Macarthismo: a caça às bruxas americana do século XX

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Miller Center – McCarthysm and the Red Scare. Imagem: Reprodução/Internet

A palavra Macarthismo é uma tradução direta de “McCarthyism”, nome dado a um período da história dos EUA e, por sua vez, deriva do nome do senador Joseph McCarthy, autor de diversos projetos anticomunismo e principal perseguidor no que ficou conhecido como uma nova “Caça às Bruxas”.

Se interessou pelo tema? Já conhecia essa expressão? Continue lendo para entender melhor o período e suas consequências para os dias de hoje.

Contexto histórico

A Segunda Guerra Mundial chegou ao fim em 1945, com os países aliados – Estados Unidos, Reino Unido, França e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) – emergindo como os vencedores.

Durante o conflito, houve intensos combates e bombardeios nas terras francesas e britânicas, resultando na necessidade de reconstrução dessas nações após o término da guerra. Como resultado, tanto a França quanto o Reino Unido enfrentaram o desafio de se reerguer.

Consequentemente, os Estados Unidos e a União Soviética emergiram como as únicas potências mundiais no período pós-guerra, embora suas ideologias e visões de mundo fossem opostas – os EUA abraçando o capitalismo e a URSS adotando o socialismo.

O então presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman, proferiu um discurso em 1947 defendendo os princípios do capitalismo e da liberdade, além de enfatizar a necessidade de estabelecer um aparato de defesa contra a expansão do socialismo, notadamente o avanço soviético.

Essa política ficou conhecida como a Doutrina Truman. Esse momento marcou o início de uma nova era geopolítica global, caracterizada pela bipolarização política e ideológica, que ficou conhecida como a Guerra Fria.

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Macarthismo: características e métodos

Na década de 1950, o senador Joseph McCarthy alegou possuir uma lista com 205 nomes de pessoas que trabalhavam no Departamento de Estado. O clima anticomunista da época deu respaldo à retórica de McCarthy, desencadeando o “Red Scare” (Ameaça Vermelha), um período de intensa paranoia sobre a presença de agentes soviéticos no governo dos EUA.

Na década de 1930, Alger Hiss foi acusado de espionagem em favor dos soviéticos. Na década de 1950, Julius e Ethel Rosenberg foram condenados por vazar documentos sobre o programa nuclear dos EUA para Moscou. A culpa e a extensão do envolvimento de Ethel Rosenberg são debatidas até os dias de hoje.

Nesse contexto, o Departamento de Estado foi profundamente afetado por uma grande onda de demissões. Muitos funcionários foram dispensados com base em alegações sem provas. McCarthy os acusava e perseguia sob a justificativa de que eram simpatizantes do comunismo e possíveis traidores, sendo essa última a principal arma do Macarthismo.

O temor de ser acusado de traição e entrar no radar de McCarthy levou muitos a não se oporem a ele dentro da administração. Além disso, o cálculo político do Partido Republicano envolvia evitar conflitos internos, uma vez que controlavam o Senado e a Casa Branca durante esse período.

Dessa maneira, uma nova “Caça às Bruxas” emergiu nos Estados Unidos, termo utilizado em referência ao período entre os séculos XV e XVIII. Assim como na política macarthista, a delação e a intimidação eram as principais ferramentas e provas contra os acusados em ambos os períodos, resultando em perseguições que violavam diversos direitos civis adquiridos.

A perseguição de McCarthy deu origem ao Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas do Senado dos Estados Unidos, responsável por receber denúncias e investigar cidadãos acusados de “práticas socialistas”, resultando na criação das infames “listas negras”, contendo os nomes de suspeitos de simpatizar com Moscou.

Qualquer crítica ao governo ou à política macarthista já era suficiente para tornar uma pessoa suspeita. Aqueles incluídos nas listas tinham grande dificuldade para encontrar emprego, o que gerou um clima de paranoia e terror no país. Denúncias por terceiros eram comuns como forma de desviar a suspeita de si mesmos.

Homossexuais, ou aqueles considerados suspeitos, foram prontamente demitidos de cargos estatais. A indústria cinematográfica também foi amplamente vigiada e perseguida pelo Comitê, envolvendo nomes como Charles Chaplin e Dalton Trumbo, cujos filmes foram acusados de conter “mensagens socialistas”.

Cientistas renomados, como Albert Einstein, Edward U. Condon e J. Robert Oppenheimer, foram perseguidos e desacreditados pelo governo, mesmo após sua participação no Projeto Manhattan, que resultou no desenvolvimento da bomba atômica. Eles foram alvo de perseguição devido às suas posições contrárias ao uso da bomba e seus alertas sobre os perigos da energia nuclear.

O fim do Macarthismo

O Macarthismo começou a perder força em 1953, chegando ao fim em 1954, com uma moção de censura do Senado contra o senador McCarthy. A queda de popularidade e influência de McCarthy ocorreu por dois motivos, o primeiro foi o foco de sua perseguição e atenção no Comitê em relação às Forças Armadas e à Casa Branca.

Até então, o presidente Eisenhower, eleito em 1953, evitava confrontar McCarthy. No entanto, quando sua administração e membros das Forças Armadas passaram a ser alvo do macarthismo, com as habituais acusações infundadas de simpatia pelo comunismo, a administração de Eisenhower decidiu revidar.

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Primeiramente, o Exército reuniu um extenso arquivo comprometedor sobre as pessoas ligadas a McCarthy, especialmente o advogado Roy Cohn. Esse arquivo revelava tanto os métodos abusivos e intimidatórios que McCarthy e Cohn utilizavam para perseguir os supostos comunistas quanto os favores que Cohn cobrava em benefício de seus aliados.

Esse arquivo foi vazado para a imprensa, o que resultou em uma grande derrota de McCarthy aos olhos da opinião pública. Foi também por meio da imprensa que veio o golpe final em sua carreira, cortesia de Edward R. Murrow, um jornalista renomado e respeitado, que no passado já havia recebido elogios de McCarthy.

Assim, em março de 1954, Murrow e seu produtor, Fred W. Friendly, produziram um programa especial de rádio com meia hora chamado See it Now (Veja Agora, em tradução livre), no qual revelaram todos os métodos e contradições de McCarthy. A opinião pública voltou-se contra McCarthy, o que contribuiu diretamente para a moção de censura contra ele.

O senador Joseph McCarthy deixou o comitê em 1954. Sua reputação estava arruinada e ele se afastou da esfera pública. Ele veio a falecer pouco depois, em 1957, devido a complicações decorrente do abuso de álcool.

Legado do Macarthismo

O impacto da política macarthista e sua postura anticomunista, bem como qualquer alusão ao socialismo, teve consequências profundas ao longo da Guerra Fria, notadamente, influenciou as decisões que levaram as Guerras da Coreia e do Vietnã, além de contribuir para o clima de polarização política, não somente nos Estados Unidos, mas também no contexto político do Brasil.

A história nos oferece a valiosa oportunidade de aprender com o passado, evitando a repetição de equívocos. Os excessos do macarthismo servem como um importante lembrete de que não se deve sacrificar a liberdade em nome de sua preservação. Essa é a principal lição que podemos extrair desse período da história dos Estados Unidos.

Diante do legado do Macarthismo, convidamos você a compartilhar suas reflexões. Deixe um comentário abaixo sobre como podemos aplicar as lições dessa época à atualidade e fortalecer nossos valores democráticos.

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Conteúdo escrito por:
Paulista, graduado em Relações Internacionais pela UNESP, especialização em Direito Internacional, Negociação e Resolução de Conflitos e em Futurismo. Leitor compulsivo e autor do livro de ficção Contos da Noite (Ed. Giostri)

Macarthismo: a caça às bruxas americana do século XX

22 abr. 2024

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