tendo como objetivo a implantação de uma revolução e um governo popular, a Intentona Comunista contou com a participação de membros de baixa patente do exército (sargentos, cabos e soldados), aliados da ANL (Aliança Nacional Libertadora) e do PCB (Partido Comunista Brasileiro).
Sob o lema “Abaixo o fascismo! Abaixo o governo de Vargas!”, o movimento obteve apoio internacional de lideranças soviéticas e participantes da Internacional Comunista.
A partir da liderança do gaúcho e líder do PCB (Partido Comunista Brasileiro) Luís Carlos Prestes, a Intentona Comunista pretendia mobilizar diferentes setores da sociedade brasileira em oposição às escolhas políticas de Getúlio Vargas como Presidente da República, consideradas autoritárias e paternalistas.

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A partir de levantes militares e greves operárias, o plano do movimento consistia em uma ação unificada dos estados participantes, demonstrando a força e a organização das camadas revoltosas da sociedade.
Entretanto, a partir do fechamento obrigatório da ANL em julho de 1935 pela Lei de Segurança Nacional, forças governistas passaram a operar em prol do controle social sobre esse tipo de associação.
Aliados de Prestes e do movimento questionaram-se sobre o evento revolucionário e muitos deixaram de apoiar o plano da Intentona.
Por tal razão, o movimento teve seu início de modo desintegrado, o que ocasionou falta de comunicação entre as lideranças e algumas das causas de seu insucesso.
Indo contra aos planos originais, em 23 de novembro de 1935, a revolução foi iniciada antecipadamente em Natal, capital do Rio Grande do Norte, e espalhou-se para Recife, capital pernambucana, no dia seguinte.
Apenas no dia 27 de novembro de 1935, o levante teve início no Rio de Janeiro, data em que os revoltosos do nordeste já estavam perdendo forças e sofrendo repressões das lideranças governistas da região.
Em grande inferioridade numérica, os participantes do movimento acabaram também sendo reprimidos pela atuação dos militares, que expulsaram os membros da instituição que aderiram à Intentona e prenderam vários dos demais manifestantes.
O contexto histórico da Intentona Comunista
Deflagrada em 1935, a Intentona Comunista ocorreu em meio a um cenário de disputa, nacional e internacionalmente. Na dinâmica internacional, as ideias comunistas passavam por debates e transformações posteriores à Revolução Russa de 1917.
Aliados do ideal comunista se reuniam com frequência para debater as possibilidades de governos populares ao redor do mundo, contextualizando as revoltas com suas respectivas realidades nacionais.
De maneira simultânea, o movimento pela recuperação dos países europeus após a Primeira Guerra Mundial com auxílio dos Estados Unidos colocava em pauta ideais econômicos de favorecimento ao modelo tradicional americano, apoiado pelo capitalismo com controle do Estado, frente aos acontecimentos da Grande Depressão e da Quebra da Bolsa de Valores de Nova York.
No Brasil, Getúlio Vargas era presidente do país, assumindo o governo com um golpe em 1930 e dando fim à política oligárquica da época.
Após um Governo Provisório entre 1930 e 1934 e se mantendo no poder nos anos seguintes, Vargas era uma figura popular em meio a sociedade, na mesma medida em que várias de suas atitudes eram interpretadas como autoritárias e pouco democráticas.
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Dessa forma, o Brasil ocupava um papel no cenário internacional enquanto potencial para manter-se em crescimento econômico, através do investimento em indústrialização com foco no desenvolvimento do setor no país.
Construindo parcerias comerciais e de investimento, as posições políticas adotadas por Vargas influenciavam diretamente a criação de relações internacionais vantajosas ou não para a economia do país.
O modo, então, como iria reprimir manifestações internas ao território brasileiro, e lidaria com as ideias comunistas sob seu governo, também teriam consequências práticas para a forma como os cidadãos brasileiros se expressariam e compreenderiam o governo e política de sua realidade.
Desdobramentos da Intentona Comunista
Através de violentas repressões por parte do governo e do próprio exército, a Intentona Comunista teve fim. Não somente por atitudes práticas, mas também ideológicas, o movimento perdeu sua força em meio a comentários populares que colocavam os ideais comunistas como um grande perigo à segurança nacional de todo o país.
Perseguições a pessoas ligadas ao movimento, prisões de grupos políticos ligados a essas pessoas são exemplos do enfraquecimento do ideal.
Com atuação do general Eurico Gaspar Dutra no movimento de contenção dos revoltosos no Rio de Janeiro, foi criada uma campanha nacional de reprovação e controle de potenciais ações comunistas.
Dessa forma, a opinião popular do período acabou contagiada pela visão de governo de Vargas, assimilando o sentimento anticomunista de modo abrangente.
Concentrando cada vez mais o poder político no governo central, o sentimento de medo do comunismo foi espalhado.
Assim, justificado pelos atos da Intentona, foi declarado estado de sítio no país até o ano de 1937, quando Vargas daria um novo golpe para manter-se no poder, iniciando a era conhecida como Estado Novo.
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A criação de uma Comissão Nacional de Repressão ao Comunismo e um Tribunal de Segurança Nacional afirmam a estrutura de vigilância nacional estabelecida naquele momento, fiscalizando possíveis iniciativas revolucionárias ou com viés comunista.
Compreendidos como preparativos para o golpe de Vargas em 10 de novembro de 1937, essas atitudes revelam como o cenário brasileiro social e político da época consolidou-se a partir de discursos anticomunistas.
Representações da Intentona Comunista
A revolta comunista de 1935 contou com principais lideranças nacionais e influências internacionais para seu acontecimento. Inserida no contexto histórico do Brasil em meados do século XX, o movimento possui consequências até hoje importantes para compreender a realidade atual do país.
Quem foi Luís Carlos Prestes?
Luís Carlos Prestes era gaúcho de Porto Alegre, nascido em 3 de janeiro de 1898. Líder do movimento revolucionário de 1935, Prestes teve sua trajetória pessoal e política marcada pelo contexto social do século XX.
Em 1916, quando completou 18 anos de idade, deu início a sua carreira militar. Motivado pelo sentimento de mudanças diante do cenário de desigualdade e injustiças no Brasil, uniu-se ao movimento tenentista na década de 1920, liderando o processo revolucionário conhecido como Coluna Prestes.

Intitulado “Cavaleiro da Esperança” por essa atuação, Prestes foi exilado na Bolívia após a revolta de tenentes, em razão também da repressão ao movimento por parte do governo.
No exterior, passa a ter contato com ideais comunistas, vindo a se tornar líder do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Em 1934, Prestes se tornou membro da Comintern (Internacional Comunista) e, nesse mesmo ano, foi fundada no Brasil a Aliança Nacional Libertadora (ANL).
A partir do lema “pão, terra e exílio”, Luís Carlos Prestes junto a sua esposa Olga Benário tornaram-se símbolo de resistência nacional pelo viés comunista e de luta contra injustiças sociais no país.
Após um período de legalidade política, Prestes passa a ser perseguido pela Ditadura Civil-Militar em 1964.
Exilando-se na URSS, ele retornou ao Brasil no final da década de 1970. Participando ativamente da política nacional, em 1989 tornou-se presidente de honra do PDT. Prestes faleceu no Rio de Janeiro, em 7 de março de 1990.
O termo “Intentona”
Apesar de ter sido popularizada dessa forma, o conceito de “intentona” veio com objetivo de tornar pejorativo o movimento revolucionário.
A história contada da revolta de 1935 tem por objetivo valorizar a sua derrota. Por isso, acaba por expressar a visão política das figuras histórias que atuaram na repressão do acontecimento. O termo intentona visa demarcar o movimento como uma ação desordenada e pouco planejada.
Para fins de análise histórica, os termos Revolta Comunista de 1935 ou Revolução Comunista de 1935 passaram a ser utilizados com maior frequência.
Visto que, até os dias atuais, algumas bases militares ao redor do Brasil ainda comemoram a data da repressão do movimento como símbolo do anticomunismo no país, o nome dado ao movimento carrega uma impressão ou opinião específica a respeito do assunto.
A Intentona Comunista tem, até hoje em dia, a sua marca na história do Brasil, anunciando o cenário nacional da época e suas principais características.
Ao possuir o ideal comunista como orientador, a história do movimento pode auxiliar a compreender, ainda, diversos conflitos políticos que percorrem o Brasil atualmente.
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Referências
- Atlas Histórico do Brasil – FGV
- CAPIOTTI. D. M. A “Intentona Comunista” ontem e hoje: representações do anticomunismo no exército brasileiro. Aurora. Marília. v.16, n.1, p 61-78, jan/jun, 2023.
- Intentona Comunista: um passado em disputa – Café História
- Luís Carlos Prestes – Portal Contemporâneo da América Latina e Caribe (USP)
- SANTOS, K. O. dos. A Revolta Comunista de 1935 – A construção de representações sociais a partir da análise fotográfica. 2022. 210 f. Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de Formação de Professores, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. São Gonçalo, 2022.
- VIEIRA, M. A. PEREIRA, R. J. S. Posturas antagônicas e anseios de mudança: um olhar sobre a intentona comunista de 1935. Anais da XI Semana de História da UFES.