A representatividade jovem na política: por que é importante?

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Em época de propaganda política, quantos candidatos mais jovens você já viu? E quantos candidatos você já viu que incluíam pautas interessantes aos jovens em suas propostas? Poucos, né? Afinal, esse não é um mundo do jovem.

Essa é a realidade do Brasil atualmente: uma enorme falta de representatividade jovem na política. É fato que isso gera um desinteresse por parte desta faixa etária, além da baixíssima participação da mesma nas eleições. Mas você sabe por que isso pode ser prejudicial à democracia brasileira?

Nesse conteúdo, a Politize! apresenta dados do TSE sobre a baixa participação dos jovens na política e suas causas, a importância da juventude na política e como a representatividade desse grupo social impacta a sociedade.

Veja também nosso vídeo sobre momentos marcantes da participação dos jovens na política!

Como está a participação do jovem na política atualmente?

Conforme inciso II, §1º do art. 14 da Constituição Federal, jovens de 16 e 17 anos possuem o direito ao voto facultativo. Assim, eles têm o poder de escolha se irão votar ou não. Essa lei foi introduzida somente em 1988, após a ditadura militar no Brasil, como parte do processo de redemocratização e da inclusão de mais grupos sociais na política.

Nas primeiras eleições após esse decreto, o número de jovens que compareceram às urnas foi significativo: em 1992, foi de 3,2 milhões. Todavia, como o impeachment do então presidente Fernando Collor, o engajamento dos jovens entrou em decadência. Nas eleições de 1994, a participação jovem caiu para 1,1 milhão de eleitores.

A partir desta queda, os dados não se mantiveram estáveis. Um crescimento da participação jovem em um momento, uma diminuição no outro. Porém, algo está sempre presente: os números de jovens eleitores são sempre extremamente baixos. De acordo com dados do TSE, se realizada uma estatística de todas as eleições desde 1990, os jovens representaram de 1,5% a 2,5% de todo o eleitorado nacional.

Em 2022, após múltiplas campanhas governamentais de incentivo à participação jovem nas eleições, 2.530.875 pessoas de 16 a 18 anos tiraram seu título de eleitor. Na realidade, esse número quase dobrou desde 2018, mas ainda é relativamente baixo, considerando que somente 1,7 milhões, de fato, foram às urnas.

Jovem em manifestação. Imagem: Marcella Marigo

Principais causa da baixa participação da juventude

Com esses dados, é perceptível que os jovens estão cada vez menos interessados na política. Mas por que isso ocorre? Veja os principais pontos indicados por especialistas no assunto:

Corrupção histórica e desconfiança no sistema

Grande parte da população brasileira caracteriza o cenário político do país pela corrupção, especialmente os mais novos. Consequentemente, estes começam a se desinteressar pelo assunto, já que inicia-se um processo de dissociação da política como um exercício de cidadania, mas sim como algo sem propósito.

Polarização Política

Atualmente, a divergência entre os ideais políticos no Brasil está cada vez maior. A política se tornou um tema polêmico, um gerador de conflito nas casas e escolas. Com isso, os jovens preferem se distanciar da questão, com medo de serem recriminados por suas escolhas políticas. A polarização política os afasta das discussões, das urnas e da democracia.

Ausência de uma formação escolar

Na escola, você tinha aulas relacionadas à política no currículo? No sistema educacional brasileiros, elas são extremamente raras, especialmente no ensino público. Sem educação política, o envolvimento das crianças e adolescentes com o assunto é quase inviável. Como eles vão se interessar por política se nem foram ensinados sobre seus conceitos básicos?

Falta de representatividade jovem na política

Como mencionado, a representatividade dos jovens no espaço político é praticamente nulo. O presidente mais novo do Brasil foi Fernando Collor em 1990, de 40 anos, um dos que mais engajou os jovens na política. Nos dias atuais, não há prefeitos com menos de 40 anos nas principais capitais brasileiras.

O envelhecimento dos líderes partidários, a inabilidade destes de incluir os jovens no seu governo e atender os seus interesses os afasta desse espaço de discussão. De acordo com Marcela Prest, 33, candidata à prefeita mais jovem na cidade de Feira de Santana, é esse modelo de política tradicional e conservadora que exclui, mesmo que indiretamente, os jovens do processo democrático brasileiro.

Mas por qual motivo a escassez de jovens na política afeta tanto nossa democracia?

Veja também: participação dos jovens nas eleições

Como assim, déficit democrático?

Você sabe o que é déficit democrático? Bom, ele ocorre quando o governo não cumpre o seu papel como uma instituição democrática. Isso ocorre quando ele não ouve e coloca em prática os interesses do povo.

Assim, podemos determiná-lo como uma forma de exclusão social, onde o poder desconsidera as vontades e necessidades de boa parte da população ao realizar decisões.

No contexto, esse problema atinge os jovens no momento em que temáticas que os preocupam, como a questão ambiental, sexualidade e educação, são negligenciadas pelos políticos mais velhos. Essa invisibilização não ocorre somente com os mais novos, mas com diversos grupos sociais, como as mulheres, os negros e pardos, os indígenas e a comunidade LGBTQIAP+.

Seguindo o pensamento da política Prest, o déficit democrático é originado de um processo histórico. Desde a Proclamação da República e o estabelecimento da democracia no Brasil, em 1889, a tendência é a ocupação do poder pelas elites, os grupos sociais de maior prestígio.

Porém, as elites normalmente representam somente uma pequena parcela da população. Mas, espera aí, a participação popular não é um princípio fundamental da democracia? Esse é o problema.

Sem pluralidade e representatividade dos tantos grupos sociais nos postos de liderança do governo, a democracia perde sua essência. Daí entra a importância da representatividade jovem na política.

A “política dos jovens” é democrática

A grande questão é: se a inclusão e participação dos jovens na política fosse maior , o que eles mudariam e inovariam? Diferentemente do que muitos acreditam, a resposta já está entre nós.

João Victor Barreto tem 19 anos e concorreu a vereador de Feira de Santana pelo Partido Social Liberal (PSL). O candidato afirma que o jovem deseja e busca uma política mais inclusiva, mais participativa e mais próxima à população. Todavia, isso não seria o completo abandono do formato de política atual, mas sim usufruir da experiência dos políticos mais velhos, independentemente da ideologia ou do partido.

É inegável que os jovens representam uma diversidade abundante: há pessoas desta faixa etária de todas as etnias, sexualidades, classes sociais, gêneros, ou seja, de realidades distintas.

Se adolescentes e jovens adultos, juntos à pluralidade que proporcionam, participassem mais efetivamente da política, o cenário político mudaria. O processo democrático brasileiro se tornaria o que já deveria ser: inclusivo. A representatividade jovem na política também é a representatividade da população brasileira.

Mais jovens em posições de poder na política significa diversidade, inclusão, participação popular, democracia. Mas, além disso, a representatividade deles acarreta na atração e envolvimento de mais jovens para esse espaço. Em outras palavras, isso aumentaria a participação dos mais novos nas eleições e em discussões políticas.

Esse processo de engajamento não ocorreria somente com os jovens, como explica Larissa Dionisio, coordenadora da pesquisa #JovensNoPoder – Redesenhando o Rumo da Política Agora!#. São eles os mais ativos, os que mais se manifestam sobre o assunto do momento. Isso é decorrente do uso comum de tecnologias de comunicação e uma linguagem mais acessível por parte desta faixa etária.

Por esse motivo, a juventude na política amplificaria o engajamento nesse espaço e a participação não só dela mesma na democracia, mas também de outras pessoas e comunidades.

Leia também: influência da juventude brasileira na história do país

Ademais, outro fator determinante para a importância dos jovens na política é a inclusão de pautas que os preocupam nos projetos de lei. Entre elas, estão as que de fato envolvem essa faixa etária, como a melhoria do ensino público, cursos profissionalizantes e o mercado de trabalho.

Há também questões que são recorrentemente colocadas em segundo plano pelo governo, mas que são de muito interesse para os adolescentes e jovens adultos. Para muitos políticos, elas são dadas como irrelevantes, mas, em muitos casos, é o contrário. Alguns exemplos são:

  • a luta contra o preconceito;
  • a saúde mental;
  • a violência no espaço digital;
  • a desigualdade social crescente;
  • as questões ambientais
Se os jovens fossem dados um lugar na política, poderiam realizar grandes mudanças. Imagem: Freepik

Então, como incentivar os jovens a exercer sua cidadania?

Entretanto, a realidade é de jovens que desejam e buscam uma renovação na política, mas que não possuem incentivos para efetivá-la. Contudo, quem tem o poder de reverter esse cenário?

No mais recente período de eleições, o TSE se mostrou muito preocupado com a baixa participação da juventude nesse processo. Assim, foram realizadas numerosas campanhas direcionadas aos jovens de incentivo ao alistamento eleitoral, além do voto consciente.

Dentre essas campanhas, podemos destacar a Semana do Jovem Eleitor, organizada para os dias 14 a 18 de março de 2022, a “Bora Votar! Eu vou porque eu posso”, no final de 2021 e um enorme mutirão na rede social Twitter, um dos principais meios de comunicação do jovem.

Ao final do encerramento das atividades para o alistamento eleitoral, foi registrada a agregação de mais de 2 milhões de jovens eleitores em 4 meses. Esse fato mostrou o sucesso das ações governamentais, denominando a instituição como um dos mais essenciais atuadores para o incentivo da participação jovem na política.

E não são somente com campanhas que o Estado pode contribuir. De acordo com o cientista político José Álvaro Moisés, para que o interesse dos jovens pela política aumente, a educação política nas escolas brasileiras é indispensável. No ensino privado, cursos voltados à aprendizagem dos conceitos básicos da questão não são raros, além da presença de professores formados nessa área.

Por outro lado, nas escolas públicas, não há nenhuma aula relacionada à política no currículo. A falta de profissionais especializados também é um elemento decisivo no contexto. Com investimentos do governo e a inclusão da educação política no sistema educacional, os jovens obteriam mais consciência dos seus direitos como cidadão, elevando sua participação na democracia.

No entanto, figuras políticas não são as únicas que podem ter um papel nesses movimentos. Cantores, atores, influencers, jogadores de futebol e até grandes empresas também podem usufruir desta grande influência que possuem para motivar os jovens a cumprir o seu papel de cidadão.

Esse foi o caso de famosos brasileiros e internacionais, como a cantora Anitta, o ator Leonardo diCaprio, a ex-bbb Juliette e a companhia Burger King. Eles participaram da campanha com propagandas e tweets, meios de comunicação usuais na vida do jovem.

Vemos que os esforços do governo, das escolas e do próprio povo estão, aos poucos, atingindo o seu objetivo: atrair os jovens para a política. Mas ainda há um longo caminho pela frente.

E aí, quando jovem, você se interessa ou se interessava por assuntos políticos? Conseguiu entender a importância dos jovens na política? Acredita que eles devem ser representados nesse espaço? Deixe sua opinião nos comentários!

Referências:

1 comentário em “A representatividade jovem na política: por que é importante?”

  1. No texto falar “Nos dias atuais, não há prefeitos com menos de 40 anos nas principais capitais brasileiras.” não é verdade, O prefeito da cidade do Recife, João Campos do PSB tem 29 anos.

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Conteúdo escrito por:
Paulista, estudante e ainda no começo da minha jornada de conhecer o mundo. Passa horas lendo livros de romance no seu quarto, mas totalmente apaixonada por geopolítica e escrita.

A representatividade jovem na política: por que é importante?

26 jul. 2024

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