Você já ouviu falar sobre as religiões de matriz africana?
Nesse texto, você irá compreender quais são as matrizes religiosas brasileiras e quais as religiões de matrizes africanas. Acompanhe a leitura!
Veja também: O que é intolerância religiosa?
Quais são as religiões de matriz africana?
As matrizes africanas deram origem a diversas manifestações sagradas no Brasil, além daquelas mais famosas como o Candomblé e Umbanda, existem adeptos de tradições como jarê, terecô e xangô de Pernambuco, o Batuque, do Rio Grande do Sul e o Tambor de Mina, variação do candomblé no Maranhão.

Essas tradições e religiões podem ser diferenciadas pelos seus rituais e história, possuindo diversas especificidades, ainda que compartilhem filosofias e influências similares advindas do continente africano.
Segundo o professor Juarez Xavier, da UNESP, as religiões de matriz africana podem ser divididas em três grupos: brasileiras, como a umbanda, afro-brasileiras, como o candomblé de caboclo, e afro-descendentes que, ainda que originadas no Brasil, reivindicam os processos de organização das religiões da África, como o ketu e o jêje.
O Candomblé, por exemplo, é um termo genérico usado para designar tradições criadas ou recriadas no Brasil por povos originários, principalmente, de países atualmente conhecidos como Angola, Nigéria e República do Benim. Dessa maneira, considera-se que, ainda que algumas tradições tenham sido criadas de forma única no Brasil, a religião resgata a herança cultura religiosa ancestral e milenar africana que chegou ao país no período da escravidão.
De acordo com Alexandre Cumino, “O candomblé faz parte de uma resistência espiritual dos povos africanos escravizados no Brasil”. É uma religião dividida entre três grandes nações, as quais se distinguem pelas divindades cultuadas e os idiomas utilizados nas celebrações religiosas, sendo elas a Nação Angola, Jeje e Nagô, as quais apresentam inúmeros subgrupos com características próprias.
A Umbanda, por outro lado, foi fundada por um brasileiro, Zélio de Moraes, no dia 15 de novembro de 1908, constituída a partir de influências africanas, cristãs, espíritas e indígenas. Ela é caracterizada, ainda, como uma religião que adota comunicações com espíritos, fruto da influência do espiritismo, diferentemente do Candomblé.
Além disso, a Umbanda é uma religião monoteísta, isso significa dizer que reconhece a existência de um único deus chamado Olorum, abaixo do qual existem outras divindades cultuadas como os orixás (também cultuados no candomblé) e as entidades ou guias protetores (espíritos ancestrais).
De acordo com Alexandre Cumino, apesar das religiões africanas não serem codificadas, ou seja, não possuírem livros sagrados e serem marcadas por tradições orais, a Umbanda estuda os livros de outras religiões e outros diversos de sua doutrina.
Como são vistas as religiões de matriz africana no Brasil?
Apesar de vários costumes derivados de religiões africanas terem sido incorporados e reproduzidos no Brasil, como o ato de pular sete ondas no ano novo e vestir-se de branco, muitas vezes as associações com essas crenças são perdidas e frequentemente apagadas. Assim, é importante analisar o contexto histórico brasileiro e como essas religiões foram inseridas nessa cultura.
Desse modo, observa-se que desde o período colonial brasileiro há a persistência de relações diretas entre o poder político e a religião católica, sendo essa a religião oficial nessa época. Para que pudessem manter suas referências e heranças culturais, as religiões africanas tiveram de ser recriadas e adaptadas ao novo contexto. Nele, celebrações de sua fé eram proibidas e consideradas como manifestações de feitiçaria ou associadas ao mal. Constata-se, portanto, que essas repressões e a criminalização de religiões de matrizes africanas remontam ao período escravocrata.
No ano em que a República foi proclamada no Brasil, em 1889, houve a separação formal entre a Igreja e o Estado e a introdução do princípio de laicização do Estado. Contudo, religiões que possuíam caráter distinto da católica sofreram com perseguições, discriminações e preconceitos.
Além disso, muitas das religiões de matriz africana não eram categorizadas no enquadramento de “religião” do Estado. Esse reconhecimento estatal só ocorreu em 1988, especialmente com os artigos 2155 e 2166, fruto de intensa mobilização por parte do movimento negro.
As discriminações e intolerâncias frequentes podem ser atreladas ainda ao racismo, visto que são fenômenos ligados à formulação colonial, a separação e a valoração racial negativa, as quais influenciam no entendimento da religião. Sob essa ótica, analisamos alguns elementos como o histórico de marginalidade ao qual essas religiões foram expostas, no sentido social e institucional, a demonização das entidades e divindades africanas e a criminalização do exercício religioso.
Isso demonstra, ainda, que essas religiões sofreram um histórico de tratamento, respaldado pelo racismo, pela sociedade brasileira, sendo vistas como manifestações incorretas, inferiores, perigosas e intoleráveis.
Veja também nosso vídeo sobre o Brasil ser laico!
Religiões de matriz africana e intolerância religiosa
Em primeiro lugar, é importante definirmos o que é intolerância religiosa. Essa pode ser entendida como uma prática configurada pelo não reconhecimento da veracidade de outras religiões. Ligada a incapacidade dos indivíduos em compreenderem crenças e práticas diferentes das suas e nos casos concretos de manifestações de discriminações e intolerância no campo prático. Também estão conectadas com a perspectiva do poder e a relação entre dominante e dominado, pois sua atitude de intolerância só se pode promover aquele que tem mais poder.
Em relação aos casos de intolerância religiosa no Brasil, podemos citar os dados do Disque 100, criado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, os quais apontam 697 casos de intolerância religiosa entre 2011 e dezembro de 2015, a maioria registrada nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Além disso, o Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (Ceplir), criado em 2012, registrou, no estado do Rio de Janeiro, 1.014 casos entre julho de 2012 e agosto de 2015, sendo 71% contra adeptos de religiões de matrizes africanas, 7,7% contra evangélicos, 3,8% contra católicos, 3,8% contra judeus e sem religião e 3,8% de ataques contra a liberdade religiosa de forma geral.
Veja também nosso vídeo sobre liberdade religiosa!
Sincretismo religioso
Em relação ao sincretismo religioso é possível defini-lo como um fenômeno social que combina princípios de religiões diferentes, ou pode ser uma fusão de ideias heterogêneas, que acontece em todas as religiões. Sociologicamente, isso seria a fusão de dois ou mais elementos culturais opostos em um único elemento, porém, deixando alguns sinais de suas diferentes origens.
No entanto, devido a essa combinação, ou a fusão de elementos isolados, alguns sinais de sua origem ainda são detectados, de modo que o termo resultante tem um certo caráter “eclético”.
Exemplo disso seria a comparação de santos católicos com orixás, os quais segundo a doutora e pesquisadora Cláudia Alexandre, tem origens e tradições completamente distintas e motivadas pelo processo de colonização. Muitos grupos trabalham a ideia de dessincretização de práticas muito enraizadas nessas religiões.
E aí, conseguiu compreender quais são as religiões de matriz africana e demais temas abordados? Se ficou alguma dúvida, deixe nos comentários!
Referências
- ALMA PRETA- Orixá não tem cor? Sincretismo religioso e o apagamento da negritude.
- CORREIO BRAZILIENSE- Religiões de matriz africana são alvos de 59% dos crimes de intolerância.
- NEXO JORNAL- o que você sabe sobre religiões de matriz africana? Faça o teste.
- REVISTA SENSO- Religiões de Matriz Africana: reconhecendo sua diversidade.
- NEXO JORNAL- A relação entre as religiões de matriz africana e as tradições de Ano Novo.
- UFPEL-Religiões de matriz africana e a intolerância religiosa.
- REVISTA CALUNDU- A Raiz do pensamento colonial na intolerância religiosa contra religiões de matriz africana.
- REVISTA CALUNDU- Diálogos Sobre Religiões de Matrizes Africanas: Racismo Religioso e História.
- NEXO JORNAL- Como a intolerância religiosa tem se manifestado no Brasil.
- REVISTA CALUNDU-A discriminação contra religiões afro-brasileiras: um debate entre intolerância e racismo religioso no Estado brasileiro.
- REVISTA SENSO- Entendendo o sicretismo.
3 comentários em “Quais são as religiões de matriz africana?”
Prezados. Eu e alguns moradores do Bairro Embu Colonial em Embu das Artes/SP vivemos uma situação muito ruim com religiões de matriz africana. No local (Rua das Tordesilhas) existe uma cachoeira em que são realizados cultos religiosos há bastante tempo (muito antes de eu morar por ali). Ocorre que, após os ritos, deixam o local muito sujo com as oferendas como restos de alimentos, caixas, sacos pendurados nas árvores e principalmente animais mortos que se decompõem deixando o local fétido. O que ameniza a situação são os urubus e a boa vontade de moradores que, eventualmente, limpam o local. Nesse quesito, como a matéria trata de preconceito, bom seria que nessas e outras situações, os praticantes, pelo menos, juntassem as oferendas após os ritos para não deixar o ambiente sujo e desagradável para outras pessoas que tem outras religiões, além de preservar o meio ambiente. Respeito deve ser mútuo.
Na verdade o preconceito é por conta do transe mental da incorporação que ainda não foi explicada como é realizada, os arquétipos utilizados nos mediuns citados como cavalos ou mulas que recebem a tal entidade através de controle mental que é o preocupante.
Isso torna o medium um fantoche tendo diversos casos de abuso sexuais por parte de pais de santo com as filhas de santo.
Onde consta “Já a matriz oriental contempla as religiões monoteístas, ou seja, aquelas que acreditam em um único Deus. Portanto, dentro dessa matriz estão as religiões Cristãs, o Judaísmo e o Islamismo.” deveria contar “Já a matriz OCIDENTAL contempla as religiões monoteístas…”