Conferência do Clima 2025: o que esperar da COP30 em Belém?

Publicado em:

Compartilhe este conteúdo!

A Conferência do Clima 2025 será um dos eventos mais importantes da década para o debate global sobre as mudanças climáticas. Realizada em Belém do Pará, a 30ª Conferência das Partes (COP30) reunirá líderes políticos, especialistas, empresas e organizações da sociedade civil de todo o mundo para discutir soluções que conciliem desenvolvimento sustentável, preservação ambiental e justiça climática.

Mais do que um encontro diplomático, a conferência simboliza o papel estratégico do Brasil e da Amazônia na agenda climática internacional. Em meio aos desafios da transição energética e da proteção dos ecossistemas, a Conferência do Clima 2025 será uma oportunidade de reafirmar compromissos globais e fortalecer ações concretas em defesa do futuro do planeta.

Este conteúdo integra a trilha do Projeto Amazônia Urbana, uma iniciativa que busca aprofundar o entendimento sobre os desafios e transformações ambientais das cidades na região amazônica.

O que é a COP30?

Desde 1995, países preocupados com a redução de malefícios ambientais se reúnem na Conferência das Partes (COP). Esse encontro é realizado entre todos os 193 integrantes da ONU, além de cinco territórios. Todos estes são membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima.

Entre os grandes feitos da COP estão o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris. O primeiro é um tratado para diminuir as emissões de gases de efeito estufa, visando enfraquecer o aquecimento global. Já o segundo acordo firma o compromisso dos governos ao redor do mundo de manterem o aumento da temperatura média mundial abaixo de 2º C

Para saber mais sobre a COP, acesse aqui.

Na sua trigésima edição, a COP30 vai acontecer em território brasileiro. A capital escolhida para sediar o evento foi Belém do Pará. Essa é uma oportunidade para o país levantar com mais ênfase suas principais questões climáticas e econômicas, bem como suas preocupações com a Amazônia, conhecida como “o pulmão do mundo”. 

Afinal, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, líderes políticos e empresariais, organizações e membros da sociedade civil, cientistas e ativistas de todo o mundo estarão atentos ao Brasil.

Imagem do centro histórico de Belém do Pará. Texto: Conferência do Clima 2025: o que esperar da COP30 em Belém?
Belém do Pará. Imagem: Brasil Amazônia.

Qual o papel da COP na luta contra as mudanças climáticas?

O fato do Brasil sediar a COP30 representa grande simbolismo, uma vez que a maior parte da Floresta Amazônica se encontra em território brasileiro. Assim, o país tem a oportunidade de demonstrar seus esforços na redução de danos climáticos, bem como reafirmar sua atuação em eventos deste porte, como a Rio+20

Para tanto, o governo federal criou, ainda em 2024, a Secretaria Extraordinária para a COP30 (Secop). Sob a presidência de André Corrêa do Lago, o Brasil visa priorizar questões como a valorização da Amazônia como solução climática.

Além disso, foram definidos 6 eixos temáticos para a COP30. O primeiro e mais importante é a redução de emissões de gases de efeito estufa. Em seguida:

  • A adaptação às mudanças climáticas;
  • O financiamento climático para países em desenvolvimento;
  • Tecnologias de energia renovável e soluções de baixo carbono;
  • A preservação de florestas e biodiversidade; e 
  • A justiça climática e os impactos sociais das mudanças climáticas. 

O desafio definitivamente está em garantir que, até 2035, os países desenvolvidos se comprometam a alcançar o montante de 1,3 trilhão de dólares em financiamento para que os países em desenvolvimento enfrentem as mudanças climáticas. 

Em consonância a isso, outro ponto importante para o Brasil enquanto mediador da COP30 é a mudança de bancos multilaterais. A ideia é que eles se tornem maiores e mais eficientes a partir de reformas no Banco Mundial e no NDB (Banco do Brics). Assim, será possível maior conexão com o capital privado e operações mais ágeis. 

Enquanto essas e outras questões serão discutidas, reportagem divulgada pela Pulitzer mostra impactos positivos da COP30. O Fundo Verde do Clima, criado durante a COP16, arrecada recursos para apoiar países em desenvolvimento a alcançar metas sustentáveis. A exemplo disso, 9 milhões de dólares foram destinados para quilombos do Projeto Marajó Resiliente

Saiba mais sobre quilombos aqui.

Dentre os objetivos do projeto estão a implementação de 800 hectares de sistemas agroflorestais até 2028. Esses sistemas permitem que os agricultores plantem para subsistência e geração de renda sem desrespeitar o meio ambiente.

Ainda, parte da renda alocada ao projeto será destinada a famílias participantes para a compra de mudas e sementes. Mais de 30 multiplicadores – integrantes de comunidades de baixa renda – foram selecionados para dar andamento ao projeto.

A Ilha do Marajó é um ponto estratégico para a discussão de questões climáticas na COP30. Afinal, ela é a maior ilha flúvio-marítima do mundo. Por conta de um estudo de vulnerabilidade climática realizado em 2022, descobriu-se que a região pode ter um aumento de temperatura média de 2°C até 2050. Isso poderia provocar tempestades e secas prolongadas.

Nesse sentido, o investimento na região do Marajó pode servir como modelo escalável para outras regiões. Assim, seus benefícios poderiam ser ampliados e somados à mitigação de danos climáticos.

Como a COP30 impactará o Brasil e o mundo? 

Apesar dos feitos inegáveis da COP enquanto plataforma para discutir questões climáticas, a COP30 não surge sem contradições.

Uma reportagem divulgada pela BBC aponta que políticas ambientais do Brasil têm sido criticadas por especialistas. Cientistas como Philip Fearnside e Walter Leal Filho fazem parte do relatório da revista Science. Eles apontam que, com exceção do Ministério de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, todos os setores governamentais têm aumentado as emissões de gases do efeito estufa.

Alguns dos pontos levantados pelos especialistas são: 

Além disso, a Avenida Liberdade tem gerado polêmica. Engavetada algumas vezes desde 2012, uma rodovia de quatro faixas tem cortado dezenas de milhares de hectares da Floresta Amazônica para facilitar o tráfego de pessoas durante a COP30

Apesar das críticas, o governo federal reforça a preocupação em realizar um evento “na Amazônia, não apenas sobre a Amazônia”. E defende também que todos os projetos apontados respeitam normas técnicas rígidas e que a população tem sido ouvida por meio de audiências públicas.

A argumentação dos ambientalistas se baseia no fato de que a Amazônia desempenha papel importante para a absorção de carbono para todo o planeta. Sendo assim, desmatar a floresta contradiz o propósito da conferência climática, que já demonstrou preocupação com a pauta em outras edições.

Os responsáveis pelo relatório sobre as políticas ambientais brasileiras salientam que é necessário superar a ideia de reversão de danos climáticos. Para que a COP30 seja eficaz, é necessário pautar uma transição energética rápida para que os combustíveis fósseis caiam em desuso

Logo, essa será uma discussão que envolverá todo o evento. 

Como se engajar na COP30? 

Mesmo antes da realização da COP30, dados da Embratur revelam o impacto que o evento vem alcançando. Somente no período de janeiro a novembro de 2024, Belém do Pará registrou um índice de visitantes 59% maior do que o último levantamento realizado em dezembro de 2023 – antes do anúncio de Belém como sede da COP30

Para atender às novas e grandes demandas decorrentes da COP30, o governo paraense organizou o programa CapacitaCOP 30. O objetivo é oferecer formação profissional para atuação em diversas áreas, como turismo, hospitalidade e lazer. Além de capacitar a mão de obra local, o programa visa integrar a população paraense ao evento, promovendo inserção no mercado de trabalho.

O governo federal, a fim de engajar maior atenção para a COP30, tem utilizado elementos do que pesquisadores chamam de “marca Amazônia“. Como pontuam Lázaro Filho e Ana Barbosa (2025), Belém é uma cidade como qualquer outra – tem suas características próprias, bem como seus problemas de desigualdade, violência etc. Porém, o que o tem sido publicizado para o país e para o restante do mundo é a ênfase em elementos amazônicos

Essa exacerbação da cultural local, como por exemplo o açaí, o cupuaçu, o tacacá, tem a potencialidade de despertar nos visitantes a sensação de novidade, exclusividade e pertencimento

Além disso, a presidência da COP30 lançou uma plataforma digital a fim de possibilitar maior participação popular nas discussões climáticas. Nomeada “Maloca” em homenagem às habitações de algumas populações indígenas, a plataforma possui salas virtuais em que governos e organizações podem fazer apresentações

É possível a participação de qualquer pessoa, independemente de onde ela esteja no mundo. Os eventos realizados na Maloca podem ser traduzidos por inteligência artificial para mais de 50 idiomas

Já a Rede Brasil do Pacto Global da ONU também é uma plataforma para ampliar as discussões climáticas com o público da COP30. O foco, no caso, é a mobilização do setor empresarial!

As empresas participantes do Pacto Global passam pela Jornada ODS. Elas devem se dedicar a aprender sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável a partir de encontros ao vivo, envio de conteúdos e canais de interação. 

Ainda existem dois outros acessos cruciais para as empresas interessadas em se engajarem na mitigação de danos climáticos. A Academy, por exemplo, é a maior plataforma de e-learning de sustentabilidade do mundo. Nela, são encontrados cursos gravados e geração de certificação.

O portfólio de iniciativas do Pacto Global envolve diversos projetos e movimentos para mitigação de danos climáticos, adaptação e resiliência e implementação e comunicação.

O Movimento +Água, por exemplo, preza pela segurança hídrica e pelo acesso ao saneamento básico. Seus compromissos envolvem 90% do esgoto coletado e tratado até 2030 e 99% das pessoas com acesso à água potável segura até 2033.

Por outro lado, o projeto Entre Solos: semeando conexões é uma iniciativa que visa facilitar o debate público sobre sustentabilidade na agricultura. Ele promove o diálogo para combater a pobreza, ampliar práticas sustentáveis de produção e consumo e contribuir para a adaptação da agricultura à mudança do clima. 

O papel das redes sociais e da mídia no engajamento com a COP30 

A cidade de Belém tem executado, para receber a COP30, diversas obras a fim de aprimorar sua infraestrutura, mobilidade, a expansão do setor hoteleiro, o saneamento básico, etc. Para isso, a capital recebeu cerca de R$ 4 bilhões advindos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Itaipu Binacional.

As principais obras focam em requalificar e modernizar o centro da cidade, onde acontecerão as maiores ações da convenção e o maior fluxo de pessoas. Porém, a preocupação exacerbada com uma parte da cidade pode abrir margem para processos de gentrificação e reforçar a exclusão social de áreas mais periféricas.

Para compreender um pouco sobre a percepção pública acerca da COP30, Mickael Ribeiro e Virgínia Patrocínio (2025) realizaram uma pesquisa avaliando memes. Os autores consideram o meme um bom objeto de pesquisa, pois ele costuma revelar uma crítica ou até mesmo uma ironia acerca de determinado assunto.

De 14 memes analisados, 57,14% deles são irônicos em relação à eficiência e à distância das ações da COP30 com o contexto local. Eles se referem, por exemplo, às “árvores artificiais”. 

O governo paraense montou estruturas metálicas recicladas para dar sustentação a plantas ao invés de propriamente plantar árvores. O governo alegou que essa foi uma medida alternativa à falta de espaço para raízes e disponibilidade do solo.

Um consonante estudo feito pela Quaest revela que 37% das menções à COP30 nas redes sociais são negativas. Entre julho e setembro, mais de 2,1 milhões de publicações foram feitas debatendo o evento.

As principais críticas são referentes aos custos elevados das hospedagens e serviços em Belém. Moradores e empreendedores têm visto a COP30 como uma oportunidade para alugarem imóveis a preços de compra. O governador paraense, porém, defendeu que o dinheiro será bem vindo à economia local.

O restante dos comentários se divide em neutros e informativos e comentários positivos. Estes últimos chegam a ser apenas 13% das menções. Eles são voltados ao potencial estratégico da COP30 para liderar as ações climáticas. Além disso, geralmente estão atrelados às palavras-chave como “justiça climática”, “povos indígenas” e “negociações”.

Qual a importância da participação cidadã na COP30?

Como vimos ao longo do texto, a COP30 não é um evento apenas diplomático. Ela chama e demanda a atenção de diversos atores sociais. De governos a empresários, de cientistas a lideranças locais. 

E para que a COP30 seja cada vez mais plural e representativa, diversos movimentos se organizam. É o caso da frente por justiça que organizações da sociedade civil fizeram para que a participação popular fosse ampliada.

Um manifesto assinado por 20 organizações latino-americanas e do Caribe defende o reconhecimento ao trabalho de povos indígenas, afrodescendentes e comunidades locais.

Saiba mais sobre a relação dos povos indígenas com o meio ambiente aqui.

O presidente da COP30 também defende a participação social. De acordo com ele, “se a participação social não for forte, os países não se movem“. Afinal, mais que governos e empresas, o mundo, os animais e as pessoas são atingidos pelas mudanças climáticas.

A ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, também instiga a participação social. Fala da ministra mostra que o aumento da fiscalização e a retomada de políticas públicas integradas, isto é, com a participação da sociedade civil, fizeram com que os incêndios no país diminuíssem. As reduções chegam a 88% na Amazônia, 90% no Pantanal e 48% no Cerrado.

Texto: Conferência do Clima 2025: o que esperar da COP30 em Belém?
Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na COP29. Imagem: Folha de São Paulo.

Se você quer se engajar na COP30 e aprender mais sobre o que circunda o evento, a Pulitzer tem uma proposta. A página “On the road to COP30” contém uma abrangente programação online para que você possa estar por dentro da luta pela mitigação dos danos climáticos. 

Agora, conta pra gente: conhecendo um pouco mais sobre o maior evento dedicado às questões ambientais, quais suas expectativas para a COP30? Se ficou alguma dúvida, deixe nos comentários!

Se você gostou do conteúdo, conheça o Projeto Amazônia Urbana, uma iniciativa da Politize! em parceria com o Pulitzer Center. O projeto busca ampliar o olhar sobre os desafios das cidades amazônicas, promovendo conteúdos acessíveis e didáticos sobre urbanização, justiça climática e participação cidadã na região. Acompanhe essa jornada!

Referências

WhatsApp Icon

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe este conteúdo!

ASSINE NOSSO BOLETIM SEMANAL

Seus dados estão protegidos de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)

FORTALEÇA A DEMOCRACIA E FIQUE POR DENTRO DE TODOS OS ASSUNTOS SOBRE POLÍTICA!

Conteúdo escrito por:

Rafael Henrique Ferreira Damico

Licenciado em ciências sociais, constantemente intrigado com questões subjetivas e estruturais. Apaixonado por música pop e entusiasta do amor. Professor preocupado com uma educação para além da sala de aula.
Damico, Rafael. Conferência do Clima 2025: o que esperar da COP30 em Belém?. Politize!, 31 de outubro, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/conferencia-do-clima-2025/.
Acesso em: 3 de nov, 2025.

A Politize! precisa de você. Sua doação será convertida em ações de impacto social positivo para fortalecer a nossa democracia. Seja parte da solução!

Secret Link