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Como o pentecostalismo influencia na política?

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O Pentecostalismo é um movimento evangélico protestante que surgiu no início do século XX, nos Estados Unidos. A palavra pentecostal é oriunda de Pentecostes, importante festa cristã, comemorada 50 dias depois da Páscoa. Essa data é celebrada como o dia em que os cristãos são batizados pelo Espírito Santo e começam a falar em línguas, conforme descrito na Bíblia em Atos dos Apóstolos 2.

Veja mais: Cristianismo: origem, mudanças e suas ramificações

Origem do Pentecostalismo

Veja também nosso vídeo sobre religião e política!

O Pentecostalismo surge em 1906, em Los Angeles, Estados Unidos, com as pregações do pastor afro-americano William J. Seymour. Essas pregações ficaram conhecidas como o Avivamento da Rua Azusa e eram caracterizadas pelo ambiente eufórico, com pessoas falando em línguas (glossolalia) e dançando, o oposto das tradicionais pregações católicas e protestantes.

Local onde aconteceram as pregações do pastor William J. Seymour, na rua Azusa em Los Angeles

Várias pessoas passaram a frequentar os cultos na rua Azusa e seu estilo de pregação passou a se espalhar. Em 1910, os imigrantes suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren tiveram contato com o culto e vieram para o Brasil, fundando a primeira Assembleia de Deus no país, em Belém (PA).

Características do Pentecostalismo

Os pentecostais acreditam que o poder de Deus não é abstrato, e que o Espírito Santo desce e age sobre os seus fiéis – o chamado batismo do Espírito Santo. Após esse batismo, eles acreditam que recebem dons espirituais e começam a falar em línguas durante as pregações.

Os pentecostais também creem em profecias e revelações, que seriam feitas durante as pregações por uma pessoa batizada pelo Espírito Santo e que seria o interlocutor entre Deus e seu povo. Além disso, também não aceitam o sexo extraconjugal e nem a homossexualidade, que segundo eles, seriam pecados.

Ondas do Pentecostalismo no Brasil

Primeira onda (Pentecostalismo Clássico): a partir dos anos 1910, com a criação da Congregação Cristã no Brasil e da Assembleia de Deus. Essa primeira onda tem como características a ênfase na glossolalia (dom de falar em línguas), a crença na volta iminente de Jesus Cristo, o anticatolicismo e o comportamento ascético em relação ao mundo exterior.

Segunda onda (Pentecostalismo de Cura Divina): tem início nos anos 1950, com a fundação da Igreja do Evangelho Quadrangular. Nessa segunda onda, o dom de falar em línguas é mantido, mas a ênfase é dada ao dom da cura divina. Foi marcada pela evangelização em tendas espalhadas pelo país, em que eram relatados os episódios de curas divinas. Outras igrejas dessa onda são, a Igreja o Brasil para Cristo e a Igreja Pestecostal Deus é Amor.

Terceira onda (Neopentecostalismo): se inicia nos anos 1970, com a criação da Igreja Universal do Reino de Deus, pelo bispo Edir Macedo, e da Igreja Internacional da Graça de Deus, pelo missionário R. R. Soares. O neopentecostalismo tem como base a Teologia da Prosperidade, em que Deus proporciona riqueza, saúde e sucesso aos seus fiéis, principalmente para aqueles que contribuem com o dízimo e a oferta. Uma outra característica é a guerra espiritual contra o diabo e suas representações na Terra. Os neopentecostais fazem um intenso uso dos meios de comunicação para espalharem sua doutrina, com programas em TVs abertas e em rádios, e é a vertente cristã que mais cresce no Brasil.

Igreja universal
Sede da Igreja Universal do Reino de Deus na Bahia

Relação entre Pentecostalismo e Política

No Brasil, os pentecostais são o grupo de evangélicos que mais cresce, principalmente entre os setores mais vulneráveis da população, e recrutam, em sua maioria, negros e mulheres. Esse crescimento também é observado no campo político. A politização desse segmento religioso, de acordo com Maria das Dores Machado, se deu após a redemocratização, quando em 1986, 18 parlamentares pentecostais foram eleitos para o Congresso Nacional.

De acordo com um levantamento do Instituto de Estudos da Religião (ISER), dos 513 deputados eleitos para a legislatura 2023-2027, 14,8%, ou seja, 76 deputados se identificam como evangélicos. Desses, 25 deputados são membros da congregação Assembleia de Deus, e 14 da Universal do Reino de Deus. Entre os eleitos está Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), membro da Assembleia de Deus e presidente da Frente Parlamentar Evangélica (FPE), grupo de parlamentares que se articulam na votação de pautas ligadas à moral.

Homem, deputado, discursando em plenário
Deputado Sóstenes Cavalcante

Segundo o sociólogo da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Mariano, os pentecostais e neopentecostais consideram estratégico e fundamental que eles ocupem cargos políticos, pois é uma maneira de garantirem que seus interesses e visões de mundo sejam colocados em prática. As principais pautas defendidas pelos pentecostais são as relacionadas à moral e aos costumes, dentre elas, a conservação da família heteronormativa.

Em 2018, com base nessas pautas pentecostais, Jair Bolsonaro (PL) foi eleito presidente, com o lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, prometendo restaurar a ordem moral e cristã do Brasil contou com o apoio de diversos pastores pentecostais.

Relação entre Pentecostalismo e Gênero

Veja também nosso vídeo sobre o que é gênero!

Os embates religiosos contra a “ideolgia de gênero” começaram nos anos 1990, no ciclo de Conferências da ONU, especialmente na IV Conferência Mundial das Mulheres de Pequim. Essa reação antigênero foi liderada pelo Vaticano, que questinou o uso do termo “gênero” nos documentos oficiais. Porém, no Brasil, ela é liderada pelos evangélicos, que não veem com bons olhos os movimentos feministas e LGBTQIA+, já que eles defendem pautas que, segundo os pentecostais, vão contra os valores morais e cristãos.

Para saber mais sobre o movimento feminista acesse nosso texto: Vertentes do feminismo

No Brasil, no início dos anos 2000, a criação de algumas políticas públicas com pautas de gênero e identitárias, como o programa Brasil Sem Homofobia, fizeram com que setores religiosos e conservadores da sociedade se manifestassem contra a chamada “ideologia de gênero” no país.

Em 2010, foi apresentado no Congresso Nacional o Projeto de Lei 8035/10, que dispunha sobre o Plano Nacional de Educação (PNE). O PL apresentava o seguinte trecho: “ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e orientação sexual”, o que causou mobilizações contrárias por parte dos setores religiosos.

Durante sua tramitação, o então presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, o deputado e pastor pentecostal Marco Feliciano (PL-SP), promoveu uma série de eventos em que lideranças religiosas se mostraram contra a aprovação do PNE. Depois de muitas discussões nas duas casas legislativas, o PL 8035/10 foi sancionado pela presidenta Dilma Rousseff (PT) em 2014, mas sem as palavras “gênero” e “orientação sexual”.

Pessoas manifestaando em plenário contra a ideologia de gênero, segurando faixa escrito "manino já nsce menino, menina já nasce menina, educação com ideologia de gênero é opressão!"
Manifestação contra a “ideologia de gênero”

No Brasil, a reação antigênero uniu católicos, pentecostais e grupos conservadores, que procuram atuar em conjunto no Congresso Nacional para impedir o avanço de pautas de gênero e identitárias. Essa união pode ser observada, por exemplo, no apoio ao Movimento Escola Sem Partido, que se diz a favor dos país educarem seus filhos de acordo com suas convicções morais e religiosas e contra a “ideologia de gênero”.

Com a eleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2018, o combate à “ideologia de gênero” ganhou força. Ele nomeou para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, advogada e pastora da igreja pentecostal do Evangelho Quadrangular que liderou a ofensiva antigênero.

Imagem de manifestação de rua contra "ideologia de gênero", carro de som com faixa escrito "#nãoaogênero somos família"
Manifestação contra a “ideologia de gênero” nas escolas

Durante sua gestão, Damares levou a diante uma política pró-família, ou seja, uma valorização da família tradicional heteronormativa, e pró-vida, se colocando contra o aborto, inclusive nas situações em que ele é permitido por lei. Sua gestão também foi marcada pela defesa das crianças, que segundo os pentecostais, são os principais alvos dos movimentos feministas e LGBTQIA+. A então ministra, com setores conservadores e pentecostais da sociedade se colocaram contra a educação sexual nas escolas, pois de acordo com eles, isso promoveria a sexualização de crianças e adolescentes.

E aí, conseguiu entender o que é o pentecostalismo e sua influência na política? Nos conte nos comentários!

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Conteúdo escrito por:
Oiee, me chamo Nicoli e sou estudante de Ciência Política na Universidade de Brasília. Amo literatura, música e futebol.

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22 abr. 2024

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