No texto introdutório sobre os ODS, explicamos que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) compõem uma agenda de metas que devem ser alcançadas até o ano de 2030 em prol de um mundo mais justo, igualitário e sustentável. Em outro texto aqui do Politize!, também já te explicamos um pouco sobre as iniciativas brasileiras referentes aos ODS.
Caso você já os tenha lido, deve lembrar que um dos pilares da Agenda 2030 é a geração de prosperidade para o planeta. Dentro dela, é dever de todos – desde o governo até as organizações civis e você que está lendo isso agora – buscar meios para melhorar a vida das pessoas em todos os lugares.
A Agenda é composta por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e 169 metas detalhadas, integradas com o fim de atingir os três pilares de desenvolvimento do planeta: o econômico, o social e o ambiental. A assinatura desse documento por chefes de Estado de 193 países representa uma decisão histórica sobre um debate abrangente, de interesse público e que impacta na vida de todas as pessoas.
A seguir, vamos entender o papel de alguns ODS na conscientização para transformação no nosso país e acompanhar alguns exemplos de como organizações, como a Enactus Brasil, podem ajudar a alcançá-los.
ODS 6 – Água Limpa e Saneamento
Até 2030, o objetivo é garantir a disponibilidade e a gestão sustentável dos recursos hídricos do planeta para todas as pessoas. Isso inclui melhorar a qualidade da água, evitar poluição e despejo de resíduos impróprios, proteger ecossistemas e garantir a eficiência e democratização do uso da água.
No Brasil, um cenário paradoxal sobre o uso da água ainda figura em regiões como a Amazônia: ocupando 60% do território nacional, cheia de rios e chuva em abundância, a população da região ainda carece de água para lavar as mãos. Em 2020, as cidades da região amazônica continuam a figurar entre as últimas do ranking de saneamento básico do Trata Brasil, mesmo sendo a região com maior reserva de água do planeta, segundo a Agência Nacional de Águas.
Foi pensando nisso que os integrantes do Time Enactus UFPA, em Belém, criaram o Amana Katu, um sistema de captação da água da chuva sustentável e de baixo custo que visa melhorar o acesso a água para mais de 400.000 pessoas na Amazônia – a meta é vender, até 2030, 3.000 sistemas de captação de água da chuva para fins potáveis.
ODS 7 – Energia limpa e acessível
O acesso confiável, sustentável, eficiente e com preço acessível à energia é o sétimo desafio da Agenda 2030, representando a necessidade de se garantir a eficiência energética global, infraestruturas e tecnologias adequadas – principalmente em países menos desenvolvidos.
No Brasil, o aproveitamento da energia solar ainda é pouco popular, compondo 1,5% da matriz energética brasileira, contra 61,1% de uso da matriz mais utilizada, a hídrica (ANEEL/ABSOLAR 2020). Ainda que ambas sejam fontes de energia limpa, diversificar a matriz elétrica é importante para aliviar o estresse hídrico e garantir segurança no suprimento de energia elétrica para a população. Foi experimentando o uso dos raios solares para geração de energia em Santa Catarina que os integrantes do Time Enactus CCT UDESC iniciaram o projeto Aqueça.
O aquecedor solar de água tem contribuído para trazer acesso à energia elétrica em comunidades carentes, além de reduzir custos. Além disso, os estudantes buscam capacitar e conscientizar os moradores sobre a importância da utilização de recursos naturais, como o sol, como uma alternativa econômica e sustentável para sanar a falta de água quente na comunidade. O aquecedor dimensionado para atender a comunidade possui 4 placas, cada uma contendo 5 colunas de material reciclável (garrafas PET e caixas de leite) e montado inteiramente em conjunto com os moradores.
ODS 8 – Trabalho decente e crescimento econômico
O oitavo objetivo da Agenda é que o mundo tenha alcançado condições de trabalho justas, com emprego pleno e produtivo para todas as pessoas. Além disso, visa a promover políticas de aceleração da economia e a eficiência de recursos globais, adequando o crescimento econômico à realidade e condições de cada nação.
De acordo com dados da ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, nosso país atingiu em 2018 a marca de 11.231 pessoas reconhecidas como refugiadas pelo Estado brasileiro. Isso significa que milhares de pessoas obrigadas a sair de seus países precisam buscar a construção de uma vida nova em um lugar novo. Entre as dificuldades mais comuns enfrentadas por eles está a dificuldade de encontrar um trabalho. A Toti, startup iniciada como projeto de empreendedorismo social do Time Enactus CEFET/RJ, é um case de sucesso que mostra como é possível transformar projetos em negócios rentáveis.
A Toti tem como objetivo capacitar de refugiados e solicitantes de refúgio da cidade do Rio de Janeiro na área da Tecnologia da Informação e no desenvolvimento de suas habilidades interpessoais , para promover a inclusão dessa parcela da população no mercado de trabalho qualificado e bem remunerado. Além disso, a startup auxilia empresas a preencher suas vagas com bons profissionais de tecnologia, promovendo diversidade e mais inovação para suas equipes.
ODS 9 – Indústria, inovação e infraestrutura
Em 2030, a indústria deve ter alcançado um patamar de desenvolvimento inovador, sustentável e que apoie tanto o crescimento econômico quanto o bem estar humano. Com infraestrutura moderna e de qualidade nas cidades e fortalecimento da pesquisa científica, a proposta é gerar o crescimento consciente entre pessoas e planeta.
Foi no estímulo à arte e inovação que estudantes da FEA – Ribeirão Preto encontraram uma forma de empoderar comunidades e gerar desenvolvimento sustentável. A partir do ensino de técnicas de aplicação de silk para comunidades carentes, o projeto possibilita a produção e venda de camisetas como fonte de renda. Além de fornecer a estrutura e materiais necessários, o time fomenta uma mudança de percepção do futuro a partir do empreendedorismo e do aprendizado pelo exercício de novas habilidades.
ODS 10 – Redução das desigualdades
No Brasil, a renda dos 1% mais ricos é 33,7 vezes a dos 50% mais pobres (IBGE). O décimo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável propõe que até 2030 seja possível criar oportunidades para inclusão social, econômica e política de todas as pessoas – independentemente da raça, gênero, idade, entre outros – para possibilitar o surgimento de políticas de inclusão e o crescimento da renda da população menos favorecida.
O projeto Amet visa tirar pessoas da situação de rua e empregá-las em uma fábrica de tijolos ecológicos. Capacitações profissionais e financeiras são a oportunidade oferecida para que elas sejam capazes de ganhar a própria renda e regressar à vida autônoma.
O setor da construção civil é responsável pelo consumo de 75% dos recursos naturais do planeta (Portal VGV). Por isso, os tijolos representam uma alternativa sustentável para o mercado da construção civil, com um produto que reduz em até 30% a quantidade de materiais utilizados na obra e não emite gases causadores do efeito estufa em sua produção.
ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis
Para alcançar esse objetivo, é necessário garantir acesso à habitação segura a todos, promover a urbanização inclusiva e sustentável, preservar patrimônios culturais e naturais, reduzir o impacto ambiental negativo, apoiar relações econômicas, sociais e ambientais positivas no campo e na cidade, entre outros. Um universo de desafios a cumprir até 2030.
A agricultura familiar representa hoje 80% da produção de toda a comida do planeta, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). Contudo, como já abordamos anteriormente aqui no Politize!, a distribuição de terra pelo mundo é desigual, concentrada por grandes empresas, e o financiamento disponível para a agricultura ainda não é suficiente. A resposta a esse problema em Sobral – Ceará é a Bodega Sustentável, uma feira itinerante para a venda de produtos alimentícios naturais e orgânicos e artigos ornamentais feitos com material reciclável.
A iniciativa visa beneficiar feirantes com dificuldade no escoamento de produtos e colocá-los próximos aos clientes, gerando confiança e promovendo a agricultura familiar. Por outro lado, o agricultor maximiza seu faturamento mensal e tem a oportunidade de ser capacitado para melhor gerir suas vendas.
ODS 12 – Consumo e produção sustentável
Para assegurar o objetivo até 2030, é necessário cuidar da gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais e inserir a pauta em políticas públicas, transformar padrões de consumo globais e implementar ferramentas inovadoras para reduzir impactos negativos no planeta.
De acordo com a Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), do Senado brasileiro, o Brasil produz cerca de 76 milhões de toneladas de lixo ao ano, 30% tem potencial de reciclagem, mas apenas 3% são de fato reaproveitados. Em Bauru, são reciclados apenas 2% dos resíduos sólidos descartados.
O projeto Trilhos conecta diretamente empresas às cooperativas, visando atender a Política Nacional de Resíduos Sólidos. A iniciativa também contribui com soluções de logística reversa para empresas, com emissão de certificados de compensação ambiental e o desenvolvimento pessoal e profissional dos cooperados.
Saiba mais – Empreendedorismo social: o que é esse conceito?
E você, o que acredita que falta ser feito para que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de fato se tornem uma realidade no Brasil?
Sobre a Enactus
A Enactus é uma organização presente em 37 países que engaja alunos de diferentes instituições de ensino, com apoio de professores e líderes de negócios, para desenvolver projetos de impacto social. A organização beneficia comunidades locais por meio de modelos de negócios sustentáveis e proporciona aos alunos o aprendizado na prática.
O programa também dá a oportunidade de estudantes e professores de qualquer IES brasileira se conectarem com outras 120 universidades do Brasil, já participantes do programa. A rede Enactus possui mais de 200 professores e 2800 estudantes que desenvolvem 240 projetos ao redor de 21 estados brasileiros, impactando a vida de mais de 20.000 pessoas.
Referências:
Trata Brasil (Ranking de Saneamento Básico) – Agência Nacional de Águas (Sobre o aquífero Alter do Chão) – PortalSolar (Sobre o uso de energia solar no Brasil) – Acnur (Dados sobre refúgio no Brasil) – Valor (Dados sobre renda no Brasil) – FGV (Consumo de recursos pela Construção Civil) – FAO (Dados sobre a Agricultura familiar)